Era mais um dia normal. Eu já havia me arrumado, vesti meu uniforme, prendi meu cabelo, comi o café da manhã, escovei os dentes e peguei minha mochila.

– Tchau, okaa-san! – me despedi, esperando uma resposta. Claro, eu não recebi nenhuma.

O caminho até a escola foi cansativo, apesar de ser perto de minha casa. Sabia que ainda era cedo – o portão da escola havia acabado de abrir, e não havia nenhum estudante ali ainda. Quem eu queria ver não era um aluno, e sim um professor.

– Hi-ya-ma!  – Soletrei seu nome ao entrar na sala. Ele estava limpando o apagador, e ao ouvir o próprio nome, se assustou e começou a tossir

– Para você, é Kiyoteru-sensei! – ele ficou bravo

– Okay, Okay, Hiyama-sensei – o provoquei

– Senhorita Kaai- – ele começou

– Sensei, você sabe que pode me chamar de Yuki~ – eu sorri para ele como me apoiava na carteira com o cotovelo, segurando o rosto com as mãos

– Senhorita Kaai, você não está indo longe demais com isso? – Ele se aproximou da minha carteira.

– Sensei – eu puxei a gravata dele, trazendo seu rosto perto do meu – Você não foi me buscar hoje! O que houve? – Larguei a gravata dele ao ver que ele enrubesceu.

– Kaai-san, desculpe-me, não podemos conversar agora – Ele falou a medida que passos apressados passavam pelo corredor.

– Bem, Sensei, você pode me ajudar com esse cálculo então – Sorri divertida. Ele voltou a limpar o apagador perto da janela, me ignorando.

O tempo da aula passou normal. Eu sentava longe da janela, mas na primeira carteira. Hiyama apenas deu sua aula como sempre, e quando acabou todos os alunos foram embora. Exceto eu. Hiyama foi até a sala dos professores, e eu fiquei sozinha na sala.

“Kaai-san... Yuki... Yuki-san...” A voz dele ecoou na minha mente

– Kaai-san! – senti meu corpo estar balançando, aquela voz falando não muito alto.

– Hiyama... – sussurrei enquanto levantava a cabeça e coçava os olhos com as mãos – Ahm, onde eu estou?

– Na escola, Kaai-san – Hiyama pareceu bravo

– Que horas são? – Olhei para o rosto dele, ainda com sono

– Hora de ir para casa – Ele olhou para mim, sorrindo – dorminhoca.

– Eh? Eu não quero ir para casa e ficar sozinha – resmunguei, voltando a me deitar.

– Ei, não volte a dormir. Venha – ele falou com um tom um pouco apreensivo.

– Okay – levantei-me, ainda com sono, peguei minha mochila e o segui, tropeçando um pouco.

Ele foi até o estacionamento, abriu a porta de trás do seu carro, colocou minha mochila dentro e me fez entrar. Sentei-me, ele fechou a porta e entrou, sentando-se no banco na minha frente. O carro dele tinha vidro escuro, então ninguém poderia me ver, de qualquer forma.

– Yuki-san, Yuki-san! – ele estava me balançando novamente.

– O que fooi? Deixa-me dormir – resmunguei

– Venha, vamos entrar, você vai pegar uma gripe aqui fora – ele me puxou delicadamente pelo braço, e me pegou no colo então, fechando a porta e deixando minha mochila dentro do carro.

Estava com os olhos meio fechados, mas pelo caminho, reconheci que não era a minha casa. A porta abriu e se fechou, logo não estava mais tão frio. Hiyama me colocou no chão, e eu abri melhor meus olhos.

– Vá para a sala, é logo ali – ele se abaixou para ficar da minha altura e apontou para o lugar – Vou preparar uma coisa para nós bebermos – ele sorriu carinhosamente enquanto saía da entrada para ir até a cozinha.

Hiyama sabia que eu morava com a minha mãe, mas ela, por algum motivo, nunca falou comigo ou me deu atenção. Ela e meu pai se separaram, e por mais que minha mãe brigasse para ter a minha irmã, meu pai acabou ficando com ela. E nenhum deles queria ter de ficar comigo.

Cambaleei até a sala, me sentando no sofá, vendo uma bela lareira muito bem posicionada, e uma mesinha de centro. Hiyama apareceu logo em seguida, com duas canecas com algo quente dentro. Ele me ofereceu a caneca menor, sentando-se ao meu lado.

– Chocolate quente – eu ri um pouco enquanto tomava – Obrigada, Hiyama

– Sua bebida favorita, Yuki-san – ele riu um pouco, tomando da caneca dele.

Algum tempo depois

– Estou com sono... – resmunguei, me deitando no ombro do Hiyama

– Yuki-san, espere um pouco... – ele se levantou, me puxando suavemente pelo braço até o seu quarto.

Ele me colocou na sua cama – era o único quarto da casinha dele. Era uma cama confortável. Ele me cobriu e deitou-se do meu lado, me observando.

– Pare de me olhar e durma também – reclamei

– Vou te olhar mais um pouco – ele disse, soltando o meu cabelo que estava preso

– Não fique me olhando – eu falei devagar, com os olhos fechados, e me virei para ele. Ele estava virado para mim, sorrindo

– Vou te olhar até você dormir

– Sensei, eu gosto de você – sussurrei

– Bem, então, minha pequena seito, devo eu entrar neste seu ‘Love game’?