Vizinhos Barulhentos escrita por Lara Coimbra


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira postagem! Espero que gostem.



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Eu morava em um prédio ao lado de um hotel velho. Minha avó vivia comigo e eu já estava mergulhada na 

 faculdade. A vida em Nova York realmente era perfeita como diziam. Havia me mudado há um mês apenas e me adaptei muito fácil. O único problema era aquele velho hotel. Minto, o problema não era o hotel, mas sim a gritaria constante que vinha de lá. Eu e vovó éramos vizinhas de quinto andar com um dos quartos . Logo aquele de onde vinha tanto barulho.

O que me deixava ainda mais intrigada era o fato de minha querida avó não se queixar como eu. Não duvido de sua audição pois nenhum outro morador do prédio foi reclamar. Poxa, todas as noites eu fazia um sacrifício imenso para dormir e todos ignoravam gritos, risadas, garrafas se quebrando, televisão ligando e desligando, e mais um milhão de coisas. Me perguntava porque ninguém tirava satisfações com os ocupantes do quarto, e há quanto tempo aquele alvoroço era rotina.Tentei ficar de plantão na janela, na esperança de ver algo que fizesse sentido. Na segunda vez, bingo!

Um casal era culpado pela desordem. O homem, bem magro, alto, cabelo castanho com espetos. A mulher, loira de spray e roupa incrivelmente vulgar e ultrapassada. Só podia ser mentira. Como o dono do hotel permitia aqueles animais lá dentro?  Antes de chamar a polícia, fui atrás de algum funcionário para explicações na manhã seguinte. Relatei minhas noites mal dormidas para o recepcionista sardento, e ele estava rindo. Negou tudo que eu disse. Os poucos hóspedes do estabelecimento dormiam como anjos. Me afirmou também que ninguém nunca quis ficar com o quarto de número 100, do quinto andar. Pedi então que ele me acompanhasse até lá, era simplesmente um absurdo negar que aquele espaço estava vazio. 

Lá mesmo eu tinha como provar vestígios do casal briguento. A cama desarrumada, sofá virado, mancha de vinho no tapete, e cacos de vidro no chão. As faxineiras foram chamadas e assustadas afirmaram que o quarto fora arrumado uma semana atrás. As câmeras de segurança no hotel não registraram nenhum civil entrando ou saindo de lá nos últimos 7 meses. Isso me assustou. Escalar o edifício até o quarto seria uma façanha impossível de ser realizada, portanto não deixando nada além de mistério na cabeça do recepcionista e na minha.

Na mesma madrugada avistei os dois lá dentro novamente, desfazendo a cama, e trocando palavrões sem parar. O rapaz falava esquisito, como se fosse britânico. A moça fazia meus miolos estourarem de tanto exclamar um nome, talvez o de seu companheiro. Virei o rosto para tentar captar os nomes, com sucesso. Finalmente eu poderia voltar ao hotel para pegar os dois espertinhos que me tiravam do sério. As folhas da lista de hospedagem foram passando e nada! Haviam alguns Sid, algumas Nancy mas nada registrado como Sid & Nancy. Buscaram um copo d'água para mim. 

Minha decepção era tão grande que me senti febril. O porteiro, um senhor rouco de idade, sentou-se ao meu lado. Ele me perguntou se eu queria ouvir uma história. Eu fiz que sim. O caso, de acordo com ele próprio, era verdadeiro e se passou ali mesmo no hotel. Cortando a parte do 'era uma vez' e outras enrolações, o importante é que na década de 70, o movimento punk dominou a juventude e trouxe a Nova York o ex-baixista da banda Sex Pistols e sua namorada. Passado um certo tempo, num dos quartos do hotel, eles se drogavam, bebiam e brigavam tanto que um dia amanheceu com a garota morta no banheiro devido a uma facada na barriga. Pouco tempo depois, o cara também morre, na casa da outra namorada que arranjou. Uma maldita overdose.Trêmula, deixei cair o copo. 

O porteiro sabia que algo estava errado comigo, e percebi o mesmo. Um monte de coisas da minha infância fizeram sentido num clique. Podia escutar e ver mortos. A presença espiritual do casal arruaçeiro era tão forte que suas almas permaneceram no hotel por todos aqueles anos. Eu estava sendo incomodada por defuntos. Não tinha a mínima ideia do que fazer quanto a isso. Ou eu fingia que nada estava acontecendo comigo, ou tentava resolver o problema. Infeliz escolha a minha. Paguei uma noite dentro da edificação, para tentar contato. O único que consegui foi uma garrafa no rosto. 

Tinha sangue escorrendo da minha testa. Sid falava que fizera uma burrada, e Nancy gritava seu nome, reprimindo-o pelo o que fez comigo. A energia e capacidade dos dois era forte demais para mim. Saí correndo para um hospital, e em menos de uma semana vovó e eu nos arranjamos em outro apartamento, longe dali. Não demorou muito até eu voltar para umas visitinhas. Era irresistível me arriscar para outras conversas com Sid & Nancy, a prova de que o amor mata e de que garrafadas podem matar também, só que de curiosidade.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Quero reviews, hein??