A Morte É Afinada escrita por FearandFaith
Os passos nervosos que atravessavam a ampla sala de estar denunciavam que Jeffrey estava ansioso. Mal podia esperar pela chegada do suposto instrumento maldito. Os segundos demoravam a passar. Os minutos pareciam-se com horas. Até que o som estridente da campainha quebrou essa sensação de eternidade. Num pulo, Jeffrey disparou em direção à porta, mas ainda assim, abrindo-a com calma. -Sim? -Procuro pelo Sr. Clarke. - disse o homem do outro lado da porta, o qual possuía uma feição comum, aparentava ter entre 20 e 30 anos de idade e vestia uma espécie de uniforme azul com as palavras bordadas: Transportadora Brokewell. -Sim, sou eu mesmo... -Por favor, assine aqui. - e entregou-lhe uma prancheta acompanhada de uma caneta, e Jeffrey não hesitou em fazê-lo. Assim que devolveu a prancheta, o rapaz assoviou e acenou em direção ao caminhão que, à esse sinal, aproximou-se lentamente da entrada da casa. -É um belo instrumento, não? - comentou o rapaz. -Sim, é mesmo. - Jeffrey concordou. Quando o caminhão estacionou em posição de ré diante da entrada da casa, cinco homens com o mesmo uniforme saíram do veículo: um deles abriu a parte de trás do caminhão que serviu como uma espécie de rampa, enquanto os outros quatro homens entraram nessa parte de trás e juntos, carregaram o piano até a sala de estar. Por causa da paixão de Jeffrey, sua casa era antiga, daquelas que se parecem com um covil de vampiros, mas com certo toque de classe. Portanto, a porta de entrada era bem ampla: o suficiente para o grande piano de calda passar sem preocupação alguma. -Obrigado - agradeceu Jeffrey. -Obrigado o senhor. - disse o rapaz, já se virando de costas e indo em direção ao veículo. Mal se contendo, Jeffrey entrou na residência, lançou um olhar de curiosidade ao piano e foi para o poraão onde se situava seu santuário de antiguidades. Andou através de estantes com notáveis estuetas, livros, estátuas em tamanho natural, qudros - com pinturas de gelar a espinha - e até mesmo algumas armas e amuletos. Ao fundo do porão havia uma típica escrivaninha. Jeffrey esticou os braços e agarrou uma câmera que estava em cima da escrivaninha. Com aquela câmera, Jeffrey tirava fotos de todas as suas peças com o objetivo de captar qualquer vestígio de atividade paranormal que passasse despercebida por seus olhos. Depois, subiu rumo à superfície do imóvel. Estava regressando à sala de estar quando ouviu uma música familiar: Moonlight Sonata, de Beethoven. De princípio pensou que fosse a esposa - que é amante de música clássica- tinha ligado o rádio, mas conforme foi se aproximando percebeu que não era o rádio. Era o piano. Jeffrey foi até a sala de estar, onde viu uma mulher tocando: cabelos negros ondulados e compridos, olhos azuis, corpo esguio e alto, feição delicada. Imediatamente, Jeffrey a reconheceu sendo Norma, sua esposa. Jeffrey observou Norma sem fazer ruído. Apreciou a música tocada pelos longos dedos da esposa, até as últimas notas soarem e depois se calarem. -Bravo! - elogiou Jeffrey. -Oh, eu não te vi aí... Você ouviu tudo? -Sim, ouvi. -Ah, Jeffrey. Seu eu soubesse que estava aqui, teria caprichado mais... - Norma estava envergonhada pois, mesmo depois de 1 ano casados, nunca tocara para Jeffrey antes. -Não, não precisa. Você tocou divinamente! - disse Jeffrey se aproximando lentamente. -É por isso que eu te amo. - e seus lábios se selaram em um breve beijo apaixonado. Norma passou o dia todo tocando músicas para o marido no piano. Jeffrey não se cansava de ouví-la tocar. E então, a noite caiu. Eram 3:00 quando Jeffrey despertou ofegante de um pesadelo. Nele, via-se em meio de um incêndio e sua esposa agonizava envolvida pelas chamas. O cheiro de carne queimada pairava no ar. Entre o fogo crepitando, lá estava o piano: intacto. Até que uma música vinda do mesmo entrou pelos ouvidos de Jeffrey, que no mesmo instante acordou com o coração disparado. O quarto do casal estava completamente escuro, tanto que não era possível enxergar um palmo que fosse diante do rosto. Jeffrey estava se recompondo do pesadelo, até que ouviu a música Sicilian vinda do piano. Seu coração novamente disparou. Passou a mão no lado oposto da cama, e não encontrando a esposa deduziu que ela estivesse sem sono e, por isso, decidira procurar o sono entre as notas. Agora mais calmo, Jeffrey lentamente fechou os olhos e, no embalo da música, adormeceu. A cama do casal era realmente ampla. Três pessoas dormiriam ali sem problema algum. Jeffrey esquecera desse fato quando tateou o lado oposto da cama. Acontece que seus braços não alcançaram a extremidade oposta, e sim, o espaço vazio ali. Então Jeffrey não percebera que sua esposa esteve ali o tempo todo, na extremidade da cama. Portanto, não eram as mãos de Norma que tocavam o piano. Aquela música não foi tocada por Norma. Não foi tocada por mãos humanas.
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