A Mulher Invisível escrita por Lice Lutz


Capítulo 2
Capitulo único


Notas iniciais do capítulo

Desejo a todos uma ótima leitura!



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Lembro-me perfeitamente como fora a primeira vez em que me dei conta da minha nova forma de existir. Desde então, pouca coisa - praticamente nada - mudara. Poucos dias depois, vistos passarem completamente - descobri que eu não precisava dormir -  lembrei-me o meu nome. Rosalie Hale, era assim que me chamavam.
Dois séculos se passaram. Vi o mundo mudar. Incriveis descobertas serem feitas - até novas terras surgiram, as quais fiz questão de conhecer, usando meu incrivel poder de me teletransportar. Fora na América onde fiz contato pela primeira vez com alguém como eu. Já havia visto inúmeros iguais a mim, mas nunca propuz-me a falar com eles. 
Ele era incrivelmente bonito. Seu cabelo loiro acobreado, charmosamente bagunçado, tornava-o ainda mais belo. Seus olhos verdes, brilhavam tanto - ou mais - que a mais rara das esmeraldas. Edward Masen - era o seu nome - contara-me que nascera em 1518, a quase cinco séculos atrás. Dissera-me também, que eramos imortais e que ninguém jamais poderia nos ver. Eu já sabia dessas duas coisas. Porém, ele propôz uma razão para ter me tornado o que sou.
- Talvez, a senhorita tenha se tornado o que é, da mesma maneira que eu - ele disse, com a voz encantadoramente rouca, fitando o vazio - Você não vai acreditar - ele riu, sombrio - Mas olhe para nós. Não somos a prova do inexistente? - ele virou, encarando-me - Um vampiro me deixara assim. Não um vampiro comum, como os humanos acreditam. Ele não suga apenas nosso sangue. Mas também, a nossa alma; a energia que provém dela. O frio, as escolhe a dedo, e só toma aquela que tiver mais luz. O sangue e a energia d'alma, é a combinação que lhe garante a imortalidade. - ele parou, o rosto endurecendo - E as consequencias para suas vitimas, como nós, é a morte do corpo, seco, sem uma gota de sangue. E a nossa alma, sem luz, fica aprisionada na Terra, vagando por toda a eternidade. - ele concluira, virando-se para a bela garota, que o fitava ternamente. 
Edward correra ao encontro da alma de olhos chocolate, e desaparecera com ela.  Nunca mais os vi.
Uma alma. Grande merda.
Pra que eu iria querer continuar vagando pela Terra? Pra assistir o ser humano se alto destruir de uma vez por todas, com suas incriveis tecnologias? Para vê-los cometerem os mesmos erros idiotas, a cada segundo passado? 
Eu estava farta de toda a hipocrisia da tão almejada eternidade. Eu não tinha pelo quê viver. Já havia percorrido cada milimetro quadrado do grande globo terrestre, mas nunca encontrei o meu verdadeiro lugar - se é que existia um.

   [...]

Era 1942. Estava em Londres, minha terra natal. As folhas secas caiam, transformando a cidade num cenário perfeito para um romance. Balancei a cabeça. Romance. Que tolice para alguem como eu. Uma alma iria se apaixonar pelo que? Um lobisomem? Ri sozinha da minha piada idiota. Outros seres perdidos que passavam por ali, viraram o rosto para ver do que a alma-maluca ria. Que ótimo. 
Mais uma vez, o ser humano utilizava a sua vantajosa racionalidade para destruir seus semelhantes. Chamavam isso de guerra, palavra a qual pronunciavam com um orgulho incompreensivel. 
Eu estava vagando pela minha cidade. Pouca coisa mudara, nos ultimos cinquenta anos que estivera ausente. Havia algumas lojas de futilidades fechadas, por conta da guerra. Distraidamente, fitei o sol tornado-se poente. Era uma das poucas coisas que eu nunca me cansaria: ver o céu trocar de cores, na sua imutável tranquilidade. As cores me acalmavam, davam um brilho a constante monotomia.
De repente, senti um baque duro no meu ombro direito, e fui ao chão. Sentada, encarei o individuo que estava caido a minha frente. Foi como se as cores do por do sol, invadissem a minha redoma negra impenetravel. Eu me senti viva
Posso jurar, que o jovem caido a minha frente, me vira. Impossivel. É, eu sei disso. Mas como negar se em seus olhos pude ver o meu proprio reflexo? Como esquecer o seu sorriso e as suas doces covinhas, que o deixavam deslumbrantemente infantil? 
Ele maneou a cabeça, balançando seus caixinhos. O fitei hipnotisada. Desnorteada, levantei-me e o segui, sem tomar consciencia do meu ato. Eu só queria estar perto dele, para jamais perder a lembrança do seu sorriso angelical.
Fiquei ao seu lado durante todo aquele dia, seguindo-o como uma sombra que não precisa de luz. No final das contas, era isso o que eu era: o resto de uma alma sem luz, vagando pelo mundo, exatamente como uma sobra. 
Observei-o dormir a noite toda. Ele falava, e se remexia durante o sono. No dia seguinte, ele acordara, e sorrira na minha direção. Repeti o seu gesto, involuntariamente, pela primeira vez desde que fui supostamente atacada por um vampiro sugador de sangue e alma.
Como um humano podia ter tanto poder sobre mim? Como ele podia ter se tornado, de uma hora para outra, tão vital para mim? Eram perguntas para as quais eu não tinha respostas.
Dediquei-me inteiramente a ele. Descobri muito sobre o garoto de cabelos cacheados e covinhas. Seu nome era Emmett. Tinha dezessete anos - embora seu corpo musculoso aparentasse no minimo 25 - e aguardava ansiosamente pelo seu aniversario de 18, para finalmente engressar na guerra, defendendo o seu pais. Eu não o culpava por ter um pensamento tão idiota. Parecia que morrer - ou lutar, se preferir - na guerra, era o sonho de todos os rapazes na época. Eu desejava poder parar o tempo, para que ele não tivesse de ir. 
O mundo a sua volta o fazia sorrir. Suas lindas covinhas, eram a prova disso. Ele ria de si mesmo, ria de suas proprias piadas, e de tudo o que lhe parecesse bom. Nunca o vi irritado. Estar com ele era ótimo, seu humor era contagioso, viciante. Seu carisma era inabalavel, sua força um atrativo. Tudo nele era convidativo. Sua voz tornara-se a minha canção preferida e seus incriveis olhos azuis, a imensidão da esperança. 
Com o tempo, passei a conhece-lo melhor do que ele mesmo. Sua estação preferida era o inverno, pois segundo o mesmo, nesses meses as pessoas ficavam mais juntinhas e precisavam de alguém grande e quente como ele, para aquecer-lhes. 
Os meses passavam na velocidade da luz. Com isso, a proximadade da guerra tornara-se gritante. Emmett denunciava a sua expectativa durante a noite. Era o momento em que ele extravassava todas as emoções do dia e seus medos - que passaram a ser os meus também. Sua inquietude era cada vez maior, trazendo uma insonia incuravel.
No dia de seu aniverssario de 18 anos, Emm compulsera uma música. Fiquei chocada quando o escutei cantar. Não pela suavidade de sua voz, ou pelo ritmo perfeito que suas mãos acariciavam as cordas do violão. A letra da música me surpreendera. Dizia tudo o que eu sentia. Era como se ele tivesse lido os mais profundos sentimentos da minha alma. Como se a música fosse a porta de saida para todos os meus medos, para tudo o que eu era. E tudo isso sem nunca ter me conhecido.
Uma semana se passara. Emmett se despedira de sua familia. Fora a primeira vez que o vi chorar. Cada uma de suas lágrimas foram como uma punhalada no meu coração invisivel. Era doloroso demais ver seu rosto infantil, cortado pela dureza da vida humana. Eu queria lhe proteger. E o faria, sem me importar como ou com as consequencias. Nunca mais o veria chorar, prometi a mim mesma.
A guerra nos atingira duma forma drastica. Vimos os companheiros de Emmett morrerem naquela batalha inescrupulosa. Presenciamos o sofrimento de cada familia. Não me separei dele por um segundo sequer. Tentava o proteger atirando-me contra as balas, tentando avisa-lo sobre as bombas subterraneas. 
Inultimente.
Havia horas que ele parecia me ouvir. Em outras, estava tão imerso no sentimento destrutivo da guerra, que seus olhos perderam o brilho que eu tanto amava, e ele não podia me sentir ali.
Era inverno. Estavamos em territorio alemão. O vento soprava com furia, uivando. Um mal presentimento preenchera-me por completo. Eu queria tirar Emmett dali, de qualquer maneira. 
O barulho ensurdecedor das bombas e tiros latejava na minha cabeça, dividindo espaço com a voizinha que gritava: 'Proteja-o. Não o perca de vista.' Mas o que eu poderia fazer? 
Foi quando o golpe final nos atingira. Eu vi tudo em camera lenta, cada detalhe sendo cravado na minha memoria, minusciosamente. De repente, a voz cessara, assim como todos os outros sons, tornaram-se mudos. O mundo parou de girar. 
A cena a minha frente, preenchera a minha visão. Nada mais importava, nada mais valeria a pena. A voz de Emmett, cantando a musica que compusera, ecoava em meus ouvidos. Fora com aquela canção, que presenciei o pior momento da minha existência.

Por favor, ouçam: Iris - Goo goo dolls


Eu daria tudo para colocar-me em seu lugar. Trocaria a minha eternidade, ou o pouco que restara da minha alma, por sua vida. Como eu poderia continuar sem o seu sorriso?
A avalanche de balas inimigas aproximava-se do local onde nós estavamos. Milhares de corpos sangrentos caiam sem vida a nossa volta. Eu podia sentir a alma de cada um esvaindo-se, fitando-me, enquanto tentava proteger Emmett. Eles não entendiam - assim como eu - o que levava uma alma proteger um humano com aquela intensidade.
Emmett estava rijo ao meu lado. Os olhos frios, vidrados na guerra. Perguntava-me se algum dia, voltaria a ver suas covinhas surgirem em seu rosto com a eterna expressão infantil. A guerra tem esse poder sobre os homens: dos quais não tiram suas vidas, tiram todos os sentimentos puros de seus corações. 

"E eu desistiria da eternidade para toca-lá

Pois sei que você me sente de alguma forma

Você é o mais proximo do paraiso que eu chegarei

E eu não quero ir para casa agora"


E então, o disparo final fora engatilhado. Antes mesmo da bala tomar um curso visivel, eu sabia o que iria acontecer. Eu tinha pressentido, desde o começo daquele fatidico dia. 
Emm olhara para o fusil que vinha em sua direção. Os olhos escurecendo. A esperança, assim como a vida, esvaindo-se. Ele não tentara desviar. Simplismente encarara a morte de frente.
- Por favor... - sussurei, abrançando seu peito, na inutil tentativa de impedir que a bala chegasse ao seu destino final.
Imprestavel.
Era isso o que eu era. Imprestavel. Sem utilidade alguma. Não que eu fosse um anjo da guarda, ou algo do genero. Eu só queria lhe proteger. Só queria mante-lo vivo. 
Tarde demais.

"E tudo que eu sinto é este momento

E tudo que eu respiro é sua vida

Porque mais cedo ou mais tarde isso acabará

E eu não quero sentir sua falta essa noite"


A bala atravessara-me primeiro, sem causar dano ou som algum. Indo diretamente para o peito de Emmett. Certeira. Incorrigivel. Numa precisão invejavel. Senti o corpo de Emmett esfriar, grau por grau, escorregando de minhas mãos intocaveis, até cair no chão.
O sangue jorrava pelo pequeno furo em seu peito. A sua vida, parecia seguir o mesmo caminho, deixando seu corpo lentamente. Ele estava morrendo. O meu Emmett estava morrendo. E eu não podia fazer nada. Apenas assistir a sua triste morte.
- Eu te amo, Emmett. - disse, num choro sem lágrimas - Sempre te amei, desde o nosso primeiro encontro. - murmurei, debruçando-me sobre seu corpo inerte.
Apertei os olhos, esperando que a morte me encontrasse pela segunda vez em minha existencia. Será que a Morte se encarregava de almas sem vida?
Senti um vento gélido passar por minhas costas. Um cheiro diferente, mas conhecido pairava no ar.
- Eu sei. - a voz tão conhecida dissera - Sempre soube disso.

"E eu não quero que o mundo me veja

Porque não creio que entenderiam

Quando tudo estiver destruído

Eu só quero que você saiba quem eu sou"


Lentamente, girei-me na direção da voz. Impossivel. Eu estava louca. A minha alucinação sorria para mim. Suas covinhas estavam ali, intactas. Sua roupa estava limpa, ao contrario do uniforme imundo que vestia quando partira.
Seus olhos brilhavam, hipnotisadores. Ele caminhou na minha direção.
Meu Emmett estava ali!
- Eu sabia que você era real! - ele disse, apalpando-me; suas mãos eram como as minhas, então não podiam atravessar o meu corpo.  - Eu não tenho uma imaginação boa o suficiente para criar alguém tão perfeita assim... - ele riu, o acompanhei.
O som da sua risada, concertara cada um dos buracos defeituosos da minha alma. Eu estava completa. Viva. Na medida da minha realidade é claro. Acompanhei-o em seu riso, sentindo-me tão livre, tão completa, como nenhum outro ser na face da Terra jamais se sentira. 

"E você não pode lutar contra as lágrimas que não vem

Ou o momento da verdade em suas mentiras

Quando tudo parece como nos filmes

Sim, você sangra apenas para saber que está vivo"


Aninhei-me em seu abraço, acariciando o local que a bala antes perfurara.
- Hey, não se preocupe! Fui concertado antes de vim ver você. - ele dissera, seu humor inabalavel presente em sua voz - Sabe, deveria ser contra a lei das almas, permitir  alguém como você chorar... O causador do seu sofrimento deveria estar preso agora. - ele parou, olhando para seu corpo morto - Ou não. Quer saber? Vamos deixar as leis de lado... São muito complicadas para mim! - ele riu novamente.
Eu estava estasiada. A felicidade finalmente havia me encontrado. Emmett finalmente havia me encontrado.
- Vamos sair daqui. - Emm sugerira - Você sabe como fazer isso?
Balancei a cabeça, tentando me concentrar em sua pergunta. Sair dali...Ah, sim. Simples.
- Apenas pense num lugar bonito, e estaremos lá.

"E eu não quero que o mundo me veja

Porque não creio que entenderiam

Quando tudo estiver destruído

Eu só quero que você saiba quem eu sou"

Ele fechou os olhos. E em menos de um segundo estavamos num campo repleto de margaridas. Havia uma pequena cachoeira por perto. O barulho das aguas era extremamente reconfortante. Eu já estivera ali. Era o lugar preferido de Emmett. Aonde ele ia para observar o céu e a mudança de forma das nuvens.
- Uau! - Emmett exclamara, empolgadissimo - Isso é demais! Até onde podemos ir com isso? Até a Lua? E Plutão? - Ele correra pela clareira, voltando em dois segundos para mim - Hum, conheceremos o universo antes dos poderosos americanos! Rá. - ele dissera, excitado com a ideia.
- Acho que o teletransporte só vai até os limites da Terra, Emm - eu disse, me divertindo com a sua possibilidade.
- Você já testou? 
- Não, mas... - ele me interrompera.
- Shiii... Você fica tão linda sob a luz da Lua... 
Abaxei os olhos, constrangida. Havia muito não fazia contato com ninguém.
- Hey, é verdade. - ele disse, acariciando o meu rosto - Como pude demorar tanto pra te conhecer?

"E eu não quero que o mundo me veja

Porque não creio que entenderiam

Quando tudo estiver destruído

Eu só quero que você saiba quem eu sou"


Era a mesma pergunta que eu fazia todas as noites, enquanto observava-o dormir. Como pude ter passado tantos séculos sem a sua risada inocente? Simultaneamente, todos os nossos momentos juntos, passaram por minha mente. Desde a nossa trombada na rua, o meu reflexo em seus olhos. Hoje compreendo, que talvez ele não tivesse me visto naquele dia de outono em Londres. Mas a sua alma me vira. Dizem que os olhos são o espelho da alma. Sua aura me vira, e refletira em seus olhos azuis.
Sorri para ele. Sentindo-me completa. Foi quando todas as peças finalmente se encaixaram, e eu percebi, que se não tivesse sido ataca por aquele vampiro sugador de almas, eu não teria tido toda a eternidade pela frente, até finalmente encontra-lo. Talvez, eu tivesse tido uma morte fria e vazia, e nunca teira o conhecido.

"E eu não quero que o mundo me veja

Porque não creio que entenderiam

Quando tudo estiver destruído

Eu só quero que você saiba quem eu sou"


Destino. Poucos acreditam, mas ele existe. Por mais que os caminhos pareçam dificeis demais, dolorosos ao extremo, um dia encontraremos o nosso lugar no mundo. E ai, nos denominaremos felizes. Emmett sempre fora o meu destino. Todos os caminhos apontaram para ele, sabiamente.  
Olhei no fundo de seus olhos. Sua alma nua sorria inteiramente para mim, entregue. 
- Eu sempre estive ao seu lado, mas você nunca me viu... - disse-lhe.
Ele retribuira meu olhar, o amor gritando em cada milimetro de sua aura, que reluzia, emitindo vibrações de todas as cores. Sem dizer nada, Emmett se aproximara de mim, roçando seus lábios sutilmente nos meus. E selamos o nosso amor, num beijo entregue. Ele pertencia a mim - sempre pertencera. E nada iria mudar isso.

"Eu só quero que você saiba quem eu sou

Eu só quero que você saiba quem eu sou

Eu só quero que você saiba quem eu sou"

FIM.


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Notas finais do capítulo

Hey!
Dessa vez, o casal sofredor-protagonista foi Emmett e Rosalie. Me digam o que vcs acharam da história de amor deles e o quanto vcs coseguiram ver do monkeyman da tia Steph hahahha.
Espero que tenham gostado e por favor, deixem rewies!
Beijos e mordidas ;*