íris escrita por Dana Berry


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu poderia me mostrar, mas não seria seguro ou prudente para ela é claro. Desde que a vi pela primeira vez não consegui deixá-la, era o mais próximo do paraíso do que um dia pude chegar!

Um toque...
O sonho e desejo juntos, como se fosse a minha fuga mais perfeita e meu veneno mais eficaz.
Era ela, a pele macia, os olhos extremamente expressivos, os lábios docemente rosados, se movimentava com anjo e ao falar tudo que meus ouvidos captavam era uma bela sinfonia.
Tocá-la... eu desistiria de toda a minha existência somente para tê-la uma noite!

Seria um erro!
Introduzi-la a este mundo sombrio, sem chances de sobrevivência ou saída intacta; cair num poço escuro e sem fundo é o mais próximo e distante que posso descrever minha vida.

Todavia, era ela.
Sempre escondida por roupas pesadas, escondendo-se pelos cabelos negros e lhe insidiam o rosto.
Eram vislumbres de um sonho idealizado, o qual vinha esperando perante os séculos.
Sem coragem, apenas observei... por longos meses, apenas analisando, desejando e suplicando para um Deus incerto que eu fizesse a coisa certa.

Vinha estado sozinho desde minha oficial morte, sem desejos ou anseios.
Sendo um animal quando me convinha ou quando me era necessário.
Eu estava cansado; cansado da brincadeira de mortal, cansado de toda uma eternidade sem sentido ou valor.

Agora, era diferente. Um único olhar que não me fora dado. Um único gesto que não me fora declamado, um único semblante que jamais depois disto poderia esquecer.

Ao observá-la, notei sua total solidão, dentro de quatro paredes ela sofria e eu me partia em fragmentos sem saber o porque!
Ela me domará sem que me desse por mim.
Ela me abrira os olhos para tudo que me falta!

A coragem me veio um ano depois.
Ela dormia silenciosa, das janelas soprando o vento fraco da chegada do outono cortinas voavam delicadas.
Ao entrar mais silencioso que o vento, pode pela primeira ver ouvir sua respiração melódica e quase sussurrante.
Ela se revirou para o lado em que eu a observava, revelando-me inteiramente tudo que ainda não podia ter visto com total precisão.
Seu rosto angelical, gentil pelo tempo.

Ela podia me ouvir, se eu fosse tão delicado quanto o vento, podia fazer dele o meu sussurro e lhe revelar meus desejos sem fazê-la sofrer mais tarde.
Assim se foram dois anos, apenas sussurrando-lhe e tocando-lhe a pele quente e aveludada.

Deveria eu acordá-la? Revelar-me o louco, ser insano que lhe invadira o quarto?
Não! Mas é claro que não!

Esta fora a minha ultima noite em sigilo com ela.
Era inverno novamente, e eu sabia que o sol não se mostraria naquela manhã.
Não me distanciei dali durante toda a madrugada, e quando a manhã fingiu aparecer, levantei-me, parti de meu quarto, e pus-me de pé em frente a sua porta.

Esperando ansioso pela primeira vez em muitas décadas em que eu poderia tocá-la.
Mas sua vinda não aconteceu.
Indaguei-me o por que! Eu sabia que toda manhã ela saia, ia ao parque, mas pelo visto não esta manhã!

Voltei-me agora desanimado e com a alma dolorida para os fundos da casa, cruzei o cercado que dava para o jardim e observei a janela do quarto feminino; as cortinas brancas continuavam a voar levemente, hora para dentro hora para fora.

Não me dei ao luxo de pensar duas vezes, talvez ela estivesse em apuros, talvez ela continuasse dormindo, talvez ela tivesse partido e de certo isso me impediria de sentir um único momento com sua real e vivida presença.
Então como de costume escalei facilmente os dois andares da casa até a janela, e lá estava ela, frágil e pálida.

Aproximei-me gélido e sem vida, desejando ouvir como sempre os batimentos compassados de seu coração, mas tudo que consegui ouvir fora um coração já sem força, fraco e descompassado.
Ela estava indo, para um lugar que eu jamais poderia segui-la!

Aproximei-me suplicante, para que ela ainda tivesse forças para abrir os olhos.

- Olá! –Disse a ela.- Por favor, não tenha medo. –pedi, então ela lentamente abriu os olhos, delicada e dolorosa, podia sentir a respiração já sem vigor, cheia de esforço.
- Quem é você?? –perguntou-me sussurrante.
- O que quer que deseje! –ela esboçou um sorriso enquanto eu aproximava minhas mãos ao rosto feminino.
- Como se....chama? E... co...entrou??
- Fellipo. Vim vê-la esta manhã, esperava-a sair, mas você não apareceu! –Disse a verdade- Então, aproximei-me da porta para chama-la, vi-a entre aberta e me preocupei.
- Eu... já o havia visto... em...meu jardim. –eu sorri surpreso.
-Já?
- Uhum.. –ela fechou os olhos enquanto sinalizava positivamente. Então toquei suas mãos, mais quentes do que imaginava.
- Acho que está com febre. O que você tem?
- Câncer na medula. Não quis transplante ou tratamento.
- Mas por quê?
-Apenas não. Pensei em lhe chamar uma noite, mas tive medo.
- Jamais a machucaria. –Era quase um elemento para o transe completo a sua face. Eu estaria com minha mais nua carne em frente a ela.
- Acho que eu sempre soube.
- Não posso deixá-la que parta.
- Mas deixará.

Então ela sorriu mais uma vez, pedindo para que eu me aproximasse.
Seu coração já batia tão lento que eu mal podia sentir.
Seu sangue já não estava mais sendo bombeado e meu coração sofria a cada batimento dela.

- Deixe-me lhe mostrar um segundo lado da vida.
- Não existe.
- Sim existe, deixe-me te mostrar a eternidade de um sentimento!
- Como poderia?
- Apenas deixe-me. –Ela me olhou incrédula, e eu supliquei por uma resposta positiva e meus mais íntimos pensamentos.
-Show me. –Disse ela em um suspiro pesado com sua vida quase se esvaindo.

Senti as lágrimas dela enquanto me aproximava de seu pescoço, as mãos quentes e femininas evolveram minha nuca aproveitando cada movimento.
Eu sabia que sua vida quase não estava mais ali e que casa segundo perdido era um desperdiço.
Beijei lhe a jugular, e voltei-me para seu rosto; já era tarde demais para uma mordida, eu a perderia assim que meus dentes a perfurassem.
Olhei-a nos olhos e a beijei, cortando a ponta de minha língua, fazendo-a sangrar enquanto a ponta de meu canino cortava aqueles lábios quase azuis pela parcial ausência de vida.

Nosso sangue se misturou, e eu pude sentir o dela como se estivesse próximo de entrar nos céus.
Supliquei para que ela não rejeitasse o beijo, era o meu sangue que lhe daria a vida.
E ela não rejeitou, arrepiou-se enquanto minhas mãos frias como geleiras encontraram a nuca feminina fervente pela febre.
Pude sentir seu corpo perder a quentura e percebi que era ali que a morte se iniciava.

As gentis mãos repuxaram pela ultima vez em vida meus cabelos negros e eu me afastei do beijo para que pudesse observar pela ultima vez os olhos com alma me fitarem.

Ela sorriu inocente, e amoleceu em meus braços.
Por um momento imaginei não ter dado certo, então cai sobre ela, abraçando agora o corpo inerte sobre a cama.

 

 

Reforcei meu abraço e logo senti os braços frios e gentis me envolverem e as mãos gélidas acariciarem meus cabelos novamente.

 


 


By Dana Resende
(27/01/09)


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Notas finais do capítulo

Autoria total e completa minha.
Alguns pontos baseados na música Iris do Goo Goo Dolls.
História com possibilidade de modificação!

Espero que gostem.



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