Ele não queria parar e eu não conseguia mais agüentar.

Vi no espelho meu corpo marcado pela violência daquele que eu mais amava. Pude ver minha alma cheia de rachaduras, sabia que ela estava se quebrando e sabia que não suportaria por muito tempo.

Tinha que sair daquele lugar ou então eu me despedaçaria.

Olhei para o homem de traços bonitos que dormia profundamente na cama e senti meu coração falhar uma batida.

Surpreendi-me. Achava que o tinha perdido para ele há muito tempo.

Sorri triste.

Queria correr até lá e me aninhar naqueles braços fortes. Queria segurar suas mãos e beijar seu rosto, ficar lá até ele acordar para que eu pudesse ver aqueles olhos verdes.

Balancei minha cabeça para afastar aqueles pensamento e voltar para a realidade. Caminhei até minhas malas para checar tudo, mas parei no meio do caminho ao ouvir algo se mover atrás de mim. Senti meu sangue gelar e meu corpo iniciar uma tremedeira descontrolada.

Virei meu rosto devagar, temendo o que veria. Suspirei aliviado quando percebi que ele só tinha se virado para ficar mais confortável.

Levantei-me o mais rápido possível e deixei as chaves em cima da mesa da cozinha, para depois sair daquele apartamento fétido.

Procurei por vários lugares, até chegar no hotel barato que eu conhecia tão bem; aluguei aquele mesmo quarto e me dirigi até ele.

Larguei-me na cama e adormeci no mesmo instante, tendo um sono sem sonhos.

~*~

Acordei com o barulho alto da porta sendo arrombada e alguns gritos.

Encolhi-me ao ver aqueles olhos que eu tanto admirava e temia, e ele, quando percebeu, caiu de joelhos.

Começou a fazer juras de amor e promessas. Dizia que não me machucaria mais, que pararia de beber e que se controlaria. Ouvia a angustia em sua voz.

Meus olhos se encheram de lágrimas, senti minha alma se restaurar e me joguei em seus braços, como já havia feito tantas outras vezes. Senti seus lábios contra os meus e nossas lágrimas se misturando, como já senti várias vezes, naquele mesmo quarto de hotel.

Voltei para casa com minha mão entrelaçada na dele, sabendo que aquele círculo se repetiria outras vezes.

Era sempre assim.