Era Uma Vez no México Parte I escrita por m_stephane


Capítulo 8
O erro de Jennie




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TOULOUSE 
Emmanuelle estava com uma sensação estranha. Acabara de desligar o telefone do hotel em Toulouse, era Nana, dizendo que as “Jóias Negras” deveriam ir para Bordeaux, na França, mas seu sexto sentido dizia que aquilo iria dar problemas.

-         Vamos para Bordeaux, hoje. 
-         O que? – perguntou Jennie.
-         Bordeaux – respondeu Emmanuelle sem sair da porta do quarto – Se não me engano é sua cidade natal, não?
-         Meu pai é de lá, minha mãe de Paris. – ela disse em interesse. Então é isso que meu sexto sentido está me alertando? – Emmanuelle ignorou o pensamento e prosseguiu.
-         Em Bordeaux existe um quadro, perdoe-me estou me expressando mal, não é apenas um quadro mas “o” quadro, um Da Vinci autêntico. Nana o quer e nós o daremos para ela. Alguma dúvida?
-         Quanto ela pagará? – perguntou Audrey.
-         Por ser um Da Vinci teremos oitocentos mil.
-         Com esse dinheiro mas o do roubo da máscara poderemos chegar a Londres e ficar em um cinco estrelas. – afirmou Scarlett.
-         Claro, depois desse roubo nós finalmente descobriremos o que Nicole Brooke quer de nós. – disse Emmanuelle.
-         E finalmente essa viagem louca irá terminar... – sussurrou Audrey.  

ORLÉANS

Ela mal podia acreditar, chegou a sua opinião final, Bordeaux não parecia nada com o que se vê nas revistas, era como uma vila que crescera demais, causava claustrofobia em Emmanuelle e também calafrios. Mesmo sem querer ela repetira aquela mesma frase desde que pisara pela primeira vez naquela cidade: “alguma coisa sairá errada, alguma coisa sairá errada, alguma coisa saíra errada...” .

Tristemente ela estava certa, Bordeaux não fora boa para ela. Não fora boa para nenhuma das Jóias Negras.   

Agora ela estava na cozinha do pequeno apartamento que alugara em Orléans dois dias depois do incidente, colocava um chá de canela em uma xícara de cerâmica, levou-a a boca, faltava alguma coisa. Pegou uma garrafa cheia de conhaque e pingou um pouco no chá. Enquanto bebia deixava as lágrimas correrem soltas pelo seu belo rosto, desejando que tivesse confiado mais em seu sexto sentido. Foi quando tocaram a campanhia.

Ela deixou a xícara sobre a pia e foi atende-la, seu cabelo estava em desalinho e usava um vestido cumprido de lã azul desbotado. Parou por um segundo estudando sua aparência cansada no espelho mas seguiu em frente e abriu a porta. Era Sands. Ela caiu em seus braços beijando-o como se eles nunca mais fossem se ver, depois ela parou e o arrastou para dentro de casa.
-         Scarlett ligou, soube o que aconteceu. Não foi culpa sua Noelle, você não poderia fazer nada. – ela começou a chorar novamente, dessa vez não tentando esconder as lágrimas.
-         Se eu não tivesse deixado-a ir...
-         Era uma faca de dois gumes, meu amor, aconteceu, está acabado.
-         Perdoe-me por tudo que eu fiz você passar. Fique comigo, fique agora. Tenho tanto medo...

Sands não respondeu, não era necessário responder, ele se sentia tão impotente! Ele não podia ajudar Emmanuelle, dessa vez ela teria de se curar sozinha.


BORDEAUX – QUATRO DIAS ANTES    

Pegaram um trem em Toledo, foram de primeira classe, um pequeno agrado que Emmanuelle resolveu fazer a suas grandes amigas, pois tinham dinheiro suficiente para isso.         
Jennie passou a viagem inteira cabisbaixa, o olhar perdido, sempre ignorando as perguntas de suas amigas, principalmente de Emmanuelle. Todas pensaram que isso melhoraria ao chegarem na pequena casa de campo alugada na saída da cidade mas as coisas apenas pioraram.

Na manhã que antecedeu o roubo do museu a premonição de Emmanuelle começou a se concretizar. Como todos os dias, Scarlett foi a que se levantou primeiro, fez o café e saiu para o campo, andando e observando a paisagem. Emmanuelle que estava extremamente cansada decidiu que naquele dia ficaria na cama até mais tarde enquanto Audrey devorava um livro sobre as ondas de rádio, deitada na cadeira de balanço da varanda aproveitando o belo dia que acontecia. Esqueceram-se completamente de uma pessoa: Jennie Maya.

Ela saiu de casa de madrugada, antes que o dia surgisse e caminhou a deriva a maior parte do tempo, então, como em um passe de mágica, viu-se em lugar familiar. As coisas não haviam mudado muito desde que saíra da cidade, facilmente achou uma pequena casa de madeira desejada. Hesitou mas acabou batendo na porta, uma mulher idosa abriu-a e com um sorriso constrangido Jennie falou:
-         Onde está o senhor Martinez?
-         Oh, você é Maya?
-         Sim.
-         Não faça cerimônia, entre, senhor Martinez a espera. – a empregada praticamente a empurrou para dentro da casinha, ainda menor quando se estava dentro dela.
Entrou na biblioteca conduzida pela velha empregada e viu Oliver sentado em uma poltrona verde escura. Oliver Martinez, bonito, charmoso, inteligente, talvez um defeito no nariz aqui ou alguma falha de temperamento acolá, mesmo assim era um homem que qualquer mulher gostaria de dividir sua vida, pelo menos gostaria até descobrir que ele era um golpista e um golpista dos mais sofisticados.
-         Oliver... – ela deu três passos para frente foi impedida de continuar por um grandalhão moreno. A empregada retirou-se e fechou a porta, não gostava de ver o que acontecia com as pessoas que ficavam ali dentro, normalmente não era boa coisa.

A porta mal se fechou a suas costas e Jennie já foi jogada contra a parede e invadida por mãos impiedosas em uma revista minuciosa. O capanga de Oliver a soltou e deu um sorriso ao chefe.
-         Olá Princesa. – disse Oliver exibindo seus dentes perfeitos em um sorriso, enquanto ia até ela.
-         Isso foi mesmo necessário?
-         Não foi nada pessoal, são as regras.
-         Dane-se suas regras. – disse ela rancorosa, ele fingiu não perceber.
-         Oh... vai dizer que não sentiu falta de mim?
-         Claro que senti.
Beijaram-se então, não ficando assim por muito tempo.
-         Fiquei sabendo que você foi atrás de Marie enquanto estava no México, confesso que senti uma pontada de ciúme. Marie sempre me lembra um nome que você conhece bem... qual era mesmo? Ah, James.
-         Não sei do que está falando.
A expressão de Oliver mudou-se de repente e ele virou-lhe um tapa no rosto.
-         Sua puta imunda! Como tem coragem de aparecer na minha frente?!
-         Oliver eu... – recebeu outro tapa violento ficando com as faces totalmente vermelhas.
-         Cale a boca! Quem fala agora sou eu, entendido?
-         Sim... – disse debilmente, estava apavorada.
-         Como você pode fazer isso comigo?
-         Oliver eu posso explicar…
-         Explicar o que? Que você foi ameaçar Marie para que ela largue o osso?
-         Por que você sempre exagera?
-         Odeio que me respondem com outra pergunta! – Oliver sacou uma arma e apontou para cabeça de Jennie. – Eu queria muito te matar, mas não posso, essa decisão não cabe a mim, isso é o que mais me dói. O mundo está cheio de mulheres como você, uma mais ou uma a menos não faria diferença mas querem você viva, por enquanto.
-         Oliver...
-         Não quero ouvir explicações, você apareceu aqui como se nada tivesse acontecido... mas meus problemas pessoais não são importantes, quero um esquema detalhado do que você e suas amigas putas vão fazer nessa noite.
-         Não posso dizer-lhe.
-         Não? – ele deu um tiro pra cima, ela começou a chorar. – Diga!
Controlou os soluços e começou a falar. 

******

A noite caiu depressa e quando Noelle deu por si as coisas já estavam acontecendo. Scarlett às dez em ponto jogou o carro contra o saguão do museu fazendo um grande estrago. Em poucos segundos, os dois guardas estavam lá.
-         O que está acontecendo? – perguntou Kruger enquanto Sylvester tentava tirar a mulher de dentro do carro. Scarlett quando saiu cambaleou um pouco e  Sylvester sentiu cheiro de bebida.
-         Desculpe... o que eu fiz? – ela falava arrastadamente.
-         Essa mulher está bêbada com um gambá, Kruger.
-         O que fazemos com ela? – perguntou Kruger.
-         Esperamos a policia chegar
-         Tomara que tenha dinheiro para arcar com as despesas desse conserto.  
-         Pelas roupas ela parece uma moça fina. – disse Sylvester. – Qual seu nome? – perguntou a Scarlett.
-         Meu nome? Nome... eu não tenho nome... sou uma deusa... – ela ria desesperadamente.
-         Tem documentos pelo menos?
-         Documentos... o que é isso?
-         Papeis que provam quem é você.
-         Ah... tenho sim... na minha bolsa, aqui... – ela tirou da bolsa uma seringa cheia de um liquido esverdeado e enfiou no pescoço do homem, foi rápida e em poucos segundos os dois homens estavam desmaiados.
-         Babacas... – suspirou enquanto deixava o saguão 

 Às dez horas exatamente Audrey desativou os alarmes externos, Jennie desceu pela clarabóia seguida de Emmanuelle. Elas sabiam que se tirassem a moldura da parede soaria um alarme ensurdecedor então fariam a famosa “substituição”. Emmanuelle pegou uma placa de madeira e colocou atrás do quadro enquanto lentamente Jennie  tirava o quadro da parede. Emmanuelle não se mexia porque sabia que se o fizesse seria presa, a idéia era terrível. Aquele momento parecia uma eternidade.
-         Ande rápido Jennie! – gritou escandalosamente.
-         Pronto. – ela voltou a moldura pro lugar, Emmanuelle pode descansar.
Jennie enrolou o Da Vinci e o guardou. Saíram pela porta da frente, Audrey e Scarlettt as esperavam em um carro em frente ao museu, Jennie pensava “Não queria que nada de ruim acontecesse a elas, tenho sorte de que Oliver não tenha atrapalhado”. Audrey sorria, Scarlett também, Jennie olhou para o lado e viu que Emmanuelle também sorria, Jennie também, estavam felizes, todas elas. As coisas que aconteceram então foram terríveis.

Jennie olhava para o rosto Audrey fixamente, amava Audrey mais do que todas as outras. De repente o sorriso de Audrey transformou-se em uma expressão de susto. Antes das balas atingirem seu corpo e Jennie cair morta ela pensava “Como eu gosto delas, elas são a minha família, não quero abandona-las, nunca.”. 

********
-         Pegaram o Da Vinci? – dizia um homem ao telefone.
-         Sim senhor, vamos entrega-lo pessoalmente.
-         Ótimo. Espero vocês em dois dias.
A ligação foi cortada.


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