Capitulo 5 - Monólogo

Lisboa estava tão fria quanto era de se esperar, tão viva e cheia de romantismo quanto qualquer outro lugar da Europa, tão melancólica quanto qualquer outra parte do mundo.

         Emmanuelle estava em um bar pouco movimentado na saída da cidade, já cansara de colocar a bebida dentro de um copo e passou a entornar o liquido em sua garganta diretamente da garrafa. Ninguém notava, afinal, as pessoas estavam ocupadas demais com suas próprias vidas para notarem a dor de alguém. Mas a vida era assim mesmo, não se tinha para onde correr.

         Mais um gole, mais um pensamento doentio. Uma senhora na mesa ao lado fez um sinal com as mãos, um rapaz na casa dos vinte anos disfarçou um pouco mas foi atrás da mulher, entrando com ela em um quarto atrás do balcão.

         Mais um gole. Noelle jogou os cabelos para o lado, prendeu-os de qualquer jeito, tirou um pequeno frasco da bolsa, jogou o pó branco que estava dentro dele sobre a mesa, ajeitou um pouco com um cartão telefônico e aspirou. Deixou a cabeça pender para um lado. Nunca pensou que poderia sentir-se tão mal um dia em sua vida. De certo modo sentia-se assim porque já havia se saciado. Vinte cinco anos e Emmanuelle Garcia já tinha feito de tudo na vida. 

         Já ultrapassara todos os limites, inclusive os do seu próprio corpo. Já cometera tantos roubos que todos julgavam impossíveis, já bebera e drogara tanto que era quase impossível de ainda estar viva. Já sentira tudo que o corpo é capaz de sentir, de dor a prazer, tudo.

         Ajeitou-se mais um pouco na cadeira, virou mais um gole, sentiu a cabeça rodar, aspirou o resto do pó que sobrara sobre a mesa e quando recuperou os sentidos o bar já estava vazio.

         Seu estômago revirava, virou-se e vomitou no corredor. Com o resto de dignidade que lhe sobrara deixou duzentos dólares sobre a mesa e foi embora, cambaleando, até que a força abandonou definitivamente seu corpo e ela caiu na sarjeta.