Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes escrita por Alberto Tavares


Capítulo 2
Capital


Notas iniciais do capítulo

A hora da despedida chegou, Edric e Catem dão adeus ao Distrito 3 e partem para a Capital onde participarão da pura matança. Espero que gostem ^.^



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Quando dou conta do que está acontecendo, vejo que mais Pacificadores estão ao meu redor, e ao redor de Catem também, estão nos levando à entrada do Edifício da Justiça. Meu pai me disse que os Tributos costumavam fugir nos primeiros Jogos, mas aos poucos eles foram se acostumando, mas a Capital obviamente não deixaria de se prevenir.

Quando chego lá dentro, fico numa saleta majestosa. O carpete é um enorme tecido fofo que ouvi dizer ser feito de pelúcia, o sofá é uma coisa, digamos, macia até o ultimo fio de cabelo da unha. Por um minuto fico feliz de estar ali, mas então me lembro que não estou ali por acaso.

Tento não chorar, sei que existem um amontoado de câmeras me espionando naquele momento, tudo para mostrar na reprise o que todos os Tributos faziam em suas horas vagas. Podia ver a manchete: O chorão do 3!

O primeiro a entrar é meu pai e a senhora Cashmere. Eles estão com os olhos inchados, meu pai parece ter visto um fantasma ou algo do tipo. Ficamos sem dizer nada por um bom tempo, mas as palavras são expressas em um abraço coletivo.

Tento dizer alguma coisa. Mas nada sai como imagino. Começo a gaguejar rápido como eu sempre faço quando estou sendo pressionado. Meu pai diz pra mim que ele e Cashmere estavam planejando um casamento, e que iria ser em menos de duas semanas, era para ser uma surpresa pra mim. E foi. Tanto que eu disse que iria vê-los se casando. Mas então só posso ouvir o choro constante da senhora Cashmere ao ouvir meu comentário.

– Cuide dele, ela disse – meu pai se virou para mim. – Como posso cuidar de meu filho se ele está dentro da morte? Como?

– Vai haver um jeito, pai – eu digo.

Ficamos abraçados ali por muito tempo, gostaria de ficar para sempre ali. Mas somos interrompidos por um maldito Pacificador, anunciando que nosso tempo tinha se esgotado. Dou um singelo adeus a eles e os vejo partir.

O padeiro é o próximo a me visitar, ele conta algumas piadas como de costume e logo pede desculpas, mas eu fico bem por ele ter me animado, estou um pouco menos tenso. Ele disse que me daria uma dúzia de pães agora se eu não fosse provar do bom e do melhor lá na Capital, o que não é mentira. Digo a ele para recompensar meu pai e enviar a dúzia a ele. Quando ele vai embora, Tyson chega de inesperado.

Ficamos nos olhando por um tempo, mas não suportamos o clima de tensão que existe como um muro de titânio entre mim e os Jogos.

– Não morra – ele diz antes de me abraçar. Quando nos soltamos, apertamos nossas mãos e ele funga com o nariz. Ele pede desculpas pelo meu braço uma centena de vezes, até que o Pacificador venha avisá-lo de que o tempo dele tinha esgotado. – Não morra – ele repete.

Quando eu saio do Edifício da Justiça, sou levado num carro até a estação de trem, junto comigo está Tereso Grace, Marco Hanz, e Catem, apertando minha mão ainda chorosa. Há tantos repórteres que não consigo ver mais do que vários flashes embaçando minha vista.

Ver Catem chorar não é comum, nem mesmo para ela. Pergunto-me se é uma tática do seu jogo para todos acharem que ela é uma chorona e deixarem-na por ultimo. Mas daí percebo que estou sendo frio e calculista.

Entramos no trem e deixamos os repórteres baterem suas ultimas fotos antes de adentrarmos naquela pura tecnologia. Aposto que eles combinaram Distrito 3 e Distrito 6 para aquela máquina tão gigante. Nunca tinha visto um trem tão bonito como aquele de tão perto, muito menos pisar nele. Tenho um leve ataque de pânico quando ele começa a correr, posso apostar que de arrancada ele chega até 400 quilômetros por hora.

O trem é chique de ponta a ponta. O chão e as paredes são vestidas de veludo vermelho, cada um de nós recebe uma espécie de apartamento que consiste em ter um quarto, um vestíbulo e um banheiro com água quente e fria. Roupas são tão incríveis que nem imagino em quais ocasiões usar cada uma delas. Tereso me disse que tenho que me vestir para comermos juntos.

Tomo um banho de água quente que parece enxugar todas as minhas tristezas para o ralo. Quando eu termino, vejo que as roupas parecem que foram feitas sobre medida para mim. Visto uma camisa branca com botões e a insígnia da Capital bordada gigantesca nas costas e calças pretas. Lembro-me da prótese mecânica sobre meu braço, procuro um terno e pego o primeiro que avisto. Azul piscina com toques em branco. As mangas são suficientes para cobrir o braço, mas a mão continua à mostra. Calço luvas brancas e saio dos meus aposentos.

Tereso aparece para me mostrar o caminho até a ceia. As paredes eram feitas de madeira polida, uma mesa onde os pratos são todos cobertos por belas comidas enchem minha boca de saliva.

– Quando chegamos à Capital? – pergunto a Marco.

– Em nove dias, ainda faltam nove distritos para visitarmos – ele responde. – Enquanto isso vocês podem ganhar peso comendo essa refeição digna de reis e rainhas.

– Não estou com fome – diz Catem, seus olhos estão vidrados na comida, e sua língua lambe seus lábios. – Mas não tem como não comer tal comida! Parece ser feita por anjos.

– Vão gostar mais da sobremesa – diz Tereso.

Comemos um ensopado de legumes e carne bovina seguido por uma boa quantidade de saladas, costelas de porco, purê, queijos, frutas e no fim um delicioso pudim de chocolate molhado com chocolate branco derretido é posto a mesa. Como de tudo um pouco, para poder ter estômago para agüentar tudo. Ou até mesmo ficar mais forte para o inicio dos Jogos.

Depois de terminarmos de comer, vamos a um lugar onde vemos a reprise de tudo o que estava acontecendo. Ouço chamarem o nome de Catem, de como ela parecia triste e morta no mesmo momento em que seu nome foi chamado. Mas nada se compara a mim, imóvel até irmos ao Edifício da Justiça. Sei que essa reprise vai passar novamente no quando os vinte e quatro Tributos estiverem postos ao trem. E então reprisarão todas as colheitas de todos os distritos.

Nos dias que se seguem, tento conversar ao máximo com Catem. Vigiamos as estradas passaram com velocidade pela janela. O Distrito 4 era tão lindo e cheio de água que por um instante tive vontade de estar naquela colheita. Vamos avançando e avançando até chegar no Distrito 12, só quando chegamos lá que percebo que não encontramos nenhum outro Tributo desde que chegamos, talvez cada vagão pertença a um distrito. Não tinha pensado nisso no momento em que entrei no trem.

Quando começo a ganhar peso, acostumar com os solavancos do trem, as visitas aos outros distritos, vamos assistir a reprise final.

O pessoal do Distrito 1 são tão fortes que me parecem serem feitos de pedra. O garoto se voluntariou no lugar do que estava indo, e entrou comemorando no trem. A garota parecia confiante de si mesma. O Distrito 2 e 4 foram a mesma coisa. Tem havido boatos de que os jovens dos Distritos 1, 2 e 4 treinam constantemente para os Jogos Vorazes, o que é proibido. Então, desde a sétima edição dos Jogos Vorazes eles são chamados os Carreiristas, e formam um grupo entre si para matarem os outros Tributos. Novamente vejo o peso morto que sou para os Pacificadores quando a reprise do Distrito 3 é mostrada. No Distrito 5, um garoto de doze anos foi chamado para os jogos, é o mais novo de todos nós, pelo que vi, seu nome é Neil Grenth. Os do Distrito 6 e 8 não parecem ser tão fortes esse ano, as garotas são as que mais me preocupam, possuem mais músculos do que qualquer um dos Tributos já mostrados. O 7 tem um garoto de dezoito anos que me parece ser o alvo do centro das atenções deste ano, só pelo fato do garoto ser atraente e ter cabelos louros rebeldes. Algo me diz que ele já tem patrocinadores. O Distrito 9 tem um garoto carrancudo cheio de cicatrizes, a garota parece ter sido atingida por uma pedra nos dentes. No Distrito 10 e no 12, os mais mirrados e magricelas Tributos são escolhidos, não vão ter chance vendo a fisionomia dos outros. O Distrito 10 me parece que o garoto barrigudo e chorão está fazendo muito teatro, ele deve ser um alvo difícil. Eu não começaria por ele.

Depois que tudo termina com o hino de Panem, Tereso Grace se levanta, pede para nós irmos aos nossos aposentos e obedecemos.

Quando eu chego ao meu quarto e começo a me despir para tomar banho, percebo que não estou usando as luvas. Minha mente vai a um milhão por hora. Será que eles viram o meu braço mecânico? Talvez não, Tereso teria tido um ataque de pânico. Catem não há problemas de ver, afinal foi ela quem o fez. Mas e o Marco? Não posso deixar ninguém desconfiar que tenho um braço mecânico.

Depois do banho, vou me deitar com um pijama de manga comprida. Pensamentos voam na minha cabeça, tenho vontade de chorar, quero ir para casa… mas não tem como. Durmo com um grande pesar.

Tereso Grace está me chacoalhando com se eu fosse um boneco de pano. O dia já amanheceu e as cortinas azuis exibem o brilho do sol.

– Você precisa acordar, temos um longo dia.

Saio dos meus aposentos e encontro com Catem e Marco conversando sobre táticas de sobrevivência. Enrosco-me ao lado de Catem e ele continua como se eu não tivesse chegado, mas seus olhos viram de mim para Catem, de Catem para mim.

– A melhor maneira de ascender uma fogueira – ele começa a dizer –, é simplesmente terem um solo liso e seco. Se conseguirem alguns galhos e cascas de árvore vai ficar mais fácil. Tentem arranjar pelo menos duas facas, se baterem lâmina em lâmina podem conseguir uma faísca. Ouvi dizer que vão colocar pilhas ao redor da Cornucópia, tente pegar algumas, vão ajudar a fazer a fogueira.

A Cornucópia é uma espécie de chifre enrolado gigante onde é a maior fonte de armas para os Jogos. Ao redor dele tem coisas pouco ajudáveis. Quanto mais perto do chifre você estiver, melhores coisas vão encontrar. Quando os Jogos começam, eles nos colocam perto da Cornucópia, logo, muitos de nós morrermos no primeiro dia, pois a cobiça por uma boa arma é muito grande.

– Agora – Marco continua. – Digam do que são capazes.

Ficamos um pouco em silêncio. Até que Catem começa:

– Edric é forte – ela diz. – Ele ajudava a carregar peças do Entulho até as fábricas, as peças maiores.

É verdade, mas eu só ajudava. O que eu faço de melhor mesmo é pesquisar. Passo todo o meu tempo pesquisando o Distrito 3. Pergunto-me se vou voltar a pesquisar depois disso tudo.

– Catem sabe construir coisas grandes a partir de coisas pequenas – eu digo.

– Certo então. Vou tentar alguns patrocinadores para vocês, e os estilistas deste ano parecem ser muito inteligentes, vão fazer de vocês grandes peças do Distrito 3.

O modo como ele pronuncia a palavra peça me dá a entender de que ele também acha que isso é só um jogo. Mas o ele quer dizer que seremos a prova viva de que o Distrito 3 pode vencer.

Conversamos um pouco sobre táticas de batalha e de como acertar o nosso inimigo com um golpe certeiro, até que entramos dentro de um túnel. Ele parece interminável, somos banhados apenas pelas luzem do trem. Quando finalmente saímos dele, Catem e eu vamos até as janelas. As cores vibrantes estão por todo o lado, vermelho ofuscante, amarelo vibrante, rosa gritante. Alem dos carros super desenvolvidos que os Distritos 6 constroem para eles.

Saímos do trem, Catem e eu. Ficamos de frente para as câmeras que estão todas apontadas para nós. Sinto uma pontada de raiva formando-se em meu interior, Catem segura minha mão e aperta com se nunca mais fosse soltá-la. Eu nunca mais quero soltá-la.

Não posso soltá-la.



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Notas finais do capítulo

Tentei transmitir bastante tristeza neste capítulo, espero que eu tenha conseguido. Estava adorando esse Distrito 3, tinha que ir logo assim tão depressa para a Capital? deem um pouco de atenção ao Marco, ele será bastante influente nessa história.



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