Em Pavement - Cassie Steele fala de um relacionamento fracassado, onde ela deixou sua carreira e seus sonhos por um homem e um casamento que achou que a satisfaria para o resto da vida. Porém os anos se passaram e ela se arrepende da decisão que tomou.

Digamos que trata-se de um caso bem comum. Mulher larga uma vida que poderia ter sido “uau”, ou não, para casar-se e ter uma vida que o tempo tornará simplesmente entediante e comum. Daí surge aquela sombra de dúvida “do que poderia ter sido se não tivesse me casado” para assombrá-la. E quando chegamos a esse ponto, pode ter certeza que estará cega o suficiente para não pensar que se não tivesse casado também poderia hoje estar se perguntando a pergunta inversa: “E se tivesse me casado?”. Bom, mas nada além da primeira constatação se passa na cabeça de Suzanna Garden nesse instante que vos falo.

Ela está decidida e já tem as malas prontas. Só falta ter onde morar e um emprego, mas o segundo já está sendo providenciado.

-Mas o que houve com você e o Eric? -perguntou a Diretora Samantha Reynalds.

Estamos em Grimm May High School no dia 29/08. Lugar onde Suzanna viveu a melhor fase de sua vida. Aqui conheceu as líderes de torcida e tornou-se a chefe delas por três anos, conheceu também os seus melhores amigos e seu futuro ex-marido, Eric Garden.

Em Grimm May, Suzanna era apenas Sue McKay, chefe das líderes de torcida.

-Estamos nos separando. -disse ela à amiga de tempos de escola -Essas coisas acontecem.

-Como assim “acontecem”? -perguntou Samantha -Até semana passada vocês estavam bem! Abraçados e...

-Não é falta de amor, Sam. -tentou ela explicar -É que eu casei muito cedo. E não vivi coisas que agora...

-Já entendi.

Uma expressão de alívio invadiu o rosto de Sue naquele instante, mas logo isso passou ao ouvir a conclusão de sua amiga: -Mas não concordo.

-Sam!

-Sue, querida Sue, olhe pra mim.

-Hmm. -disse ela relutante.

-E o que vê?

-Como assim? -perguntou ela confusa.

-Ta, eu digo o que vê. -disse Samantha ficando de pé -Uma solteirona de quase trinta anos que nunca teve um homem que prestasse desde Steve McKeef... Oh! Espera! Ele também não prestava! Então, conseguiu entender a mensagem agora?

-Sam!! Eu quero uma vida professional. -disse -E não um homem perfeito!

-Exato! -disse ela -Porque você já tem isso!

Sue revirou os olhos.

-E o que você espera fazer sem um curso superior, Sue? -perguntou Samantha rindo da cara da amiga -Ensinar Matemática?

-Eu esperava que me empregasse como treinadora das líderes de torcida desse ano.

-Oi? -Samantha perguntou o mais perplexa possível.

-Eu sei que estão precisando de uma. E sei que o professor de educação física não suporta a torcida...

-Suzanna, você só pode estar...

-Por favor! Me dê essa chance. -ela praticamente implorava à amiga -Você sabe que eu sou capaz disso! Sabe que eu sou boa.

-Você era boa.

-Ainda sou!

-Não treina há mais de dez anos.

-Mas faço yoga e pilates duas vezes por semana. -Suzanna tinha um sorriso nos lábios que parecia o de uma menina. Samantha não teria como recusar aquele pedido por menos que concordasse com a decisão tomada pela amiga.

-Passará então por um período de experiência, entendido? -perguntou Samantha ao ceder.

-Obrigada, Sam! Obrigada! -Sue foi até a amiga para dar-lhe um abraço e um beijo na bochecha.

-Só espero não me arrepender. -disse ela -Mas espero sinceramente que você se arrependa...

Samantha não se arrependeria e sabia disso. Conhecia muito bem a garra da amiga que não mudara tanto ao passar dos anos. Porém, Eric ficaria de coração partido assim que chegasse em casa após um dia exaustivo e entediante de trabalho.

Praia de Grimm May - Há uma vantagem de se morar em Grimm May, CA... Faz calor o ano todo e a praia é de se deixar hipnotizar. É assim que Maggie se sente olhando para o mar de sua nova cidade.

-Lindo não? -perguntou uma garota de cabelos loiros e ondulados à Maggie repentinamente.

-Como? -perguntou Maggie para ter certeza se era mesmo com ela.

-O mar. -disse a menina encarando Maggie com um sorriso -A água daqui é famosa por ser a mais limpa de Los Angeles, chega a ser cristalina!

Margareth Taylor, mas conhecida como Maggie, acabara de se mudar com seu pai para Grimm May. Ele havia recebido uma proposta de trabalho, seria o novo professor de História de Grimm May High. E para Maggie só restava agora acompanhar o pai, que era tudo que ainda lhe restava de familiar.

-Ouvi dizer. -respondeu ela à estranha.

-Summer. Summer Reed. -apresentou-se estendendo uma mão.

-Prazer, Maggie Taylor. -ela apertou a mão de Summer um pouco que relutante.

-É nova aqui? -Maggie não entendia como uma estranha podia estar sendo tão simpática com ela. “Será que estaria fazendo hora enquanto esperava alguém?”, era o que conseguia imaginar.

-Sou... Cheguei hoje. -respondeu.

-Deve estar me achando esquisita, não é mesmo? -perguntou a menina -Mas eu estou puxando assunto porquê achei que parecia ser legal e bem diferente da minha amiga jennifer que esteve me empurrando seu irmão o dia todo.

-Saquei. -respondeu Maggie abrindo um curto e simples sorriso -Também não curto quando bancam o cupido pra cima de mim.

-Segundo Jennifer, combinamos. Eu e Luke. Líder de torcida e jogador de futebol, sabe como é...

-Sim, se sei. -respondeu Maggie.

-É líder de torcida?

-Não. -Maggie praticamente riu da cara da menina. E realmente era só olhar para as duas e perceber o quão diferentes eram uma da outra. Summer tinha a pele bem cuidada, as unhas perfeitamente bem feitas, o biquini tomara que caia da loja mais cara do lugar. E isso Maggie sabia, já que tinha visto aquele mesmo modelo na vitrine à caminho da praia. Porém, apesar de ter gostado do modelito da líder de torcida, não fazia muito o seu estilo. Maggie vestia calça jeans e uma camiseta preta com uma caveira ao centro. Eram perfis de mulher completamente distintos um do outro.

-Intelectual, então? -chutou Summer percebendo o quão mal tratado era o cabelo da conhecida. Com certeza tanta tinta preta de má qualidade havia feito danos ao cabelo liso da menina quase que irreparáveis.

-Não pertenço a nenhum desses rótulos. -respondeu Maggie seriamente -Sou apenas eu.

-Me desculpe, não queria...

-Tudo bem, Summer... -disse Maggie forçando um sorriso ao se levantar -Você é legal, mas eu preciso ir.

-Ok. Espero que nos encontremos novamente. -disse ela antes que Maggie fosse.

-Quem sabe?

Maggie partiu deixando Summer ali sozinha. A líder de torcida se sentou na areia sem se preocupar com o biquini novo e pegou o celular.

Ela encarou o aparelho por um tempo até que começou a procurar um número, que quando achou não hesitou em ligar.

-O que foi, Summer? -era a voz de um garoto da mesma idade do que ela aproximadamente -Não está na praia com o Luke e as líderes de torcida?

-Guy, você sabe que não estou me divertindo mais do que você. -disse Summer -Eu não gosto do Luke e não...

-Summer, a questão não é essa e você sabe muito bem qual é.

Summer não podia assumir Guy. Seria seu fim como líder de torcida e como a garota mais popular da escola. Nesse ponto a menina era fraca e muito ligada aos ditos antes “rótulos”. Porém acima de tudo tinha o sonho de entrar em uma escola de dança, e tendo a torcida como atividade extracurricular facilitava seu ingresso.

-Falta um ano, Guy...

-Como? Você só pode ter enlouquecido, não?

-A escola vai acabar, e a gente...

-Summer, depois da escola tem a faculdade e você vai para uma escola de dança enquanto a mim... Acabou, Summer. -disse ele por fim.

-Não diga isso...

-E o que você quer que eu diga? -perguntou ele -Cada um de nós vai seguir com sua vida para lugares e destinos diferentes.

-Eu te amo! -ela soava desesperada.

Guy ficou em silêncio.

-Diz alguma coisa. -pediu ela.

-Eu... Eu tenho que ir.

-Ir aonde?

-Sei lá... Ver TV, ajudar minha mãe na cozinha... Qualquer coisa.

-Qualquer coisa pra não falar comigo? -perguntou ela sentindo as lágrimas começarem a aparecer e a garganta arder.

-Até algum dia, Summer. -disse ele -Ou não. Tanto faz.

Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, ele desligou, mas Summer não estava conformada com aquela discução. Precisava vê-lo. Precisava sentí-lo novamente. Porém não seria naquele dia... E nem no próximo...

-Onde você se meteu? -perguntou Jennifer assim que avistou Summer retornando.

-Fui até o fim da praia e voltei... -disse ela se sentando na areia.

-Ah, sim... -Jennifer estranhou, mas logo esqueceu ao se lembrar de algum assunto inútil que naquele curto instante iria distrair Summer.

No apartamento dos Garden, as coisas não iam assim as 1000 maravilhas como já havia lhes contado, mas agora que Eric havia acabado de chegar em casa, após ter passado o dia na empresa que dirige. Apesar de ser da família, Eric não gosta do seu trabalho. Desistiu de um sonho esportivo para comandar a empresa de seu pai, e se arrepende.

-Oi, querida. -disse ele cumprimentando a esposa que estava sentada na cozinha lendo uma revista sobre bolos.

-Oi. -respondeu ela sentindo seu coração começar a se apertar dentro de seu peito.

-Vai fazer um bolo? -perguntou Eric sorridente. Chegar em casa e ver sua linda esposa era o que mais lhe dava felicidade, provavelmente a única coisa que lhe fazia realmente feliz em sua vida.

-Na verdade, era mais para passar o tempo enquanto pensava numa forma de te comunicar uma decisão que tomei. -ela disse essas palavras tão rapidamente que seu marido logo percebeu seu nervosismo e que não se tratava de algo bom o que tinha a dizer.

“Calma, meu amor... Do que está falando?”, era o que gostaria de dizer à sua esposa. Mas havia ficado nervoso demais também.

-Que decisão? -praticamente cuspiu aquela pergunta.

-Eu quero trabalhar.

-Ah, é isso. -disse ele bastante aliviado. Tanto que até sorriu.

-Na verdade... Na verdade...

-Tem mais?

-Tem. -sua pele havia se arrepiado e os olhos começavam a anunciar a presença das lágrimas escondidas.

-Fala! -disse ele -Está me deixando nervoso, Sue.

-Eu te amo, Eric... Na verdade, não sei se dá mesma forma que antes, mas amo...

-O que você está querendo dizer, Suzanna?!

-Eu... Eu não posso mais! -ela deu as costas e correu até o quarto.

Eric, da forma que conseguiu, correu atrás dela e antes que deixasse sua esposa se trancar no quarto, ele impediu a porta de se fechar com o seu braço.

-Para de fugir, Suzanna! -Exclamou ele forçando sua entrada -Temos que conversar sobre... Sobre o que mesmo?

-D... -ela tentava pronunciar aquelas palavras -Divórcio.

Eric não conseguia se mover, havia congelado na posição que se encontrava antes de ouvir as mais duras palavras que já ouviu Suzanna proferir.

-Me desculpa... -diss ela -Eu jamais quis te magoar... E acredite ou não, eu amo você... De verdade.

-Então... Então...

-Eu preciso disso, Eric. - tentou ela explicar -Preciso conhecer uma liberdade que muito jovem resolvi abrir mão de ter.

Ele queria argumentar. Queria convencê-la a ficar, mas algo o travou... Algo o impediu de lutar...

-Adeus. -disse ela pegando as duas malas, já prontas, de sua cama a fim de partir o mais rápido que conseguia.