História do Planeta Floresta escrita por Piano Solo


Capítulo 6
Capítulo 6 - Colheita dos Anos


Notas iniciais do capítulo

Décadas se passaram na Civlização...
Esse era um dia como outro qualquer,
E como todos os outros dias
Este estava repleto de pequenos detalhes
Que vêm a definir o dia de amanhã.



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Menodgi estava idoso, já no limite de sua vida. Seus pais já haviam falecido há décadas, quando a enfermidade o atingiu. Cada família saía de seu Lar e mensalmente e lhe traziam comida, porém não mais os 10% combinados. Menodgi pediu que a cada dia alguém lhe trouxesse comida já preparada, simples, apenas o necessário para ele comer aquele dia, pois ele não tinha forças para cozinhar e limpar as verduras. A Civilização tinha grande carinho por ele, mas esperavam sua morte em breve.

         Em um dia como outro qualquer, uma menina foi levar-lhe comida.

– Bom dia, minha filha.

– Bom dia, seu Menodgi.

– Posso te pedir um favor? – perguntou o velho, com sua voz rouca.

– Claro, seu Menodgi – respondeu meigamente a menina.

– Amanhã é dia de a sua família me trazer comida de novo, não é?

– Ah, é sim. Meus pais trocaram com os de amanhã porque eles estão todos doentes.

– Sério? Todos doentes! E nenhum explorador veio salvá-los?

– Hihihih. Não sei do que você está falando, mas meus avós também sempre falaram desses exploradores, mas eu nunca vi um. Será que eles são algum tipo de lenda?

– Bem, amanhã te conto toda a história dos exploradores. O favor que eu vou te pedir é este: amanhã peça para sua mãe fazer comida para duas pessoas e avise-a que em troca o seu lar não precisará mais revezar para me trazer comida.

– Tá!

No dia seguinte a menina chegou com o pedido do velho Menodgi:

– Bom dia, minha filha! Sua mãe ficou contente com a nossa troca?

– Sim, ficou bastante!

– Eu sabia que ficaria.

– Eu também, hihihihihi!

– Agora eu te peço que me acompanhe ate a floresta. Traga a comida, por favor. No caminho eu te conto a história dos exploradores.

A menina fez conforme ele pediu e o velho Menodgi começou a falar:

­– Os exploradores eram homens normais, mas que apreciavam “a emoção de não saber o que iriam comer no dia seguinte”.

– Assim, tipo o senhor? Como sempre te trazem comida, mas você nunca sabe o que vai ser: suflê de chuchu, cuscuz de abóbora com cereja, enroladinho de abobrinha... – comparou ingenuamente a menina.

– Hahahahahaha, exatamente. Mas com uma diferença, eles vivem nas florestas, e ninguém traz comida pra eles – respondeu Menodgi com muita satisfação de estar contando essa história.

– Que coisa horrível. Assim eles morrem de fome rapidinho... – concluiu a menina, ficando indignada, lembrando-se das vezes que sua mãe atrasa para preparar a refeição.

– Não, eles desenvolvem habilidades e podem sobreviver tanto tempo quanto nós, se virando com o que encontrarem para comer nas árvores.

– Wow! – exclamou a menina, com alegria.

– Sim, é impressionante mesmo. E tem mais... – continuou o velho, já esperando a curiosidade da menina.

– O que, o que?

– Eles não só sobreviviam como também, toda vez que nós passávamos fome cá pela Civilização, eles vinham até nós trazendo muita comida, para que fosse possível sua família sobreviver até a colheita seguinte.

– Como assim, seu Menodgi?

– Bem, antigamente não conseguíamos produzir comida suficiente para o ano inteiro como hoje. Então quando vinha a fome, eles também vinham para salvar-nos dela...

– Que legal – a menina falou rapidamente.

– É menina. Você acha legal porque você nunca passou fome e não sabe como é... – Menodgi fingiu repreendê-la.

– Meus avós sempre me dizem isso, me desculpe.

– Não se preocupe, minha filha, eu pensava como você. Sabe, eu tive um irmão explorador – revela-lhe ele.

– Sério? Que massa! Como ele era? – a menina continua o interrogatório, cada vez mais curiosa.

– Bem, ele era o melhor explorador de toda a floresta, –  afirmou o velho com muita convicção, embora ainda não pudesse dizer se isso era de fato uma afirmação verdadeira – e olhe que não eram poucos! Ele sempre nos vinha salvar da fome, trazendo consigo a comida que encontrasse na floresta, e sempre em quantidade suficiente... Ele era incrível. Depois disso ele ficava brincando comigo no lugar onde depositavam os troncos de árvores caídas. Era uma brincadeira muito divertida! De repente ele sumia na floresta e eu sabia que eu só tornaria a vê-lo da próxima vez que passássemos fome...

Ao acabar seu discurso, Menodgi já estava visivelmente mais empolgado que a própria menina:

– Pelo que o senhor fala, passar fome acabava não sendo algo tão ruim.

– De fato, para mim a fome era uma alegria, pois eu sabia que poderia ver e brincar com meu irmão em breve.

– O senhor é engraçado, seu Menodgi... Pena que eu não irei vê-lo mais.

– É verdade... – afirmou com naturalidade, embora logo depois perguntou-se como aquela menina poderia ter previsto seus planos.

– Digo, não precisarei vir mais trazer comida, já que nosso Lar já está dispensado do pagamento. Mas eu irei de vez em quando ao seu Lar pra ouvir umas histórias...

– Não se incomode, minha filha. – começou a falar-lhe em um tom profético – Aproveite sua vida e faça grandes feitos ao invés de ficar ouvindo as histórias de um velho doente. Aliás, se você quiser me encontrar futuramente, eu te apresento meu verdadeiro Lar.

E o velho que a menina ajudava a caminhar mostrou-lhe o primeiro Lar que construíra. Feito de madeira escura, abandonado no meio da floresta estava o primeiro que foi construído: o verdadeiro Lar do grande inventor Menodgi.

– Obrigado minha filha, esse vai ser nosso segredinho. Se conseguir encontrar o caminho de volta... – e ela acenou que sim com a cabeça – Pode voltar para sua mãe agora.

– Mas porque então comida para duas pessoas? – perguntou a menina sem medo de ser inconveniente.

– É que estou com fome hoje...

A menina deixou Menodgi cheia de assunto para conversar com seus avós.

 


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Notas finais do capítulo

Provavelmente a desculpa que Menodgi deu não colou para você, leitor, não é? Quem ele espera para almoçar?
Não perca o próximo capítulo "Adeus"



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