Beastman escrita por Cicero Amaral


Capítulo 4
Capítulo 4




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Não sou dono de Teen Titans. Lamento.

 

CAP 4

 

            Cansaço. Essa palavra descrevia bastante bem o que Mutano sentia todos os dias nas últimas seis semanas. Ele estava SEMPRE ocupado, não realmente ficando parado tempo o suficiente para sentir tédio. Mas do que isso, a vida dele tinha adquirido uma rotina, coisa que o metamorfo jamais imaginara se possível.

            A manhã era basicamente o único momento em que interagia com seus colegas agora. E isso significava discutir carne vs. tofu com Ciborgue no café-da-manhã e fugir dos pratos preparados por Estalar. Durante o resto da manhã, treino de combate. Como a taxa de criminalidade tinha caído ultimamente, com todos aqueles vilões congelados em Paris, os Titãs tinham mais tempo livre nas mãos. E é claro que Robin decidira que TODO aquele tempo extra deveria ser gasto com treinamento, para desespero de seus colegas. De fato, quando Ciborgue, Ravena e até mesmo Estelar confrontaram Robin, reclamando a respeito da desnecessidade de tanto treino assim, a novidade foi ouvir o garoto verde falar:

- Caras, não adianta. O garoto-rodízio não vai parar de torrar enquanto a gente não for para aquela sala estúpida. Então vamos logo para acabar com isso de uma vez.

            Todos os quatro titãs olharam seu colega verde sem acreditar no que tinham acabado de ouvir. Mutano, de todas as pessoas, estava A FAVOR de treinar? Pelo visto o inferno tinha congelado sem eles verem.

- É que eu preciso vencer o Cy no Mega Macacos 4 antes de almoço. – Inventou o metamorfo, sentindo os quatro pares de olhos em cima dele.

            Essa desculpa pareceu satisfazer a equipe. E, de qualquer forma, se o membro mais preguiçoso da equipe (Mutano) pretendia treinar, os outros não tinham realmente uma desculpa para não fazer o mesmo. Mas, mesmo assim, Ciborgue, Estelar e Ravena deixaram claro seu descontentamento, ao fazer pouco ou nenhum esforço extra na sala de treinamento, durante todas essas semanas. E Robin nem chegou a perceber. Afinal, se o folgado do Mutano estava dando tudo de si na sala, os outros também estavam, certo?

            Às tardes, o Titã mais novo se dirigia à biblioteca municipal, com o máximo de cuidado para que ninguém o visse sair da Torre. Era complicado fazer isso, mas ele sempre conseguia. Um truque que teve vida particularmente longa foi perguntar ao menino-prodígio uma besteira qualquer a respeito do paradeiro de Slade. Ele iria imediatamente para a sua sala analisar pistas, e forçar Ciborgue a fazer varreduras eletrônicas pela cidade. O que significava que Estelar podia tomar conta de Silkie, Ravena podia meditar, e ele, acredite se puder, podia estudar.

            Todas as tardes Mutano lia livros na presença do Sr. Smith, que se assegurava de que o adolescente não se distraísse ou caísse no sono. E o garoto verde se viu forçado a admitir que tinha boas histórias ali. Mas nunca deixava de afirmar que preferia assistir tais histórias em um filme, ou jogá-las num game (afinal, leitura não era seu esporte favorito).

            Na terceira semana o Sr. Smith trouxe um jogo de tabuleiro. Xadrez, ele disse. O esporte dos reis, ele disse. Tudo o que Mutano sabia sobre xadrez é que era um jogo cujo objetivo era cercar o rei do adversário. Esporte dos reis? Esporte de velho, isso sim. Mas Mutano pensava assim porque era massacrado tão impiedosamente pelo Sr. Smith no xadrez quanto nos videogames pelo Ciborgue. E o pior é que a cada movimento errado, o homem mais velho lhe apontava o erro e explicava-o:

- Jovem, você tomou meu peão com sua rainha, e agora tomei-a. Valeu mesmo a pena trocar a rainha por um peão?

- Aproveite-se da fraqueza de seu adversário. De que serve seu bispo preto se todas minhas peças fortes estão nas casas brancas, onde ele não pode ir?

- Você sempre tem que pensar no próximo movimento de seu adversário. A propósito, cheque-mate.

- A estratégia em combate pode requerer sacrifício. Você pegou meu cavalo, mas ao fazer isso você deixou sua torre e seu bispo desprotegidos. Hmmm... qual deles eu devo pegar primeiro?

            Levou quase uma semana até que Mutano aprender a jogar sem cometer erros bobos. E, a partir daí, ele começava as tardes na biblioteca com uma partida de xadrez, e depois, começava a ler.

            E, de noite, quando voltava para a Torre, tinha que arrumar uma forma de evitar um interrogatório por parte de seus colegas. Afinal, eles sempre queriam saber onde ele tinha se metido a tarde toda. Mas o Titã mais jovem logo aprendeu a memorizar o horário dos programas favoritos dos seus amigos. Assim, era só chegar em casa, e falar qual programa estava começando, e logo se ver livre de Robin, Estelar ou Ciborgue. E então correr para a sala de treino, onde malhava até não poder mover mais um músculo sequer.

            E lentamente, cerca de seis semanas haviam se passado.

 

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            Ravena não conseguia meditar. Para isso, ela precisava acalmar a mente e procurar seu centro, mas já havia semanas que ela não era capaz disso. A empata estava usando toda a força de vontade que tinha para manter o controle sobre seus poderes, mas mesmo assim, quase todos os objetos em seu quarto estavam tremendo ou mudando de lugar. Ela mesma não parecia em estado muito melhor, sentada no chão, com os braços em volta de si mesma, e o rosto, que normalmente tinha uma expressão de simples serenidade, agora transmitia pouca coisa além de tristeza.

            Tudo havia começado há cerca de um mês e meio. Pela primeira vez em muito tempo, ravena estava conseguindo meditar durante a tarde toda sem interrupção, pois um certo pirralho verde subitamente parara de incomodá-la. Durante a primeira semana, a empata sentiu a satisfação de poder realizar suas atividades em paz, finalmente sozinha. Enquanto estava lendo ou meditando, porém, sentiu um leve desconforto, mas era uma sensação tão fraca que pôde ser facilmente ignorada.

            Na segunda semana, porém, essa sensação desagradável cresceu. Pelo menos uma vez, durante as sessões de meditação, Ravena se pegava olhando na direção da porta de seu quarto, sem realmente saber o que esperar. - “Melhor aproveitar a calmaria, Ravena. Você precisa meditar agora, por que a qualquer momento aquele moleque irritante bate nessa porta e aí você nunca mais medita de novo”. A empata repreendeu mentalmente a si mesma, retomando a meditação. – Mas isso não a impediu de lançar olhares em direção à porta mais algumas vezes, durante a semana.

            Na terceira semana, Ravena já sabia dar nome àquele horrível sentimento que a acompanhava há semanas: Solidão. Ironicamente, ela sempre brigava com seus colegas por privacidade, e, com o passar do tempo, os Titãs aprenderam a respeitar seu espaço. Todos menos Mutano, é claro. O metamorfo verde nunca deixara de aparecer pelo menos uma ou duas vezes por dia, munido de alguma piada horrível ou outra forma qualquer de fazê-la desperdiçar o tempo, independente de todas as tentativas por parte da empata de afastá-lo (algumas com direito a danos físicos). E ele nunca desistia. Nunca. Ou assim parecia. - “Eu não devia ter sido tão dura com ele nos últimos dias” - ela pensou, arrependida, esperando que alguma coisa acontecesse, alguém aparecesse, uma voz chamasse, qualquer coisa que a lembrasse que não era preciso estar isolada de tudo e todos. Mas a espera em nada resultou.

            Quarta semana. Meditar era quase impossível. Por mais que tentasse, ravena não conseguia impedir que seus pensamentos voltassem para seu colega verde. – “ele está certo em me evitar... Eu o atirei pela janela, afinal de contas. Mas eu já machuquei ele antes e isso nunca o impediu de voltar... será que ele ainda está bravo?” – A empata chegou inclusive a, numa tarde de quinta, se dirigir ao quatro do metamorfo, mas, após hesitar vários minutos sobre se deveria ou não bater, ouviu os passos pesados de Ciborgue se aproximando no corredor. Sem querer ser vista no local onde estava, ela se teleportou de volta para o próprio quarto.

            Na semana seguinte, a empata estava confusa. Mesmo uma ida ao café habitual não lhe fez bem: Ela nunca se importara – de fato, apreciava – com o fato de que o local e a poesia declamada pelos fregueses fossem depressivos. Desta vez, no entanto, ela se viu pensando: “Parece que ninguém aqui em prazer em viver. Se esses poemas fossem verdadeiros, então não haveria sentido em continuar existindo”. E Ravena não entendia o porquê disso: Ela costumava gostar deste lugar, mas não mais. Pelo menos não agora. Por alguma razão que ela era incapaz de explicar, não se sentia mais à vontade no café que freqüentara durante anos. De fato, sentia-se uma total estranha ali. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que precisava ver alguém sorrindo.

            E a sexta semana não encontrou Ravena em melhor condição. Ela agora tinha certeza de que não tinha lugar entre as outras pessoas. Ela não estava contando, mas sabia que já fazia mais de um mês que ninguém lhe dizia uma palavra além das amenidades das refeições, e isso quando ela comia junto aos demais. Mas não que isso fosse novidade: ninguém batia à porta de seu quarto, exceto em casos de emergência. Até mesmo Estelar, com seus incessantes convites para o shopping e para “iniciar” conversa de menina, tinha por hábito avisar que iria ao quarto dela, e essa coisas eram emergências para a princesa alienígena. Ninguém aparecia simplesmente pelo prazer de uma visita. Ninguém exceto por um certo garoto verde irritante. Ele tinha jurado não desistir enquanto não conseguisse fazer a empata sorrir, mas tudo o que conseguia era irritá-la, gastando horas e horas do tempo dele garantindo que ela não ficasse só.

- Será que ele realmente desistiu de mim? – Ravena perguntou a si mesma, enquanto diversos objetos em seu quarto balançavam incontrolavelmente. – Claro que sim. – ela pensou. – Eu sou muito... esquisita. Ele deve ter se cansado de se esforçar tanto por alguém que não pode demonstrar apreciação.

            Ironicamente, apesar das inúmeras vezes em que dissera ao Mutano que tudo o que queria era ser deixada em paz, ela agora... sentia saudade. Não que gostasse das piadas, das brincadeiras ou do comportamento infantil, mas ele ao menos lhe dava atenção. Fazia com que se sentisse importante. E, mesmo que não fosse seu estilo, ela invejava a capacidade de seu colega de estar sempre feliz, sempre sorrindo como se tudo no final fosse dar certo. E ela jamais imaginara que um dia fosse realmente se livrar dele. Mas agora, após um mês e meio praticamente sem contato com o Titã verde, Ravena entendia por que se deve tomar cuidado com o que se deseja.

- Queria que as coisas voltassem a ser como antes. – Ela murmurou para si mesma. Mas como? Mesmo que Mutano não estivesse decidido que Ravena não valia o esforço, no mínimo estava furioso pela forma como fora tratado antes. Ela estava achando que estava numa dessas situações em que pedir desculpas podia piorar ainda mais a situação. Ravena riria desse pensamento se estivesse em seu estado emocional habitual, mas, no presente momento, não era capaz de perceber que estava apenas sendo insegura. Por isso, suspirando, permaneceu em seu quarto, tentando sem sucesso se acalmar.

 

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            Era o primeiro dia da sétima semana desde que Mutano modificara radicalmente sua atividade diária, e ele só tinha um pensamento em mente:

- Estou exausto. Acabado. Eu acho que vou cair num canto e morrer. – Eram seus pensamentos enquanto praticamente se arrastava para a sala de treinamento da Torre Titã. Treinar e manhã toda e depois malhar à noite estava cobrando seu preço. A falta de sono, os músculos doloridos, e a fome (o metamorfo continuava comendo o mesmo de sempre, mas tinha triplicado a atividade física) estavam fazendo seu desempenho cair no treino de combate matinal, mesmo com ele se esforçando ao máximo.

            Robin estava convencido de que seu colega estava voltando a ser o preguiçoso de sempre, e, no começo, não deu muita importância – “O que é bom dura pouco.”  - pensou ele. Mutano sempre tivera as piores pontuações nos treinos de combate mesmo.

            Mas após ver a pontuação de seu colega verde cair todo dia durante uma semana, decidiu que era hora de agir. Logo que a sessão de treinamento acabou e os demais Titãs se preparavam para um banho antes do almoço, Robin se dirigiu a uma forma verde caída no chão.

- Mutano, levanta. Preciso ter uma conversa com você. – O líder dos Titãs falava sério.

- Cara! O que é? O treino de hoje já acabou comigo, tá legal? – Respondeu Mutano sem se mexer.

- O treino de hoje não teve nada de extraordinário. – retrucou Robin. – Você não tem nenhuma desculpa para o seu comportamento.

- Comportamento? – o metamorfo olhou nos olhos de seu líder, mas sem sair do chão. – Do que você está falando?

- Sua pontuação nos treinos caiu pelo sétimo dia seguido. Sua preguiça está passando dos limites. Esta equipe precisa que todos os seus membros estejam em condição de responder a uma emergência. E você não está.

            Mutano não pode evitar um suspiro de alívio. Ele tinha achado que sua agenda secreta tinha sido descoberta! Mas o alívio logo deu lugar à irritação. Ele não tinha feito nada para merecer aquele sermão. Assim, dolorosamente, forçou-se a ficar de pé, para olhar seu colega nos olhos:

- Cara. Você é cego? Já faz um mês e meio que você começou essa coisa de treinar todo santo dia. E eu fui o único que aceitou essa sua idéia. Esqueceu?

- Isso é irrelevante. O que conta é que você está deixando sua pontuação cair.

- E você nem tem idéia do porquê, não é, destemido líder? Helooouu?!

            Robin abriu a boca para responder, mas foi interrompido por Ciborgue, que se posicionou entre os dois.

- Tá legal, tá legal, já chega. – disse o homem metálico, agora olhando fixamente para o menino-prodígio. – Negócio é o seguinte, Robin. Mutano está certo.

- O que... você... disse? – Gaguejou o líder dos Titãs, surpreso além de todos os limites. Ele sentia que seu cérebro tinha dado curto.

- É isso mesmo. Estamos aqui nos matando nessas pistas de treino a manhã toda, sete dias por semana, há um mês e meio! E é o verdinho aqui o único que está dando tudo de si, todo dia. Você mesmo disse isso, esqueceu?

            Mutano ficou perplexo ao ouvir isso. Ele nunca tinha ouvido Robin dizer tal coisa. Percebendo a surpresa de seu amigo verde, Ciborgue explicou:

- O passarinho aqui disse isso para a gente, numa hora em que você não estava, Mutano. Disse que se você, de todos nós, estava se esforçando, ninguém tinha desculpa para não fazer o mesmo.

- AGORA faz sentido. – Raciocinou o metamorfo, olhando para Robin. Este estava com uma aparência “chibi”, que se vê em desenhos animados japoneses.

- Amigo Robin, ouça o que o amigo Ciborgue diz. – Os três rapazes se viraram e viram que Estelar e Ravena tinham retornado à sala de treino. A tamaraneana continuou, em tom conciliador – Todos nós estamos cansados de treinar desse jeito todos os dias.

- E, caso não tenha percebido, o seu “treinamento” já derrubou um dos nossos. – Disse Ravena em seu tom monótono habitual. Mutano quis protestar, mas estava cansado demais para isso. – Quer que todo mundo esteja no chão quando os bandidos atacarem novamente?

            Robin abriu a boca para responder, mas Ciborgue o interrompeu novamente:

- Eu funciono com baterias, Estelar tem super-força e Ravena tem poderes que não a drenam fisicamente. É por isso que estamos de pé.

            Mutano deu a Ciborgue um “V” de vitória. Vendo isso, Robin decidiu usar sua última arma para ganhar o debate:

- Claro que é para cansar! – Ele gritou. – O treino tem que ser desafiador para cada um de nós! E, além disso, como vocês explicam que eu não esteja exausto? Eu não tenho nenhum super-poder como vocês quatro!

- Você não está cansado – respondeu Ravena calmamente. – porque durante metade dos treinos você está sentado nos “avaliando”, enquanto a gente enfrenta os obstáculos da sala.

            O argumento impôs-se. Robin baixou a cabeça, derrotado:

            Os quatro Titãs concordaram. Estelar deixou isso claro com um abraço que poderia ter partido o menino-prodígio em dois. Os demais adolescentes aproveitaram para sair da sala de treino. Havia almoço para ser preparado, banho para ser tomado, e o casal que ficou para trás merecia um pouco de privacidade.

 

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            Mutano quase desistira de ir à biblioteca municipal naquela tarde. Estava cansado demais. Ele almoçara com Ravena e Ciborgue, e dissera aos dois que ia passear na cidade naquela tarde, para se acalmar, Mas antes de sair agradeceu a ambos, por ficarem ao seu lado naquela manhã.

            Isso, porém, tinha acontecido 2 horas atrás. Nesse exato momento o metamorfo estava perdendo (feio) para o Sr. Smith no xadrez.

- Cheque-mate. Pela quinta vez hoje, garoto. – Disse o velho, desapontado.

            Mutano roncou.

            Suspirando, o Sr. Smith usou Disciplina pela quarta vez naquele dia, o graveto que usava para cutucar o jovem sempre que ele se desconcentrava. É bem verdade que nas últimas semanas isso vinha acontecendo cada vez menos, mas o Titã ainda era bastante desatento.

- AAAAHHH! – Mutano acordou sobressaltado. – Que idéia foi essa de enfiar essa vara dentro do meu nariz???

- Eu precisava chamar sua atenção. – respondeu o Sr. Smith. Seu olhar era sério, e Mutano não gostava quando isso acontecia. – Tem alguma coisa que você esqueceu de dizer?

- Nada! Nadinha! Minha vida é um livro aberto! – O garoto verde defendeu-se, sem sequer tentar parecer convincente. Para sua surpresa, o homem à sua frente caiu na gargalhada. Um minuto inteiro se passou antes que ele recuperasse a compostura.

- Hahaha, essa foi boa! Livro aberto... você é bem engraçado quando não está tentando, sabia?

            Mutano sorriu da maneira habitual, mostrando os dentes para meia biblioteca.

- Você acha que eu sou engraçado? Cara! Eu sei contar piadas! – Respondeu o metamorfo, quase gritando.

- Depois. Primeiro quero saber o que está acontecendo com você. - Interrompeu o Sr. Smith.

            Mutano baixou as orelhas, com o olhar fixo no tabuleiro.

- Durante esta semana, você não tem sido você mesmo. Garoto, você está dormindo mais hoje do que no seu primeiro mês inteiro! Diga-me, o que é que está te deixando tão exausto?

- Treino. – E então contou ao velho tudo sobre sua rotina diária.

- E você está tentando encontrar seus limites ou os está ultrapassando-os? – Esta pergunta fez múltiplos pontos de interrogação brotar na cabeça do Mutano, que olhou para o Sr. Smith bestificado:

- Huh, bem, qual é a diferença?

- Se você ultrapassa o limite do seu corpo, tudo o que você consegue é danificá-lo. E desse modo poder rendimento no treino do dia E do seguinte. O segredo é treinar com a maior intensidade possível, mas sem passar dos níveis de estresse que seu corpo pode suportar naquele momento específico. Entendeu? – O Sr. Smith parecia orgulhoso de sua pequena aula.

            Só que Mutano permaneceu imóvel, sem mover um músculo sequer. Exceto os pontos de interrogação flutuando acima de sua cabeça, que pareciam ter dado cria.

- O segredo – disse o idoso. – é treinar no limite, mas sem passar do limite, entendeu?

- ...Cuma? – O garoto verde ainda não tinha entendido.

- Treine um pouco menos do que antes e tire períodos regulares de descanso.

- Mas e o papo de encontrar o limite?

- Jovem. – O Sr. Smith falou pausadamente. – O que estou dizendo é para você treinar até ficar cansado. Não até quase desmaiar, como você vem fazendo.

- Ah, AGORA entendi! Por que não falou assim desde o começo? – Respondeu Mutano. Ele ainda iria dizer outra coisa, mas foi interrompido pelo alarme de seu comunicador. O rosto de Robin surgiu na tela do dispositivo:

- Mutano! Emergência! Ataque da H.I.V.E.! Chip fez alguma coisa com Ciborgue! Precisamos de você, aqui, agora!!

            O metamorfo sentiu vontade de reclamar. Afinal, ele estava realmente cansado. Mas a urgência na voz de seu líder o compeliu a responder:

- Estou a caminho. – Desligando o comunicador, despediu-se do Sr. Smith, e voou para o local indicado.

 

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15 minutos antes.

 

            Robin não podia acreditar no que estava acontecendo.

            Era uma armadilha. Jinx, Chip e Mamute estavam esperando por eles. Antes mesmo de uma palavra ser dita, Chip pressionara um botão em seu pulso, e no mesmo instante Ciborgue caiu no chão, paralisado. três contra três. A batalha parecia equilibrada. Estelar tinha uma força e resistência quase tão formidáveis quanto as de mamute, mas tinha as vantagens de poder voar e lançar suas rajadas de energia à distância. A magia de Ravena não devia nada à de Jinx, e ele próprio se considerava mais do que páreo para Chip e suas geringonças mecânicas. Os combates pareciam definidos. Não havia como perder.

            E então tudo saiu errado.

            Jinx disparou um feitiço azul, em vez da energia rosa habitual. Ravena, usando sua própria energia negra, bloqueou o ataque. Mas, por alguma razão, caiu no chão. Com um olhar surpreso, tentou contra-atacar, mas viu que sua energia se dissipava a menos de um metro de distância de seu corpo. E as surpresa rapidamente se transformou em horror, quando Mamute avançou para cima dela com um urro animalesco.

            Estelar, por sua vez, viu-se incapaz de atacar Mamute, tendo que se esquivar constantemente da barragem de feitiços rosa arremessados pela feiticeira da H.I.V.E. Sem outra opção, ela começou a enfrentá-la.

            E o líder dos Titãs não estava se saindo melhor. Chip, apoiado por quatro pernas mecânicas saídas da mochila em suas costas, parecia capaz de desviar-se de todos os ataques. Bumerangues, discos explosivos ou congelantes eram simplesmente defletidos por alguma espécie de campo de força. E o mesmo não podia ser dito a respeito dos lasers e micromísseis disparados contra ele. Medidas anti-Robin, o pequeno fanfarrão se gabou durante a luta.

            Os Titãs estavam em desvantagem. Não era um ato no estila da H.I.V.E. esta armadilha fora arquitetada. Chip, ou quem quer que fosse, tinha planejado este encontro especificamente para acabar com os Titãs. E, pelo visto, iria ter sucesso.

            Robin estava lutando contra sombrios pensamentos, além de Chip. As palavras que Ravena tinha lhe dito ainda esta manhã atacaram sua mente. “... seu ‘treinamento’ já derrubou um dos nossos”, ela tinha dito. E agora precisava dele. O menino-prodígio sabia que o colega ausente não estava em condições de lutar, mas a alternativa era ver o resto da equipe ser derrotada.

            Xingando alto, ele ativou seu comunicador.

 

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Tempo presente.

 

            Mutano voara com a máxima velocidade que seu corpo exaurido podia suportar. Por sorte, encontrou uma corrente de ar bem acima da cidade, que ajudara a impulsionar sua forma de águia adiante. Não demorou a chegar ao local onde a batalha se desenrolava. Com a extraordinária visão de sua forma atual, pôde ver claramente o que estava acontecendo. Estelar contra Jinx, em uma disputa furiosa de rajadas rosa e verde. Robin contra Chip, o primeiro evitando lasers e mísseis, um borrão verde e vermelho nas ruas. Ciborgue caído num canto, aparentemente fora de combate. E Mamute estava socando furiosamente... um domo negro no chão?!?

- Ravena! – A águia-Mutano pensou, enquanto sentia uma fornalha se acender dentro de si. Ela estava em perigo! E seu oponente era ninguém menos que Mamute! Grande, forte e quase invulnerável! Enquanto o metamorfo mal conseguia continuar batendo as asas.

            Mutano pensou enquanto se aproximava do local. Os jovens Titãs já tinham derrotado a H.I.V.E. dúzias de vezes. Ele mesmo já tinha derrotado cada um deles pelo menos uma vez. Mas Mamute exigia uma fera grande e poderosa, como um dinossauro, um tigre, ou um urso polar. E derrotar Mamute exigia um tempo que o Titã verde não tinha. O domo de energia negra balançava perigosamente: podia se partir a qualquer momento. E a expressão sádica no rosto do gigante fazia com que, nos recôntidos mais profundos da mente de Mutano, algo rugisse. Uma parte de si mesmo que ele negava e temia. Algo... primitivo. Primitivo e incontrolável. E um desejo ardente invadiu o metamorfo: além de salvar Ravena, ele queria ferir Mamute. E muito.

            Fechando as asas, o metamorfo mergulhou. Águias podem atingir velocidades superiores a 100 km/h quando mergulham. E ele com certeza ultrapassou essa velocidade, ao descer quase que em queda livre na direção do agressor.

 

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            Ravena não acreditava no quanto tinha sido descuidada.

            Ela devia ter adivinhado que era uma armadilha. Os três membros da H.I.V.E., em vez da surpresa, medo, raiva e preocupação habituais, emanavam emoções muito diferentes ao serem encontrados: calma, satisfação, alguma expectativa, e principalmente... triunfo. Era evidente que eram esperados, e logicamente os três vilões tinham algumas surpresas desagradáveis escondidas na manga. E uma delas a tinha acertado em cheio. O que quer que fosse, o feitiço novo de Jinx era poderoso e específico, impedindo que os poderes de Ravena alcançassem uma distância maior do que alguns centímetros de seu corpo. Ela Não podia atacar ou usar seus poderes ofensivamente enquanto o efeito do que quer que Jinx tivesse feito não terminasse.

            Mas essa não era a preocupação imediata da empata. Mamute a estava atacando com uma selvageria ainda maior do que o habitual. Manter o escudo funcionando a exauria mais e mais a cada golpe, ao passo que a força sobre-humana do gigante ainda estava longe de se esgotar. Era uma questão de tempo até que fosse derrotada. A menos que fosse capaz de encostar em Mamute para poder usar seus poderes. E isso, na opinião da própria Ravena, era burrice, suicídio. Para poder encostar sem eu inimigo, a Titã precisaria baixar o escudo, ficando indefesa. Bastaria um único golpe certeiro de seu poderoso oponente para feri-la gravemente ou até mesmo matá-la. E, mesmo que ela conseguisse atingir o gigante, não havia garantias de derrubá-lo. De fato, ela nunca, em dezenas de batalhas contra a H.I.V.E., tinha visto mamute cair antes de levar dúzias de golpes.

            Mas não havia outra escolha. Cada soco, cada chute que o gigante desferia contra o domo protetor ecoava como um trovão, exaurindo cada vez mais as energias de sua vítima. Se ela demorasse demais, não lhe restaria força para um ataque efetivo. Reunindo toda a sua coragem, Ravena se preparou para o que podia ser o último movimento de sua jovem vida. Mas, um instante antes dela dissipar seu escudo, houve um som ensurdecedor junto com uma imensa onda de choque, forte o bastante para partir a energia negra que envolvia a empata, e arremessá-la a quase dois metros para trás.

 

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            Todos os combatentes pararam para ver o que poderia ter gerado um barulho tão grande. No lugar aonde Mamute se encontrava segundos atrás havia uma cratera. E de dentro dela saiu, cambaleando, um menino verde, usando uniforme roxo e preto.

            Mutano tinha se lembrado de um treino onde Ciborgue mencionara que massa mais velocidade era igual a energia cinética. Então, mergulhara a mais de 100km/h como uma águia, e, no último minuto, mudara para um anquilossauro, um dinossauro com couro blindado e rugoso, coberto por chifres e esporões ósseos. O Titã-lagarto, agora com mais de quatro toneladas, enrolara-se sobre si mesmo, atingindo Mamute como um meteoro, literalmente enterrando-o no fundo da cratera formada pelo impacto, e nocauteando-o instantaneamente.

            O metamorfo também tinha se machucado no impacto. Apenas a blindagem natural da forma que usara, aliada ao fato de Mamute ter amaciado a queda, impedira que todos os seus ossos se partissem. Mesmo assim, seu corpo doía como se tivesse sido pisoteado por uma manada de elefantes. Dolorosamente, saiu do interior da cratera e gritou para os oponentes restantes:

- VOCÊS VÃO TER QUE PASSAR POR CIMA DE MIM ANTES DE ENCOSTAR NUM SÓ FIO DE CABELO DA RAVENA!!

            Era algo que os adolescentes em ambos os lados não esperavam ouvir. Todos eles olharam estupefatos para Mutano, sem acreditar no que tinham ouvido. Mas apenas um momento depois, a expressão de três deles mudou. Estelar estava batendo palmas, no rosto a louca alegria que ostentava...bem, quase sempre. Chip também sorria, mas era o sorriso de escárnio de um moleque que vai poder pegar no pé de outro pelos próximos meses. Ravena? Essa estava agradecendo por seu capuz estar no lugar certo: ela não queria que ninguém visse o quão vermelhas suas bochechas estavam.

- Glorioso! Am... – Estelar não teve tempo de terminar a frase.

            Jinx, que não tinha se deixado distrair, a atingira em cheio com outro de seus feitiços. Faixas compostas por energia rosa envolveram o corpo da tamaraneana, imobilizando-a. Um momento depois ela caiu no chão. Sua força parecia insuficiente para libertá-la, e, estranhamente, não estava mais conseguindo voar.

- Estelar!! – Gritou Robin ao vê-la cair.

            Sua primeira reação foi a vontade de ajudá-la, mas seus instintos treinados lhe indicaram um alvo. Chip, a menos de um metro de distância, estava provocando o Titã verde. Nós provavelmente jamais saberemos como, pois o pé de Robin conectou-se com o rosto de Chip, preciso como uma cirurgia e com a força de uma marretada. O anão foi arremessado a alguma distância, mas suas quatro pernas mecânicas o mantiveram suspenso no ar. Parecia ter desmaiado, mas uma das bugigangas na mochila de Chip borrifou um spray em seu rosto, reanimando-o.

- ISSO DOEU, SEU BASTARDO!! – O anão, furioso, recomeçou a disparar seus lasers e mísseis contra o menino-prodígio. Enquanto isso, Jinx se dirigia para Mutano.

            A dor, o cansaço, e a visão da empata caída a uma pequena distância permitiram a Mutano ignorar completamente as provocações de Chip. Imediatamente após gritar seu desafio, ele fora até Ravena, ajoelhando-se ao seu lado.

- Você está bem? Cadê Ciborgue? O que tá acontecendo aqui? – Ele perguntou.

- Jinx usou em feitiço em mim. Meus poderes estão sem alcance. Chip fez alguma coisa com as bugigangas no traje dele, apertou um botão e desligou Ciborgue. – ela apontou para o adolescente cibernético caído ali perto. Ele estava consciente, mas suas partes metálicas não se mexiam. Ravena continuou – O resto você viu. Jinx usou outro feitiço para paralisar Estelar.

- Vai até Estelar e desfaça a magia. Eu cuido de Jinx. – Disse Mutano, levantando-se.

- Você não está em condições de lutar! – ela disse, alarmada. – Mal consegue ficar de pé!

- Nem você, Rae! Solte Estelar e a gente ganha! – Gritou o metamorfo, seguindo na direção de sua nova oponente, e rezando para estar certo.

            Mas tudo o que Mutano podia fazer era mudar para a forma de um rato e ficar se desviando por milímetros. E nem ia poder continuar assim por muito tempo, a dor e o cansaço tornando cada passo, cada salto, e até respirar doloroso. Entrando por uma fenda em uma pilha de escombros, escondeu-se enquanto tentava recuperar o fôlego. Mas podia ouvir Jinx desmantelando a pilha com seus poderes. Enquanto se encolhia, teve uma idéia. Um movimento que usara na última partida de xadrez ainda ontem, que consistia em trocar o rei e a torre de lugar. Decidido, o metamorfo abandonou seu esconderijo, rezando para que o menino-prodígio entendesse:

- Robin! – ele gritou. – Robin! Roque! Agora!

            O líder dos Titãs entendeu. Com um único movimento, saltou por cima de Chip, arremessando um de seus bumerangues contra Jinx, arranhando o ombro direito da feiticeira. Poucos segundos depois estava enfrentando-a.

            Chip não gostou disso. Era uma hipótese com a qual não contara. O minúsculo gênio sabia que a vitória dependia de que cada fase de seu plano fosse executada com perfeição. Jinx não ia se sair tão bem contra o garoto-pássaro: ele era mais forte, mais rápido, melhor treinado. E a feiticeira rosa não podia voar para atacar à distância. Por isso, correu para se juntar a ela.

- Parado aí, cabeça-de-ovo!! – um grito ecoou pelo campo de batalha. Chip parou na mesma hora, furioso, olhando ao redor para descobrir quem proferira o insulto. Descobriu um garoto de pele verde e orelhas pontudas, parado pouco atrás dele.

- O que você disse? – O anão falou, devagar, e, se a voz dele não fosse... bem, a voz dele, teria soado como um rosnado.

            Mutano já tinha decidido o que fazer. “Conhece a ti mesmo e a teu inimigo, e vencerá cem entre cem batalhas”. Ele tinha lido isso semanas antes.

            E ele conhecia Chip. O anão era, de fato, um gênio, mas tinha um ego incrivelmente frágil, fácil de provocar. Claro que provocar um maluco armado com armas de raio, mísseis e o que mais estivesse dentro daquele uniforme não era sensato. Mas o metamorfo tinha um plano. E, além do mais, desde quando alguém podia acusá-lo de ser sensato?

- Cabeça-de-ovo! – gritou Mutano, alto o bastante para todos ouvirem. Todos os presentes, mesmo no calor da batalha, riram. Especialmente Ciborgue, que mesmo paralisado explodiu numa gargalhada histérica. Chip, vermelho, tremendo, estava tão furioso que não conseguia fazer nada além de abrir e fechar a boca.

- Eu sei por que você desligou Ciborgue, cabeça-de-ovo. – Continuou Mutano, colocando tanto desdém quanto podia na voz.

- Você não sabe de nada, bobalhão. – Chip reencontrou sua voz. – Você não tem cérebro para saber de alguma coisa.

- Você desligou Ciborgue, – Mutano estava andando em volta de Chip, lentamente. – por que está com medo dele. – continuou, recorrendo a toda a sua força de vontade para não demonstrar o quanto estava apavorado com aqueles canhões apontando para ele. – Você, seu ovo podre, sabe que nem pode se comparar ao meu amigo ali. Ele é um mecânico e cientista melhor do que você jamais vai ser. E você sabe disso!

- Besteira!! Eu sou dez vezes melhor que o homem de lata! – Defendeu-se Chip, ainda nervoso demais para atacar. O metamorfo tinha tocado num ponto sensível.

- Não é não. O “homem de lata” tem um supercomputador dentro da cabeça. Mas que diferença isso faz? Só o meio cérebro de carne dele basta. Afinal, o que você tem? Além dessa sua cabeça de ovo?

            Chip estava tremendo de raiva, e não conseguia atirar. Ele podia ouvir as risadas à sua volta. Os civis que assistiam de longe riam. Jinx estava segurando risadinhas enquanto tentava se defender de Robin. (que estava mordendo os lábios para não rir enquanto lutava). Até mesmo aquela gótica, depressiva da Ravena tinha uma sombra de sorriso no rosto. E o que mais o enfurecia é que ele, Chip, nanico e careca, tinha mesmo uma cabeça lisa e redonda. Como um ovo.

- E quem precisa de cérebro, afinal? Até uma ameba pode te enganar. Se lembra? – Toda a ênfase da frase estava em “se lembra?”.

            A sobrancelha esquerda de Chip tremia como se tivesse vontade própria. Ele se lembrou daquela vez em que ele e Mutano estiveram miniaturizados, dentro do corpo de Ciborgue. Naquele dia, uma ameba verde tinha conseguido cumprir uma tarefa na qual ele, o gênio, tinha falhado. Ele nunca admitiria, nem mesmo para si mesmo, que aquele... animal pudesse ter sido mais esperto que ele. Sua mão aproximou-se lentamente do controle que mantinha Ciborgue paralisado.

- Se você fosse mesmo o melhor. – o Titã verde continuou. – Iria lutar como homem. Ia provar para todo mundo quem é o melhor. Mas nããããão. Você o desligou para não ter que levar uma surra. Sabe o que você é? – Mutano transformou-se num frango e começou a cacarejar.

- Chip, NÃO! – Jinx gritou ao perceber o que seu colega estava fazendo. Mas já era tarde demais.

- Pronto! – Chip desligou o controle que mantinha Ciborgue imobilizado. – Quem é o cara, hein? Quem é o mais...

            Ele nunca terminou a frase. Uma rajada sônica o atingiu no meio da cara, enviando-o instantaneamente para a inconsciência.

- BOOOYAH!! – soou o grito de guerra do homem metálico. – Descansa aí, verdinho, que eu vou desmantelar o equipamento do... – Ciborgue deu uma risada. – cabeça-de-ovo.

            Mutano sentou, aliviado. Pôde ver que, não muito longe, Robin já tinha derrotado e algemado Jinx. Ravena também tinha dissipado a magia que prendia Estelar, que estava agora voando bem alto, feliz por estar novamente livre. Ele estava pronto para relaxar quando sua audição superior captou um som suspeito. E ficou horrorizado ao descobrir a fonte daquele barulho.

            Mamute, de alguma forma, tinha se recuperado. É verdade que estava muito ferido, com uma aparência lastimável, mas isso parecia alimentar sua fúria animalesca. Ele estava correndo na direção de Ravena, os braços enormes levantados, pronto para esmagá-la. A empata parecia não perceber o inimigo. Os outros Titãs estavam longe demais para ajudar. Ela estava indefesa.

            O metamorfo ignorou totalmente a dor e o cansaço. Usando a forma de um gorila, ele parou o ataque do gigante, que rosnava expondo presas afiadas. Os Titãs estavam prontos para disparar, mas não podiam fazê-lo sem ferir seu colega verde. Ambos estavam parados como estátuas, mãos entrelaçadas, os músculos tensos, numa disputa desesperada por supremacia.

            Mutano sentia que ia perder. Não tiinha forças e estava sentindo muita dor por causa da queda. Estava com medo. Seus colegas não podiam ajudar sem acabar com ele também. Mas se eles não ajudassem, Mamute faria isso. E as presas que o gigante mostrava indicavam que ele estava com disposição para matar. Presas...

            O Titã mais novo reverteu à forma original, ficando suspenso entre os braços de Mamute. Parecia ainda menor suspenso no ar daquela forma. Não lhe ocorreu que poderia ter os braços arrancados. Mas ele precisava da forma humana para falar:

- Ei, Lobo Mau! Por que é que você tem dentes tão grandes? Hein? Hein? – Desafiou.

            Mamute piscou, surpreso. Mas respondeu.

- Para te comer! – Gritou ele, abrindo a boca enorme para abocanhar sua vítima.

            Exatamente o que Mutano esperava que fizesse. No último momento, transformou-se em um ouriço-do-mar. Com espinhos atravessados em toda a boca e língua, o gigante urrou de dor como nunca antes, cuspindo o metamorfo no chão. Mutano tinha calculado bem: Coubera inteiro na boca de seu inimigo, e os espinhos fizeram o trabalho esperado. Mamute o soltara. E neste exato instante o gigante estava sendo bombardeado por raios verde, rajadas sônicas, e discos explosivos. Finalmente, estava derrotado.

            Lentamente, Mutano levantou-se, Mas quando tentou andar na direção de seus amigos, sentiu-se tonto. O cansaço, a queda e a mordida finalmente cobraram seu tributo. Ele caiu. E sua última visão foi a de quatro pares de olhos fixos nele, antes que a escuridão o tomasse.


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