– Mell, acorda querida, nós já chegamos. Olha como a rua é linda!

Abri os olhos, e a claridade me trouxe de volta a realidade. É, eu realmente tinha perdido meu irmão e deixado tudo pra trás. Tínhamos acabado de chegar em Cambridge na Inglaterra, pelos planos de minha mãe toda a casa já deveria estar arrumada à essa hora, faltava apenas as coisas pequenas que trouxemos no carro. Dei um leve sorriso a ela, e desci do carro levando comigo algumas caixas para dentro da nova casa. Ela tinha um tom claro de amarelo, telhado alto com algumas janelas grandes e um belo jardim na frente, aliás, todas as casas da rua eram assim.

– Então Mell, o que achou da casa?

– É realmente linda pai, mal posso esperar para ver o vovô, ele vai vir para o jantar certo?

– Sim, sim, já deve estar chegando, disse que viria mais cedo para ajudar a arrumar as coisas. Se quiser subir e descansar pode ir, a gente termina de arrumar as coisas.

– É, acho que vou subir e organizar as coisas no meu quarto, qualquer coisa me chama.

Meu quarto era bem parecido com o antigo, a cama no canto perto da janela, uma escrivaninha com várias canecas e canetas coloridas, as estantes já estavam fixadas nas paredes e o armário posicionado perto da porta. Tinha ainda algumas caixas no chão, provavelmente com livros, fotos, e bobeirinhas que enfeitariam o quarto. Organizei quase todas as coisas, faltava apenas colocar os livros na estante, “Melancia”, sempre ria lendo esse livro, Matt me deu dizendo que eu deveria ler porque quando era pequena achava que realmente brotava um pé de melancia na barriga das mulheres grávidas. Eu sentiria tanta falta das idiotices dele, das brincadeiras e das broncas… Não sei quanto tempo fiquei pensando nisso, quando ouvi meu avô gritando em casa:

– Que lindeza! Minha nora preferida já conseguiu organizar tudo, achei que demoraria pelo menos uns dias… Ou será que contratou alguém pra arrumar tudo isso?

– Você sabe George, eu tenho super-poderes, arrumei tudo pelo poder da mente.

– Vamos deixar as mentiras de lado, quero saber onde está minha neta preferida!

Meu avô e minha mãe sempre arrumavam uma maneira de pegar no pé um do outro, no inicio achávamos que eles não se davam bem, mas depois descobrimos que eles se davam muito mais do que bem. A risada dela era algo tão belo de se ouvir, quando ela sorria formavam-se pequenas linhas perto dos olhos, ela odiava, dizia que estava velha, mas pra mim era apenas mais uma de suas belezas. Desci as escadas correndo e abracei meu avô, conversamos sentados à mesa sobre coisas triviais, e o resto do dia passou rápido.

Meu avô foi embora, e ficamos  na sala, meu pai lendo alguns relatórios que vovô lhe entregou sobre a situação da empresa na cidade, e eu deitada com a cabeça no colo de minha mãe enquanto ela me contava como seria o próximo dia; que amanhã mesmo eu teria que ir para a escola, e que nenhum pedido ou chantagem mudaria isso.

A campainha tocou e me levantei para atender, parado na porta estava uma mulher com um sorriso falso, e uma garota da minha idade com cara de quem não queria estar ali.

– Seja bem-vinda à Cambridge Mellanie. Seu pai está em casa?

Eu não conhecia a mulher, mas, espera… Como ela sabe meu nome?