Maldita Sorte escrita por Uzumaki_Ayame


Capítulo 3
voltando pra casa?


Notas iniciais do capítulo

Meio rápido, mas o capítulo já tava feito faz tempo ¬¬



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Batidas frenéticas trouxeram Sakura de volta de seu sonho de forma bruta. Levantou-se assustada e se viu no mesmo escuro quarto da noite anterior. Mas, dessa vez, não havia vela acesa que iluminasse o aposento completamente estranho aos olhos da kunoichi. Uma voz de fora do quarto gritava insistentemente para que acordasse. O medo tomou conta de si. Era prisioneira, não duvidava, mas sentia um medo irracional dos perigos desconhecidos que corria. Encolheu-se embaixo das cobertas e tentou convencer a si mesma de que era tudo um sonho. Sim, era um sonho. Um sonho com jeito de pesadelo. Não soube ao certo, mas sua mente ficou em branco ao ouvir o som da tranca se abrir. Ouviu sons pesados e firmes de passos sobre o chão, logo seguido de seu cobertor ser rudemente puxado. Seu pulso direito foi segurado com força por uma mão áspera, provavelmente por efeito de constantes treinos, que a puxou para cima e a forçou a se levantar.

 

Ela se debatia e gritava, tentando de alguma forma de soltar. Ainda de olhos fechados, desconhecia seu agressor. Tinha medo de olhar. Sempre tivera. Medo de olhar para cima, subir demais, para logo em seguida cair desenfreada. Abriu seus olhos, dando logo de cara com outros dois, estranhamente brancos a fitando com uma irritação mais que aparente. Ele continuava gritando para que ela parasse. Passou então a arrastá-la para fora. Sakura já não controlava seus movimentos, tudo estava por conta de seus reflexos, que agiam de forma para tentar libertar-se. Mas, em sua mente, só uma coisa ressoava.

 

- “Esses olhos... São os mesmos daquela vez!”

 

Sentia o pânico consumi-la sem pressa, porém, desenfreado. Essa pessoa era a mesma que havia visto pouco antes de desmaiar no meio da floresta, agora se lembrava claramente. Só então pode notar que, assim como as íris dos olhos, ele tinha cabelos completamente brancos, apesar de aparentar ter a mesma idade que ela. Os traços de seu rosto formavam uma imagem memorável. Não podia negar, ele, no mínimo, não era feio.

 

Continuava se debatendo aos protestos dele para que parasse, mas aos poucos ia parando. Tinha a sensação que a dor voltaria caso tentasse revidar como fizera com Karin. Sabia que era uma suposição estúpida, mas era tudo o que tinha. Minutos se passaram e ela ainda estava sendo arrastada por entre os corredores, os mesmos iluminados somente por velas. Já tinha desistido de se opor. Não estava conseguindo nada com isso, além de desperdiçar energia.

 

Então ele parou de arrastá-la e passou a olhar para os lados, como se procurasse algo. Nessa pausa de tempo, levou a mão à cintura e tirou uma garrafa d’água contida em seu bolso, dando um longo gole na mesma. Então pareceu ter encontrado o que procurava, pois logo em seguida guiou Sakura até uma porta, abriu-a e ambos entraram. O quarto era muito escuro, e por não estar acostumada a isso, não enxergava nada. Sentiu seu braço ser solto e os sons dos passos pesados e firmes dele se afastando. Aos poucos seus olhos foram se acostumando à escuridão. De repente, uma risada baixa, porém cavernosa, parecia vir diretamente de onde seus olhos apontavam. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha, para logo em seguida tomar seu crânio. O medo estava mais aparente em seus olhos do que em qualquer momento desde que descobriu estar nos domínios daquele homem. Então, quando seus olhos se acostumaram por completo, pode confirmar suas recentes suspeitas.

 

Á sua frente estava esse homem, motivo de tanto ódio e rancor para várias pessoas, inclusive ela mesma. O mesmo que havia tentado Sasuke a abandonar a vila e tudo que seus amigos representavam. E, agora, o homem que a tirou de sua vila sem aviso. Tinhas várias perguntas para fazer, mas não daria a ele o gosto da dúvida.

 

- Orochimaru...

 

Sua voz saiu rouca, como se estivesse a segurando para que não deixasse sair todos os palavrões e xingamentos entalados. Ele estava sentado em uma cama com um ar de doente, ao lado da cama esta Kabuto em pé, mais perto da parede estavam Karin e o menino que a guiou até ali. Até agora conhecia o nome de todos, menos o do dono dos olhos brancos. No caminho tinha até pensado na possibilidade de ele pertencer ao clã Hyuuga, mas admitiu que no clã Hyuuga a pupila dos olhos não era visível por ser igualmente branca. Mesmo não querendo admitir sentia o medo consumi-la mais rápido agora estando frente a frente com o objeto de seu ódio, pois tinha a certeza de que seu poder poderia ser comparado ao de um Kage, em relação a ela, uma simples chunnin médica.

 

- Ora, que falta de respeito é essa? Onde estão os modos? – a voz cavernosa e rouca de Orochimaru deu contraste ao ar de morte que pairava naquele cômodo.

 

- Eu os reservo somente para quem os merece – sua voz saiu com desprezo.

 

O ódio fazia seu sangue borbulhar e lhe dava a sensação de que seria capaz de fazer qualquer loucura sem conseqüências. Mas esta ciente de que não seria assim. Seria prudente e tentaria engolir seu ódio. Estava em território inimigo e não poderia se dar ao luxo de cometer um erro tão estúpido. Ainda mais com tantas feridas cicatrizando.

 

- Meça suas palavras para falar comigo, pirralha – falou, Orochimaru. As palavras saíram calmas, porem em tom de ameaça.

 

- Olha pra você, com essa aparência tão doentia aí. Não é mais fácil você morrer do que algum de vocês me matar? – estreitou os olhos e o coração deu um salto. Estava se arriscando demais, mas as palavras quase que saiam sozinhas.

 

-Ora, sua... – agora foi à vez de Karin, que até agora estava só olhando, mostrar alguma reação. Como seguidora de Orochimaru, o seguia cegamente. Não seria essa idiotinha de Konoha que iria desrespeitar seu “mestre”. Disparou em direção a Sakura com uma kunai na mão.

 

Sakura estava preparada para receber o golpe após o susto inicial. Karin estava com a kunai levantada, então provavelmente tentaria dar a volta e atacar suas costas.

 

- “Uma tática usual”- pensou Sakura. Ela mesma já havia feito assim em várias missões.

 

Mas, para sua surpresa, quando Karin estava a poucos passos de distância, foi impedida de dar qualquer passo a frente pelo menino de olhos brancos. Ele havia segurado seu braço livre, o que na hora fez com que todo o impulso para frente fosse descontado em seu corpo, não no dele, e sim no corpo de Karin.

 

- Me solta Suigetsu! – disse, para logo em seguida começar a se debater.

 

- Ei, calma aí! Você não precisa bater nela. – e fez um sinal para que olhasse novamente na direção de Sakura.

 

Karin assim o fez e se virou para Sakura. Ela estava de joelhos no chão com a mão direita sobre o ombro, como se tentasse controlar uma dor. Estava com uma expressão sofrida e de vez em quando gemia, sendo atingida por uma dor semelhante à que teve no dia anterior, quando tentou fugir.

 

Quando aquilo tinha começa ela não sabia, mas era insuportável. Novamente a sensação de que várias agulhas entrando, perfurando, destruindo cada uma de suas células. Sua cabeça latejava, seus membros involuntariamente tremiam de tanta dor. As pupilas dos olhos se contraiam e dilatavam sem parar, seu rosto começava a suar, já não pensava na morte como algo doloroso em relação a essa dor atual, de forma claramente exagerada.

 

Karin soltou um sorriso debochado ao presenciar tal cena.

 

- Oh, onde será que foi parar a garota corajosa de agora a pouco? – provocou Karin

 

Porém, o som da voz dela foi sobreposto pelos gritos de Sakura, que acabou por pouco ouvindo aquilo. Mas, para sua surpresa, a dor foi aos poucos desaparecendo. E quando sumiu por completo, Sakura não tinha mais força alguma, deitou-se no chão com o olhar parado. Queria desmaiar, mas o que lhe foi tirado foi o principio da força, e não da energia, nem dormiria, nem desmaiaria a não ser que desgastasse toda aquela energia de recém acordada que ainda tinha. Seria um dos dias mais longos da sua vida.

 

- Espero que agora aprenda quem é seu superior – silvou Orochimaru, com sua voz doentia.

 

Então, alguns instantes depois, o que mais pareceu horas para Sakura, a dor voltou a ficar controlada e então, gradativamente, sumiu. Ela se tirou à mão do ombro, então olhando para este.

 

A risada baixa e debochada de Orochimaru ecoou nos ouvidos dela, sobrepondo-se sobre a memória das de Sasuke.

 

Três marcas, redondas, com uma ponta contínua cada uma, estavam agrupadas em forma semi-circular na curva entre seu pescoço e seu ombro.

 

Um selo amaldiçoado.

 

- N-não pode ser... – sussurrou, enquanto o eco da voz de Orochimaru parecia mais e mais alto dentro de sua cabeça.

 

Sentiu vontade de várias coisas. Vontade de gritar, de chorar, de acabar com sua vida. Aquilo que mais odiava, o que levou Sasuke embora de Konoha, agora estava gravado em sua carne, talvez impossível de reverter. Seu estomago embrulhou.

 

- Leve-a de volta ao quarto – Orochimaru ordenou a Kabuto.

 

Os olhos de Sakura começaram a arder, ela queria chorar. Mas não caia uma única lágrima.

 

Kabuto ergueu-a, puxando seu pulso para cima. Logo estava de pé, mesmo que suas pernas parecessem tremer o suficiente para mandá-la de volta ao chão a qualquer hora.

 

Ele então começou a guiá-la para seu quarto.

 

Como pode não ter percebido? Essa dor não era natural. Não havia ganhado nenhum machucado grande o suficiente para que lhe causar tal efeito. Como pode não notar, não olhar direito, alias, qualquer mancha extra em seu pescoço? Como podia ser tão burra? Como podia ser tão cega? Melhor do que ninguém deveria saber, que qualquer opção era válida enquanto estivesse não mãos de Orochimaru. Qualquer coisa. Sem exceções. Mas não. Fora estúpida o suficiente para pensar não estar em planos nenhum. Fora como Sasuke naquele dia. Deixou a guarda baixa onde não podia. Deixou-se ser vulnerável.

 

Os minutos, ao contrário de quando estava sendo levada, pareceram passar mais rápido. Antes que notasse já estava atira ao chão de sua “cela”. Completamente sem força moral ou física. Dessa vez não se preocupava em levantar e voltar pra cama. Deixou-se ali mesmo. Então, ali, e sozinha, as lágrimas deixaram-se cair. Chorou como se fosse uma criança. Até não ter forças pra chorar mais. Então fechou os olhos, querendo dormir, ter pesadelos, acordar, e descobrir que tudo não passou de um sonho ruim.

...0o0o0o0...

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Novamente foi arrancada de seu sono, agora de forma mais leve. Ouviu batidas na porta. Pareciam mais calmas. Sem pressa alguma. A muito custo se levantou do chão, com várias marcas vermelhas pelo corpo, os quais foram pressionados contra o chão. Se aproximou da porta e, assim que bateram, ela devolveu, batendo também a porta. Então ouviu o som da porta ser destrancada. Antes de a porta abrir, os pensamentos começaram a borbulhar. Se for alguém muito forte ela podia tentar atacar e fugir. Tinha só de fugir dali, voltar para Konoha –como, ela não fazia idéia-, dar um jeito no selo – com certeza acharia um jeito – e explicar a estrutura do esconderijo para uma futura invasão. Então, começou a conseguir ver algo do outro lado da porta, que, alias, tão pouco foi aberto. Teve de esconder sua decepção, ao constatar que via uma cabeleira branca. Era suigetsu. Chances de fugir, zero.

 

Então ele passou um tipo de marmita e um par de hashis.

 

- Pegue, coma e fique calada. – disse, empurrando a suposta comida para Sakura.

 

Antes que pudesse responder – “Não quero”- seu estômago falou mais alto. Roncou, aliás. Então, na mesma hora se viu obrigada a pegar a marmita, furiosa. Não adiantaria contestar. Não comia nada desde que tinha sido levada. Não podia continuar assim. Então, tão rápido como abriu, a porta foi fechada.

 

Sakura se virou e bateu as costas na parede, arrastando ela para baixo, finalmente se sentando. Olhou os hashis. Eram de um tipo de madeira fraca. Quebrou uma ponta e guardou no bolso. Então deu uma boa olhada para a marmita. E se ela estivesse envenenada? Não. Essa possibilidade tinha sido descartada no momento em que descobriu o selo amaldiçoado.

 

- “O selo...”

 

E passou os dedos pela marca no pescoço. Não havia sinal nenhum de dor. Nada. Nada mesmo.

 

- “Por que eu?”

 

Não tinha parado para pensar ainda. Porque ela? Porque recebeu o selo amaldiçoado? Ela não tinha nada em especial. Não era de nenhum clã forte. O que ela tinha de mais? Ironicamente pensou em suas habilidades de médica. Abriu a marmita e a examinou por completo, como auxilio do par de hashis. Se ela fosse fazer o que pensava que ia fazer, os hashis tinham que estar aparentemente sujos de comida.

 

Nada fora do normal. Uma simples marmita. Mas não podia correr o risco. Podia muito bem ter algo, como um calmante. Então se levantou, levando consigo a marmita. Entrou no banheiro, abrindo a porta de forma que não fizesse qualquer som. Levantou a tampa do vaso. Olhou fixamente para a água sanitário, sentindo receio. Aproximou a marmita da superfície e virou-a. Ficou mais um tempo olhando aquela quantidade razoável de comida esfarelar-se na água. Sentiu seu estômago reclamar, gritar, enfiar lanças nas paredes internas. Estava faminta. Mas não podia correr risco nenhum. Tinha que se manter viva. E podia ter qualquer coisa ali dentro. Tinha que formular um jeito de sair e fugir dali. Isso sem que ninguém note, ou Orochimaru poderia ativar algum efeito colateral do selo amaldiçoado. Para dificultar um pouco mais, havia Karin. A única pessoa que tinha informações, fora Orochimaru.

 

Ela rastreava chakra. Maravilha.

 

Ouviu novamente baterem na porta. Voltou correndo, agora com uma marmita vazia nas mãos, ainda evitando produzir qualquer som com suas pisadas, juntando o pouco de chakra que podia na sola dos pés, amortecendo o contato com o chão.

 

Chegou a tempo. Assim que chegou - provavelmente Suigetsu estava ali o tempo todo, esperando ela terminar de comer- a porta foi aberta novamente, por poucos centímetros, o suficiente para passar o pote da marmita. Ela passou, ele pegou, e a porta foi novamente fechada. Mas, antes de fechar por completo, enfiou o pedaço do hashi no minúsculo espaço entre a tranca da porta e o encaixe sob fôrma de metal, onde a tranca se encaixava. Assim a porta ficava parecendo fechada. Mas, não estava trancada.

 

Uma chance de fugir

 

Bem, é melhor do que nada.

 

Ouviu os passos se afastando da porta. Soltou todo o ar armazenado nos pulmões, junto com um suspiro bem longo. Então, finalmente, deixou-se cair no chão de joelhos, aliviada. Passou a mão pelos cabelos. Será que ia dar certo? Levantou-se e foi novamente ao banheiro. Olhou para o vaso, ainda com a tampa levantada. Ficou olhando toda aquela comida, que, alias, poderia estar com algum remédio, mas também poderia estar dentro da sua barriga. Novamente uma pressão no estômago. Droga. Tinha que arranjar um jeito de agüentar. Por fim, deu a descarga, olhando aquela quantidade razoável de arroz sair do seu campo de visão no fundo do vaso, junto com a água.  Uma ânsia de vomito subiu pela garganta, mas parou no meio do caminho, causando calafrios em sua coluna. Na mesma hora abaixou a tampa, com uma força excessiva, alias, e saiu do banheiro o mais rápido possível.

 

Tinha que aproveitar aquela chance e fugir sem chamar qualquer atenção.

 

Ah, e esconder o chakra.

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Mais tarde, provavelmente à noite - não dava pra saber, já que estava trancada lá - ele veio, e novamente com uma marmita, do mesmo tipo da anterior. Mas, antes de ele chegar, tirou o pedaço de madeira da porta, para que não notasse o que planejava. Ele iria fechar a porta de novo quando estivesse para ir embora, não? Então iria travar a porta de novo. Seu estômago reclamou ainda mais alto quando abriu a marmita e sujou os hashis. Definitivamente precisava agir rápido. Nas estava comendo nada fazia dois dias, se não se enganava. Então, depois de por o pedaço de madeira novamente na porta, ter certeza de que ele não estava por perto e ido dar descarga na comida que estava na privada, sentiu-se enjoada. Muito enjoada. Antes que notasse, toda aquela pequena quantidade de suco gástrico estava subindo pela sua garganta. Aquilo lhe queimou a faringe, deixando-a com medo de devolver tudo pra dentro. Não segurou. Resultado, tudo que tinha no estomago boiava na privada, com um cheiro ácido e uma dormência por toda a boca. Tremia. Seus olhos lacrimejaram, tamanho era o desgosto. Cambaleou até a pia, onde gargarejou um bocado de água.

Essa noite ela ia fugir.

Definitivamente.

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Sakura estava há horas sentada de costas para a cama, tentando se concentrar em qualquer tipo de chakra que ia e vinha. Tinha decidido. Na hora em que todos estivessem dormindo, ou em que ninguém estivesse apto para sentir seu chakra, mesmo que escondido, ela iria fugir. Estava de olhos fechados. Quando as pessoas dormem o numero de batimentos cardíacos diminuía. Assim como a respiração, o pulso, o metabolismo e os movimentos involuntários. Mas, principalmente, a concentração de chakra deixa de ser no centro do corpo – ou seja, um pouco acima do umbigo – para ir aos órgãos vitais. Essa é a hora perfeita. Um tanto óbvio, mas também não perdeu muito tempo pensando. Estava praticamente meditando. Ignorava a audição e o tato, se concentrando completamente em perceber a concentra cão de chakra. Antes que notasse, nem ouvia mais os roncos na sua barriga, exigindo comida.

E iam e vinham. Passavam mais pessoas na frente do seu “quarto” do que podia imaginar. Logo estava indo mais longe. Aos poucos começava a sentir chakras menores, que tomavam forma na sua mente, se relacionando aos próprios corpos. Quase deu um pulo, ao notar que esta sentindo o chakra de um pássaro, que, alias, comia um inseto. Ela estava sentindo chakra de fora do esconderijo.

- “O que diabos...”

Então ela percebeu. Se ela estava sentindo chakra do lado de fora, então podia sentir de qualquer um dentro daquele lugar. Então se concentrou. Se ela respirava, agora não dava mais para notar isso, de tão baixo que estava.

-“Sasuke...”

 Depois de alguns minutos analisando cada chakra que encontrava pelo caminho, e não encontrar Sasuke, notou mais algo, que a fez perder a concentração. Karin estava dormindo. E não havia ninguém por perto.

Se levantou num pulo, o coração às mil. O sangue subiu à cabeça, se aglomerando nas maçãs do rosto. Estava mais nervosa do que pensava que ficaria. Se aproximou da porta, vendo-a mais longe do que realmente era.

- Mantenha o controle, Sakura. – sussurrou para si mesma, tentando manter-se confiante.

Puxou a maçaneta, a porta abriu, mesmo que com dificuldade, por estar travada pelo pedaço de madeira. Todos o ar do lado de fora entrou, com força suficiente para balançar seus cabelos. O ar ficou mais leve. Como diabos podia haver circulação de ar num lugar fechado como aquele?

- Tubos de ventilação. – sussurrou novamente, agora com a cabeça do lado de fora do quarto, olhando para a direção de onde o vento soprava.

Levantou o olhar. Ou a sorte só sorria pra ela quando ela estava fora de hora, ou alguém, realmente, estava dando uma de anjo da guarda. Preferiria acreditar na segunda opção. Sendo verdade ou não, voltou para dentro do quarto, pegando sua bolsa de shuriken, amarrando-a à coxa, e sua hitaiate, ajeitando-a como tiara, prendendo seu cabelo. Voltou para o corredor, fechando a porta atrás de si. Correu para o tubo de ventilação. Tirou uma kunai da bolsa na sua coxa, e tratou de usá-la como chave de fenda para retirar os parafusos que prendiam a grade. Depois de alguns minutos, onde pensou constante mente que alguém a observava, mesmo virando o rosto o tempo todo, dando só continuidade ao seu medo, finalmente conseguiu soltar a grade. Num pulo, onde juntou a pequena quantidade de chakra que podia, alcançou o cubículo.

Começou a engatinhar pelo tubo, sujando-se de poeira e graxa. Mais vezes continuou a visualizar alguém a seguindo, mesmo que inconscientemente. Não podia continuar pensando isso, mas também não podia parar. Se ela não pensasse isso, não teria forças suficientes para se mover. Estava com medo de ser pega. Já tentou fugir uma vez, mas foi deixada impune. Seu inimigo era Orochimaru, ele não lhe deixaria barato isso. Ao pensar em todos os sofrimentos que poderia passar ali – visualizou sua barriga ser aberta por instrumentos médicos e vários tubos enfiados em suas veias, injetando drogas em seus vasos em uma sala de cirurgias – acelerou o passo, suando frio. A ultima coisa que queria era participar dessas experiências doentias.

Mais alguns minutos passaram, mas pareceram mais ter durando anos. Mas, logo à frente, viu uma bifurcação. Optou por seguir para o lado onde o vento soprava mais forte.

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Um vulto andava nas sombras, saindo de uma sala, por onde brevemente podiam-se ver várias velas acesas, praticamente imóveis em seus lugares, até que sumiram quando a porta foi fechada. O vulto continuou andando por entre os corredores, até chegar em um quatro entre tantos outros. Entrou sem bater a porta. Também, o quarto estava vazio. Andou pouco mais, até alcançar a cama, onde se deitou, passando a olhar o teto e uma de suas rachaduras.

Pouco tempo depois, outra pessoa entrou. Suas roupas fedendo a sangue.

- Orochimaru-sama, a experiência voltou a ficar estável. A dose de anestésico já foi dada e ele está aceitando bem os metais dentro do corpo.

- Hum. –murmurou Orochimaru, sorrindo de forma doentia.

- Aconteceu alguma coisa? – perguntou, Kabuto, sério.

- Só estava pensando em um pequeno ratinho fugitivo. Não vai tardar a voltar para a toca. – silvou.

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Do outro lado da grade tudo que podia ver eram as sombras que as luzes de uma noite sem lua projetavam. A cigarras cantando alto, o tempo todo. Com um chute arrancou a grade do lugar. Rastejou até a saída. Logo em seguida se deixou deitar no chão de terra úmida e fria. Encarou o céu, sorrindo. Dava para ver perfeitamente todas aquelas estrelas que nunca enxergou. A terra sujava ainda mais aquelas roupas cobertas de poeira e graça. A cor avermelhada já não era vista, assim como o rosa de seus cabelos, sujos de terra e algum fios grudados ao rosto, devido ao suor. Sua garganta estava seca. Estava com sono. Sua visão estava turva e sentia-se molenga. Levantou-se, cambaleando um pouco. Então começou a correr, com o coração mais leve. Um vazio no estômago. Quase três dias sem comer nada.

No caminho todo encontrou várias árvores frutíferas, em maioria de cerejas. Parou e pegou uma quantidade de cerejas que poderiam talvez acalmar sua fome. Uma à uma ia comendo-as, ainda tentando ir o mais longe que podia. Mordeu a língua. Decidiu deixar as cerejas para mais tarde. Não se sentia mais tão faminta. Depois de mais algum tempo, avistou uma pequena aglomeração de casas.

- “Uma vila!” – pensou, agradecendo a sorte que aquela noite estava rendendo.

Correu o mais rápido que pôde, em direção à vila. Antes de entrar, viu algo como um portão bem grande. Parecido a pilares de algum templo. Atravessou-os, evitando perder tempo contemplando-os. Entrou no primeiro bar que achou. Algo que aprendeu com a vida de aprendiz de Tsunade era que podia conseguir qualquer informação que quisesse em um bar.

Viu homens bêbados por todos os lados. A maioria dormindo, roncando e falando coisas sem senso. Nossa, não achava mais repugnante, depois de tantos que teve de freqüentar para seguir sua mestra. A higiene estava no mais baixo nível, dando para ver até uma galinha fugindo da cozinha. O barman limpava o balcão, sujo de algum tipo de bebida alcoólica. Sentou-se em um dos bancos, se debruçando sobre a parte do balcão que ela sabia já estar limpa.

- Boa noite. – falou cansado, o barman. Sim, foi isso que ele disse, apesar de já ser madrugada e o sol estar prestes a nascer. – Vai querer alguma coisa? Se for, o bar fecha daqui a pouco. É só tirarmos eles daqui. – falou, apontando para o monte de bêbado caídos pelo chão.

- Não vou tomar muito do seu tempo. Um copo de água, por favor.

Quase que na mesma hora um copo de vidro foi posto à sua frente, quase transbordando em água. Não evitou comentar em pensamento, “que rápido”. Logo em seguida pegou o copo e virou seu conteúdo direto na garganta, dando um longo e barulhento gole, esvaziando o copo.

E agora foi a vez do barman de se surpreender.

- Estou meio perdida. Sabe me dizer onde estamos? – perguntou, pondo o copo sobre o balcão.

-Estamos em Odaiba, uma vila comercial.

- Em que país? – perguntou, prontamente.

- Está tão perdida assim? – perguntou, espantado, levantando ambas as sobrancelhas.

- Digamos que tive uns problemas e fui parar longe de casa.

Então ela viu ele olhar de esgoela para sua hitaiate. Provavelmente não estava acostumado a ver ninjas por ali.

- Bem, estamos no país da Grama. – respondeu, hesitante.

- Ah, obrigado. Era só isso.

E deixou algumas moedas – Sakura sempre anda com alguns trocados escondidos num fundo falso da sua bolsa de shurikens – sobre o balcão, se retirando logo em seguida.

Os primeiros raios do sol já eram visto ao horizonte, atrás das casas. Por quanto tempo ficou acordada? A sua única certeza era de podia cair dura no chão e só acordar no ano seguinte. Não precisava se olhar no espelho para saber que estava com olheiras escuras debaixo dos olhos. Alias, já estava aí antes mesmo daquela noite. Não conseguia dormir direito há algum tempo. Primeiro por causa da missão. Logo depois foi o medo do que lhe poderia acontecer enquanto estivesse nas mãos de Orochimaru. E, quando dormia, tinha pesadelos horríveis. Então acordava no meio da noite, e assim se sucedia repetidamente.

Aos poucos algumas lojas abriam e as ruas iam ficando ocupadas por pessoas. Olhou o dinheiro que ainda tinha. Pouco demais. Nada de uma comida descente. Então deu meia volta, indo para fora da vila, pensando se deveria ou não parar para pegar alguma fruta pelo caminho.

Começou a correr para fora, já sabendo para onde seguir. Aos seus cálculos, talvez chegasse em Konoha ao final do dia. Não podia parar muito. Alguns tempo depois, quando o sol estava alto no céu, indicando meio dia, ela parou. Tinha alguns pessegueiros por perto. Foi até eles e pegou alguns, que arranjou um jeito de por em um saco de pano amarrado à sua cintura.

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Pulava de galho em galho, a única forma que podia, já que o chão estava coberto de mato. Desviava de vários galhos, de forma tão natural que, vista de longe, parecia ter nascido assim, pulando. Já devia estar no meio do caminho. Resolveu finalmente dar uma parada. Ainda não tinha comido os pêssegos, e estava faminta. Parou em um galho qualquer, onde se sentou de costas para o tronco. Abriu o saco, enfiando a mão e tirando uma das frutas. Espalmou um pouco a fruta, retirando um pouco a sujeira. Uma mordida. Outra. Logo toda a fruta já estava em processo de digestão. Retirou o segundo pêssego do saco. Ficou apreciando-o. Já não estava com tanta fome. Deveria comê-lo?

Então o galho balançou. O pêssego caiu das suas mãos, descendo em queda livre até o chão. Alguém tinha pulado para aquele galho. E, quem quer que fosse, estava de frente pra ela, a fitando. Levantou o olhar. Arregalou os olhos.

- Não é exatamente a melhor hora para fazer um lanche, não acha? – perguntou, em tom de deboche.

Então o selo amaldiçoado pareceu queimar. Muito mais doloroso do que as ultimas vezes. Parecia que cobria seu corpo. Todo lugar queimava. Começou a urra de dor. Então, sem forças, o sono, tão contido por tanto tempo, viu-se livre para tomá-la. E ela caiu do galho. E, a ultima coisa que viu, antes de apagar, foi uma mão segurá-la, e um rosto.

- “Sasuke!”

Então tudo apagou.

To be continued...


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Notas finais do capítulo

Ayame: Mande uma review e faça uma autora baka feliz ^.^



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