Eu gritei, contra a passividade das paredes,
Que nada me disseram;

Chorei, e só elas me ouviram
E respeitaram. Esmurrei!
E a mim mesmo feria...
Joguei livros, cadernos e poemas,
E elas nunca reagiram.

Paredes, que me fizeram refúgio
Quando o mundo era agressivo.
Cego. Triste. E absurdo.

Paredes que me contavam segredos,
Enquanto guardavam aqueles meus;

Paredes únicas que sabem
Do meu primeiro beijo, do meu primeiro toque
De minha primeira vez.

Paredes que sustentaram minhas pinturas,
E as admiraram, como ninguém mais;
Paredes, que não deixavam-me falar sozinho,
Pois me escutaram, sem me julgar.

Paredes, que me viram sorrir, me viram chorar;

Que tremiam, alegres, quando me ouviam pular,
Ao som das músicas mais altas!
Que escutávamos em paz.

Ah, paredes, amigas que não vejo mais...
Foram meus anjos da guarda, os melhores amigos,
O silêncio mais sábio, dos sábios quietos que vi:

Mas ouvem, como nunca os homens serão capazes de ouvir.