Domingo Tranquilo E Solitário escrita por x3 Gessika x3


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura. Espero que gostem!!!



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Está frio, e eu odeio isso. Estou menstruada e solteira, tomei um pé na bunda ontem a noite. Tudo bem, as coisas já estavam irritantes, não têm problema algum em levar um fora em uma fila de cinema. E ele nem para esperar até o final do filme, canalha insensível. Acordei com dor de cabeça, irritada e inchada. Ser mulher é tão difícil, só quero ficar aqui enrolada na cama, remoendo minhas mágoas até a preguiça passar. Ainda bem que hoje é domingo, terei um dia inteiro para aproveitar a minha companhia. Sou tão feliz, não preciso de um namorado, sou independente e recebi uma proposta para trabalhar na Irlanda. Não vou porque seria muita contramão ficar longe de todos os meus amigos, familiares e vizinhos gentis que tenho aqui, por isso não quero e nem preciso ir, segunda eu recuso a proposta da minha feche, na verdade eu  preciso de licor e chocolate. Olho para a porta triste, seria tão bom ser rica e ter um mordomo e se ele fosse alto e sexy poderia me ser mais do que útil em momentos como esse. Ah, não quero saber, vou ficar aqui quietinha e...que isso? Celular?

“With the taste of your lips, I'm on a ride. You're toxic, I'm slippin' under. With the taste of your poison, I'm in paradise. I'm addicted to you. Don't you know that you're toxic?. And I love what you do. Don't you know that you're toxic?”

Ouço do meu quarto o toque ridículo da música Toxic do meu celular. Eu devia mudar para uma música mais moderna. Ela lançou uma chamada Criminal que é muito legal. Aé, a droga do aparelho ainda está tocando, que pessoa insistente. Ele está na sala, será um suplício levantar e atender. E se eu fingir que não estou em casa? Impossível, uma voz na minha cabeça fica dizendo “Atenda! E se for uma emergência? Se for o canalha de ontem pra pedir desculpas? É uma boa chance de esnobá-lo e dizer que você já o substituiu” . Minha consciência sempre tem razão. Bufando levantei da cama e fui até a sala, abri minha bolsa e peguei meu celular, olhei no visor e vi o nome “Mamãe”. Que beleza, mamãe me ligando, de duas é uma: Ou ela quer me contar as novidades dos famosos e de suas novelas ou é uma nova receita de bolo.

- Alô?

- Lisa?

- Sim, mamãe.

- Estava dormindo? Mas já são 11 horas querida.

- Eu estava acordada mãe.

- Ah que bom. Já fez o almoço?

-Hã? Não...

-Ótimo, porque tenho uma nova receita. Vá até a cozinha fazer enquanto falamos das novidades da novela...

- Ah mãe, eu não estou afim de cozinhar nem de conversar, só quero ficar quieta...

- Aconteceu algo querida?

- Sim, aconteceu. Descobri que cancelaram meu plano econômico de telefone porque não renovei o contrato, se continuarmos nos falando vai sair muito caro. Espere até segunda feira que resolvo isso. Tchau

- Certo, quando arrumar me ligue, até lá terei duas novas receitas pra você, tchau querida.

- Tchau mãe...

Desligo o celular e volto para o quarto com ele, para o caso de me ligarem de novo e eu não precisar me levantar de novo. Deito-me na cama e plin. Vontade de ir ao banheiro. Como meu cérebro pode ser tão lento a ponto de não perceber que a bexiga está cheia? Ele é o responsável! Sinto-me traída. Contrariada levanto e vou até ao banheiro. Nossa, poderia dormir sentada no vaso, ele é tão confortável quanto minha cama. Ok, não perca o juízo. Vou até a pia lavar as mãos e olho meu rosto no espelho. Cabelo bagunçado, parece que criou vida. Cara tão amassada que pareço um bulldog com rímel até na bochecha. Poderia ganhar muita grana como a atração principal de um circo de horrores. Tudo bem, estou feliz, não preciso me arrumar para ninguém mesmo. Voltou arrastando os pés e deito novamente na cama. Nossa que sede...isso é errado. Vou sentar em uma cadeira elétrica e ver se meu cérebro funciona ou se eu morro de vez. Levanto novamente e vou até a cozinha, bebo um copo d’água e aproveito para procurar algo que me deixe grogue, acho uma caixa de bombons. Não vai me deixar exatamente grogue, só mais inchada, mas é o suficiente. Volto para o quarto, sento na cama e ligo a TV. Alguém sabe o que passa de bom a TV no domingo? Nada, filmes decentes só na sessão das 22h, que saco. Vou mudando de canal e comendo chocolate, até que escuto alguém bater na porta. Mas que cagada. Agora é a campainha e a pessoa não toca só uma vez, fica compulsivamente apertando o botão. Vou fingir que não estou em casa...

- LISAAA! SEI QUE ESTÁ EM CASA, SEU CARRO ESTÁ AQUI...

- E DAI? EU POSSO TER IDO DE ÔNIBUS...  – grito do meu quarto.

- VOCÊ É IDIOTA?

É melhor eu ir atender a porta, é minha amiga Courtney, não quero que os vizinhos escutem ela me xingando. Abro a porta e me deparo com uma loira sorridente.

- Oi Lis... – diz ela entrando sem ser convidada e jogando a bolsa sobre o sofá – Sabe quem encontrei no mercado agora a pouco ? – ela já se sentava no sofá e olhava para mim.

- O diabo?

- Como sabe?

- Courtney, estou potencialmente assassina, me deixe sozinha – abro a porta pra ela se mancar e sair, mas não funciona.

- Ótimo, vamos até minha casa acabar com a minha prima. Foi ela quem eu encontrei no mercado, disse que precisava passar uns dias comigo, pois as coisas estavam difíceis na sua casa e blá blá blá. Ela simplesmente se convidou, muito sem noção.

- Isso é de família ...

- Hã?

- Cai fora, depois eu mato sua prima, hoje eu quero ficar sozinha.

- O que aconteceu?

- Descobri que o meu vizinho, o Senhor Perry, tem uma paixão satânica por mim desde que me mudei para cá e ele está com câncer em estado terminal.

- Aquele Senhor de 80 anos a duas casas daqui?

- Ele mesmo...

- Meu Deus! Isso é terrível. Vai vê-lo no hospital?

- Não tenho coragem, vou vê-lo depois no cemitério...

- Ah Meu Deus...

- Pode me deixar sozinha?

- Ah, claro. Desculpe – e sem graça ela pegou a bolsa e saiu. Paz, finalmente. É errado mentir desse jeito?

Volto pro meu quarto, deito na cama me enrolando no edredom como um rocambole e fico vendo uma palestra sobre sacolinhas biodegradáveis na TV. Bocejo e me aconchego melhor. Agora sim está tudo certo, cada coisa em seu lugar. Não estou prestando atenção na tal palestra, o sono começa a aparecer, estou com as pálpebras pesadas, fechando, fechando, quase fechando e fech-....Que isso? Parece uma sirene de ambulância, será que o Senhor Perry realmente está morrendo? Não é possível. De repente batem agressivamente na minha porta. Se for Courtney de novo eu vou tocar fogo nela. Eu só quero dormir, mas que droga. As batidas são violentas e insistentes, meio que temerosa vou até a porta e abro. Dou de cara com dois policiais me encarando acusadoramente.

- Com licença, mas recebemos uma denúncia anônima de que um homem acusado de matar duas idosas está escondido nessa região. Estamos vasculhando todas as casas e pedidos a sua cooperação. Meus oficiais vão entrar e revirar sua casa.

 Fiquei olhando bestificada e tentando processar aquilo tudo. Sem esperar resposta eles entraram e começaram a olhar tudo.

- Um assassino...no meu bairro?

- Sim senhora

- Matou duas velhas?

- Sim senhora

- Certo...

- Recomendamos que feche bem as janelas e portas.

- Certo...

- ...

- Isso vai demorar muito?

- Não senhora.

- Precisam olhar até no guarda-roupa?

- Sim senhora

- Isso tá demorando...

- Espere mais um pouco, Senhora

E eles ainda demoraram mais um pouco. Olharam até nos armários da cozinha. Meu Deus! Esse mundo é o antro da perdição. Assassino em potencial mata duas velhinhas e se esconde em um bairro residencial. Deveria estar com medo de ficar em casa, mas a preguiça e a falta de vontade de sair falam mais alto. Se algum assassino aparecer aqui ele vai ficar com tanta pena da minha falta de vontade de viver que pode até me poupar. Depois de um tempão os policiais foram embora me dando alertas, avisos e etc. Eu só respondi tudo com um sorriso forçado e deu Adeus. Chatos, um escândalo por causa de velhinhas. Pessoas morrem o tempo todo, não deviam incomodar suicidas em potencial como eu. Volto pra cama e me enrolo novamente no edredom, meu sono foi embora. Agora está passando uma palestra sobre corrupção e impunidade.  Ótimo, um assunto chato e meu sono voltará rapidinho. Uoow...um bocejo e o pesar das pálpebras voltaram, olho no relógio encima do criado mudo, 13h. Não sinto fome, só quero ficar aqui quietinha, vou tirar uma sonequinha e....Meu Deus! O que foi isso? Uma batida? Derrubaram um prédio aqui do lado? Ouço uma buzina. Mas não é só “bip bip” comum de buzina de carro. É um “ biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii” estridente e compulsivo. Ouço a voz da Senhora Lopez, minha vizinha, xingando o filho dela. Parece que ele bateu o carro. E pelo barulho deve ter derrubado metade da casa. A senhora Lopez é tão desbocada. Enfio a cabeça dentro do edredom tentando proteger meus ouvidinhos de toda essa barulhada mas é impossível. Agora os cachorros estão latindo. Deus, dai-me paciência para não tentar o suicídio. É pedir muito um pouco de paz? Fiquei mais uns 30 minutos com os arregalados olhando para a TV desejando todo o mal do mundo para os meu vizinhos, cretinos. Agora parece que se acalmaram, arrumaram a buzina e doparam a Senhora Lopez. Solto um suspiro aliviada, minha cabeça dói, preciso de um analgésico, mas não quero sair daqui, vou fechar meus olhinhos e contar carneirinhos. Um...dois...três....quarto.... TOC TOC TOC....cinco....seis....TOC TOC TOC...seis...seis....TOC TOC TOC....diabo. Estão batendo na porta. Não parece que é a polícia de novo. Então posso fingir que não estou em casa. Mas agora estão tocando a campainha. Queria que um tsunami levasse tudo pro beleléu. Levanto pisando duro, solto um suspiro para relaxar. Sou louca mentalmente e secretamente, não posso assumir isso. Vou até a porta e me deparo com o carteiro com uma encomenda. Assino e pego a caixa, deve ser os livros que comprei pela internet. Aff...fecho a porta, jogo a caixa sobre o sofá. O mundo está com uma conspiração contra mim?  É pedir demais uma folga depois de um sábado terrível? É pedir demais me desligar do mundo por apenas um dia? Ou uma tarde? Ou apenas algumas horas? Quando eu preciso de atenção ou companhia nunca tenho, mas o contrário sempre acontece? Isso é frustrante. O próximo que ligar ou bater na minha porta vai ouvir tanto, mas tanto que vai fundar o próximo o clube “Eu odeio a Lisa”. Solto um suspiro. Estico os braços para relaxar e já tenho um sorriso no rosto. Muito bem, estou aqui em pé na minha sala a uns 15 minutos, se ninguém me importunou até agora é sinal que resolveram me dar uma trégua, posso voltar até a minha cama e tirar o tão querido cochilo. Vou andando até o quarto, já estou ajeitando a cama para me deitar quando ouço bateram na porta irritantemente.

- HAHAHAHA! A polícia ainda está por perto, mas não tem problema...

Vou até a porta e a abro violentamente. Meu rosto está vermelho, estou com cara de assassina e quando olho o indivíduo não aguento.

- HAHAHAHAH

- Do que está rindo?

- HAHAHAHAHA. Eu não aguento, isso é demais pra uma pessoa. Conhece uma boa clínica psiquiátrica?

- ein?

-HAHAHAHAHA

- Ficou maluca?

- Sim.... – ufa...recupero o fôlego. Faz tempo que não gargalho assim. -  O que quer, David?

- Quero pedir desculpas sobre ontem...

- Sobre ontem? Ah, tá falando do fora que me deu na fila do cinema?

- É...

- Tudo bem, já superei. Existe coisa bem pior...

- Tipo o quê?

-  Tipo ser morto por um maníaco de velhinhas ou ter uma paixão platônica e um câncer em fase terminal ao mesmo tempo.

- Lisa...?

- Que é?

- Quero voltar com você. Me perdoa?

- Se você morrer, sim. – bato a porta na cara do infeliz.

 Vou até meu quarto, troco de roupa, faço uma mala para duas semanas. Pego um táxi, vou para o aeroporto e compro uma passagem só de ida para a Irlanda, 45 minutos depois estava sentada em uma poltrona na classe econômica, ponho os fones de ouvido e fecho os olhos. O que estou indo fazer no Irlanda? Estou indo atrás da paz interior. Vou conhecer o meu novo lar. Vou aceitar a proposta da chefe. Segunda feira eu ligo e explico tudo. Ufa...até que enfim um pouco de silêncio. Estava quase no expresso do sono quando sinto a senhorinha sentada do meu lado me cutucar levemente, eu já com uma expressão mais humana olhei pra ela sorrindo.

- A Senhora me chamou?

- Sim querida. Poderia me ajudar a abrir esses salgadinhos? O pacote está muito difícil pra mim...

- Claro.  – pego o saquinho e abro, entrego pra senhora que sorri agradecida.

- Obrigada. Você é um anjo. Porque está indo para a Irlanda?

- Trabalho.

- Entendo. Sabe, sou natural da Irlanda. No meu tempo as coisas eram diferentes e tradicionais. Não existia  tantas oportunidades, e o mundo em colapso mundial era perigoso e....

NOOOOOOOOOOOOOOOOOO! Alguém cale a boca dessa velha!

 FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado



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