Alice arfava em meio aos passos largos e rápidos que dava. O vento batia em seu rosto e levantava seu cabelo, seu vestido tremulava.

Olhou para trás mais uma vez enquanto corria; eles estavam perto, ela sabia. Em algum lugar atrás dela, perseguindo-a, estavam os irmãos Tweedle. Ela estava começando a ficar cansada, mas não queria “brincar” com eles, era perigoso demais. Tudo aquilo era um sonho, mas isso não significava que não pudesse se machucar, ou até mesmo morrer. Antes, Alice estava tentando chegar na Torre do Relógio ou no Parque de Diversões, mas agora ela só corria desesperadamente, sem saber aonde estava indo. Talvez estivésse correndo em círculos, talvez em retângulos, mas isso não importava pra ela. Desde que ela não fosse pega estava tudo bem.

Eu não aguento mais!  Pensou. Eles nunca vão parar?!  Alice sempre foi muito rápida quando se tratava de corridas, mas Dee e Dum pareciam não se cansar nunca. As árvores passavam por ela em borrão. A sua direita Alice podia ver a Mansão do Chapeleiro, da qual se aproximava rapidamente. Seria um bom refúgio, caso não fosse a residência dos Tweedle, e também de Blood. Os portões não estávam muito longe e Alice encurtava cada vez mais a distância a medida que corria. Alice pensava em algum lugar onde pudesse se esconder, mas não conhecia a Mansão tão bem assim então decidiu não arriscar, além do mais, ela podia ouvir a voz deles.

-Onee-san! Não foge da gente! –Gritou Dee.

-É Onee-san, não foge!- Enfatizou Dum, de algum lugar surpreendentemente próximo.

Alice não arriscou um olhar, continuava a correr loucamente. Passou direto pelos portões da Mansão, lamentando não ser um pouco mais rápida, apenas o suficiente para despistar os gêmeos a tempo e se esconder em um lugar seguro, onde eles não iam procurar. Estava a pouco de desmontar, mas não ia parar. Estava começando a ficar preocupada porque não se sentia muito bem e estava començando a enxergar as coisas meio embaçadas. Esfregou os olhos um pouco enquanto corria, pra ver se melhorava, por isso não o viu no caminho. Alice tirou as mãos dos olhos e os abriu, bem a tempo de ver Blood Dupre a meio metro dela. A jovem garota jogou seu corpo pra esquerda subta e brutalmente para evitar o choque que de começo parecia inevitável. Sua postura mudou durante alguns segundos, mas sua velocidade não.  O que fez as roupas de Blood tremularem quando passou por ele.

Em poucos segundos Alice estava longe. Blood olhou para trás, para a direção por onde Alice tinha ido, seu olhar era confuso e se perguntava o que tinha originado tanto alvoroço quando avistou os gêmeos, também correndo como loucos. Quando se aproximaram dele, os Tweedle pararam e fizeram uma breve mensura.

-Chefe! -Disseram Dee e Dum em coro.

Preparavam-se para voltar a correr, quando Blood os parou.

Ele suspirou e disse:

-Podem me explicar o que está acontecendo? –Depois, com um sorriso maroto nos lábios, disse –Parece interessante...

Enquanto isso, já muito longe dalí; Alice, que não podia mais ouvir as vozes dos gêmeos nem sinal algum se sua presença, parou finalmente de correr e desabou no chão. Estava exausta e quase superventilava.

Deitar- se era como um sonho; um sonho dentro de outro, era como o paraíso. Alice estava incrivelmente cansada, nunca estivera tão cansada na vida. Mais uma vez desejou ir para casa, um lugar onde sua amada irmã a esperava. Ela ia definitivamente cuidar de Alice, preparar-lhe um banho, chá quente e iria também lhe contar uma história, como tinha o cosyume de fazer.

Uma lágrima quis rolar por seu rosto, teimava em querer cair. Piscou forte para limpar os olhos. Estava deitada no chão como se fosse fazer um anjo na neve, só que ao invés de neve debaixo dela havia grama. Observava o céu distraída, imaginando como tudo seria mais fácil se pudesse voar. Não teria corrido tanto dos Tweedle, não estaria tão cansada, não teria tanta sede.

Estava perdida em pensamentos quando ouviu os passos de Vivaldi, do rei e de alguns de seus subordinados. Sbia que não era educado permanecer deitada, mas estava muito cansada para levantar.

Assim que Vivaldi a viu foi correndo até ela gritando:

-Alice?! O que aconteceu?! Você está bem?! Por que está deitada no chão?!

Ainda tentando recuperar o fôlego, Alice cumprimentou-a:

-Vivaldi. –E sorriu .

Mas Alice estava tão cansada que nem sorrir direito conseguiu. O que era para ser um sorriso acabou por tornar-se uma careta estranhíssima. Vivaldi, que já não estava gostando nada daquilo, se aproximou de Alice e ajouelhou-se ao lado dela.

Tudo o que Alice via era uma imensa mancha vermelha, fora emgolida pela saia do vestido de Vivaldi. Que, por sinal, a estava sufocando. Ela, que já estava sem fôlego, agora mal conseguia respirar. Alice começou a tossir descontroladamente.

Vivaldi, vendo o que estav fazendo, afastou-se da garota o mais rápido que pode.

Rápido demais.

Ao se levantar para sair de perto de Alice, Vivaldi perdeu o equilíbrio e tombou para trás. Esta prestes a chocar-se contra o chão, mas um de seus subordinados deteve a queda. Aquela situação havia se tornado uma pequena confusão. Alice já não sabia mais como tudo aquilo tinha começado. A garota se sentou enquanto a rainha recobrava a compostura.

Alice respirava com mais facilidade agora. Vivaldi, completamente composta perguntou:

-O que está havendo, Alice? Por que você está nesse estado?

Alice olhou para Vivaldi. Não sabia se era por estar olhando de baixo para cima, mas a rainha parecia incrivelmente imponente. Mais uma vez Alice percebeu o quão pouco sabia sobre todos aqui do País dos Corações. Sorriu, desta vez obteve um melhor resultado, e disse:

-Dee e Dum queriam brincar comigo...

-Não precisa dizer mais nada. –Vivaldi interrompeu gentilmente. Continuou –Já entendi o que se passou.

E não era para menos que compreendesse rápido. Todos por aqui sabem como os gêmeos são. Vivaldi reparou que a garota na sua frente ainda arfava e propôs:

-Venha para o castelo. Você parece extremamente cansada. Lá você pode tomar um banho e podemos beber chá. E pode ficar tranquila enquanto estives nas minhas terras, lá os Tweedle não entram. –Sua voz era suave e gentil, mas Alice percebia a seriedade de suas palavras.

Alice sorriu novamente e, enquanto assentia com a cabeça, disse:

-Parece uma ótima ideia.

Alice gostava muito de Vivaldi. Ela era como sua irmã. No começo Alice não gostava nada do País dos Corações. Não gostava de ter vindo parar aqui e as vezes amaldiçoava Peter White por tê-la trazido para cá. Mas agora as coisas eram diferentes, conforme Alice ia conhecendo melhor esse estranho, porém facinate, país mais gostava dele e das pessoas que o habitam.

Agora ela ficava feliz em rever todos os dias os amigos que fizera aqui, em outras palavras, estava começando a aproveitar a estadia. Talvez porque inconcientemente sabia que seu tempo aqui estava acabando.

Pôs-se de pé e acompanhou a rainha até sua residência.