Era difícil dizer qual de nós quatro estava mais surpreso, todos ostentavam expressões desacreditadas, e até mesmo em choque, caso de Heechul dongsaeng, que processava muito vagarosamente a informação de estar coberto de suco, mas dentre o barulho da tosse insistente de Siwon, a voz de KangIn se sobressaiu.

– Como pode ter certeza disso? - perguntou ele quase aos berros para Heechul, que ainda se encontrava em seu estado letárgico de choque.

– Eu... ...devia... ...matá-lo! - afirmou Heechul muito vagarosamente. Seus olhos que até então estavam vidrados no nada, pousaram perigosamente na face de KangIn e senti que a coisa ficaria realmente séria, se Siwon não tivesse intervindo com a mesma afobação de KangIn.

– Por que o Pedro é homossexual, hyung? Ele te disse algo?

– Eu me recuso a ter um filho gay – completei imediatamente esquecendo-me do olhar mortal que Heechul direcionava ao KangIn, mas espera, KangIn estava tomando suco? Pensei franzindo o cenho confuso.

Bufando bem alto, Heechul levou a mão esquerda à face e dobrou seus dedos lentamente, mas com força, enquanto o líquido em sua esculpida face e roupa simplesmente borbulhavam e desapareciam no ar passando para o estado gasoso. Finalmente seco Heechul suavizou sua expressão e fitou a mim e Siwon.

– O que diziam? - perguntou ele com uma forçada simpatia.

– Desde quando o Pedro é homossexual? - Siwon arrancou as palavras da minha boca de modo mais fino e calmo, pois se ele tivesse dado tempo para eu falar, teria sido um questionamento desesperado e aos berros do porquê do meu menininho puro e inocente ser gay.

– Não sei ainda, mas ontem antes dele sair, tive uma visão dele beijando um rapaz loiro e minutos depois tive mais algumas visões dos dois juntos, formando um casal tão fofo, infelizmente não consegui ver a face do rapaz, mas deve ser um ocidental, faz sentido o Donghae gostar de ocidentais – concluiu Heechul assentindo levemente com a cabeça, mas o mais macabro de tudo era que havia um sorriso escondido em seus lábios extremamente chamativos e um pouco femininos.

– Omo! Como você pode ter uma visão dessa e permitir que ele saia? - perguntou Siwon indignado.

– Eu ainda me recuso a ter um filho gay! - exclamei novamente semicerrando os olhos para Heechul, que em resposta, arqueou uma de suas sobrancelhas negras.

– Filho? E desde quando o Donghae é seu filho? - perguntou ele de modo áspero – E mesmo se fosse, você não devia estar contra ele, você devia apoiá-lo, isso que pais de verdade fazem, você está sendo muito imaturo Jung-su hyung!

– Você está todo bonzinho porque quer sair do armário faz tempo e não tem coragem! Você é uma má influência para o Pedro, Cinderela, e se foi uma visão, ainda dá tempo de mudá-la, e pode ter certeza que eu vou fazer de tudo para acabar com essa sua fantasia boiola! - disse KangIn espreitando Heechul com os olhos.

– Apoiado! - concordou Siwon cruzando os braços sobre o tórax sério.

– Então é por isso que o Pedro estava me perguntando do meu primeiro beijo e estava tão desesperado... - falei em um pensamento alto – Não acredito que o primeiro beijo do Pedro foi com um menino – completei semicerrando os olhos enojado, aquilo me parecia muito triste na vida de um garoto, ainda mais tendo ele apenas doze anos.

– Como vocês são idiotas! – retrucou Heechul com arrogância – Deixem que o Donghae viva a vida dele, se ele quer namorar um garoto, deixem que ele namore um garoto, desde que ele não esteja fazendo nada ilegal, é melhor que ele faça suas próprias escolhas, e nós como seus hyungs, devemos apenas apoiá-lo.

– Mas se o deixarmos fazer suas próprias escolhas, logo seremos seus oppas, e não quero ser oppa de nenhum menino! - retrucou KangIn igualmente sério – Você só está o apoiando porque é um afeminado! Seu primeiro beijo também foi com um menino não foi? - perguntou o dongsaeng franzindo o cenho para Heechul.

A reação do vidente foi extremamente inesperada. Sempre tão forte como ele era, finalmente o vimos fraquejar. Seus olhos escuros buscaram rapidamente ao chão e sua mão direita foi parar no pescoço, coçando-o suavemente. Ele estava visivelmente desconfortável com a pergunta e seu 'ahn...' baixo e um tanto perdido, apenas fez KangIn rir alto.

– Então o seu primeiro beijo foi com um garoto? - perguntou o alcoólatra em meio aos risos – Diga-me, qual é o nome do infeliz que aceitou te beijar?

– Meu primeiro beijo foi com uma garota Young-woon – retrucou Heechul reassumindo sua pose arrogante – E se não estou casado no momento, é por causa desse farto que carregamos de sermos imortais, porque eu conheci muito mais garotas decentes que você em sua insignificante existência conhecerá.

– Falando em casamento, me encontrei com a Krystal na agência de modelos, Krystal Jung, a filha da Jessica Jung. Ela está tão bonita e tem uma carreira sólida de modelo pela frente. Lembra-se da mãe dela hyung? - perguntou Siwon saindo sem mais nem menos do assunto principal, que havia se tornado uma verdadeira polêmica.

– Omo! Jessica Jung? - perguntou Heechul boquiaberto recebendo a confirmação do mais alto – Nossa, há quanto tempo não vejo a Jessica... Com ela sim eu tive um relacionamento sério, sério até demais. Foi tão difícil terminar com ela, mas foi melhor dessa maneira... Você sabe se ela está bem? E sua filha? Krystal, Krystal, Krystal... Não me recordo desse nome, mas ela é tão bonita quanto à mãe?

– A Jessica é dona de uma beleza excepcional, mas a Krystal também é muito bonita... Tão bonita que o Pedro poderia se apaixonar por ela – disse Siwon abrindo um largo sorriso – Omo! A convidarei para um almoço, ela, ao Pedro e você KangIn hyung, e então podemos dar a ideia dela ensinar o alfabeto coreano para o Pedro, afinal, ela fala inglês fluente e sendo eu seu sunbae e oppa, ela não irá me contrariar.

– Se bem que o Pedro também é uma criança muito bonita, será que ele não consegue entrar para a agência de vocês? Quem sabe a Krystal possa ajudá-lo com isso, faremos de tudo para que esses dois passem bastante tempo juntos – falou KangIn entusiasmado.

– E por que não estou convidado para esse almoço? - perguntei franzindo o cenho indignado, os dois dongsaengs fazendo planos e mais planos, e eu que também era completamente contra o Pedro virar gay, de fora.

– Você também é uma má influência para o Pedro, hyung! - afirmou KangIn fazendo meus olhos se arregalarem – Você fica inventando de dormir abraçadinho com ele todas as noites... Isso que está fazendo-o ficar dessa forma, ele não sabe mais o que é certo e o que é errado e para uma criança na sua idade esse tipo de coisa influência bastante, então a partir de hoje você está proibido de dormir com o Pedro, mesmo se ele tiver pesadelos, você só vai ao seu quarto e manda-o dormir de volta.

– Mas eu não durmo com o Pedro por malícia, eu o vejo como um filho e quero apenas protegê-lo, nada além disso – argumentei para tentar fugir de suas acusações. Eu realmente via ao menor apenas como um garotinho indefeso e não como o pré-adolescente que ele era.

– E quem lhe garante que ele o vê como um pai? - perguntou Siwon me encarando sério.

Engoli em seco sentindo meu estômago revirar.

– Ignorantes! - rosnou Heechul bufando alto e saiu da cozinha marchando.

– Eu acho... - falei um tom mais baixo que o normal, com os olhos fixos no piso de cor clara. A voz parecia presa na garganta, mas tomando fôlego, pousei os olhos na face dos dois dongsaengs e completei – Talvez seja melhor o Pedro voltar a morar comigo no sobrado.

– Nem pensar! - respondeu KangIn sério – Ele deve morar com o Siwon e frequentar uma escola mista, essa visão do Heechul não pode realizar de modo algum.

– Não pode mesmo! - concordou Siwon.

– Então vocês veem o que vão fazer que estou indo para o hospital – disse dando as costas, mas a voz de KangIn, perguntando se eu não tomaria café da manhã, me fez parar – Perdi o apetite – foi tudo o que respondi antes de deixar a cozinha.

P.O.V – LeeTeuk off

P.O.V – KyuHyun on

Assim que voltei a ter comando sobre meu corpo, senti um desconforto por causa da posição na qual eu me encontrava. Abri os olhos sem conseguir enxergar nada e muito contra minha vontade, me desencostei da mesa onde minha cabeça repousava. Com medo de volta para casa depois de sair da casa de Sungmin, sentei em uma praça grande que havia ali perto e me debrucei em uma das mesas de xadrez com a intenção de esperar o movimento de pessoas cessarem, para usar meu notebook, mas acabei adormecendo e agora que despertava, via o movimento de pessoas crescer novamente.

– Preciso ser rápido – disse para mim mesmo esticando as costas doloridas e apanhei ao notebook ao meu lado.

Era um pouco insano de minha parte dormir em uma praça, mas eu precisava dizer isso para o meu corpo que estava cansado demais para procurar um lugar melhor. Assim que Hyunnie ligou, liguei o wi-fi e me conectei a rede local. Tentando uma vez na vida ser sutil por causa da movimentação de pessoas, abri o google e pesquisei sobre a cafeteria, que obviamente não fala sobre seus funcionários. Sem me dar escolhas, digitei o nome dos irmãos e olhei bem para os dois lados antes de dizer algumas palavras ao Hyunnie.

– Olha Hyunnie, eu sei que é uma busca complicada, mas vamos lá, eu quero saber tudo o que for possível sobre esses dois irmãos e ai de você se vir com pessoas diferentes deles – ameacei com o cenho franzido e estiquei a mão para o notebook. Calmamente toquei a parte de cima com a imagem daqueles dois jovens em minha mente e apertei o botão de pesquisa.

Depois de alguns instantes, apareceu a página de uma escola qualquer, com a ficha básica dos garotos, ou melhor, com a ficha de bem uns cinco JongJin e Jongwoon, mas destacado estava a foto de uma turma, na qual JongJin sorria grandemente. Lendo os sobrenomes, cheguei a conclusão que eles eram os irmãos Kim e que JongWoon havia se formado na escola a pouco tempo, mas não era aquilo que me interessava, eu queria saber onde aqueles dois estavam.

– Omo! Por que você não é um notebook evolucionário que rastreia as pessoas? - questionei ao Hyunnie fazendo um bico contrariado, mas não esperei pela resposta, simplesmente o fechei e guardei de volta na minha mochila.

– Eu vou encontrar o Jongwoon sozinho, eu não preciso do Sungmin, eu não preciso de sua irmã esnobe, muito menos de todo o seu luxo – pensei alto olhando em volta. O que eu estava prestes a fazer, não era aprovado por nenhum dos meus tios diferentes, mas eu estava com muita pressa para pegar o transporte público.

Olhando em volta, encontrei o que eu queria ou quase. Eu preferia um notebook por estar mais acostumado a eles, mas o ipad com internet serviria bem. Puxei o ar fortemente para os pulmões e soltei de forma mais calma, tentando assim me concentrar. Vendo que o movimento apenas aumentava, balancei a cabeça negativamente em meio uma careta de dor e corri em direção ao ipad no qual um rapaz muito animado via vídeos do youtube.

– Que dê certo! Que dê certo! - disse em um sussurro fechando aos olhos e saltei para o ipad do rapaz. No mesmo instante senti meu corpo diminuir, desaparecer, era como se ele piscasse no ar, sendo sugado por uma forte tormenta. Ainda escutei o grito assustado do jovem que rapidamente foi substituído por um zumbido irritante. Respirando ofegante, abri aos olhos e me ergui encantado – Caótico... - disse dentro daquele mundo virtual que oscilava de cor, passando de um azul repleto de glitter para um branco tão claro que ofuscava minha visão – Mas eu gosto daqui – completei abrindo um sorriso.

Teletransporte de primeira classe via internet, pensei esticando minha mão no ar. Um teclado suspenso apareceu diante de minha mão e calmamente digitei o nome da escola em que Jongjin ainda estudava. Aquilo tudo podia parecer estranho, mas estranho mesmo foi quando eu caí dentro no meu notebook pela primeira vez e até que descobri que se eu tivesse outro computador em mente, eu poderia me teletransportar por ele sem ter que parar na central de internet, levou alguns dias.

Assim que apertei a tecla enter, meu corpo foi bruscamente arrastado para um computador localizado na escola ou pelo menos nas proximidades. Eu ainda precisava achar um modo de fazer uma viagem mais confortável, mas por enquanto eu tinha outro foco. Sutil como era minha relação com a internet, fui literalmente arremessado de um computador para um lugar desconhecido.

Meu pulso esquerdo havia caído em uma posição não muito boa e começava a latejar, mas reprimindo uma careta de dor, me ergui do chão e olhei em volta, dando de cara com um jovem gordinho que me fitava pasmado.

– É o 4D – sussurrei gesticulando com os dedos e sai correndo para a porta.

Quando consegui deixar a casa do jovem, olhei em volta procurando pela escola. Ela não estava muito longe e corri em direção a ela, que infelizmente e felizmente estava fechada por causa das férias. Dar uma de vândalo e invadir escolas, não era o tipo de coisa que eu fazia, mas naquele momento só olhei em volta e tendo certeza que ninguém me veria, pulei o muro.

Arrombar a porta da secretária foi a coisa mais difícil que eu fiz na vida, mas era por uma boa causa. Adentrando ao local, fui a uma estante com arquivos dos alunos e procurei por Kim JongJin. Ali estavam suas notas, os projetos dos quais havia participado e o mais importante, estava seu endereço. Com o endereço em mãos, me virei sorrindo para a porta, eu realmente não precisava de ninguém, pensei sendo presunçoso, mas paralisei ao visualizar um homem robusto e com um uniforme cinza de guarda, barrar meu caminho.

– O que está fazendo aqui moleque? - perguntou ele com sua voz grave, fazendo meu corpo tremer.

P.O.V – KyuHyun off

P.O.V – Pedro on

Acordei sendo sacolejado por Simão e tio KangIn, que insistiam que eu precisava me levantar. Muito preguiçosamente me ergui e segui para o banheiro. Em minha sonolência matinal, eu não fazia ideia de que horas eram e quase atropelei a parede do banheiro, mas consegui escovar os dentes e tomar um banho frio. Quando deixei o banheiro no fim do corredor, tio KangIn mandou que eu me apressasse, porque depois do café da manhã sairíamos e foi exatamente isso que aconteceu.

– Para onde estamos indo? - perguntei caminhando pela calçada no meio dos dois mais velhos que parecia entretidos com seus próprios pensamentos. Isso porque por exigência dos dois eu vestia uma bonita calça jeans escura, uma larga camiseta preta com o logotipo de um grupo que eu nunca havia ouvido falar e um tênis preto com detalhes na cor branca. Meu cabelo não estava alinhado como ele costumava ficar depois que o hyung-nim havia me levado ao cabeleireiro, pois Simão havia feito um tope ridículo em meus fios escuros, que segundo ele e tio KangIn, era coisa de homem de verdade, mas eu particularmente preferia a franja.

– Conhecer a cidade – quem respondeu foi tio KangIn abrindo um curto sorriso para mim, sorriso esse que foi rapidamente desmanchado.

– Omo tio KangIn! Se continuarmos saindo dessa forma, Heechul hyung descobrira e nos dará uma enorme bronca, e embora ele trate você super bem – e agora meus olhos se voltavam para o maior – Garanto que vai sobrar para você também Simão.

– Desde quando a Cinderela trata alguém bem? - perguntou tio KangIn com desdém.

– Ele sempre tratou o Simão com muito cuidado, como um irmão mais velho protetor, às vezes tenho a sensação que ele gosta do Simão... - falei me perdendo em pensamentos - Os dois até que ficam bem juntos – um sorriso crescia em minha face quando encarei aos mais velhos que me fitavam atônitos.

– Pare com isso Pedro! - ordenou Simon semicerrando os olhos para mim.

Engoli em seco sem entender sua atitude. Que mal tinha no Heechul gostar do Simão? Pensei por automático, fazendo minha mente retrucar no mesmo instante “Pare com isso Pedro!” ordenou minha cabeça me deixando confuso.

– Mas... - disse em um pensamento alto fazendo os hyungs pararem na calçada e me fitarem.

Quando minhas pernas pararam acompanhando aos mais velhos, senti-as fraquejarem. Repentinamente minha visão embaçou e eu tive que apoiar no maior para não cair.

– Pedro? Você está bem? - escutei o maior perguntar com sua voz variando de distância.

Ainda passei os olhos por sua face, mas meu corpo começava a tremer por causa de um frio inexplicável, precedido por uma fraqueza no corpo. A face de Simão se tornou nítida por instantes, mas minhas têmporas latejaram, me obrigando a fechar os olhos e quando minhas pálpebras fecharam-se, perdi completamente todos os sentidos.