A Quinta Criança - O Escolhido escrita por Valentinnes


Capítulo 31
Um novo dia




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– O Pedro ainda está tendo pesadelos? - perguntou tio KangIn com expressão preocupada e séria assim que o líder entrou na cozinhfa com eu o seguindo.

– Não que eu saiba – respondeu Leeteuk bem humorado pegando um copo do escoador que ficava na bancada ao lado da pia e se esticou para pegar a caixa do suco de laranja que estava sobre a outra bancada, que formava uma espécie de letra T.

Tio KangIn e Heechul hyung podiam implicar um com o outro o tempo inteiro, mas diante daquela singela bancada fixa no balcão de frente com a porta, os dois estavam sentados de frente, como um casal fofo. Simão que vestia uma bermuda xadrez escura e uma camiseta cinza, que deixa bem em evidência seus músculos definidos, estava sentando em uma terceira banqueta ao lado da primeira geladeira. Seu braço esquerdo estava apoiado no balcão de granito escuro e havia um copo de suco e um prato de panquecas ao seu lado. Heechul que estava de costas para o modelo, usava um bonito terno preto por cima de uma camiseta social salmão e juntamente com uma gravata listrada na vertical nas cores azul, vermelho e marrom. Não sei como não havia reparado naquilo antes, mas seu cabelo estava mais claro e curto. Ele não cobria mais os ombros com antes e estavam em um tom de castanho bonito como o chocolate. Tio KangIn que provavelmente ficaria em casa comigo usava uma camiseta azul bebê de mangas longas e uma calça jeans desbotada.

– Bom dia tio KangIn, Heechul hyung e Simão – disse sorrindo e acenando para os mais velhos que estavam mais preocupados com seu próprio alimento.

– Então por que dormiram juntos? - questionou tio KangIn com expressão fechada.

– Estava sem sono e acabei imigrando para a cama do Pedro, já que dormindo é o único momento em que ele não está fazendo perguntas impertinentes – respondeu o líder sorrindo e me ofereceu seu copo de suco.

Apenas balancei a cabeça negativamente e me estiquei para pegar a caixa do suco de uva.

– Omo! Como pode dividir uma cama pequena com um garoto? Devia ter ido para o meu quarto – falou o hyung-nim descontraído, como uma advertência leve, mas ao receber o olhar de deboche de tio KangIn, fez uma careta – Não sou que que estou reclamando por ter acordado sozinho.

– Pelo menos eu acordo sozinho quando eu quero, diferente de você que nem pagando consegue acordar ao lado de alguém, ainda mais se for do sexo feminino – retrucou tio KangIn espreitando o hyung-nim com os olhos.

– Pare com insinuações Youngwoon, porque você não está com essa bola toda.

– Não enche Cinderela – respondeu tio KangIn revirando os olhos.

– Omo! Briga pela amanhã? - perguntou Simão fazendo os dois pararem com aquela implicância boba – Acho que eu devia ter imigrado para o quarto de alguém também, não consegui dormir direito – completou o mais alto passando as mãos sobre olhos sonolentos.

– Como não? Você sempre dorme como uma pedra – retrucou tio KangIn dando de ombros.

– Por isso mesmo, durmo como uma pedra, principalmente quando divido quarto com alguém, mas fiquei inquieto a noite inteira, ainda não consigo me esquecer da... - ele se interrompeu fitando a mim e depois a Leeteuk – Achei que ela estava morta.

– E por que achava isso? - questionou Heechul hyung.

– Porque ela desapareceu por tanto tempo...

– E você mocinho, mantenha distância da Taeyeon, ela não é boa pessoa – avisou Leeteuk apontando seu indicador para minha face de modo completamente autoritário.

– Park hyung, você acha que todos os amigos dela são pessoas más? - perguntei inocentemente lembrando-me de Eunhyuk, porque por mais que ele fosse um incomum e estivesse do lado errado, eu ainda não conseguia vê-lo como uma pessoa má, apenas como um pedohyung.

– Claro que são – respondeu ele sério.

– Principalmente aqueles que te sequestram – completou Heechul hyung abrindo um sorriso irônico para mim.

Voltei meus olhos para o chão e fiz um enorme bico tristonho.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

Meus olhos fitavam uma escrivaninha de madeira amarela, mas meus pensamentos corriam soltos pelo quarto. Depois de passar a noite em claro, pensando nas palavras de JongJin e zelando pelo sono de Sungmin hyung, eu estava esgotado. Minha cabeça estava apoiada na parede rosa atrás de mim. Aquele quarto era o quarto masculino mais excêntrico que eu já havia entrado, nem mesmo o quarto de tio Heechul, que tio KangIn insistia em chamar de Cinderela, tinha paredes rosas como aquelas. Ao meu lado na cama de casal estava Sungmin deitado de bruços e com a face voltada para sua luxuosa sacada.

Depois daquela situação muito estranha na cafeteria, pensei em seguir para casa, mas Sungmin fez questão de reforças às palavras de Jongjin, dizendo que não, que eu não poderia ir para casa e depois de muita discussão, acabei seguindo para a sua. O mais velho ainda morava com os pais em uma luxuosa e confortável mansão na área nobre de Seoul. Sua mansão não ficava assim tão longe do apartamento de tio Heechul, mas Sungmin pediu que eu ficasse com ele e agora lá estava eu sentado ao seu lado em sua cama de casal.

O mais velho dormia tranquilamente, como um verdadeiro bebê anjo, enquanto eu analisava sua face. Sua respiração estava lenta, uniforme. Seus lábios cheios e rosados estavam cerrados e suas bochechas pareciam maiores e mais fofas. Soltando um suspiro pesado, voltei meus olhos para o relógio na cabeceira da cama e me espreguicei. Eram oito da manhã, mas não havia sol, apenas a chuva que insistia em bater contra o piso branco da varanda.

Evitando fazer barulho, me ergui da cama e segui para o banheiro que ficava ao lado do gigantesco closet do mais velho. Closet esse, que era repleto de rosa. A porta dupla entalhada e com lustrosas maçanetas douradas, chamava a atenção, mas na verdade fui obrigado a entrar ali porque Sungmin queria que eu trocasse de roupa para não ficar resfriado. Pelo menos no meio de tanto rosa, encontrei uma camiseta cinza que ficará bem em meu corpo, mas esquecendo-me da noite anterior - onde eu havia comido tão bem como quando estava na companhia de tio Heechul e depois fiquei no meu notebook enquanto o hyung via uns projetos da empresa de seu pai -, entrei no banheiro do mais velho e parei defronte com a enorme pia repleta de produtos de beleza. Aquilo era estranho e fofo, mas não dei atenção, simplesmente molhei minha face, escovei os dentes com uma escova rosa que o Sungmin havia me dado e voltei para o quarto.

– Aigo! Por que já está de pé? – perguntou o mais velho com a voz sonolenta e olhos sem abrir completamente.

Sorri pela sua expressão preguiçosa.

– Não consegui dormir direito.

– E o que vai fazer agora? – perguntou Sungmin sentando-se na cama em meio a um curto bocejo.

– Vou falar com o Jongwoon e Jongjin – respondi sério.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Pedro on

Por ironia do destino, pouco depois que Heechul e Leeteuk foram para os seus trabalhos, ligaram da agência de Simão pedindo que ele fosse até ela para avaliar um contrato que uma grife de roupas queria assinar com ele. Embora relutante Simão deixou-me com tio KangIn, mas não se passaram nem dez minutos e saímos com guarda-chuvas para conhecer a cidade.

Devido os meus poderes que estavam surgindo, Heechul hyung queria me deixar recluso da sociedade com medo que eu fizesse algo de errado publicamente, mas tio KangIn queria mesmo que eu conhecesse um pouco daquele país coreano e me levou para conhecer o movimentado e caótico centro da cidade. Conheci as melhores lojas de doces, lanchonetes, padarias, bares, sorveterias e restaurantes da cidade, tudo é claro, segundo o critério de tio KangIn, pois quando passamos em frente ao luxuoso restaurante que Heechul hyung adorava tanto comer, ele disse que era um lugar bonzinho, mas não o suficiente para ser digno de nossa atenção.

Nunca comi e andei tanto como naquele dia. Tanto que quando voltamos para o apartamento do hyung, eu não queria saber de mais nada, simplesmente me estiquei no sofá da sala de estar e fiquei encarando ao teto branco. Tio KangIn apenas me ordenou que tirasse os pés do estofado branco e seguiu para os quartos. O ruim de ficar sozinho e em silêncio, era que isso me fazia pensar, e encarar o teto por muito tempo fez minha mente viajar até uma pele pálida. Os cabelos loiros bem clarinhos entraram em meu campo de visão e quando aquela face se formou completamente em minha mente, notei que Hyukie fazia um meigo bico e se aproximava de olhos fechados. Tentei desviar daqueles lábios, mas eu estava letárgico demais, então simplesmente cai no tapete.

– Ai minha barriga – reclamei tentando me levantar, mas meu estômago pesava e revirava tanto, que acabei ficando ali mesmo.

Passado alguns minutos tio KangIn veio ver como eu estava e acabou me dando um remédio para má digestão. Com isso fiquei estrebuchando no sofá da sala de estar, enquanto pensava.

– Por que raios um garoto beijaria outro garoto? – resmunguei fazendo bico, tentando ver alguma relação naquilo, mas em minha mente só aparecia à palavra ‘pedófilo’ bem grande e chamativa – Omo! Mas o Hyukie só é quatro anos mais velho do que eu – argumentei para minha mente que em momentos como esse, criava vida própria.

E novamente minha mente brigava comigo, dizendo que era pra mim me afastar do loiro, pois independente da nossa diferença de idade, ele continuava sendo um cara tarado que havia me roubado não um beijo, mas sim o meu primeiro beijo. Infelizmente eu tinha outra opinião quanto aquilo e depois de muito pensar, tempo suficiente para fazer minha barriga parar de doer, fui tomar um banho. Hyukie sendo um tarado ou não, eu tinha que devolver o seu casaco.

Depois do banho vesti uma camiseta branca e um sofisticado blazer azul noturno. Como havia amanhecido chovendo e o resto do dia havia ficado nublado, estava frio do lado de fora e sinceramente eu não sabia quanto tempo ficaria longe de casa. Vesti uma calça jeans preta sem qualquer tipo de adorno para proteger minhas pernas e fiquei procurando por sapatos. Minhas opções eram bem restritas, e mesmo indignado com aquela cor, acabei calçando um all star vermelho que o Heechul hyung havia comprado para mim.

Pensei em avisar ao tio KangIn que ia sair, mas achei melhor dizer aquilo para outra pessoa, alguém em quem eu poderia por a culpa por estar saindo, afinal, se eu virasse para o tio KangIn e dissesse que ia sair, ele certamente perguntaria para onde eu ia. Passados alguns minutos eu estava ficando nervoso. Eram sete da noite e nem Heechul, nem Leeteuk haviam chegado. Simão havia ligado pouco antes do horário do almoço para avisar que só voltaria para o apartamento no dia seguinte, então só restava ao tio KangIn que estava ocupado sei lá com o que.

Eu estava nervoso, muito nervoso. Minhas mãos não paravam quietas e incrivelmente estavam transpirando, eu esperava Heechul chegar como se aquilo determinasse minha vida e de tanto ir da sala de estar para a de jantar, logo eu faria um buraco no piso. Meus braços se cruzaram por pouco tempo e minhas unhas foram à boca, mas como eu as mantinha sempre curtas, acabei desistindo. Assim que escutei o som da porta ser destrancada, corri para o hall de entrada.

– Heechul hyung, eu estou de saída, mas prometo que volto cedo – avisei afoito sem ao menos conseguir respirar direito e dei as costas para correr a cozinha, mas o mais velho agarrou meu ombro.

– E aonde você vai?

– Oras hyung-nim, você me mandou socializar com as pessoas do seu prédio e foi isso que eu fiz, agora vou me encontrar com um amigo.

Heechul subitamente paralisou. Sua respiração cessou e seus olhos vidraram-se no nada, adquirindo uma coloração mais clara. Um pouco assustado, levei minha mão ao ombro esquerdo do mais velho e o sacudi levemente, chamando-o por hyung-nim.

– Um amigo? - perguntou ele saindo de seu transe com um sorriso torto nos lábios. Não tinha como saber o que ele havia previsto, mas ele parecia surpreso, confuso e até mesmo feliz.

– Sim, um amigo – respondi dando de ombros confuso pela sua pergunta e sua mistura de sentimentos que estavam em evidência - Agora estou indo.

E lá fui eu correndo até os portões com o casaco de Hyukie nos braços. Isso porque eu havia me dado o trabalho de sair pela área de serviço para que ninguém me visse com aquela peça de roupa. Assim que o porteiro ajusshi me viu, ele semicerrou os olhos, desconfiado.

– Você continua sem ter permissão para sair – disse ele sério, fazendo um sorriso crescer em minha face, era isso mesmo que eu queria ouvir.

– E eu continuo trancado do lado de fora, posso ligar novamente? – perguntei fazendo um beicinho fofo e inocente.

– Tudo bem – respondeu o homem revirando aos olhos.

Isso porque quando sai com tio KangIn, tive que voar por cima do alto muro, porque o outro porteiro havia barrado minha saída. Como tio Heechul era desconfiado, pensei discando o número de Hyukie. O celular chamou três vezes até que fosse atendido.

– Aish! Quem é? – perguntou o mais velho de modo grosseiro e irritado, pelo jeito ele não estava tendo um bom dia, mas que disse que eu me importei? Se para ele eu era um ser divino de muita luz, então ele devia estar sempre sorrindo para minha brilhante pessoa.

– Aish digo eu! – retruquei fingindo uma voz irritada – Agora venha me buscar de uma vez, não tenho tempo para esperá-lo e estou no saguão do Royal Princess, que a propósito, está completamente vazio – dito isso desliguei a chamada sem ao menos esperar uma resposta e fiz uma rápida reverência ao ajusshi, como forma de agradecimento - Obrigado ajusshi – disse finalizando a gesto de respeito e corri em direção ao saguão.

Parei ofegante na entrada do prédio e procurei Hyukie com os olhos. Não havia sinal dele e aquilo me intrigou. Não era possível que ele ia me abandonar, pensei cruzando os braços, descrente.

– Ele não seria mesmo capaz de me abandonar, seria? – pensei alto abraçando ao casaco.

Escutei o barulho de uma porta ao longe e segui com os olhos para o banheiro masculino. Um tanto amedrontado e receoso, saía Hyukie de dentro do banheiro com sua cabeleira loira toda bagunçada e parecendo palha, do jeito que eu achava bonito.

– Senhor Donghae... – falou ele caminhando de cabeça baixa e vagarosamente em minha direção.

Todo seu medo me fez revirar os olhos com desprezo.

– Omo! Seja homem Hyukie! Ao menos olhe nos meus olhos! – resmunguei fitando sua face pálida.

– Você me chamou de Hyukie? – perguntou o mais velho inocente pousando seus olhos nos meus, mas desviei o olhar pelo desconforto que senti.

– E qual o problema nisso? – perguntei fazendo um bico manhoso encarando ao chão, mas lentamente ergui os olhos indo parar em seus braços descobertos. Talvez os coreanos estivessem acostumados com aquele clima mais ameno, afinal, tio KangIn havia me iludido dizendo que em Seoul sempre nevava no Natal, mas senti necessidade de cobri-lo com sua blusa de frio.

– Agora você que não está sendo homem! – retrucou Eunhyuk.

– Omo! Desde quando lhe dei tanta abertura para ser arrogante e petulante desse modo? – perguntei espreitando o mais velho com os olhos, que imediatamente fez uma careta e pôs a repetir uma sequência de reverências enquanto pedia desculpas – Pare com isso Hyukie! – ordenei fazendo-o parar e fitar minha face – Eu queria apenas lhe entregar isto – disse lhe esticando o casaco negro.

Abrindo um entusiasmado sorriso, ele se aproximou o bastante para que alcançasse o casaco. Assim que a blusa de frio deixou minhas mãos, recuei alguns passos com os olhos voltados para o piso.

– Você ainda está bravo comigo senhor Donghae? – perguntou Hyukie com a voz baixa e tristonha.

– Sim – respondi sem tirar os olhos do chão, sendo seguido por uma longa pausa de silêncio. Era difícil saber o que Eunhyuk pensava, sem fitar a sua face, mas eu não tinha coragem de fazê-lo. Deixei apenas que os sons das nossas respirações descompassadas fossem ouvidos no ar.

– Não irei mais incomodá-lo – disse o loiro finalmente quebrando o silêncio com palavras que eu não gostaria de ouvir. Ergui meus olhos para sua face, buscando suas emoções, mas ele terminava de dar as costas com a cabeça voltada para baixo.

– Mas... – disse fazendo-o parar – Eu quero ser seu amigo Hyukie, independente de você ser um tarado de lábios nervosos e pertencer ao grupo malvado que tentou me sequestrar, eu quero ser seu amigo de verdade, pois você é única pessoa que eu realmente vejo como tal.

O mais velho hesitou por alguns segundos, mas por fim se virou sorrindo, um sorriso gigantesco que permitia ver todos os seus dentes brancos e parte de sua gengiva.

– Ainda bem que reconhece isso, porque quero te levar a um lugar. Você vem comigo? – perguntou ele me esticando sua mão direita.

Entortei os lábios com um sorriso maroto, como Hyukie estava se tornando arrogante, pensei sozinho e pousei minha mão esquerda sobre a sua. Mal tive tempo de fechar aos olhos e meu corpo se desintegrou no ar restando apenas uma fumaça negra para trás. Pisquei rapidamente, ainda sentindo aquela estranha sensação de queimação no corpo e olhei em volta curioso. Estávamos atrás de uma barraca de lona e quando a deixei, indo em direção as luzes, sons e agitação, parei boquiaberto.

– Um parque de diversões?

– Claro, sendo uma pessoa anormal ou não ainda continuo tendo dezesseis anos – retrucou Hyukie sorrindo – Vai ficar ai parado, ou me acompanhar no bate-bate? – perguntou o loiro me dando uma leve cotovelada no braço e me esticando um ticket do parque, que ele provavelmente havia comprado com antecedência.

– Aposto que eu chego primeiro – desafiei tomando-lhe o ticket e sai correndo.

– Eu aposto que não – berrou Hyukie correndo atrás de mim.

O parque repleto de atrações, não ficaria muito tempo na cidade e até mesmo por não saber quando teria a oportunidade de ir nele novamente, aproveitei para ir à maioria dos brinquedos, com Hyukie pagando a tudo. Aquilo era um pouco constrangedor, até pensei na possibilidade de arrumar um emprego de empacotador de supermercado, por exemplo, mas provavelmente Heechul não deixaria, então simplesmente tratei de me aproveitar dos brinquedos, depois eu pensaria em uma forma de ganhar dinheiro.


***


– Vamos à roda gigante – chamou o loiro olhando sorridente para o brinquedo depois de andarmos na maioria deles, inclusive em uma mini montanha russa em formato de minhoca que andava demais de rápido, a coisa mais feliz do parque.

– Nem pensar – protestei de imediato sem me importar com o horário – A roda gigante é coisa de casal e se nós formos até ela, você vai vir com esses lábios nervosos pra cima de mim e se você vir com esses lábios pra cima de mim, eu vou criar um campo de força e te derrubar lá de cima e se na queda você inventar de se teletransportar, todos do parque vão ver e quando o hyung-nim saber, ele vai literalmente arrancar o meu couro e mesmo se por um acaso você resolver que a queda vale mais do que revelar seus poderes ao mundo, quando o hyung-nim saber que você estava sentado comigo, ele vai arrancar meu couro do mesmo jeito.

– Omo! Já entendi Donghae, e não se preocupe, eu irei sozinho – disse ele entrando na pequena fila.

– Por que vai sozinho? Já não disse que é um brinquedo de casais? Se você não tem uma garota para ir junto, não deve ir – falei cruzando os braços emburrado.

– Eu quero ver as luzes – argumentou Hyukie com um sorriso bobo nos lábios.

– Você pode ver as luzes de qualquer ponto alto da cidade e melhor ainda, você pode se teletransportar para qualquer ponto alto da cidade, que diferença faz você ir a uma roda gigante? – perguntei completamente indignado, tentando de um jeito ou de outro, fazê-lo desistir, pois não queria ficar esperando-o no chão.

– Se não estou pedindo para ir comigo, por que continua implicando? - perguntou o loiro me encarando com uma sobrancelha arqueada.

Semicerrei os olhos para o mais velho.

– São apenas de dois, moça – escutei o homem que pegava os tickets avisar para uma jovem de longos e cacheados cabelos castanhos claro, que queria entrar no brinquedo com mais duas amigas. A jovem fez uma careta tristonha, ficando para trás. Revirei os olhos com a cena ridícula, porque amigos inventavam de irem juntos a uma roda gigante de apenas dois assentos? Mas com o canto dos olhos, observei um sorriso crescer nos lábios de Hyukie.

– Podemos ir juntos – disse ele para a jovem esticando dois tickets, enquanto o ajusshi trazia a próxima cadeira.

A moça sorriu lisonjeada, acabando com minha arrogância.

– Omo! Que tipo de primo e hyung você é? - perguntei indignado batendo no braço do mais velho – Você vai comigo.

– Pensei que não queria ir – retrucou ele surpreso.

Apenas o espreitei com os olhos e tomei-lhe os tickets. Passei ao lado da jovem quase a derrubando e entreguei para o homem que apenas fez uma careta, mas liberou a cadeira para nós. Eunhyuk ainda me encarou fazendo uma careta contrariada.

– Desculpe-me por isso – disse ele para a jovem fazendo uma careta tristonha e sentou ao meu lado - Omo! Por que você é assim? – perguntou o mais velho assim que o banco se movimentou para trás, para que outro casal pudesse subir.

– Eu não ia ficar te esperando – retruquei com desdém e olhei para a direção oposta do loiro.

– Está bravo Donghae? – perguntou o loiro abafando uma risada.

Rosnei para ele, fazendo-o se calar completamente, mas com aquele vento frio atingindo meu ombro direito e aquela música sem graça tocando de fundo para tudo quanto era canto do parque, desfiz meu enorme beicinho irritado e apoiei meus antebraços na barra de segurança.

– Já que sou obrigado a ficar aqui com você sei lá por quanto tempo, me conte, porque está naquele grupo sinistro de incomuns? E porque não pode me dizer nada hein? E se eu estiver interessado em entrar para o seu grupo? Vai continuar nesse sigilo todo? – perguntei tudo de uma vez para embaralhar um pouco a cabeça do Hyukie, mas intenção de deixar o grupo de Leeteuk, isso eu não tinha, e nem era por arrogância ou coisa semelhante e sim por ter me afeiçoado àqueles quatro diferentes.

– Vo-vo-você não pode entrar para o grupo de incomuns, você não é um incomum – respondeu o loiro gaguejando um pouco e evitando olhar em meus olhos.

– E eu pensando que eu era o arrogante aqui – retruquei balançando a cabeça, indignado.

– Tudo bem Donghae, não quero que você entre para o grupo dos incomuns porque eles planejam uma guerra contra forças opositoras e por mais que pareça bonitinho no início, você percebe que não é bem assim, ainda mais quando você conhece quem está no centro de tudo isso e além do mais quanto menos você saber desse grupo, menos riscos você corre. Então pra início de conversa é melhor que ninguém saiba que nos conhecemos, a Taeyeon saber já está me rendendo muita dor de cabeça.

– Ela está te ameaçando? – perguntei fitando ao maior preocupado enquanto o roda gigante começa a girar em ritmo mais acelerado, parando com suas inúmeras pausas.

– Na verdade eu estou com medo de dormir – respondeu ele fitando a minha face com uma careta.

– Dormir? O que uma coisa tem a ver com outra? – perguntei franzindo o cenho.

– Vamos dizer que a Taeyeon é uma incomum muito peculiar. Ela possui uma habilidade muito rara chamada de oneirocinese, que dá a ela o poder de controlar os sonhos de uma pessoa entende? Controlar, manipular e até mesmo tornar real algo que acontece no sonho, como por exemplo, se ela entrar no seu sonho e te jogar de cima de prédio e você chegar a se espatifar no chão, você não acordará mais. A parte boa de sua habilidade, pelo menos para os seus inimigos, é que ela é passiva, não usada em combate, e quando a pessoa percebe que está sonhando, ela pode retomar o controle do sonho, porém esse poder atinge logo um ponto muito vulnerável, e não sei se percebeu mais a grande maioria das pessoas, por mais louco que o sonho seja, só percebe que estava sonhando depois que acorda.

– Aigo! Mas desde que cheguei aqui estou tendo pesadelos e ela não me conhecia antes disso, porém ontem não tive pesadelos e lembro-me muito bem do Leeteuk gritando por meu nome... – eu continuaria com meus pensamentos altos se Hyukie não tivesse me interrompido.

– Não se preocupe com isso Donghae, tudo ficara bem – respondeu o mais velho afagando os meus cabelos com um meigo sorriso na face.

– Mas então né Hyukie? – disse recuando um pouco para me livrar de sua mão – Está tão tarde, se eu demorar um pouco mais ficarei sem couro do mesmo jeito e seus pais também devem estar preocupados com você... – disse sentindo a roda gigante desacelerar, voltando a fazer suas pequenas pausas, finalmente, pensei agradecendo aos céus.

– O seu hyung é tão agressivo assim? – perguntou o mais velho juntando as sobrancelhas na base da testa.

– Não, claro que não, ou melhor, a não ser que você suje sua casa, você conseguira uma boa convivência com o hyung-nim – retruquei assentindo com a cabeça.

– E por que o chama de hyung-nim? Por acaso sabe o que isso quer dizer? – perguntou o mais velho sem desfazer sua careta curiosa e com um pouco de desdém.

– Hyung-nim é bonitinho – respondi fazendo um beicinho manhoso. Escutei a risada baixa de Hyukie e o espreitei com os olhos, mas ele fitava ao chão e nem deve ter percebido o quão irritado eu estava.

– Olhe! As luzes! – disse Hyukie apontando para a cidade iluminada pelas luzes artificiais. Sentindo o vento bagunçar meus cabelos, pousei meus olhos no horizonte. Realmente eram belos os pontos de luzes e os prédios com algumas lâmpadas acessas e outras apagadas, davam um charme a mais a cidade. Finalmente paramos no topo, enquanto eu me apoiava na barra de segurança admirando a paisagem - Você tem que me prometer que não vai contar para ninguém que somos amigos – pediu o mais velho sério.

– Tudo bem Hyukkie, guardarei segredo – respondi com um leve sorriso em meus lábios, me afastando da barra e fitando momentaneamente ao loiro.

– Guarde isto também – disse o mais velho segurando levemente meu queixo e o puxou para si, enquanto se inclinava em minha direção.

A uma curta distância de mim, seus olhos se fecharam e sua respiração cessou. Seus lábios mais uma vez selaram a distância entre nós pressionando os meus suavemente, e vagarosamente fechei meus olhos aproveitando-me daqueles lábios cheios e convidativos.


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Notas finais do capítulo

Está tudo muito bonito, muito fofo, mas logo tudo isso muda. Espero que tenham gostado desse capítulo. Qualquer dica, crítica, dúvida, sugestão, elogio, ameaça de morte ou brisas loucas, reviews todo lindo ai embaixo. Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]