A Quinta Criança - O Escolhido escrita por Valentinnes


Capítulo 23
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Uma perseguição no coração da cidade, algo que eu sempre via em filmes e sempre sonhei que acontecesse comigo, mas naquele momento eu vi que as coisas tão eram assim tão simples. O ar entrava e saia rapidamente em meus pulmões, fazendo-me em alguns momentos prender a respiração, o que aumentava em meu cansaço e nas batidas do meu coração, mas pela adrenalina, eu continuava a correr como louco, gritando vez ou outra por ajuda, mas as pessoas a minha volta estavam tão entretidas com seus próprios problemas, que mal me davam importância e aquelas que pelo menos olhavam curiosas em minha direção, rapidamente se perdiam do meu campo de visão.

Aquele grupo de jovens estava realmente motivado a me pegar e a cada segundo eu percebia que eles estavam cada vez mais perto. Eu precisava de alguma forma, despistá-los, desaparecer no meio da multidão. Foi então que tive uma idéia, que no calor do momento, pareceu esplendidamente genial. Entrar em um dos becos, pensei arfando, e com meu dom de telecinese, eu poderia muito bem saltar pela grande de ferro, que geralmente havia separando um sobrado de outro, e então eles me perderiam de vista, mas antes que eu desistisse dessa idéia, recordando-me que meus poderes simplesmente haviam deixado de existir, eu dobrada a esquina de um dos becos.

Como havia previsto havia uma grade alta que separava o sobrado da frente do que estava voltado para a outra rua, mas minha idéia de ganhar impulso e voar por cima dele, não funcionou e tive que me atirar no metal para tentar passar por cima dele, usando de minhas próprias habilidades humanas. Escalar não era uma grande dificuldade na grade fina e traçada, mas faltando centímetros para o topo, senti minha perna direita ser agarrada por uma mão forte e meu corpo ser puxado com tudo para baixo.

Ainda tentei resistir, mas o dono daquele apertão era mais forte do que meus braços infantis e como um objeto sem vida, fui lançado ao chão. Meu corpo foi de encontro ao calçamento sujo e úmido, fazendo minhas costas explodir em dor, mas o pior era o que vinha depois. Eu ainda tentava reprimir uma careta de dor quando novamente agarraram a gola delicada do meu blazer novo. Meu tronco foi erguido do chão de qualquer jeito e fui obrigado a encarar a carranca irritada do jovem que parecia ser o líder e que a pouco eu havia golpeado.

– O que vai fazer agora pivete? – perguntou ele expelindo desprezo, enquanto eu inutilmente lutava contra sua mão forte tendo escapar, mas não foi preciso fazer muito.

Pela minha falta de resposta, o jovem sadista sorriu de forma demente e animalesca e me golpeou no rosto com força. Eu nem vi de onde seu punho veio, simplesmente o senti esmagar minha face com força, tentando de um modo ou de outro, ferir a minha delicada e macia pele. No mesmo instante o jovem me soltou e meu corpo foi com velocidade ao encontro do chão. Soltei um grito baixo de dor, mas os ataques verbais e físicos não tinham hora marcada para parar.

– E então filhinho do papai – disse o jovem de forma rebochada e soltou um chute forte em minhas costelas da esquerda – Não vai se levantar e bancar o machão? – esbravejou ele, enquanto as risadinhas dos outros eram ouvidas no ar.

Meu corpo foi projetado sutilmente para a direita e aproveitei da oportunidade para me apoiar nos joelhos e nas mãos, tentando me erguer, mas antes que eu reunisse forças para tal, desferiram um novo chute em meu abdômen, dessa vez efetuado por outro jovem que estava do meu lado esquerdo. Soltei um gemido baixo pela dor contínua e despenquei para o calçamento imundo. Se Heechul hyung me visse naquele chão com seu blazer, ele ficaria muito bravo.

– O dinheiro garoto – exigiu o jovem me agarrando pelos cabelos da parte de trás, mas quando eu me recusei, até mesmo por não ter nada em meus bolsos além do número do Rosbife, ele afundou minha cabeça com força na calçada.

Uma das piores dores da minha vida, uma dor lacerante que infelizmente não acabou no mesmo instante, como da vez que cai do telhado. Dessa vez era diferente, eu podia sentir meu nariz implorar por socorro, minha testa ceder à força brutal e um líquido quente escorrer por minha face. O cheiro de ferrugem e sal rapidamente invadiu minhas narinas e minha cabeça parecia que ia explodir de tanta dor. Ouvindo as risadas dos jovens, eu ameacei fraquejar. Meus olhos rapidamente foram tomados por lágrimas e com a face escondida no solo, eu me sentia mais a vontade para chorar, se não fosse é claro, pela insistência daquele grupo em me torturar.

– Vamos garoto! Cadê o seu papai hein? Cadê ele para te proteger? – gritou um deles chutando consecutivamente meu corpo desfalecido.

– Eu já disse... ...que não tenho... ...pai – disse cerrando o punho e os dentes com força.

– Claro – respondeu o jovem que desde o início estava me espancando, parando de cócoras na minha frente, fazendo-me assim visualizar sua carranca feia e disforme – Quem ia querer ter um filho inútil como você? – falou o mais velho em níveis altos de arrogância e desdém.

Aquilo foi sem dúvidas a gota d’água.

Tudo aconteceu tão rápido que não sei se consigo narrar com perfeição à cena que prosseguiu, mas irei tentar. O jovem preparou o punho direito para me golpear na face mais uma vez e o soltou em direção a minha face, mas bufando com força e sentindo como se uma força sobrenatural de apossasse do meu corpo, agarrei seu punho no ar e grunhi algo irreconhecível. Eu podia sentir meu corpo inteiro queimar, borbulhar, ferver! Era um mix de sensações que foi tomando todos os meus movimentos, os meus sentidos. Ele olhou para mim assustado devido à força que eu empregava em seu punho, mas antes que pudesse se recuperar e me golpear, girei sua mão em cento e oitenta graus, fazendo seu corpo acompanhar o movimento rápido e me dei impulso com a telecinese para me erguer do chão.

Os outros quatro pareciam cordeirinhos assustados, mas mesmo tendo alguns que não haviam tocado em mim, dei início a um massacre rápido e letal. Minha mão atravessou a cabeça do primeiro e sem ter consciência dos meus atos, nem ao menos saber se eu estava fazendo certo, segurei uma espécie de fina e macia corda, dando tangibilidade apenas as pontas do meu indicador e do meu polegar, e puxei para fora de modo totalmente surreal. O jovem nem ao menos conseguiu gemer, simplesmente caiu desfalecido no chão. Olhei para os outros como um animal feroz e paralisei suas pernas com a telecinese. Eu era apenas um telespectador assustado vendo um jovem de perigosos olhos cor de topázio partir uma a uma as veias cerebrais daqueles jovens e quando restou apenas o que se diria ser o líder, me vi novamente dentro do meu corpo, parando ao lado do jovem com um sorriso completamente sádico e estiquei minha mão direita espalmada para o seu corpo. O tempo inteiro estava mantendo-o preso em um campo de força, impossibilitando-o de se mover e finalmente eu o livrava, mas passava o controle para a telecinese. Escutei o barulho alto de um trovão ecoar pelo ar e sorri com mais sadismo diante da careta assustada do jovem.

– O que você fez com meus amigos cara? Você vai me matar cara? Me desculpe cara – repetia ele rapidamente, vez ou outra se atropelando com algumas palavras, mas agora era tarde demais para pedir desculpas.

– Tenha bons sonhos – foi tudo o que respondi.

Colocando a mão esquerda sobre a direita, girei seu corpo em cento e oitenta graus, deixando assim sua face voltada para baixo, e ergui levemente minhas mãos para pegar impulso. Quando empurrei seu corpo para o chão, fez-se um barulho tão alto, que só foi encoberto pelo barulho do trovão. O calçamento chegou a rachar, formando um círculo em volta do corpo desfalecido e o sangue daquele infeliz voou pela calçada de cimento.

Respirei ofegante sentindo um peso enorme em meus ombros. Eu voltava a mim e estava completamente esgotado. Vendo todos aqueles corpos, recuei alguns passos assustado, tentando voltar à avenida, mas então escutei o barulho de algo se quebrar no chão e corri meus olhos pelo local buscando o causador do barulho. Era um vaso de porcelana que acabava de se espatifar o chão. Quando voltei meus olhos para cima, procurando de onde ele havia vindo, encontrei meus olhos com de uma jovem coreana. Lembro-me muito bem de seus olhos amendoados e negros, que no presente momento estavam arregalados e apavorados. Seus cabelos negros caiam sobre os ombros fazendo contraste com sua pele branca e ela não usava franja ou algo semelhante, havia apenas um cabelo partido perfeitamente ao meio.

Abri um sorriso torto para a jovem da janela, mas antes que ela correspondesse ou simplesmente se escondesse, escutei um novo som vindo de trás de mim. Busquei rapidamente o alvo com os olhos e quase pulei ao notar a fumaça negra e densa que Rosbife sempre deixava ao aparecer ou desaparecer de um lugar. Ele finalmente havia me encontrado, mas não era exatamente de grande valia, agora que o grupo estava inteiro no chão.

– O que aconteceu com o senhor, Donghae? – perguntou ele me observando assustado, provavelmente por causa da minha face que sagrava, mas então ele olhou por cima da minha cabeça e viu os jovens estirados na calçada. Aquela cena fez com que ele recuasse um passo – O que aconteceu aqui? – ele perguntou arregalando seus olhos. Apenas dei de ombros – Por que não me esperou? – cobrou ele se tornando agora bravo e autoritário, mas antes que eu o xingasse por não estar me tratando com respeito, ele agarrou fortemente ao meu braço esquerdo – Vamos embora daqui! – foi tudo o que o loiro disse antes de desaparecer me levando junto com ele.


***


– O senhor é mais poderoso do que eu pensei – refletiu o loiro sozinho, enquanto trazia uma tigela com água e um pano para secar o sangue da minha face, depois de conseguir estancar o sangramento do nariz – Como conseguiu derrubar aqueles cinco homens? – perguntou o mais velho sentado de frente comigo no simples e antiquado sofá.

De primeiro instante simplesmente me mantive em silêncio observando a sala. Rosbife havia me levado para uma cabana de madeira no meio de uma floresta. Que floresta era aquela, eu não podia dizer com precisão, mas na escuridão da noite era possível notar árvores e mais árvores nos rodeando. A cabana antiga possuía móveis em mesmo estado de conservação. Um sofá com dois lugares ocupava o centro da pequena sala e na parede da direita havia um baixo armário com uma TV pequena, empoeirada e tão antiga, que seria milagre funcionar. Além do que a luz piscava bastante, indicando uma deficiência na energia. A cozinha que até o momento eu ainda não havia conhecido, parecia mais nova, devia ser usada com mais frequência, pelo menos foi o que conclui quando vi que sem esforço o loiro pegou uma tigela e um pano ambos limpos.

Ao lado estava o banheiro, mas eu também não havia adentrado ao mesmo e também não fazia questão. Atrás do sofá era uma espécie de corredor para a cozinha e também havia uma janela de vidro na parede da esquerda, janela que estava em muito mal estado de conservação e ficava sobre um armário de madeira. Resmunguei quando o maior pressionou o pano úmido em minha testa. Ele não poderia ser mais cuidadoso? Pensei bravo, mas focando em sua face, notei o quão preocupado e concentrado ele parecia estar e preferi não dizer nada.

– Acho que seu nariz está quebrado, ele está inchado e roxo... – comentou ele ainda se concentrando na minha testa – Deve ter sido uma briga feia... – disse o mais velho parando repentinamente com a intenção que eu lhe contasse o que havia acontecido, mas não tendo o resultado esperado, ele prosseguiu com sua voz mansa e baixa - Você ainda não respondeu minha pergunta... - disse ele levando o pano de volta à tigela.

– Você percebeu que acaba de me chamar por você? - perguntei fazendo-o quase cair pelo susto – E não é a primeira vez que você o faz – completei dando de ombros, mas antes que eu fosse levado por uma enxurrada de pedidos de desculpas, fiz questão de completar – Mas, olha Rosbife, você pode me chamar de 'você' sem problema algum, ok? Isso não vai fazer de você desrespeitoso, só vai torná-lo meu amigo – ao fim soltei um sorriso torto para o maior, que franzia o cenho surpreso.

– Rosbife? - ele perguntou primeiro – Acho que está confundido meu nome... É Hyukjae, mas pode me chamar de Eunhyuk ou Eunhyuk hyung, ou simplesmente hyung...

Eunhyuk... Disse em pensamento, eu sabia que tinha algo haver com comida, só estava falando a comida errada. Percebendo que ele não pararia de falar agora que eu havia dito que ele poderia ser meu amigo, o interrompi.

– Tudo bem, vou lhe chamar de Hyukie e não se fala mais nisso, agora minha testa – falei abrindo um sorriso constrangido na face do loiro.

– Hyukie... - murmurrou ele ostentando um sorriso bobo e voltou a limpar a minha face com todo cuidado possível.

Sorri diante de sorriso tão infantil e jovial, mas logo o silêncio começou a me incomodar. Minha mente começou a voar longe, tentando se lembrar do ocorrido no beco. Eu conseguia recordar-me de um jovem com fisionomia idêntica a minha, mas com olhos dourados, atacando um a um dos jovens, e o pior de tudo é que eu sabia que aquele jovem era eu. Então toda a repulsa que eu sentia por Simão, agora passava para mim. “Se estamos lhe treinando é apenas para que você não se torne uma ameaça para essa sociedade hipócrita” as palavras duras e frias do líder ressoavam em minha mente, elas gritavam dizendo que sim, eu havia me tornado um assassino e precisava aprender a me controlar, senão quantas vezes mais eu perderia o controle novamente? Eu começava a entender o ponto de vista do líder quando senti uma forte dor pelo cutucão descuidado que Hyukie deu no meu nariz. Resmunguei baixinho e comecei a pensar no momento presente. Eu não sabia quais eram suas intenções depois que terminasse de cuidar de meus machucados, então resolvi puxar assunto para tentar descobrir um pouco sobre ele.

– Hyukie... - falei com a voz baixa e manhosa, fazendo um sorriso abrir rapidamente em sua face. Nem minha mãe era tão legal comigo como ele era – De quem é essa cabana? - perguntei passando os olhos sutilmente para os lados de forma inocente e curiosa.

– É uma cabana de caçadores, mas faz tempo que não é usada. Eu a conheço porque vim caçar algumas vezes com meu pai quando era pequeno e quando proibiram a caça, continuei a vir aqui, mas ela está tão acabada... De qualquer forma eu gosto de vir aqui para ficar sozinho, pensar um pouco na vida – respondeu o hyung passando o pano uma última vez no meu nariz e se ergueu do sofá – Vou buscar um curativo – avisou ele e seguiu em direção a cozinha.

Pelo menos de duas coisas eu tinha certeza: Ele era coreano e morava pelas redondezas. Olhei em volta com mais cuidado, procurando algo que revelasse mais sobre sua identidade, mas ele voltou tão rápido, que simplesmente me ajeitei em meu lugar e abri um sorriso desconcertado.

– E os seus amigos incomuns? Eles vêem aqui também? - perguntei enquanto ele voltava a sentar defronte comigo e tirava o curativo adesivo da embalagem.

Incomuns? Já tomou conhecimento de todos esses termos técnicos? - retrucou ele com um sorriso descontraído.

– Sabe como é, né? Eu preciso saber pelo menos a minha própria definição – respondi sem dar muita importância, mas assim que as palavras chegaram aos ouvidos do maior, ele se atrapalhou com o curativo apertando o corte da minha testa com o polegar – Ai!

– Desculpe-me Donghae, desculpe-me – pediu ele rapidamente – Mas você está muito errado. Não sei o que te disseram e muito menos me importo com tal, mas o que você precisa saber é que você não é um incomum, você é um angelus.

– Ok, angelus? Essa é nova. Que raios são os angelus? É uma subcategoria de diferentes?

– Claro que não, ‘angelus’ é um termo latino para 'anjo'. Você é superior a qualquer ser que existe na terra. Uma entidade que veio para mudar todo o rumo da história. Um anjo, um pequeno anjo de luz que vai nos livrar das injustiças mundanas. Eu não sou o único que esperava por sua chegada.

– Eu estou mais para um dangerous – falei brincando com a palavra em inglês, que se assemelhava tanto com a latina.

– Olhe isso – pediu o loiro tirando os olhos da minha face e levando ao antebraço direito. Ele ergueu a manga de seu casaco fino e azul marinho revelando uma tatuagem. Era o desenho de uma adaga comprida, ladeada por um par de belas asas emplumadas. Sua extensão era do tamanho de uma palma adulta fechada e sentindo uma atração estranha por aquele desenho, levei o indicador a ele – Você reconhece esse símbolo?

– Não – disse recuando imediatamente – Nunca o vi antes – falei acabando lentamente com o sorriso de Hyukie.

– Você é muito jovem para conhecer esse tipo de coisa – respondeu o mais velho escondendo a tatuagem desconfortavelmente – Agora vamos, está muito escuro e quanto mais tarde mais a temperatura cai. Também precisamos ver esse seu nariz – falou o mais velho se erguendo do sofá.

– Espere – pedi também me colocando de pé - Eu agradeço toda sua dedicação e cuidado, mas eu preciso voltar para casa... Quer dizer, para a casa do Park. Você poderia me levantar até lá? É um sobrado que fica no meio da floresta.

– Park? - perguntou ele franzindo o cenho - Você não possui um endereço para que eu possa procurar fotos do lugar? Eu não posso simplesmente pensar em aparecer na casa do Park e aparecer lá, ainda mais estando com você... Eu poderia me perder por ai e seus membros poderiam ficar espalhados pelos lugares... - o interrompi com uma pergunta apavorado.

– Meus membros o quê?

– É só uma hipótese ruim – respondeu ele sorrindo.

– Então me leve para o apartamento do hyung, esse é mais fácil. Ele fica no centro da cidade e é enorme – disse prolongando a palavra 'enorme' para representar melhor sua magnitude – E também é muito bonito e luxuoso, creio que não será difícil encontrá-lo.

– Existem milhares de edifícios grandes e bonitos em Seoul, senhor Donghae. Você não teria uma referência mais específica como o nome do prédio ou algo próximo que realmente faça a diferença, como um supermercado, hospital ou parque?

– Na verdade eu sei ler muito bem em minha língua materna, mas em coreano... Eu não entendo nada daqueles riscos, mas você me deu uma boa ideia – falei abrindo um sorriso pretensioso – Me leve para o maior hospital de Seoul.

Hyukie franziu o cenho confuso, mas não contestou. Simplesmente segurou minha mão esquerda e fechou os olhos. Senti primeiramente uma queimação estranha na mão que rapidamente foi se alastrando por meu corpo. Inspirei o ar com força, mas antes que me desse por satisfeito, eu corpo desapareceu por completo. A sensação do teletransporte era algo mágico e intrigante, mas que eu estava decidido a me acostumar. Olhei em volta curioso e percebi que estava dentro de um banheiro. Fiz uma careta confusa, que foi seguida por uma insistente tosse.

– Você está bem? – perguntou o mais velho sempre se preocupando. Apenas balancei a cabeça positivamente – Certo, e qual é sua idéia?

Minha idéia era a mais simples possível. Reconhecendo que realmente se tratava do hospital do líder, fui até a atendente e pedi para que ela ligasse para ele ou me passe o número. Pensei que teria que insistir ou que ela simplesmente não fosse acreditar que eu era afilhado do Heechul e conhecido do Leeteuk, mas ela pareceu aliviada e preocupada assim que eu disse que era o Donghae. Segundo a noona, o líder estava super preocupado com meu desaparecimento e há algumas horas havia alertado todos do hospital, dizendo que se eu aparecesse era para ligar imediatamente para ele. Seu alivio se dava devido ao meu reaparecimento, mas sua preocupação estava no corte da minha testa e no arroxeado do meu nariz. Ela se ofereceu para me levar até a enfermaria, mas disse que não era nada demais, o próprio Leeteuk daria uma olhada depois. Embora relutante, ela acabou aceitando, mas antes me deu um comprimido para a dor, já que ele não parava de doer. Confesso que estranhei um pouco a atitude do líder, mas por enquanto seria melhor ficar com o quarteto. Enquanto a recepcionista ligava para a casa do líder, voltei ao banheiro onde o loiro me esperava.

– E então? Conseguiu falar com quem você queria? – perguntou ele ansioso.

– Sim, sim, está tudo resolvido, só tenho a agradecer por ter me ajudado – falei abrindo um sorriso torto e tímido, enquanto meus olhos buscavam desconfortavelmente o chão. A afeição estranha que agora eu sentia pelo insano do loiro, tornava tudo mais desconfortável, mas antes de voltar à recepção, foquei meus olhos inocentes na face do maior e perguntei com minha voz manhosa - Vou vê-lo novamente Hyukie?

– Você tem meu número – respondeu ele sorrindo – Agora se cuida pequeno – completou ele bagunçando meus cabelos com a mão direita e recuou alguns passos. Ainda exibindo seu sorriso torto e encantador, ele desapareceu deixando uma fumaça negra a se dissipar no ar.

– Preto... - sussurrei em um pensamento alto. A cor que representa o mal, o sombrio, mas se ele fosse realmente mau, por que me ajudaria? Por que me deixaria livre? Talvez alguma coisa tivesse mudado desde a primeira vez que nos vimos... Seu mestre, lembrei em um sobressalto. Seja lá o que fazia com que ele tivesse aquele comportamento estranho, eu iria descobrir.

Voltei para a recepção e fiquei sentando em uma das poltronas esperando irem me buscar. Os minutos pareciam não passar, enquanto eu me mantinha ali, completamente entediado e sendo adulado por Victoria noona - ela que pediu que eu a chamasse de tal modo. Heechul hyung, Simão e Kyu foram os primeiros a chegar.

– Donghae! – chamou Heechul da entrada do hospital, sem se importar se estava quebrando ou não o silêncio do local – Oh! Garoto! Você quase me mata do coração – disse ele correndo afobado ao meu encontro e parando de joelhos na minha frente – O que aconteceu com essa testa? E esse nariz? Parece quebrado – falou o hyung apalpando minha face todo preocupado.

– Eu estou bem hyung – retruquei tirando suas mãos gentilmente da minha face.

– Eu tive tantas previsões com você enquanto estava desaparecido – começou o mais velho me envolvendo fortemente em seus braços – Eu senti tanto medo por você. Minha cabeça ia de imagem em imagem, eu estava à beira de um colapso quando previ que o Jung-su ia me ligar – falou ele me apertando cada vez mais forte.

– Acalme-se tio Heechul – pediu Kyu que estava de pé trás do mais velho – O Pedro está bem, é isso o que importa.

– Mas ele poderia não estar – retrucou Simão sério – O que te deu na cabeça para desaparecer daquele modo? – questionou franzindo o cenho de modo irritado para mim – Você poderia ter se machucado – esbravejou ele sendo seguido de uma careta – Se bem que você já está machucado... Que isso sirva de lição – completou Simão cruzando os braços todo arrogante.

– Não ligue para ele não – falou Kyu sentando na poltrona ao meu lado com um sorriso amigável a crescer em seus lábios – Ele estava tão preocupado quanto qualquer um.

– Onde estava esse tempo todo? – questionou Heechul hyung fazendo uma carranca irritada – Como machucou esse nariz? De onde tirou esse curativo? Por que o blazer que te dei está tão sujo? Responda-me de uma vez! – exigiu ele me lançando um de seus olhares completamente ameaçadores.

Recuei na poltrona assustado e ao mesmo tempo pensando nas palavras certas. Eu não podia contar sobre Hyukie, muito menos sobre a briga no beco, da qual eu não me recordava bem. Então, o que eu poderia estar fazendo?

– Eu estava... – fiz uma pausa dramática enquanto pensava – Sobrevoando a cidade! – exclamei um pouco alto e animado demais, fazendo com que imediatamente fosse repreendido.

– Não diga isso em voz alta – brigou o hyung me dando um dolorido tapa na cabeça – E que história é essa de sobrevoar a cidade hein? Não sabe que alguém pode tê-lo visto? Regra número um sobre ter poderes: Em hipótese alguma use seus poderes em público! – sussurrou o mais velho piorando a cada segundo sua carranca irritada.

– Eu achava que a regra número um era nunca contar sobre os poderes para ninguém que não tenha poderes, seja namorada, pai, mãe, irmão, cachorro... – falava Kyu pensativo, mas foi interrompido por Simão, que sorrateiramente havia aderido ao lugar do meu lado direito.

– Essa não é a regra número dois? – perguntou ele franzindo o cenho confuso – E acho que para os pais pode, a não ser que ele seja ganancioso como o seu... No seu caso quanto mais sigilo melhor.

– O que???? – questionou Kyu completamente surpreso e indignado – Desde quando meu pai exploraria meus próprios poderes? Que tipo de pessoa você acha que ele é? Ele pode ser um mercenário que trabalha para quem lhe oferecer mais dinheiro, mas ele não é nenhum criminoso, ele é um homem muito honesto – afirmou Kyu completamente ofendido.

– Quem seu pai finge ser em casa? – retrucou Heechul entrando na discussão - Você não deve conhecer nem metade do seu pai para defendê-lo dessa forma. Eu posso não ser o melhor dos homens, mas o seu pai com certeza está na lista dos piores.

– O que o pai do Kyu fez? – perguntei de forma inocente, apenas por curiosidade.

– É uma longa história, te conto quando você dormir lá em casa – disse Heechul abrindo pela primeira vez um sorriso divertido – E então? O que acha de ir para o meu apartamento hoje? Até comprei doces para você, está tudo no meu apartamento.

– Isso é suborno? – perguntou Simão fingindo-se de surpreso – Olha que você não está muito distante do JinWook – finalizou o maior soltando uma risada baixa e repleta de desdém.

– Como se o passado de vocês fossem muito limpo – retrucou Kyu semicerrando os olhos, irritado.

– Mais limpo que o do seu pai, eu tenho certeza que sim – respondeu Simão ostentando um sorriso arrogante.

– Vamos deixar essa briga para depois, certo? – perguntei erguendo as mãos espalmadas e passando os olhos pelas três faces presentes. Obtendo nada além do silêncio, prossegui com minha fala – Agora vamos para o apartamento do Heechul hyung que estou cansado e com fome – admiti sem me importar com o que os hyungs iam pensar. Eu estava mesmo com fome e estava em fase de crescimento, então tinha todo o direito de ser uma criança esfomeada, ainda mais depois de passar uma tarde inteira sem comer nada.

– Estamos esperando o Jung-su – avisou o mais velho paralisando meu coração. Esperando o Jung-su? Perguntei em pensamento desesperado.

Inicialmente eu havia pensando em ir para a casa do líder, apenas por falta de opção, mas ao me recordar do apartamento luxuoso de Heechul descartei alegremente a possibilidade de encontrá-lo, mas pela incompetência de Hyukie, lá estava eu, indo pegar o número dele em seu hospital. Novamente eu me preparava para encontrá-lo, quando quem me chega é Heechul, fazendo-me de novo descartar alegremente a possibilidade do nosso encontro, mas novamente tinha um incompetente para estragar meus planos.

– Por favor Heechul hyung, vamos de uma vez ou terá que me carregar no elevador – argumentei como uma criança manhosa, tanto na voz, como no comportamento, e em troca consegui arregalar os olhos amendoados do mais velho.

– Você estava acordado enquanto eu me matava para te carregar andar acima? – perguntou ele indignado.

– Claro que não, mas cheguei a essa conclusão ao me recordar das câmeras de segurança que havia pelo prédio e do pequeno fato de que você não possui habilidades ligadas à tecnologia, sendo assim, o único jeito de me levar para o seu apartamento sem ser chamado de aberração, seria me carregando nos braços – expliquei reunindo toda a minha paciência, para não correr o risco de levar outro tapa dolorido na cabeça.

– Você está espertinho demais para o meu gosto – retrucou o mais velho semicerrando os olhos para mim. Não dei grande importância para o seu terrível e ameaçador olhar, mas tentei não demonstrar isso por amor a minha vida.

Heechul literalmente expulsou Kyu de seu lugar e sentou ao meu lado. Enquanto os três mais velhos discutiam sobre quem tinha o pior passado, aceitei ir fazer uma radiografia do meu nariz, apenas para tentar fugir daqueles três. A radiografia não deu nada de anormal, a não ser é claro, que meu nariz estava quebrado. Eu queria que ele o endireitasse de uma vez, mas ele disse que eu teria que passar por outro médico para fazer isso, então tudo o que ele fez foi me entregar uma folha, que era para eu levar a recepção. Meus passos me guiavam calmamente até a Victoria noona, quando escutei uma voz amiga e animada me chamar. Calmamente ergui meus olhos em direção a porta e sutilmente capturei o grandioso sorriso de tio KangIn que corria ao meu encontro.

– Que bom que te achamos Pedro! – disse ele me tirando do chão.

– Tecnicamente eu fui atrás de vocês – retruquei em meio a um sorriso.

– Claro, claro – respondeu o mais velho me colocando de volta no chão.

Era impossível não sorrir diante da animação sincera de tio KangIn, mas meu sorriso desapareceu assim que notei a aproximação sorrateira do líder. Ele parecia desconfortável e andava com ambas as mãos nos bolsos de sua calça cinza. Seus olhos estavam voltados para o chão e quando finalmente olhou para mim, um sorriso torto apareceu em seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Desculpe-me a demora, mas eu estava um pouco doente e esse capítulo também é bem extenso para compensar o outro, por isso acabei atrasando bastante, mas o próximo sai na segunda. Espero que tenha gostado desse capítulo ^-^ . Não percam o próximo capítulo ;D
by: Mc =]