Quando acordou no dia seguinte, Derek mal sabia seu próprio nome. Se sua dor de cabeça pudesse ser representada em algo sólido, a melhor coisa que exemplificaria seriam trinta mil bastões golpeando-o sem misericórdia alguma. Junto com tudo isso, a pergunta de dividia espaço com sua dor insuportável era:"O que raios aconteceu ontem e o que diabos eu bebi? Gasolina?"

Ao olhar no relógio fixado na parede, apressou-se para conseguir aproveitar o final do café da manhã. Porém, ao enxergar-se de relance no espelho, decidiu empenhar-se em parecer inteiro.

– Mas que droga, Derek, desde quando você decidiu virar um pudim de cachaça? - perguntou para o reflexo enquanto analisava suas olheiras que pareciam legítimos socos pela tonalidade roxa.

"O que diabos aconteceu ontem???"

Logo viu-se com medo. Derek - assim como todos os seus conhecidos ou não - sabia que suas ações e reações sob o efeito do álcool não eram muito boas. Teria ele contado toda a verdade para Connor? Teria ele brigado com Jessica? Será que ele deveria sair daquele quarto?

Porém, mesmo com todas estas perguntas sambando em sua mente, relevou. Se algo tivesse acontecido como achava, claramente ele teria sido acordado com socos e chutes e xingamentos de Jessica, não era brincadeira quando falavam que a garota era vingativa. Vendo que tinha acordado voluntariamente - mesmo quase apagando em desmaio logo depois - e sem hematomas, sugeriu não ter feito tantos estragos assim.

Mas claro, isto era apenas uma hipótese de um pós-bêbado que não conseguia raciocinar direito por causa da dor de cabeça que parecia disseminar seus neurônios, um a um.

Depois de um bom banho e uma higiene matinal reforçada, rumou para o quarto das filhas, Julie certamente ainda estaria adormecida.

Chegando lá, sorriu confirmando sua teoria. Resolveu observá-la por alguns minutos, o sentimento de paz que os movimentos de respiração daquela garotinha transmitiam era algo incrível. Logo pegou-se comparando suas características físicas com as da mãe. Era inevitável não relacioná-la com Shay. Com exceção dos olhos e o sorriso, Julie era uma cópia menor e mais fofa da mãe. Com tudo isso, também foi inevitável não ter a mente levada para as outras lembranças. E o pior, aquele hotel ajudava com as recordações. E ajudavabastante.

Resolveu afastar os pensamentos infelizes e acordar a pequena para acompanhá-lo no café.

– Hey, princesa. - sussurrou puxando de leve seu pezinho - Vai perder um dia muito bonito se ficar dormindo, vamos!

Ela coçou os olhos ainda grogue, o que fez o pai rir fraco enquanto a observava.

– Que horas são? - perguntou com a voz sonolenta.

– 10:30. - ela gemeu em discórdia - Se quiser tomar café, é melhor levantar logo.

Depois de alguns minutos de enrolação, eles finalmente saíram do quarto. Era uma cena engraçada: Um homem grande, forte, com os olhos inchados, conduzindo uma menininha que praticamente dormia em pé pelo saguão do hotel. Amolecia o coração de qualquer um.

– Olha, as princesas acordaram! - Chaz comunicou ao vê-los se aproximar - Dormiram bem?

– Muito engraçado, Chaz. - Derek ironizou enquanto colocava Julie na cadeira e cumprimentava a todos com um aceno de cabeça - E eu não sei se dormi bem, na verdade, não lembro nem como fui dormir ou o que fiz na noite passada.

Jessica e Chaz trocaram olhares debochados, o que fez o homem olhá-los intrigado. O que diabos ele tinha feito?

– Fezbastantecoisa. - Chaz murmurou fazendo a amiga rir baixo - Ah, qual é, McCann! Não se lembra de nada?

– Não. E não me peça para lembrar agora, se eu forçar meu cérebro ele sairá pelos ouvidos. - comentou apertando os olhos, fazendo todos rirem.

– Ah, para com isso, Derek! - Connor disse despreocupado - E, olha, eu ainda quero saber quem é, hein?!

Derek franziu as sombrancelhas confuso e Chaz semicerrou os olhos para o menino. Mas que inferno, será que ele não iria deixar aquilo quieto?

– Aquilo o quê, Chaz? - Jessica perguntou discretamente.

– Nada, teu moleque ainda está bêbado. - disse voltando a comer.

Derek ainda encarava Connor com um belo ponto de interrogação no meio do rosto. Do que aquele moleque estava falando, por Deus?

– Quem é o que, mano?

Connor riu voltando a comer, o que deixou Derek mais confuso ainda.

Enquanto voltava a comer, Derek percebeu uma cadeira sobrando. Relacionou a cadeira vazia com a ausência da filha maior e ficou intrigado.

– Cadê a Jazmyn? - perguntou interrompendo as conversas.

Jessica mexeu-se desconfortável na cadeira enquanto Julie arregalou os olhos colocando uma boa quantidade de panquecas na boca.

– Então... Ninguém vai me responder? - pergntou ao não obter nenhuma resposta.

Antes que Jessica inventasse qualquer coisa para salvar a menina, ela entrou no saguão, rindo como boba. Ao se aproximar da sala de café, sua expressão murchou e seus olhos arregalaram ao ver o pai já sentado na mesa. Agora, teria que inventar alguma desculpa muito boa.

– Ahn... Oi gente. - disse receosa encarando Jess, que olhava para ela e Derek repetitivamente.

– Onde estava? - perguntou curioso.

"Ferrou",pensou ela respirando fundo. Ela tinha que inventar alguma coisa!

– Eu estava vendo se... Se eles têm, hã... - as palavras se dissiparam de sua mente - Se eles têm leite! Isso! Leite! Para eu beber com... Biscoitos! Você sabe como eu adoro leite com biscoitos!

Ela se orgulhou da resposta um tanto convincente criada em tão pouco tempo. Até ouvir as palavras seguintes do pai desconfiado:

– Você odeia leite com biscoitos, Jazmyn. - ela arregalou os olhos.

– Comecei a gostar. - rebateu sem pensar.

Derek assentiu receoso e voltou lentamente a conversa com os amigos. Enquanto isso, Jessica olhava-a com indignação, será que ela não conseguia criar algo melhor? Qual é, a mente era jovem, cadê as desculpas mirabolantes?

– O que vamos fazer agora? - perguntou Chaz ao terminar de comer.

– Olha, eu não sei vocês, mas eu vou assaltar o estoque de aspirinas deste hotel, com licença. - Derek avisou com uma careta, tal qual ele carregou por toda a manhã.

Todos riram fraco com a dor do amigo enquanto Jessica se pronunciou, unicamente:

– Espere, vou com você.

Derek assentiu e Connor apenas mexeu-se desconfortável com a bondade da namorada. Aquilo era estranho, Jessica e Derek estavam bem próximos nos últimos dias. Tudo bem que eles eram melhores amigos e compartilhavam um histórico de amizade mais intenso que o resto das pessoas, mas a última coisa que ele imaginaria é que esta "amizade intensa" aumentasse ainda mais com o começo do namoro.

Algo, algo minúsculo ainda, lhe dizia que não devia ter dado a ideia de ter convidado Derek e a família para esta viagem.

***

– O que eu fiz ontem? Eu estraguei tudo? Eu dei algum showzinho para as minhas filhas? Meu Deus, a última coisa que eu preciso agora é vê-las traumatizadas ou achando que um espírito entrou no pai delas... - Derek estava desesperado enquanto andava em direção à enfermaria do hotel. Jess ria como uma louca - Fale, Jessica!

– Será que dá para você se acalmar? Por Deus! - disse ela tentando acalmá-lo - Relaxe, você não estragou nada. Graças a Chaz! - comentou ela, a voz carregando uma leve advertência - E quanto ao showzinho... Você só deu ele para mim.

Derek arregalou os olhos enquanto a mulher continuava andando em direção a enfermaria e pedindo, com muita calma, por algumas aspirinas."Por favor, que eu não tenha atacado ela. Por mais que eu queira, não."

– Hã, como assim? - Derek perguntou com uma indiferença um tanto forçada. Ele não conseguia disfarçar, e sabia disso.

– Enquanto eu tirava sua roupa e te dava banho... -"Por Deus, não me faça passar vergonha aqui. É um lugar de família e eu posso ser preso por perversão"– Você me chamou de alguns nomes e eu... Fiquei pensando neles.

Derek estava a beira de um ataque epilético. Enquanto jurava para todos os santos existentes, de Buda até Chuck Norris que nunca mais colocaria uma gota sequer de álcool na boca, tentava imaginar os nomes que havia pronunciado. Mas que inferno, por que ele não conseguia se lembrar de alguma coisa? E se algo bom tivesse acontecido, caramba?

E se algo bom tivesse acontecido?

Oh, aquilo ia ser bom.

"Mas que droga, se controle!"

–Pode falar. - disse ele somente, começando a rezar mentalmente.

– Você me chamou... - a vermelhidão já tomava conta de seu rosto e, se o momento não fosse crítico, Derek julgaria aquilo como a coisa mais fofa que já viu. Depois de Julie, lógico - Me chamou de anjo. Isso. Você me chamou de anjo e eu não entendi muito bem.

A vermelhidão passou, quase que exatamente, para o rosto de Derek, que estava realmente sofrendo alguns efeitos de um ataque epilético. Suas mãos suavam, seu corpo tremia e ele sentia que apagaria a qualquer minuto. Mais gay, impossível.

– Bom, eu... Ah, que merda. - disse ele, entregando os pontos como uma mariquinha. - Eu disse mesmo isso?

– Não se lembra? - Derek negou em algo perto de conflito interno misturado com confusão mental - Oh. Isso... Não é algo legal.

– Não. O que não é legal é eu te chamar de anjo quando seu namorado, tal qual está pagando minha estadia aqui, está quase que grudado na gente. - Derek declarou, quase que gritando pela verdade. Jess riu fraco. A verdade era tão... Verdadeira que chegava a ser cômica.

– Bom, eu gostei. - as palavras saíram pulando de sua boca. Sua surpresa reagiu com Jessica tampando sua boca logo depois - Quer dizer... Ah, que merda. - Derek riu por vê-la imitando-o - O que é isso? - perguntou jogando os braços para o alto.

– Isso? Uma aspirina. - Derek respondeu ao intepretar os braços de Jess apontando para qualquer lugar - Você coloca ela na água, ela efervesce e você toma...

– Larga de ser idiota! - Jess gritou interrompendo-o - Não foi isso que eu quis dizer.

– Eu sei. - confessou cessando os risos - Eu só não sei... Como responder a isso. Por que eu também não sei... O que raios éisso.

E comisso, eles queriam dizer"Uma onda de atração proibida e estranha entre nós dois."

– Que tal esquecermos isso e voltarmos ao normal? Afinal, você estava bêbado, não há possibilidade alguma de você realmente ter falado a verdade. - Jess sugeriu.

"Obviamente, você não sabe ler mentes. Pelo menos assim eu posso imaginar a vontade.", Derek pensava enquanto assentia sorrindo. Não tocaria mais naquele assunto. Mas o quebraria em pedaços e torturaria Chaz até sua morte para saber algo mais.

***

– Vamos, Somers, eu tenho o dia todo. - Derek persuadiu o amigo que foi rudemente jogado numa cadeira, no seu próprio quarto.

–Mas que porcaria, McCann, você ficou maluco? Eu estava praticamente ganhando aquela mulher! Que merda, você precisa controlar esse desejo sobre mim. - Chaz brincou, parando ao ver que o amigo não riu - Tudo bem, o que precisa saber?

– Serei bem objetivo e espero que você seja também. -"Falou aí, CSI móvel."Mente de Chaz, ousada como sempre - Eu beijei Jessica ontem?

Chaz arregalou os olhos. Como assim?!

– VOCÊ BEIJOU JESSICA? PUTA QUE PARIU, COMO ASSIM...

– Eu estou te perguntando, retardado! - Derek revirou os olhos - Então, beijei ou não?

– Eu não sei! Não enquanto eu estava no quarto! - concluiu voltando sua memória e não lembrando de ver nenhuma saliva trocada entre eles.

"Ótimo, lindo, brilhante, adorável!", pensava Derek voltando a estaca zero. Ele realmente achava que acharia qualquer resposta para sua dúvida cruel. Mas Chaz era tão... Aleatório! Nunca ficava no lugar certo, na hora certa. Que inferno!

Logo, ele petrificou. Voltou sua memória ás seis últimas palavras do aleatório que brincava com uma bolinha de silicone como um menininho de cinco anos - idade de sua mente."Não enquanto eu estava no quarto!"

– Ah, que merda. Merda, merda, merda! - Derek pronunciava andando pelo quarto, totalmente atordoado - Eu devo ter feito alguma coisa com ela quando ficamos sozinhos! Eu chamei ela de anjo!

Chaz franziu as sombrancelhas confuso, não parando de brincar por um segundo.

– E daí? Foi só uma palavrinha, nada demais!

– É mas... É depois destapalavrinhaque começa tudo... - calou-se abruptamente ao ver que tinha falado demais.

Ótimo. Tudo que Derek precisava era ter revelado que andava sonhando acordado com Jessica no banheiro. Simplesmente ótimo.

– Dude, vai se tratar. Ela é sua melhor amiga. - Chaz disse com uma legítima careta de nojo.

– Cala a boca! - Derek corava como um idiota - Quer saber? Vou me tratar com você.

– Wow, wow, wow. Dude, quando eu falei que você tinha um desejo sobre mim, eu tava brincando. Não me leve a mal... - Derek sentia que ia desmaiar - Você é até bonitinho, mas...

– Pelo amor de Deus, cale a boca. - pediu o amigo com os olhos fechados e apertados - Estou dizendo para você me arrumar um encontro.

Chaz suspirou em alívio, o que fez Derek suspirar também, mas alívio era a última coisa que passava por sua mente ferrada.

– Bom, quem você prefere? - o homem tirou quatro guardanapos do bolso, cada um com um conjunto de números diferentes.

– Mas que porcaria é essa? Você é o The Flash, ou algo parecido? - só algo assim traria os problemas resolvidos tão rapidamente.

Chaz riu fraco enquanto desdobrava cada um e dava para Derek analisá-los. O que seria um puta luxo, considerando sua situação deplorável.

– Olha, eu recomendo a Brianna. - apontou para o terceiro pedaço quadrado e amassado - Se é que me entende.

– Brianna. Que nome horrível! - Derek reclamou analisando o grupo de números - Sério, que mãe pensa em dar o nome da filha de Brianna?

– É, eu concordo. - Chaz começou, jogando-se na cadeira - Quer dizer, para que colocar um nome tão feio quando existem nomes tão bonitos... ComoJessica, por exemplo...

Uma coisa era clara: Chaz estava pedindo por um soco no meio daquela cara cínica. Será que ele não via que a porcaria da situação era séria? Derek estava praticamente agarrando Jessica em sua cabeça e não importaria de forma alguma realizar sua fantasia na vida real?

"Meu Deus, eu precisomesmode um tratamento."

– Dane-se se o nome dela é feio, você não vai transar como nome dela. - Derek arregalou os olhos - Tá me olhando assim porque? Acha que não vai transar com ela? É por isso que a gente tá arrumando um encontro pra você.

– Não, não, eu sei. É que... Eu não transo com alguém há algum tempo. - aquilo era ridículo, mas a pura verdade, de todo jeito.

– Vamos mudar isso hoje! Ou perdeu o jeito? - Chaz provocou, despreocupado.

– O jeito está bem aqui guardado, obrigado pela preocupação. - Derek rebateu, murchando o sorriso do amigo.

– Que nojo. Sai do meu quarto.

Derek riu e voltou para perto do grupo, tentando ao máximo manter-se afastado de Jessica. Logo algo acendeu em sua mente: Suas filhas. Claro, suas filhas seriam a melhor distração! Não que elas sempre fossem aquilo, nunca, mas era uma boa saída para aquela situação.

***

– Vai sair com Chaz e Connor de novo, papai? - perguntou Julie sentada no colo de Jess, que assistia o amigo nervoso com o visual. Definitivamente não encontraria nenhum homem.

– Vou sim. - mentiu, o que a fe revirar os olhos discretamente - Vocês vão ficar bem?

– Elas vão ficar bem sim e blá, blá, blá... - Jessica empurrou-o para a porta tediosamente, o que fez as meninas rirem - Qual é o nome dela?

Derek arregalou os olhos enquanto sentia um arrepio invadir seu corpo.

– Como assim? - perguntou, a voz falha, receosa.

– Ah, qual é, a garota não tem nome? Isso é terrível... - Jess comentou fazendo-o rir - Anda, me fala, quem é?

– O nome dela é Brianna. - Jess fez uma careta, que arrancou uma gargalhada de McCann - É, eu sei. O nome é estranho. Mas eu preciso... Disso. Preciso relaxar.

Jess olhou-o impressionada enquanto escorava-se no vão da porta.

– E dormir com estranhas é sua melhor definição derelaxar? - perguntou retoricamente com uma mão no queixo - Não é mais fácil dormir com alguém que você conhece?

O silêncio mortal criado depois desta frase denunciou violentamente o quão... Atrevida Jessica havia sido. Tinha ela acabado de lançar a Derek uma cantada pervertida? Enquanto ele reprimia a vontade de empurrá-la para dentro de qualquer quarto e mostrar-lhe que sua cantada havia funcionado -porque puta que pariu, como havia funcionado!– ele apenas riu pelo nariz, deixando-a violentamente corada.

– Não acho que vou transar com ela hoje... - confessou indiferente."Até porque... A pessoa que eu quero dormir acabou de me lançar uma cantada muito interessante."– O negócio é ir com calma.

– Calmo como uma balsa? - perguntou ela provocativa - Estou brincando. Vá e aproveite. Ficaremos bem, ok?

– Obrigado por cuidar delas mais uma vez. - agradeceu cabisbaixo - Você é incrível, Jess.

A mulher corou levemente e se despediu. Se ficasse mais algum tempo ali, provavelmente faria alguma besteira que se arrependeria depois. Cruzou a sala tristonha e foi até o banheiro, deixando Jazmyn e Julie com caras de nada na sala, esperando o filme.

***

– Não acredito que fez isso! - Derek perguntou entre risos para a mulher.

– Mas é claro que fiz! Ele me traiu, eu chutei ele bem naquela área. - fez uma expressão orgulhosa - Eu disse:"Se você não quer ter filhos comigo, não vai ter com mais ninguém!"

Derek estava se divertindo com Brianna, a mulher era bem engraçada. Ajudava-o a esquecer os problemas - diversos, infelizmente -, o que era bom. Tinham muita coisa em comum, como filhos e trabalhavam na mesma área de arquitetura. E, como Chaz havia dito... A garota eramuitogostosa.

– Oh, eu já preciso ir. - avisou enxergando o horário no relógio de pulso - Foi uma ótima noite.

– É, com certeza foi.

Derek sorriu fraco e, antes que pudesse perceber, estava tendo seus lábios colados aos de Brianna, que pegou-o de surpresa. Tinha gostado muito de Derek, não por sua beleza óbvia, mas também pela maturidade. Segundo seus problemas, parecia um homem forte que superava tudo pelo sorriso das filhas, e ela admirava isso.

– Ok, por isso eu não esperava. - confessou depois do beijo - Você quer... É... Sair outra vez?

Aquilo era ridículo, ele parecia um menininho de 15 anos outra vez. Brianna riu baixo, ele era muito fofo.

– Eu vou adorar. - confirmou sorrindo.

Derek sorriu em resposta e se despediu com mais um beijo. Continuou com o sorriso permanente até chegar no quarto, sorrindo ainda mais ao ver a filha adormecida. E o melhor, Jessica acompanhava-a no sono, da forma mais linda existente.

– Tão linda... - murmurou olhando-a, algo que não devia feito.

Jessica despertou aleatoriamente, gritando assustada ao ver Derek ali, olhando para ela. Aquilo desencadeou em algo que ele sempre temeu:O despertar de Julie. Como é que ele colocaria-a para dormir agora?

– Mas que droga, Jess! - advertiu irritado.

– Tá brigando comigo? - perguntou indignada - Que tipo de doido fica olhando as pessoas dormirem?

Uma coisa era comprovada: Jessicanãoera romântica.

– Dane-se isso, como é que eu vou fazer a Julie dormir? - perguntou ignorando a falta de sensibilidade da amiga e vendo a pequena não pregar mais os olhos.

– Papai, não consigo mais dormir! - avisou ela coçando os olhinhos.

– Eu sei, princesa, eu sei... - disse ele olhando Jess com raiva, que apenas levantou os braços em rendição - O que você quer que eu faça para conseguir dormir?

A fala seguinte da pequena intrigou a Jessica:

– Cante Silent Night para mim, papai?

Derek arregalou os olhos, aquilo não!

– Mas, meu amor... - ele não cantaria com Jessica presente, não mesmo! - Não quer que eu conte alguma história? E outra... Silent Night é uma música de Natal, princesa.

Julie franziu as pequenas sombrancelhas em confusão.

– E daí? É bonita do mesmo jeito.

Droga, a menininha era rápida.Derek via-se sem saída, teria mesmo que cantar ali, na frente de Jessica? E se ela o achasse um idiota? Aquilo era ridículo, ele não devia se importar com a opinião de ninguém! Mas porque então praticamente sujava as calças quando a coisa relacionava Jessica?

– Eu quero ouvir. - ela disse, piorando ainda mais a situação.

Ele respirou fundo, teria mesmo que fazer aquilo. Tentando, com a última gota de esperança, fazê-las desistir, fez uma carinha de cachorro que caiu do caminhão da mudança. Não funcionou, pois Julie e Jessica continuaram esperando o homem começar logo a cantar.

Limpou a garganta derrotado e preparou-se, fazendo Julie sorrir se arrumando na cama e Jessica olhá-lo impressionada. Então era verdade? Derek cantava?

Ele começou, receoso:[ouçam Silent Night c:http://migre.me/873Wn]

Silent night, holy night.(Noite silenciosa, noite sagrada.)

All is calm, all is bright.(Tudo é calmo, tudo é luminoso.)

Round yon Virgin, Mother and Child,(Em volta da Virgem Maria, Mãe e Criança)

Holy infant, so tender and mild.(Sagrado bebê, tão meigo e suave.)

Sleep in heavenly peace...(Dorme em paz celestial...)

Sleep in heavenly peace.(Dorme em paz celestial.)

Jessica estava... Impressionada. Boba. Totalmente hipnotizada. Sabia que o amigo tinha uma conexão importante com a música, mas nem imaginava que sua voz era tão boa. E o melhor, não era só a voz. Era o jeito, as expressões, os leves sorrisos enquanto olhava para a filha. Ela só queria ouvir mais e mais, se punindo violentamente em sua mente por não ter pedido para o amigo cantar alguma vez em sua vida.

Silent night, holy night.(Noite silenciosa, noite sagrada.)

Son of God, love's pure light.(Filho de Deus, luz pura de amor.)

Radiant beams from Thy holy face,(Brilha radiante em Seu sagrado rosto,)

With the dawn of redeeming grace.(Com sua graça e redenção.)

Jesus Lord at Thy birth...(Senhor Jesus em Seu nascimento...)

Jesus Lord at Thy birth.(Senhor Jesus em Seu nascimento.)

– Meu Deus. - deixou escapar chocada quando o homem terminou. Julie já tinha os olhos fechados e a respiração calma - O que... O que foi isso?

Derek sentiu as bochechas esquentarem enquanto desviava o olhar para o cobertor da filha.

– É a minha voz, ué.. - fingiu indiferença - Por quê?

Jessica riu ainda meio desorientada.

– Tá brincando? - perguntou retoricamente - Sua voz é perfeita, simplesmente sem defeitos! Como é que eu não sabia disso?

– Fale baixo! - advertiu reparando em seu tom de voz - Ah, sei lá, Jess. Eu só abri a boca e cantei!

Ela riu desta vez mais tranquila. O amigo era muito modesto, aquilo era fato.

– Mais uma coisa que Derek McCann faz perfeitamente. - concluiu olhando-o divertida.

Ele corou novamente e encontrou os olhos de Jess, perdendo-se neles rapidamente. Aquilo era tão estranho, eles nunca ficavam daquele jeito, por Deus!

– Hã, acho que vou para meu quarto... - falou envergonhado levantando-se, sendo seguido pela amiga.

Porém, a fala seguinte de Julie, que supostamente dormia, os impediram.

– Não, não vão! - pediu com a voz sonolenta, o que fez o pai rir.

– Mas não dormiu ainda?! - perguntou rindo, Jess o acompanhou - Por que não devo ir?

– Porque eu quero que o senhor durma aqui comigo!

Jessica entendeu o que ela queria e se despediu, para dar-lhes privacidade. Mas parecia que Julie ainda não estava satisfeita.

– Hey, onde vai? - perguntou para a mulher que já cruzava a porta - Pode vir aqui!

Derek franziu as sombrancelhas confuso enquanto arrumava a filha em seu tórax. Será que... Ela queria que... Jessica dormisse com eles?

"Quantos anos essa garotinha tem, pelo amor de Deus?!"

– O que você quer, princesa?

– Que ela durma aqui com a gente!

Jessica arregalou os olhos e ficou estática no lugar. Aquilo não seria seguro para a sua situação, não mesmo. Mesmo assim, sem que percebesse, estava colocando-se debaixo dos cobertores, fazendo Julie sorrir e Derek engolir seco. Graças a Deus que a filha estava separando-os.

– Pronto, agora podemos dormir. - declarou com sua voz doce autoritária enquanto fechava os olhos - Boa noite!

Derek retribuiu o cumprimento, seguido de Jessica. Trocaram sorrisos leves e fecharam os olhos, vacilando em alguns olhares rápidos. Ele, sem se importar com mais nada, pegou a mão da amiga, que retribuiu com um sorriso maior ainda. E assim adormeceram, incrivelmente confortáveis, da forma mais incomum de suas vidas:Juntos.