Esposo De Mentirinha escrita por JoyceSantana


Capítulo 19
"You're always the damsel in distress."


Notas iniciais do capítulo

AI GENTE PQ VCS FAZEM ISSO COMIGO HEIN, SUAS PERFEITAS FILHAS DUMA RAPARIGA
capítulo bem final de novela das oito mesmo, sabe



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E o tempo passou. Vinte e quatro de Dezembro, seis horas da manhã. Dia do casamento de Jessica. Derek estava enfiado numa cafeteria com Chaz, que parecia desfalecido em sono. Durante todos estes dias de preparações e ansiedade, McCann esteve pensando cada vez mais em sua vida. Já havia aceitado que, daquele dia para frente, não conseguiria mais se recuperar. Sua vida seria uma completa porcaria e ele não conseguiria fugir disso. Porém, tinha um plano na cabeça. E estava disposto a cumpri-lo, mesmo sabendo que aquilo afetaria a amiga da pior forma possível.

– Chaz, você me ouviu? - perguntou ao corpo a sua frente que dormia de olhos abertos - Ótimo, então vou fazer isso e ninguém irá saber.

Demorou apenas alguns segundos para que a notícia finalmente atingisse o sistema cerebral do homem. Logo ele arregalou os olhos incrédulo, Derek não podia estar falando sério. Ele não podia fazer isso, como é que Jessica iria reagir? Tinha que ser brincadeira.

– Perai, o quê?! - perguntou finalmente acordando - Você não deve estar falando sério.

Nada na expressão de McCann indicava que ele estava brincando. Tudo ali era verdade e ele estava disposto a fazer acontecer.

– Não, estou falando sério. Seriísimo, na verdade. - acabou rindo ao usar o aumentativo.

Porem, nada ali era propício para dar risada. Chaz parecia apagar a qualquer minuto.

– Mas... E as crianças? - perguntou imaginando as expressões de Jazmyn e Julie - Elas também serão atingidas por isso. Derek, você não está raciocinando direito.

– Confio em você de olhos fechados, vai cuidar bem delas. - sorriu fraco sinceramente, tirando um sorriso envergonhado de Chaz - Eu não vou conseguir, cara. É o único jeito.

– Mas... Isso é loucura! Você tem certeza? - perguntou querendo que McCann desistisse daquela insanidade.

Mas nada o pararia. Como disse, era o único jeito das coisas se resolverem. Dane-se se fosse chamado de fraco, daquilo ele já sabia há tempos. Um nome qualquer contra ele não o atingiria, muito menos resolveria seus problemas, logo, qualquer coisa que viesse era irrelevante.

– Olha, eu não concordo. Mas sou seu melhor amigo e estou aqui pro que der e vier. Sabe disso, não é?

Derek acabou sorrindo ao assentir, com certeza, sem dúvida nenhuma, Chaz Somers era o melhor amigo do mundo. Podia ser tudo: tarado, idiota, retardado e parcialmente acéfalo. Mas, também, era o melhor amigo do mundo. McCann sentia que podia confiar nele de olhos fechados e pés nas costas. Isso acabava facilitando as coisas.

Mas o pior ainda estava por vir. A reação de Jessica.

 Quando irá falar com ela? - perguntou Chaz num tom derrotado enquanto bebericava seu café.

– Hoje a tarde. Imagino como ela está agora. - sorriu para o nada ao formar a imagem da amiga na cabeça - Deve estar vestindo uma espécie de coroa. Ela sempre me disse que queria vestir uma no dia do casamento.

– Derek, para com isso. - Somers percebeu a tristeza extrema do amigo - Ainda dá tempo. Vai falar com ela.

– Não dá, Chaz! - alterou-se levemente, atraindo alguns olhares discretos - Eu a perdi. Eu a deixei escapar. Tive a garota na minha vida inteira e fui idiota o bastante para deixá-la escapar. E esse é meu castigo, vê-la ser feliz com outro homem. Ver outro cara dar a felicidade que eu deveria dar. É uma espécie de carma pela minha burrice e eu tenho que sofrer. Eu só queria ser inteligente o bastante para perceber, sabe? - lamentou-se sentindo os olhos marejados - Perceber seu sorriso lindo enquanto ela me falava que sofria por estar sozinha. Confortá-la do jeito certo quando chorava que tinha sido traída por Mark. Eu devia ter matado aquele idiota e... Meu Deus, Chaz, eu sou um idiota. Eu fiz tudo errado. Eu fiz tudo errado, tudo errado, tudo errado... - começou a se alterar cada vez mais com as mãos na cabeça, preocupando Chaz e o resto das pessoas.

– Hey, olha aqui, seu estúpido. - o homem bateu na mão do amigo, já que não podia voar em seu pescoço - Não é tarde demais. Mas que droga, Derek! Pelo amor de Deus, você sempre desiste! Ainda dá tempo, estou te dizendo. Para de loucura e VAI FALAR COM ELA. - ordenou sem se importar com o tom de voz. Tudo ali já estava ferrado o bastante para outras preocupações.

– Eu... Eu não consigo. - lamentou sentindo-se um lixo - Já falei com ela, já tentei abrir seus olhos... Mas ela não me ama, Chaz. Ela não me ama, não me ama, não me ama... - voltou ao estado perturbado deixando o amigo atônito.

Chaz somente tirou duas notas de cinco dólares e jogou-as na mesa, não se importando em receber o troco pelos cafés. Puxou Derek pelo braço levando-o até o carro, sendo assistido por vários transeuntes que viam o ataque do homem preocupados. Somers apenas jogou o amigo no banco do passageiro e tomou seu lugar atrás do volante, não sabendo para onde raios dirigir, apenas ligando o carro e estacionando o pé no acelerador enquanto o amigo enlouquecia ao seu lado.

– Wow, Chaz, quer nos matar, pelo amor de Deus! - Derek advertiu o amigo que parecia estar possuído. Troca de estados, eu diria - Tu quer que eu fale com ela mas tá quase enfiando o carro num poste. Se decida, caramba!

– Cale a boca, eu vou fazer você se acalmar! - gritou Chaz fazendo uma curva abrupta.

O carro derrapou na pista de um lugar que só Deus poderia identificar naquele momento, fazendo o veículo girar várias vezes. Derek se segurava em qualquer acessório sólido enquanto Chaz pedia perdão por todos os seus pecados, algo um tanto inusitado para alguém que praticamente não pensava em absolvição de nada. Seus erros eram muitos. Era considerado um caso perdido.

Logo, o carro parou, fazendo-os chacoalhar em seus bancos enquanto recobriam a respiração e sanidade. E então, no minuto seguinte, Derek estourou em gargalhadas, enquanto Chaz recostava a cabeça no volante, completamente trêmulo e tentando lembrar seu próprio nome. Derek dava um trabalho infernal, meu Deus.

– Você é o melhor amigo do mundo, sério! - concluiu ofegante entre golfadas, fazendo Somers olhá-lo indignado.

Algo era fato e podia ser solidificado: Derek McCann não tinha mais conserto.

– O... Quê? - conseguiu pronunciar algo audível e normal, considerando sua situação.

– Você é incrível! Se queria me fazer esquecer de tudo, mesmo que por poucos segundos, funcionou! Nossa, eu precisava disso. - Derek estava elétrico, até quicava no banco.

– Desisto de você, idiota. - disse somente antes de ligar o carro novamente e voltar à cidade, punindo-se por não se segurar ao ver sua calça molhada. McCann não conseguiu segurar as gargalhadas durante todo o caminho.

***

– Eu ainda não vi o papai, Jazzy. Será que ele está bem? - Julie perguntou coçando os olhos enquanto assistia Bob Esponja.

– Não sei, provavelmente, Jules. - Jazzy tentou tranquilizá-la - Papai sabe se cuidar. Se ele cuida tão bem da gente, por que não vai saber cuidar de si mesmo? Ele deve estar pensando, só isso.

– Papai deveria ficar com a tia Jess. - murmurou e logo tampou a boca, como se fosse algo proibido de se dizer.

Jazmyn apenas riu despreocupada enquanto se dirigia para a cozinha e começava a preparar sua tigela de cereais.

– Sabe, eu concordo com você. O McCann parece um idiota quando olha pra ela. E ela faz isso. - comentou brava o fato da Jessica se casar com Connor - Os dois deveriam ficar juntos.

– Apoiada! - Julie gritou rindo - Mas o papai está machucado. Conversei com ele há algumas semanas e ele está num baixo astral horrível. Ele gosta mesmo da tia Jess.

– E acho que é amor, viu? Não só gostar. - Jazzy comentou - Ele ama ela. E ela é muito sortuda, papai é um homem incrível.

Julie assentiu triste e as duas permaneceram olhando para o nada, imaginando onde raios os pai estaria. Uma coisa era clara, Derek estaria comentendo uma loucura qualquer. Seu cérebro não funcionava muito bem quando pressionado. A situação de McCann, então, pior ainda. Seu cérebro, além de pressionado, estava ferrado, perturbado e descoordenado, o que fazia de suas loucuras algo completamente sem medidas. E aquilo as preocupavam.

– Tomara que ele esteja bem. - Julie expressou os que as duas desejavam - E o Caleb, Jazzy?

A menina sobressaltou-se ao ouvir o nome do "namoradinho". Desde que haviam voltado das Bahamas, eles não haviam tido um contato sequer. E por mais que aquilo a machucou, percebeu que era bom. Derek enlouqueceria se descobrisse que ela continuava se engraçando por ali. Depois da última bronca, ela limitou-se a permanecer pura até os trinta anos. Nunca tinha ouvido o pai gritar daquele jeito.

– E eu lá sei? - deu de ombros enquanto sentia um leve arrepio atingir-lhe - Nunca mais falei com ele.

– Você o beijou? - perguntou a pequena, marota.

Jazmyn não queria responder aquilo por conta da vergonha. Mas se não falasse com sua irmã, com quem mais falaria? Suas amigas não eram lá um exemplo muito bom de confiança, sabia bem disso.

– Beijei! - disse como se tivesse confessando um crime - Ai, Jules, é muito bom.

– Como é? - graças a Deus que Derek não estava em casa, ouvindo-a.

– Ai, no começo é estranho. É diferente, sabe? Parece que você não vai conseguir, que tudo vai desandar. Mas aí, é como se seu cérebro entendesse. E aí... - ela tampou o rosto com a almofada mais próxima - Faz cócegas na língua! E no céu da boca. E no corpo todo!

Julie ouvia tudo completamente maravilhada e feliz. Feliz por sentir que sua irmã confiava nele para contar seus mais profundos segredos. Feliz por tem uma irmã tão boa, que a ajuda e brinca com ela. Jazmyn era simplesmente incrível.

– Não acho que beijarei algum dia. - lamentou tristonha - Papai mataria o menino que chegasse perto de mim.

– Hey, quer saber? Eu também avhei que ele faria isso. Até rezei pelo Caleb. - Jazmyn confessou risonha - Mas, viu? Nadinha. Relaxa, Julie, sua hora vai chegar. Você é linda e eu já vi um negócio entre você e o Charlie!

Julie sentiu as bochechas esquentarem enquanto a irmã gargalhava, feliz por estarem sozinhas na casa. E então, a campainha tocou. Jazmyn, ainda se recuperando, abriu a porta sem checar o olho mágico. Quase caiu para trás, ou achou que aquilo era uma miragem.

– Caleb?! - perguntou incrédula ao garoto que segurava um buquê de flores - O que está fazendo aqui? Você está mesmo aqui? Que porcaria é essa? Como sabe meu número? Meu endereço? Garoto, me responde!– pediu irritada ao ver que só ela falava.

Caleb riu despreocupado.

– Meu irmão está ali no carro e me obrigou a vir aqui depois de eu contar o que houve nas Bahamas. - apontou para o carro estacionado e Jazzy sentiu as bochechas corarem - Eu só vim por que... Na verdade, não sei porque vim. Acho que é porque eu gosto muito de você e não quero que isso entre a gente acabe, seja lá o que tivermos. - comentou risonho.

Jazmyn sentia que ia desmaiar a qualquer momento.

– Caleb, isso é lindo. - disse sinceramente enquanto analisava suas tulipas - Mas sabe como meu pai é. Ele não aceitaria... - sentiu o dedo do menino contra seus lábios e perguntou-se se o bendito havia assistido algum clipe da Taylor Swift antes de aparecer ali.

– Nada é impossível. - definitivamente havia assistido - Olha, eu estou disposto a conversar com seu pai. Acontece que vou me mudar para cá e nosso relacionamento será possível. Eu quero você, Jazmyn.

– Wow, sério, você não quer conversar com o meu pai. - avisou consoladora - Ele está passando por um período muito difícil da vida no momento. "E como estava!" - Mehor deixar a poeira abaixar e conversar depois. E eu também te quero muito. - comentou envergonhada puxando-o para dentro - Vem conhecer.

O menino sorriu e adentrou a casa, dando de cara com a pequena Julie. A menininha sorriu maroto e sentou-se no sofá novamente, fingindo estar assistindo Os Padrinhos Mágicos. Jazmyn sorriu envergnonhada e sentou-se também, enquanto Caleb acomodava-se ao seu lado. E tudo que elas esperavam é que Derek estivesse cometendo sua loucura bem longe dali.

***

Enquanto isso, Derek via-se não tão longe. Estava no bairro vizinho, praticamente hiperventilando enquanto era assistido por Chaz, que ainda achava tudo uma grande burrada e perguntava-se por que raios o ajudava. Não conseguia negar nada àquele estúpido, então apenas foi para sua casa, fez o amigo almoçar, trocou suas calças e levou-o aonde deveria.

– Vai mesmo fazer isso? - perguntou pela milésima vez enquanto estacionava em frente a casa de Jessica. Já sabia a resposta, pois Derek assentiu decidido pela mesma quantidade de vezes - Então tá. Vai lá, eu te espero aqui. - o amigo fez menção de sair mas foi interrompido - Só não a deixe machucada, ok?

– Mais machucado que eu, Somers, ninguém. - rebateu sem humor algum, mesmo assim indiretamente prometendo tal coisa. Seria difícil. Mas ele teria de fazê-lo.

Saiu do carro e encarou a fachada da casa de Jess, que era a casa de Connor, que já havia sido dedetizada. Olhou no relógio, dez da manhã. Suspirou. Talvez fosse um pouco tarde. Riu rápido ao imaginar como ela devia ter acordado, pulando como um poodle pelos cômodos. Suspirou novamente. Jessica era adorável. Tanto que quase o fazia desistir de sua ideia. Suspirou pela terceira vez. Aquilo seria complicado. Só Deus sabe o quão difícil seria tomar tal decisão. E contá-la sobre ela. Claro que ele poderia somente fazer o que queria fazer sem avisá-la antes. Mas seria cruel. Ela não merecia isso, merecia uma simples explicação, pelo menos.

Resolver cessar suas análises, Jessica teria um dia cheio pela frente, quanto mais rápido Derek fizesse o que tinha que fazer, mais rápido acabaria e deixaria o caminho livre. Respirou fundo e rumou para a porta, o medo consumindo-o de uma forma insana.

Bateu uma vez, nada. Duas batidas, silêncio total. Tocou a campainha que tanto odiava pelo som irritante, sem resposta. Bufou impaciente, era como se tudo conspirasse contra ele, querendo fazê-lo desistir de tamanha loucura. Porém, não desistiu. Agradeceu pela porta estar aberta e adentrou, procurando-a receosamente pelos cômodos. Logo avistou o jardim. E antes que pudesse procurá-la, pareceu ouvir algo conhecido. Colocou sua experiência auditiva a prova e sorriu ao conhecer a melodia. Sorriu ainda mais ao avistá-la na grama, de olhos fechados, bailando sozinha ao som de Can I Have This Dance como se tivesse sendo guiada pelas mais leves brisas. Uma puta tortura, era fundamental colocar.

Resolveu surpreendê-la. Tirou os sapatos, foi até a grama e, agradecendo pela tradição dos noivos não se verem no dia do casamento, entrelaçou seus dedos aos dela rapidamente, logo seguindo os passos da canção. Jess abriu os olhos assustada e, ao ver que era o amigo e não um serial killer gentil, sorriu largamente sem parar de dançar.

– Você fazendo isso sozinha é muito idiota. - Derek riu pelo nariz enquanto a girava delicadamente.

– Só estou treinando. - garantiu com as bochechas coradas - Acredita nisso? Eu vou me casar! Vou me casar hoje!

Derek apenas sorriu tristemente enquanto fingia animação. Aquela constatação parecia atingi-lo no rosto com um peixe, chegava a ser ridículo o quanto doía.

– É, você vai! Vai se casar hoje, Jess. E eu estou muito feliz por você. - tentou ignorar o porco espinho que descia pela sua garganta no lugar da saliva e concentrar-se na mulher.

– Tendo você feliz, nada mais importa. - disse sorrindo ternamente para ele, sem se importar em encontrar seus olhos. Na verdade, eles pareciam dois diamentes raros com um brilho que ainda precisava ser estudado.

Algo era fato. Jessica sentiria falta de Derek. Sentiria falta de seu cavalheirismo incessante, seu companheirismo, sua total proteção e preocupação... Sentiria falta da maciez de seu abraço, seus ombros que aguentaram inúmeros colapsos... E seus lábios. Sentiria falta da coisa mais doce e viciante que já provou. Definitivamente sentiria falta daquilo.

– Vou sentir sua falta. - deixou escapar com a voz fraca, sussurrada enquanto o analisava minunciosamente, como se o fizesse para martelar cada feição na memória. Eles já haviam parado de dançar, então Derek apenas a entrelaçava pela cintura - Vou sentir falta deste cabelo perfeito, destas orelhinhas perfeitas... - as puxou de leve fazendo-o rir - Deste narizinho sem defeito algum, destes olhos... - fitou-os novamente, perdendo-se totalmente. Logo desceu o olhar um pouco mais, fazendo o sorriso de McCann desfalecer - Vou sentir falta, muita falta de você, Derek.

E então, antes que pudesse perceber, Derek sentiu uma leve pressão contra sua boca, que o fez apertar os punhos querendo controle de qualquer forma. Jess beijava cada centímetro ao redor dos lábios do amigo, desde as pálpebras superiores até a ponta do queixo. E aquilo só dificultava as coisas para ele, que mal lembrava o nome da própria mãe.

– Jess, pára. - pediu violentamente contrariado enquanto a afastava lentamente - Vamos nos focar no dia de hoje e o quão importante isto é para você.

A mulher assentiu e, completamente envergonhada, por tamanho ato, escondeu a cabeça no ombro do homem, que viu-se obrigado a entrelaçá-la novamente.

– Hoje você vai se vestir de branco e vai entrar naquele salão enterno muito bem escolhido, ne verdade. - sentiu a risada nasalada em seu ombro - Vai jogar o buquê para uma encalhada histérica qualquer e vai usar sua bendita coroa.Pena que eu não vou estar lá para ver.

Jessica sentiu seu sorriso leve desfalecer mediante as palavras de Derek, afastando-se confusa. Encontrou o olhar triste e derrotado do amigo e tentou entender o que raios ele queria dizer com aquilo. "Não vai estar lá"? Como assim?

– O quê? Como assim?

– Eu não vou, Jess. - disse ele sentindo um aperto terrível no peito.

Jessica sentiu a respiração faltar durante cinco longos segundos. Derek devia estar de brincadeira naquele momento. Tinha que ser brincadeira.

– O quê?! - finalmente enlouqueceu - Como assim? O que raios está dizendo? Claro que você vai, ficou maluco?! - riu nervosamente tentando achar qualquer pegadinha naquilo tudo.

– Eu não vou no casamento, Jess. - concluiu com os olhos marejados - Eu não vou conseguir aguentar. Te ver sendo entregue para outro cara... Eu aguento qualquer coisa, menos isso.

– Mas você é meu melhor amigo! - Jessica estava desesperada, sentindo o sal de suas lágrimas atingir sua língua enquanto tentava argumentar - Você é meu melhor amigo, você tem que estar ali do meu lado! Não foi o que combinamos quando crianças?

– O que eu planejei não passa nem perto disso, acredite. - riu sem humor fazendo-a abaixar a cabeça envergonhada. Ele logo a entrelaçou novamente e levantou seu queixo, que tremia junto às lágrimas - Olha, eu te amo. - sorriu rapidamente, aquela frase realmente era muito bonita quando dita verdadeiramente - Te amo mais do que deveria, provavelmente. Jess, se eu te ver subir naquele altar e receber a aliança daquele moleque... Eu não sei o que faço. Ou morro de infarte ali mesmo ou te pego no colo e fujo contigo. - eles acabaram rindo com as testas coladas - Não pense que estou sendo cruel, princesa. Eu... Eu só não consigo mais aguentar isso tudo. Eu tentei, juro, tentei aceitar seu relacionamento. Me condeno todos os dias por ter aceitado ser seu ex-marido, pois sinto que ajudei a juntar você dois, encaminhei a coisa toda... Mas também agradeço por ter acontecido. Ou eu nunca teria descoberto meu amor por você, nunca teria experimentado esses lábios lindos e jamais teria desfrutado do amor de uma forma tão pura.

– Derek... - ela tentava falar mas os soluçços a atrapalhavam ridiculamente. Derek também.

– Shhh... Não fala nada não, você sabe que eu tô certo. - lamentou enfiando-a em seu abraço - Eu te amo tanto...

– Eu vou te achar. - declarou ela entre lágrimas - Eu... Eu vou te achar e você vai me ver casar. Você vai ver... Você está louco, Derek, louco, louco, louco... - McCann acabou rindo ao vê-la com o mesmo chilique que sofreu horas antes.

– Louco por você, gatinha, por isso estou fazendo isso. - riu fraco inspirando o perfume que emanava de seus cabelos e beijou-os levemente - Eu tenho que ir.

– Não! Não! Derek, pára com isso, não me deixa aqui, eu preciso de você! - Jess implorava enquanto segurava o braço do amigo que não parecia sentir o coração bater.

– Eu tenho que ir, Jess. Me desculpe. - pediu perdão por uma última vez e saiu desolado procurando a porta da saída, porém tendo uma interrupção.

Jessica, num ímpeto de velocidade e loucura, atacou-o com seus lábios, não se importando com Connor, casamento ou qualquer outra coisa. Sentia que molhava o rosto de Derek com suas lágrimas incessantes, porém não se importava. Apenas tentava se concentrar em suas línguas travando uma batalha, uma dolorosa batalha onde ela tentava fazer Derek ficar onde raios estava e não partir.

Mas ele já estava decidido, por mais difícil que fosse.

– Jess, pára. - pediu novamente ofegante, rindo da condição da amada: Nariz vermelho e lábios inchados. Indescutivelmente perfeita - Você não quer isso, não deixe as coisas mais difíceis, por favor.

– Você é um idiota, um retardado, um burro! - gritou tentando bater em seu tronco mas tendo seus punhos facilmente presos.

– Esqueceu-se do covarde e fraco. - adicionou rindo fraco e aproximou-se, colando os lábios trêmulos na testa da amada - Eu te amo, princesa. Tenha o seu casamento dos sonhos e vista sua coroa. E obrigado por me fazer o homem mais feliz do mundo desde que me lembro por gente.

Jessica soluçou e fechou os olhos pelas lágrimas. Quando os abriu, Derek já havia partido. Foi então que percebeu, havia perdido-o. Desabou na grama querendo afogar-se nas próprias lágrimas. Porém, acima de tudo, queria poder amar Derek quando lhe era disponível. Ser inteligente o bastante para percebê-lo. Claro, Derek McCann! O homem mais perfeito do mundo! E seu melhor amigo! Como pôde ter sido tão idiota?

Enquanto isso, Derek cruzava o jardim de entrada em direção ao carro de Chaz de uma forma um tanto desconhecida. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas incessantes e ele sentia que uma facada havia atingido-o bem no coração. Logo entrou no veículo e desabou no painel, sendo assistido pelo amigo assustado.

– Me leve para um bar. - pediu roboticamente tentando se recuperar, ofegante e definitivamente hiperventilando.

– Wow, Derek, peraí... Não quer convers... - Chaz tentou reverter o que era um tanto irreversível mas foi cortado rudemente.

– Me. Leve. Para. Um. Bar. Agora. - ordenou já recuperado com os olhos fixos a sua frente.

Chaz não contestou e ligou o carro em busca de qualquer estabelecimento com dopadores de cérebros para o amigo. Sua situação era simplesmente deplorável. Tudo que ele desejava é que o amigo superasse mais uma desgraça, como é que a vida poderia ser tão cruel assim com um homem tão bom? Iria ele conseguir se reerguer?

***

– Caleb, não! - Jazmyn gritou ao levar mais uma almofadada do "namoradinho" bem na cabeça - Isso doeu, tá?

– Oh, minha princesa! - ele soltou o objeto e correu até ela, jogando-se em cima de seu corpo, no sofá. Julie só murmurou um "hmmmmmm!"

Os meninos riram e voltaram a brincar animadamente. Até a porta abrir brutalmente e Derek aparecer na sala, confuso. Os olhos marejados do pai petrificaram Julie e Jazmyn, que voltou a rezar pela alma de Caleb. Desta vez o garoto não escaparia.

– Posso saber o que está acontecendo aqui? - perguntou jogando as chaves na mesinha mais próxima e esperou alguma resposta. Julie tentou correr para as escadas mas o pai impediu - Não tão rápido, mocinha. Pode sentar ali. O que está havendo?

– Pai, não sei se você conhece... - Jazzy tentou apresentar o garoto mas foi interrompida.

– O moleque que enfiou a língua na sua boca, sim, sei que é. Não precisa apresentar não. - Derek sorriu ironicamente enquanto apertava a mão do menino. Jazzy gelou e Julie começou a rir discretamente - E então, o que ele faz aqui? Já não fez o bastante nas Bahamas?

– Pai! - a menina o repreendeu.

– O quê? Estou mentindo, por acaso? - perguntou com a mão esquerda sobre o peito num ato surpreso - Ela já a engoliu lá, o que raios está fazendo aqui?

Caleb estava completamente petrificado. Sentia que ia apagar a qualquer minuto, Derek parecia estar a segundos, milésimos de enforcá-lo com aqueles olhos vermelhos. De repente, fazer-se de corajoso não foi uma ideia tão boa assim, considerando o fato de ele poder sair dali a là Fresh Prince of Bel-Air.

– Eu... - seu próprio cérebro o traía naquele momento - Eu vim... Vim por que eu gosto muito da sua filha, senhor, e as minhas intenções são as melhores possíveis... Não que existam quaisquer intenções, por que temos treze anos e isso não é legal! - consertou ao ver o olhar impressionado do homem - Mas eu gosto muito, muito mesmo da Jazzy e adoraria conquistar um espacinho na sua família.

Derek permaneceu pensativo por, no mínimo, dez minutos. O silêncio mortal na sala de estar denunciava a raiva potencial que sentia. Aquilo era o que faltava. Primeiro, esmagar seu coração em decidir deixar Jessica sozinha em um dos dias mais importantes de sua vida. Depois, um moleque jurando amor eterno à sua filha, tendo a coragem de sair das Bahamas para pedir sua permissão para namorá-la. Aquele dia não podia ser pior.

– Isso não pode estar acontecendo. - murmurou jogando-se no sofá, rapidamente tendo seus cabelos afagados pela filha maior - Se soubesse o que estou passando, moleque, pensaria duas vezes antes de aparecer aqui.

– Acredite, eu pensei. - Caleb rebateu risonho - Sei que o senhor protege suas filhas ao extremo e admiro isso. - Derek riu fraco enquanto mirava fixamente o teto - Mas eu gosto mesmo da Jazzy. Muito mesmo.

A menina corou ao encontrar os olhos o garoto e Derek apenas segurava o riso ao ver a cena. Tinha que admitir, aquilo era fofo. Logo lembrou-se de seus tempos de adolescente, onde praticamente formou a Terceira - ou Segunda - Guerra Mundial para ficar com Shay. Aquele garotinho lembrava a si mesmo na perseverança. Por isso, decidiu dar-lhes uma chance. Jazmyn tinha juízo para dar e vender, não traria-lhe problemas. Já era hora de baixar a guarda, a garota já estava bem crescida.

– Acho que podemos... Tentar... - murmurou num tom derrotado proposital enquanto brincava com os cabelos da filha maior - Mas não me decepcione, por favor.

Acabou rindo com o chilique repentino da filha onde ela pulou em seu colo pela felicidade. Jazmyn ainda não acreditava que o pai havia cedido, nunca havia conhecido um homem tão teimoso como Derek McCann. Mas aquilo não importava. Caleb estava aceito e ela finalmente poderia namorar.

– Eu não vou decepcionar, prometo. - declarou antes de beijá-lo na bochecha. Logo lembrou - E a tia Jess, pai?

O sorriso logo murchou do rosto do homem. Claro, ainda que a felicidade estivesse ali presente com o sorriso das filhas, o fator tristeza também ganhava espaço. Respirou fundo e chamou a atenção de Julie, que assistia a um desenho animado.

– Precisamos conversar. - disse olhando-as receoso.

Jazmyn e Julie apenas esperaram confusas e com um certo medo do que viria. Seria algo ruim?

***

– Mas... Nós vamos, né? - Julie perguntou primeiramente depois da explicação de Derek, fazendo-o rir baixo e Jazmyn o repreender com um tapa no braço.

– Sim. Tio Chaz vai tomar conta de vocês.

– Pai, por que o senhor não vai falar com ela? - Jazzy sugeriu triste pelo estado do pai. Derek suspirou.

– Eu já falei, meu amor. E outra, eu não posso simplesmente ferrar tudo deste jeito. Não é para ser, só isso. - era horrível chegar nesta conclusão, mas também, era a pura verdade.

Caleb só assistia tudo quieto e confuso. O que raios havia acontecido para que Derek tomasse tamanha decisão? Qual seria o problema?

– Não sei se posso perguntar, mas... - começou receoso - O que aconteceu?

– Realmente não pode. - Derek comentou apertando os olhos, comentando a audácia do menino em se intrometer - Mas, se quer tanto saber, eu gosto da minha melhor amiga e ela vai se casar hoje.

Derek estranhou a reação risonha do menino a sua frente, como se aquilo fosse algo completamente esperado. Apenas aguardou o ataque de risos um tanto desdenhosos acabar para perguntar-lhe do que diabos estava rindo numa situação tão crítica como aquela. Um péssimo começo de namoro, era bom colocar.

– Meu pai sofreu o mesmo. - explicou depois das risadas - Ele era completamente apaixonado pela minha mãe e, quando ficou sabendo que ela iria se casar, enlouqueceu.

– E o que ele fez? - Derek perguntou interessado, esquecendo-se totalmente da má impressão.

– Impressionou. - respondeu normalmente - Recitou um poema de criação própria no meio do brinde de recém-casados. Minha mãe sempre amou o fato de ele ser um poeta incubado e o apoiava veementemente. Então, ele resolveu ganhá-la pelo que ela gostava.

De repente, uma lâmpada acendeu-se na cabeça de Derek. Aquilo podia ser loucura, mas ele acabara de ter uma ideia um tanto... Não ortodoxa. Odiava admitir, mas aquele molequinho havia dado-lhe uma ótima ideia. Ele só não sabia como realmente desenvolvê-la. E se levaria um belo soco pela ousadia.

***

– Jess! Eu não posso te ver, amor! O que faz aqui? - perguntou Connor confuso brincando de tampar os olhos. Logo parou ao perceber o olhar triste e perdido da noiva - O que foi? Nossa, você está lin...

– Precisamos conversar. - cortou ela com a voz rouca, denunciando que havia chorado - Uma conversa séria.

Connor assentiu confuso e assustado enquanto se dirigia para a cama e sugeria para Jess fazer o mesmo. Ela negou, permanecendo de pé, o que o fez sentar no colchão sozinho enquanto segurava sua gravata. O medo começava a consumi-lo pouco a pouco.

– Pode falar.

Jessica quase desistiu ao ver o olhar inocente e feliz do namorado. Aquilo simplesmente não era justo. Tudo seria tão mais fácil se ela tivesse sido inteligente o bastante para ficar com Derek. Por que raios resolveu se envolver com alguém que não amava? Para depois confessar tudo e magoá-la? Que porcaria de pessoa era, afinal? Aquilo não importava. Ela estava disposta a contar toda a verdade para Connor, não terminando com ele, mas se recusando a viver com mais uma mentira. A que se estendia já valia por todas as outras juntas.

Respirou fundo procurando as palavras certas e resolveu prosseguir:

– Eu menti para você. - começou sentindo os olhos marejados - Eu comecei nosso relacionamento com uma mentira. Na verdade, nosso relacionamento veio de uma mentira, então... - foi cortada rapidamente.

– Peraí. - Connor pediu sentindo-se meio zonzo - O que está dizendo? Está dizendo que mentiu para mim? Como assim, Jessica? Eu não estou entendendo.

– Eu nunca fui casada. - confessou cabisbaixa, Connor arregalou os olhos - Quer dizer, eu já fui casada sim, mas não com Derek. Só me escuta, ok? - pediu antecipadamente ao perceber que ele contestaria mais uma vez - O nome do meu ex-marido é Mark. Um estúpido alcoólotra que sumiu no mundo. Desde então, eu levava uma vida de encontros rápidos e festas. Derek é meu melhor amigo, nos conhecemos desde bebês. - riu rapidamente ao lembrar dos vários momentos com o homem - Ele sempre me repreendia por levar uma vida tão desgastante e incomum. Sempre sugeria que eu encontrasse alguém permanente. Foi então que eu te conheci. - seus olhos começaram a marejar significativamente - Não era para você ter visto a aliança no nosso primeiro encontro. Então, tive que confessar minha história terrível de separação. Mas eu não esperava que você quisesse conhecer meu ex-marido para podermos ficar juntos, e eu não podia, nem sabia como contatar Mark para uma conversa. Foi então que eu pedi para Derek me ajudar.

– Então você está dizendo que obrigou Derek a passar-se por seu ex-marido para poder me namorar? - o menino perguntou atônito por tamanha confissão. O que era aquilo?

– Sim. - disse ela um tanto envergonhada - Quer dizer, eu conversei com ele e ele decidiu me ajudar. E então ele foi passando-se por meu ex-marido todos esses meses. O combinado era apenas um dia, como aquele filme, sabe? - comentou aleatoriamente - Mas então você sugeriu a viagem para as Bahamas, porque gostou dele.

– Eu gostei mesmo. - confessou contrariado com a expressão abismada.

– Eu não te julgo, o homem parece um anjo. - Jess comentou ignorando o olhar do noivo - Tivemos que prolongar a mentira, até porque o nosso relacionamento estava no começo e eu não queria te perder.

Era um tanto desconfortável dizer aquilo. Jessica tinha que confessar, havia interessado-se por Connor, gostava dele. Mas Derek ocupava um espaço muito maior em seu peito, ela só demorou muito para perceber isso. Chegava a ser ridículo perceber o quão cega havia sido durante tanto tempo.

– Tudo correu muito bem, com o Derek e as meninas, que, a propósito, não são minhas filhas. - comentou rapidamente, fazendo o homem arregalar os olhos novamente - Mas então... Algo inesperado aconteceu.

– E o que foi? - perguntou ele desistente de compreender qualquer coisa.

– Eu me apaixonei.– confessou sentindo a primeira lágrima tocar sua bochecha - Eu comecei a sentir... Coisas incomuns, completamente proibidas mas totalmente verdadeiras.

– Se apaixonou por Derek. - disse ele rindo sem humor algum - Claro que sim.

– Eu não fazia ideia de que isso ia acontecer, acredite. - Jessica comentou sinceramente - Eu... Sei lá, acordei e percebi.

– E você veio mentindo todo este tempo para mim?! - Connor finalmente estourou, començando a assimilar tudo - Você aceitou namorar comigo, mentiu para mim, aceitou meu pedido de casamento... Para quê? Para, no dia da cerimônia, você confessar tudo, como está fazendo agora? O que faria se estivesse no meu lugar? Como reagiria?

Jessica sentiu se envergonhada. Connor tinha razão. Só Deus tinha o consentimento e total entendimento do quão arrependida estava em continuar com aquilo sabendo de seus verdadeiros sentimentos. Porém, não havia muito para se fazer. Tudo que podia ser feito, Jessica estava tentando.

– E como você espera que eu interprete tudo isso?! - perguntou indignado - Como espera que eu supere isso? Como é que eu vou viver com você sabendo que você ama outro homem?

– Podemos terminar aqui, se você quiser. - Jessica rebateu prontamente - Faremos o que você achar melhor. Nada mais justo.

– Não. - disse num tom aparentemente normal, mas que escondia um conflito interno imenso - Não vamos terminar nada. Nós vamos nos casar e você vai esquecer o Derek.

Jessica arregalou os olhos assustada pela resposta impressionante. Não conseguiu compreender muito bem o que ele quis dizer com tudo aquilo. E começou a questionar sua sanidade naquele momento.

– O quê?

– Você vai esquecer ele! - ordenou com os olhos arregalados enquanto voltava a arrumar-se - Jessica, será que não entende? Somos feitos um para o outro, por isso estamos juntos! Você ACHA que ama o Derek, mas é só um vínculo muito grande! Você vai ver, nós vamos nos casar e você vai ser a mulher mais feliz do mundo. Comigo. - frisou a última palavra olhando no fundo de sua alma e saiu do quarto, deixando-a estática no lugar.

Aquilo passou longe do esperado. Connor não devia ter reagido daquela maneira. Ele parecia... Um louco, um robô colocado para uma missão, sem chance de desistência. Ele realmente a ama Tinha que admitir, estava com um certo medo do que viria pela frente. E do que Connor poderia fazer se houvesse qualquer interrupção, por menor que fosse. Algo lhe dizia que aquela cerimônia aguardava muitas surpresas.

***

– Eu sabia que você não ia ser idiota, Derek! Nossa velho, eu te amo! - Chaz declarou abraçando-o animadamente depois de ouvir o novo plano, fazendo Jazmyn, Julie e Caleb rirem.

– Calma aí, seu gay, relaxa! - disse se afastando - E então, pode ficar com eles?

– E ainda pergunta? Mas é claro que sim! - logo percebeu o menino - Hey, eu não te conheço?

– Conhece. - Caleb respondeu risonho.

Chaz demorou um pouco para assimilar tudo. Aquele dia realmente trazia muitas surpresas.

– Derek, não te reconheço mais. - declarou depois de entender tudo. Todos riram e colocaram-se a postos: Chaz e as crianças num carro, Derek e suas ferramentas no outro.

Era a hora do show. Literalmente. 

***

Faltavam um pouco mais de vinte minutos para os votos e Jessica ainda estava um pouco assustada. Não havia trocado uma palavra sequer com Connor depois de sua confissão impressionante, ficando abismada com o fato de ele reagir como se nada tivesse acontecido. Aquilo a deixou com um pouco de medo, aquele tipo de reação era um tanto... Psicopata, se for bem analisada. E tudo que ela queria é que Derek estivesse ali para ajudá-la... Logo perguntou-se onde ele estava, o que estaria fazendo. E foi tirada de seus devaneios depressivos pelos amigos.

– Hey! Bela festa! – Chaz chegou pomposo fazendo todos rirem – O quê? Não posso me orgulhar de um trabalho próprio?

– Claro que pode, Chazzy. – Jess disse acariciando os cabelos das meninas, silenciosamente esperançosa sobre a chegada de Derek.

Porque, claro, ele poderia muito bem aparecer ali. Talvez estivesse estacionando o carro. Seria um alívio se ele entrasse por aquela porta. Levaria a surra de sua vida pelo susto, mas pelo menos estaria ali, certo? Porém, depois de alguns minutos, a esperança foi diminuindo. Derek realmente havia partido para sabe-se lá onde e não apareceria no dia mais importante de sua vida.

– Aproveitem a festa! – disse fingindo animação enquanto cumprimentava mais convidados. Logo olhou para Chaz, não precisava mentir para ele. Apenas respirou fundo e agradeceu silenciosamente pelo apoio. Aquela noite seria complicada.

***

– Hora do brinde! – o pai de Jess avisou batendo levemente uma colher na taça de cristal, fazendo Jessica sobressaltar na cadeira, já que estava com o olhar perdido na entrada do local e Chaz ficar em alerta. A hora havia chegado.

– Ligue para ele. – pediu discretamente para Jazmyn, que logo assentiu saindo pelos fundos com Caleb.

Antes de o brinde começar, percebeu-se uma movimentação estranha. Os convidados, confusos, mexiam as cabeças procurando qual seria o motivo do alvoroço repentino. Jessica, já alerta, também procurava o porquê da movimentação, que já rendia alguns comentários. Olhou para Chaz, o homem estava tranqüilo, até rindo da reação das pessoas, assim como Julie, Jazmyn e Caleb. De repente, sua respiração foi interrompida. Olhou para a entrada, a entrada que tanto esperava, sorrindo involuntariamente ao vê-lo ali. Derek estava ali.

– Ai meu Deus. – deixou escapar vendo-o entrar com um sorriso envergonhado. Logo riu fraco, sabia como o amigo odiava chamar atenção. Algo um tanto irônico, na verdade.

E então percebeu um objeto que segurava. Derek segurava... Um violão. Logo atrás de si, o mesmo homem que o ajudou na apresentação das Bahamas. Lembrou do nome de Dan na mesma velocidade de sua semelhança. Olhou novamente para Chaz, o homem sorria como se soubesse que aquilo aconteceria. Logo ligou os pontos: Derek preparou uma surpresa para ela!

Derek tomou seu lugar no palco e, praticamente cego pelo holofote que provavelmente teria sido encomendado por Chaz, sorriu pela primeira vez para o público assustado e impressionado, procurando o melhor amigo, suas filhas, Caleb e, a mais importante, Jessica. Tentou ignorar o olhar fulminante de Connor sobre ele. Apenas rezou para que o menino não tivesse uma arma embaixo da mesa, ficando em alerta com possíveis taças ou qualquer outro objeto cortante em sua direção.

– Bom, oi. – disse risonho, fazendo todos rirem pelo nervoso - Espero que estejam se divertindo nesta festa linda. Ainda bem que não choveu! – brincou comentando o campo externo, arrancando mais risadas dos presentes.

E Jessica só agradecia aos céus por Derek estar ali. Realmente não podia estar mais feliz, sendo capaz de ignorar até Connor e seu medo de ele fazer qualquer coisa. O olhar perturbado do menino denunciava sua raiva quase que imediatamente.

– Senhor James, lembra quando combinamos que Jessica nunca se casaria? – perguntou ao pai de Jess, que sorriu assentindo, fazendo a filha corar – Parece que não deu muito certo. Se me permite, você está linda, Jess.

A mulher sorriu envergonhada para o amigo, agradecendo silenciosamente pelo elogio. Derek continuou seu discurso que precedia sua surpresa:

– Eu quero apresentar uma coisa para vocês. Na verdade, é o meu presente para os noivos. – era bem claro que com “os noivos”, Derek queria dizer “a noiva” - Então preciso que escutem com atenção.

Todos vibraram com a surpresa um tanto impressionante de Derek, jamais pensavam que o homem cantava. Jessica sentiu os olhos marejarem enquanto ouvia a introdução que saía dos dedos de Dan que dedilhava o violão, enquanto o amigo se preparava para começar a cantar.

Logo começou: [http://migre.me/8NUGO] << quem não tiver essa música é só clicar com o botão direito e salvar c:

Across the ocean, across the sea, (Do outro lado do oceano, pelo mar)

Starting to forget the way you look at me now. (Começando a esquecer o jeito que você me olha agora.)

Over the ocean, across the sky, (Sobre o oceano, e pelo céu)

Starting to forget the way you look in my eyes. (Começando a esquecer o jeito que você me olha nos olhos.)

For you, oooh… (Por você, oooh...)

I’d walk a thousand miles to be in your arms, holding my heart. (Eu andaria mil quilômetros para estar em seus braços, segurando meu coração.)

Oh I, oh I… I love you. (Oh eu, oh eu... Eu te amo.)

And everything’s gonna be alright. (E tudo vai ficar bem.)

Jessica ouvia tudo aquilo abismada. Derek parecia… Estar se declarando para ela. Mas era uma declaração um tanto bizarra. Ele parecia estar... Se despedindo dela.

Through your sorrow and the fights, (Mesmo com os conflitos e brigas,)

Don’t you worry. (Não se preocupe.)

‘Cause everything’s gonna be alright. (Porque tudo ficará bem.)

All alone in my room, waiting for your phone call to come soon. (Sozinho no meu quarto, esperando sua ligação chegar logo.)

And for you, oooh… (E por você, oooh...)

I’d walk a thousand miles to be in your arms, holding my heart. (Eu andaria mil quilômetros para estar em seus braços, segurando meu coração.)

Oh I, oh I… I love you. (Oh eu, oh eu... Eu te amo.)

And everything’s gonna be alright. (E tudo vai ficar bem.)

Be alright. (Ficar bem.)

Aquilo já estava bem claro para todos. Não era um presente para os noivos, pelo menos não para os dois. Jessica e nem mesmo Derek se importaram. Já tinham sofrido demais com tudo aquilo, precisavam ser corajosos o bastante pelo menos uma vez na vida e deixar claro o que sentiam. Ainda que ele estivesse decidido em partir.

You know that I care for you, I’ll always be there for you (Você sabe que eu me importo, eu sempre estarei lá por você)

Promise I’ll stay right here. (Prometo que ficarei bem aqui.)

I know that you want me too, baby we can make it through anything… (Eu sei que você me quer também, podemos superar qualquer coisa, baby...)

‘Cause everything’s gonna be alright… (Porque tudo vai ficar bem...)

Be alright… (Ficar bem...)

Alguns gritos positivos eram audíveis na plateia impressionada, assim como os comentários. Derek estava praticamente colocando o coração para fora, confessando para Deus e o mundo que amava Jessica com todas as forças e sabia que era correspondido. Mas, também, dizia que, apesar de tudo,das brigas, conflitos e desentendimentos, nada mudaria entre eles. Derek continuaria apaixonado por ela, jurando seu coração sem arrependimento algum. Também queria dizer que partiria.

Ou seja, ele não iria ficar.

E Jessica já havia percebido isso.

– Hã, isso é tudo que eu tenho até agora, acham que conseguem cantar o refrão? – pediu ao perceber que os comentários já se tornavam constantes e altos – Vamos lá, ok?

E então os convidados tentaram segui-lo na cantoria, amenizando minimamente o clima. Jessica estava petrificada enquanto não tirava os olhos de Derek. Não conseguia acreditar que ele faria mesmo aquilo. Por que raios apareceu ali, então? Se despedir? É isso que ele queria? Queria que ela clamasse por sua permanência por pura dependência? Derek era um completo idiota.

Um idiota que ela amava.

Dito e feito. Ao final da música, o coro de palmas e gritos não deixou a voz do homem audível. Jessica só conseguiu ler seus lábios trêmulos que formavam um “eu te amo” claramente contrariado. E então, do mesmo jeito que entrou, saiu, deixando todos confusos, inclusive Chaz, que achava que o homem desistiria daquela idéia insana.

– Isso foi, no mínimo, ridículo. – Connor declarou num tom vitorioso por Derek não fazer o que ele achava que faria – Bom, pelo menos acabou, não é? Finalmente estamos livres dele, Jess. Já chega deste homem na nossa vida.

Ela não conseguiu ouvir palavra alguma. Tudo que saía da boca de Connor entrava como sussurros ou murmúrios, seu cérebro formava uma substância de raiva que seria considerada mortal. Derek podia ir para a puta que pariu, mas não faria aquilo com ela. Não depois de tudo que passaram. Não a essa altura do campeonato.

– Me desculpe. - disse simplesmente antes de pegar a barra do vestido e correr pelos corredores em direção a saída.

Chaz e as crianças apenas a seguiram confusos enquanto os convidados continuavam comentando. Connor permaneceu estático na mesa de recém-casados, a taça para o brinde tremendo pela raiva. Mas, apesar de tudo, ela tinha que admitir. Jessica amava Derek mais do que a si mesmo, se duvidasse. Aquilo, por mais doloroso que fosse, era inevitável a certo ponto.

***

– Onde ele está? Eu sei que você sabe, Chaz, ande, vamos! - gritou para o homem enquanto entrava em seu carro, a indireta perfeita para levá-la onde quer que Derek estivesse.

Mas Chaz não sabia de nada, estava tão impressionado quanto ela!

– Eu não sei, sério! - gritou em resosta fazendo as crianças rirem pelo nervoso - Mas sei que ele pensava em viajar quando conversamos.

– AEROPORTO! - Jess gritou ainda mais alto apontando para frente, fazendo até mesmo Chaz vacilar nas risadas. Aquele momento não podia ser mais bizarro.

Porém, Derek ir embora para qualquer lugar que fosse sem ouvir o que Jess tinha para dizer era algo que realmente não aconteceria.

***

– Muito obrigado. - a voz embargada de Derek amoleceu o coração da atendente, que quis fazer algo mais que somente entregar-lhe uma passagem.

O homem estava desolado. No começo, a surpresa para Jessica pareceu algo tão... Correto! Ele se declararia, e tudo ficaria às claras para todos! Porém, depois de experienciar aquilo, viu o quanto doeu. Não esperava que Jessica estaria tão perfeita a ponto de fazê-lo pensar em desistir de dizer o que sentia. Nada tão anormal, a garota era perfeita.

Continuando seu período de depressão, ele sentou-se novamente em um dos diversos bancos um tanto desconfortáveis e esperou as chamadas. Iria para bem longe, precisava se desligar daquele caos. Se permanecesse ali, ficaria louco. Morreria, talvez. Indo para longe, pelo menos teria algo para de distrair. Seria muito difícil, mas pelo menos ele estava tentando. E então, de repente, uma aglomeração se formou na entrada do aeroporto. Não se importou de primeira, até ver quem vinha em sua direção.

– Ok, isto é uma miragem, né? - perguntou baixinho para qualquer força estranha que pudesse ter trazido Jessica para aquele lugar. Como é que raios ela sabia que ele estava ali? Não podia culpar Chaz, por mais que fosse de seu hábito, nem o melhor amigo sabia!

Porém, não era uma Jessica qualquer.

Era uma Jessica brava, com a maquiagem borrada, vestida de noiva e com os olhos flamejantes. Derek não conseguiu julgar aquilo como algo bom ou ruim, a garota estava uma verdadeira bagunça. Uma perfeita bagunça.

– Jess...? - perguntou em busca de veracidade do fato da amada realmente estar ali - O que você... Ai!

Não conseguiu terminar sua série de perguntas abismadas por sentir uma dor aguda e contínua depois de um estalo no rosto. Logo percebeu, havia levado um tapa. Enquanto massageava a área atingida, perguntava-se por que raios aquela garota havia feito aquilo.

– Tudo bem, acho que mereço, afinal de contas. - confessou com uma careta - Mas eu não entendi muito bem porque fez isso agora. Posso saber?

– Na verdade, pode sim! - disse ela rindo sarcasticamente - Você pode saber o porquê disso. Mas sabe o que você não pode? Não pode simplesmente jogar fora tudo que a gente teve e fugir deste jeito! Você é sempre a donzela em perigo!– elevou a voz sem se importar com o resto do aeroporto, que a assistia confuso e assustado - Você não pode me beijar um dia, me provocar e depois me ignorar do nada. Você não pode ser tão perfeito e roubar meu coração deste jeito. E o principal... - respirou fundo e continuou, espalhando ainda mais a maquiagem pelo rosto - Você não pode dizer que me ama, ir até a minha cerimônia, se declarar, foder com todo o meu planejamento de vida perfeita com alguém que realmente me ama e ir embora sem ouvir que eu te amo também mais do que tudo nesta vida, Derek Drew McCann. Simplesmente não pode.

A onda de surpresa repentina pelas últimas palavras um tanto impressionantes de Jessica atingiu não só Derek, mas o aeroporto inteiro. Logo ele estava sorrindo aliviado, não acreditando que aquilo estava acontecendo. Era sua felicidade querendo aparecer, finalmente. a felicidade, nos olhos borrados e perfeitos daquela garota ali na sua frente.

– Você é louca. - murmurou com um sorriso permanente enquanto se aproximava com os olhos brilhando - Mas é minha.

E então a beijou, sentindo todos os pesos possíveis saindo de suas costas. O coro de palmas do restos das pessoas foi obviamente inevitável. Derek sorriu enquanto sentia seus lábios brincando com os dela, agradecendo a tudo que um dia foi sagrado ou não por aquilo ter acontecido. Finalmente poderia ser feliz. Finalmente poderia acordar e se enfiar nos cabelos de Jess sem se importar com qualquer outro impecilho. Finalmente havia encontrado seu verdadeiro amor. Do jeito mais bizarro possível. Do lado da menina que esteve consigo desde o dia que nasceu.

– Quer ser meu esposo de verdade, agora? - perguntou ela limpando as lágriams incessantes, fazendo Derek rir.

– Hoje, amanhã e sempre. - respondeu ele antes de beijá-la mais uma vez, fazendo concretizado o sonho de, bom, de toda a sua vida.

FIM

 

 

 

 

***

– Espero que você saiba que eu não iria embora. - Derek comentou enquanto mastigava seu lanche junto com as filhas, Caleb, Chaz e, claro, Jessica. Às duas horas da manhã num estabelecimento milagroso do Burger King.

– Como assim? - a mulher perguntou confusa e impressionada.

– Eu só ia passar uns dias na França. - disse ele despreocupado - Eu precisava de um tempo para pensar.

O coro de gargalhadas acabou assustando os clientes. Porém, não havia nada mais assustador do que um grupo de pessoas, onde uma delas vestia-se de noiva, com a maquiagem borrada e o cabelo todo emaranhado.

– Então você ia voltar?! - perguntou indignada vendo todo o resto quase engasgar em risadas enquanto Derek assentia - Não acredito que ferrei com mais um casamento por sua causa, Derek.

– Hey, pelo menos você vestiu sua bendita coroa! - disse consolador lembrando-se de algo que ouviu durante 20 longos anos de sua vida.

– É verdade! - disse e logo tocou seu cabelo, sentindo a ausência de algo nele - Oh não! Deve ter caído enquanto eu corria para aquele aeroporto estúpido! Mas que droga, Derek.

Todos continuaram rindo com a birra de Jess, inclusive Derek. E então, num ato um tanto discreto, ele aproveitou que estava perto do caixa e se dirigiu até lá. Pediu uma coroa de papel para a atendente, que estendeu-lhe com uma expressão um tanto... Retardada. Resolveu ignorar tal fato e voltou para a mesa, desta vez atrás de Jessica.

– Pronto, minha princesa.– disse colocando a coroa em sua cabeça e beijando seus cabelos levemente, fazendo-a sorrir envergonhada.

E eles continuaram ali, comendo animadamente, conversando sobre assuntos um tanto banais e se divertindo. Do jeito que sempre foram. Derek olhava Jessica rir angelicalmente enquanto brincava com Julie um tanto... Maravilhado. Logo riu consigo mesmo, nada ali era fora do normal. Aquela paisagem, aquele panorama estonteante do que ele podia chamar de "família" era tão natural que o fazia praticamente se xingar em voz alta por demorar tanto para fazer acontecer. Nada ali era anormal. Tudo certo. Tudo do jeito que deveria ser.



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Notas finais do capítulo

I LOVE YOU ALL SO FUCKING MUCH, OH MY GOD