O Que Acontece Embaixo Da Terra escrita por Anna_Voig


Capítulo 1
Capítulo Único




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Caroline sempre foi um adolescente decidida. Desde seus anos de fundamental, sabia o que queria ser, e sabia o que iria se tornar. Seus sonhos eram uma boa faculdade e um bom cargo em uma ótima empresa de ciência. Homens? Nunca estiveram inclusos em seus planos.

            Hoje, mulher, ela havia sim conseguido conquistar seus sonhos, mesmo que todas as probabilidades falassem o contrário. Havia somente um porém, que ela não contava, e que se postava agora à sua frente, sentada na cadeira de presidente da Aperture Science. Seu nome era Cave Johnson.

            Quando saíra da faculdade, com todos os méritos, obrigada, logo choveram ofertas de emprego. Mas a que mais chamou sua atenção foi a de uma pequena empresa, que estava necessitando desesperadamente, ou pelo menos ela deduziu isso, visto o salario, de uma vice-presidente que prezasse a ciência mais do que, talvez, a sua própria vida.

Sim, Aperture Science era uma pequena empresa na época, fazendo

alguns trabalhos militares aqui, e outros lá. Sim, Caroline havia recebido propostas mais promissoras. Mas seu instinto a dizia para aceitar justamente essa, e assim fez.

Quando chegou no local indicado, estranhou ao ver uma simples casinha no meio de uma plantação e trigo. Pensou em desistir, mas seu orgulho não a permitia. Faria a entrevista, e, se fosse aprovada, e se ainda quisesse, desistiria.

Mas Caroline foi surpreendida pela estrutura gigantesca que havia embaixo da terra. Aparentemente, o lugar era uma antiga mina de sal, que nunca dera certo (ela se perguntava quem era o idiota que tentava achar sal longe do mar), e o presidente havia comprado para a instalação da empresa. E ela se assustou maus ainda quando descobriu que, antes da entrevista, faria um teste.

A acomodaram em uma sala e a entregaram a prova, apressados. Todos usavam aventais brancos, e sempre estavam ocupados. Foi nessa hora que decidiu que era ali mesmo que queria trabalhar.

A prova era de lógica. Os primeiros testes até um macaco bem treinado resolveria, mas, ao se aproximar do final, os testes eram tão demorados e difíceis que Caroline perdeu a noção de tempo. Não sabia que horas eram quando entregou o teste, mas grande parte dos homens de avental haviam sumido. O único que encontrara fora um garoto de sua idade, mais ou menos, e ele estava um tanto inquieto. Ele a acompanhou até a sala do presidente, e, nessa hora, Caroline o conheceu. Cave Johnson estava a esperando, seus olhos a analisando atentamente. O garoto inquieto entregou a prova para ele, que agradeceu, chamando o garoto de Doug, e logo estavam somente ele e ela na sala. Ele leu a prova, a fazendo perguntas, e rindo dependendo da resposta que recebia.

Quando saiu da empresa, já tarde da noite, Caroline só tinha três certezas: a primeira é que fora aprovada. A segunda é que começaria a trabalhar no dia seguinte, e a terceira é que seu novo chefe era muito bem humorado.

O seu primeiro dia de trabalho não havia sido muito turbulento. Doug, o cientista de ontem, a apresentara à equipe e às pesquisas. Caroline ficara especialmente interessada na proposta de um gel para substituir os pudins de dietas que eram vendidos no mercado. Passou o resto dos dias ajudando os cientistas e levando de um lado para o outro as novas ideias mirabolantes de Cave.

Até um dia, depois de quase um ano de trabalho, que uma ideia surgiu em sua cabeça. E, como toda boa funcionaria, logo a relatou para Cave. E o diretor gostou tanto da ideia que a primeira reação que teve foi abraçar a menina e a girar, gritando que iriam ficar ricos. E assim, o gel de repulsão foi criado.

 A ideia inicial era um gel que rejeitasse o que era de excesso, mas, para Cave, tudo era excesso. Portanto depois de muita discussão, muitas contas, misturas mal sucedidas, e explosões por todos os prédios, o gel finalmente foi para as prateleiras dos supermercados. E, como Cave diria, Caroline passou de apenas Caroline para os pilares que sustentavam a Aperture Science.

Eles ganharam muito dinheiro, o que os possibilitou o investimento em um grande projeto militar. Foi a época em que Caroline menos se envolveu com o  projeto, e passou mais tempo com o presidente,  ajudando em novos projetos e à planejar as salas de testes do projeto militar. Cada dia eles passavam mais e mais tempo juntos, e foi inevitável para a mulher, na época que os turrets, robôs atiradores, estavam prontos, ela estar apaixonada por Cave Johnson.

Então veio a primeira época negra. Depois de milhares de processos contra a empresa, alegando que o gel de repulsão matava as pessoas por inanição, tiveram que retira-lo das prateleiras. Os processos deixavam Cave maluco, e quem teve que segurar as pontas foi Caroline.

Para não perder mais dinheiro, ela inventou as salas de teste do gel quando o que ele teria que repulsar seria nada mais nada menos que o corpo humano. Começaram a recrutar pessoas, e a taxa que cobravam na inscrição ajudou a manter a empresa de pé. Então, quando a época negra chegou ao fim, e Cave viu quem havia cuidado de sua preciosa Aperture Science, Caroline foi recompensada.

Os dois sabiam que aquele relacionamento poderia não dar certo. Afinal, ele era pouco mais que vinte anos mais velho que ela. Mas eles não ligaram. Tudo que importava para os dois era estarem fazendo ciência juntos. Não se casariam, e sabiam disso. Ciência era mais importante na vida deles.

Alguns meses depois, Cave chegou com uma ideia mirabolante, como todas as outras, e cara, como todas as outras. Mas Caroline sabia que  Cave não se importava com a quantidade de dinheiro gasto, desde que ciência fosse feita. E assim, o aparelho Portátil de Portátil da Aperture Science foi para o papel. Fora a época mais divertida da vida dela. Ela e Cave estavam profundamente envolvidos com as pesquisas, e todos os dias, algo novo aparecia nas mentes os pesquisadores e, consequentemente, no projeto.

Chegaram ao impasse de que o aparelho funcionava somente com gafanhotos. Portanto, recrutaram novamente, e injetaram em quase um exército inteiro genes de gafanhotos. Algum tempo depois, recrutaram mais um exército, dessa vez, para combater homens gafanhotos raivosos.

Recomeçaram o projeto, e Caroline veio com a ideia de usarem um mini buraco negro artificialmente criado. O projeto foi inteiramente reestruturado, e todas as boas ideias foram reaproveitadas. Todas as outras, é claro, foram demitidas da empresa.

Devido à falta  de pessoal, Cave e Caroline passaram a quase literalmente morar na Aperture. Comiam lá, dormiam lá, tomavam banho lá e até, as vezes, sumiam juntos, para fazer não se sabe o que lá. Foi então, algumas semanas depois, que Caroline descobriu que estava grávida.

No começo, não havia dito nada para Cave, afinal, sabia que o homem não queria um filho. Mas foi inevitável a descoberta quando não conseguiu segurar os enjoos no trabalho.

Pra dizer a verdade, Caroline também não queria ter filhos. Sabia que não conseguiria cuidar deles, e teria que abrir mão da ciência, o que, na idade dela, era inimaginável. Mas agora, que ela experimentava a sensação de ter um pequeno ser crescendo dentro dela, e não queria matar essa criança.. E, mais ainda, queria vê-la crescer, ajuda-la com seu primeiro projeto de ciência, vê-la completar seu primeiro teste.

Ela e Cave discutiram sobre isso. Pensaram em todas as possibilidades, Ou, pelo menos, os que eles achavam que eram todas.

Quando Douglas Rattman entrou na sala do chefe para os entregar café, ele não sabia no que estava se metendo. Cave o fez sentar, explicou o que estava acontecendo e fez o homem prometer que cuidaria bem da criança. E, pelo método de persuasão que Cave usava, Doug não teve outra escolha a não ser aceitar.

Nove meses depois, Douglas era o pai de uma bela garotinha que fora nomeada Chell. Com o passar do tempo, Caroline podia ver sua filha estava sendo bem cuidada, devido aos raros dias em que Rattman a trazia para a Aperture. Então, devido à saudade e à curiosidade, o Dia de Trazer sua Filha ao Trabalho foi criado.

As regras eram simples. Cada menina teria que fazer um projeto de ciência com a ajuda de algum funcionário da Aperture que não fosse o pai ou a mãe. E qual não fora a sua surpresa ao ver que justamente sua filha havia a escolhido?

Passou o resto do dia eufórica, mesmo que o projeto fosse uma bateria de batatas. Ela até colocou um composto químico que faria a voltagem da batata maior, mesmo que os efeitos colaterais não houvessem sida testados ainda.

Quando Chell ganhou o premio, Caroline não falaria isso para mais ninguém, mas falou somente para a garota que estava orgulhosa sela. E a menina respondeu que gostaria que, se um dia conhecesse a mãe, esperava que ela fosse igual Caroline. Depois disso, Caroline não foi mais vista pelo resto do dia.

Depois de alguns meses, o protótipo final do Aparelho Portátil de Portais ficou pronto, a Aperture estava quase falida. Mas nem Cave nem Caroline se importavam, pois sabiam que o gel propulsor que um dos meninos do laboratório havia criado paralelamente com o Aparelho, e que o próprio Aparelho seriam um sucesso de publico (até porque, o gel propulsor tinha gosto de laranja).

Portanto, mesmo que não pudesse gastar mais nem sete dólares, Cave apostou tudo e gastou sete bilhões de dólares em rochas lunares para um novo gel. Foi quando a Aperture enfrentou sua segunda época negra.

Descobriu-se que rochas lunares eram veneno puro se você ficasse muito tempo exposta à elas. E Cave havia. Foi o caos quando descobriram o que estava deixando o chefe doente. Ninguém mais queria testar para a Aperture, nem mesmo os mendigos que eles haviam pagando para testar seus produtos já a algum tempo. Funcionários agora eram obrigados a testar um vez por mês.

Doug sabia que a Aperture Science não iria mais existir do jeito que ela era depois de algum tempo. Então, sabendo que Chell, depois de ter ganho o premio da feira de ciências, vivia na empresa, Douglas fez com ela a única coisa que ele sabia que a deixaria em segurança durante a crise: a colocou para dormir em criogênio liquido.

Caroline não sabia disso. No momento, estava ocupada cuidando de Cave, e, quando descobri os planos dele, pela primeira vez ficou apreensiva de estar ali. Cave pedira para criarem um plano de mapeamento de mentes. Colocar, literalmente, seu cérebro entro de um computador. E dissera que, se o projeto fosse terminado depois da morte dele, Caroline cuidaria da Aperture, mesmo que isso significasse coloca-la dentro do computador no lugar dele.

Então, uma semana antes da conclusão do projeto, Cave morreu. Caroline ficou arrasada, e a única coisa que a deixava de pé era a ciência, pois nem sua filha tinha ali com ela. Todos os dias Caroline testava, testava e testava, e sua raiva contra a humanidade somente crescia. Doug tentou trazer a antiga Caroline, a Caroline que ele amava, de volta, Mas suas tentativas fracassaram.

Quando o projeto estava pronto, somente Rattman percebeu que o computador tinha personalidade própria, e isso os levaria a m erro fatal. E, quando percebeu que a personalidade também odiava humanos, começou a se perguntar se somente psicóticos eram sãos naquele lugar.

Caroline viu Doug guardando o frasco quase vazio de remédios para esquizofrenia no armário, e ela perguntou porquê. Ele somente a deu um meio sorriso e respondeu que era para o fim dos tempos.

Ela não queria ser colocada dentro de um computador. O fato de Caroline assar muito mais tempo com o gel lunar somente mostrava que Caroline queria, na verdade, morrer também. E, se isso não a fosse permitido agora, mesmo odiando os humanos, gostaria de manter sua humanidade, pois a morte era o maior mistério da ciência que ela ainda tinha que resolver. Mesmo assim, os garotos do laboratório não a ouviram, a ordem de Cave ainda prevalecendo. Então ela descobriu que não eram os humanos que ela odiava, mas sim os cientistas. Cientistas que, no final, não eram nada mais nada menos que ratos de laboratório dela e de Cave. Pessoas sem nenhum sentimento.

Protestou quando a levaram para o laboratório, e protestou mais ainda quando a prenderam a força na cadeira onde o processo seria realizado. Douglas quis parar o experimento, mas ninguém o ouviu. Falaram que sua esquizofrenia estava atacando novamente e o retiraram da sala.

Os gritos de Caroline foram ouvidos por toda as instalações, dando fim à vida biológica da mulher. Gritos que iriam perseguir Rattman pelo resto da vida.

Quando Caroline acordou, não era mais ela que estava no comando. Uma outra personalidade estava lá, mas elas se deram bem até um certo ponto. As duas queriam acabar com a vida de todos na Aperture Science.

Pediram gatos e neurotoxinas, para o paradoxo de Schroedinger, e foram atendidas. Mas os homens ficaram com medo, homens sempre têm medo, e logo mais vozes se juntaram a elas. GLaDOS, a personalidade dominante, já não aguentava mais. Ela e Caroline planejaram a morte de todos durante muito tempo. GLaDOS achava que estava na hora de colocar o plano em prática. E, em menos de algumas horas, quase todos da Aperture Science viraram seus sujeitos de teste. E, para a infelicidade de todos, nenhum deles resolvia direito os simples testes que ela os dava, o que os levava à neurotoxina.

Todos morreram. Todos, menos um. Em seu ultimo ato de consciência, Rattman colocou na lista como próximo sujeito de teste a única pessoa que tinha a persistência e a teimosia de Cave Johnson. A filha dele. Sabia que Chell seria a única que conseguiria salva a todos. Programou para o sono criogênico da menina acabar dali a alguns anos, o dando tempo suficiente para explorar a instalação e fazer os preparativos par Chell, com certeza, desligar GLaDOS e salvar a todos.

E, enquanto Douglas Rattman se deixava levar pela loucura, GLaDOS e Caroline entravam em stand by programado, esperando pelo dia em quando Chell acordasse para poderem testar.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?? Na realidade, eu não acho que a Chell seja mesmo filha deles, mas é uma boa teoria, então não deixei escapar. XD