Pov. Leonardo

Medo. Essa era a palavra que me definia naquele momento.

Eu observava as árvores e montanhas ao longe pela janela do carro. Ou pelo menos tentava, já que papai dirigia a duzentos por hora. 

- Dá pra vocês falarem ONDE a gente tá indo? - Perguntei pela milésima vez.

- Desiste, Leo. Eles não vão nos dizer. - Disse Ness.

Continuamos assim por mais meia hora, até que avistei algo ao longe; uma colina.

- Chegamos. - Disse mamãe, aflita. Papai parou o carro e nós descemos. Subimos a enorme colina de grama bem verdinha e um lindo e majestoso pinheiro no topo. Lá de cima, avistamos uma grande casa em estilo grego, uma plantação de morangos e algumas casinhas, tipo essas de acampamento. 

- Vamos para a Casa Grande, Quíron está nos esperando. - Disse mamãe, nos guiando até a grande casa em estilo grego.

Quando entramos, pude ver um homem gordo e com a cara fechada bebendo Diet Coke e outro homem sentado em uma cadeira de rodas.

- Hanna, Nico. Que bom que chegaram. - Disse o homem da cadeira de rodas.

- Quíron, você tem alguma ideia do que... eles são? - Perguntou papai.

Pov. Vanessa

- Venham até aqui, crianças. - Disse Quíron, o homem da cadeira de rodas. Olhei para Leo, que assentiu. Fomos até ele e ele estreitou os olhos, como se estivesse nos examinando.

- Não perca seu tempo, Quíron! - Resmungou o homem gordo. - Filhos de semideuses são mortais, a não ser que... Não importa, isso não acontece há anos.

- O que não acontece há anos? - Perguntei, atraindo todos os olhares. - E porque você disse que nós somos filhos de semideuses?

- Parabéns, Sr. D. - Disse papai, revirando os olhos.

- Ora, eu achei que eles soubessem. Não contaram a eles? - Perguntou Sr. D.

- Não, mas vão contar agora. - Disse Leo, cruzando os braços e encarando nossos pais.

- Calma, crianças. Tudo vai se revelar na hora certa, mas primeiro temos que fazer alguns testes. - Disse Quíron.

- Testes? - Perguntamos, em coro.

- Sim. Testes com a água e com as trevas. - Disse Quíron, deixando eu e Leo extremamente confusos.

- Você realmente acha que eles... - Disse mamãe.

- Há uma possibilidade. Muitos anos atrás, nasceu um filho de dois semideuses. Ele não era mortal, muito pelo contrário. Ele herdou os dons de seu pai e de sua mãe. Era muito perigoso.

- Ah, meus deuses. - Disse mamãe, pondo a mão na testa e deixando uma lágrima cair.

- Isso é impossível. Vai ficar tudo bem. - Disse papai, abraçando mamãe.

- Vamos fazer os testes. - Disse Quíron, saindo da Casa Grande e nos levando até um lago.

Era um lago muito bonito. Suas águas eram cristalinas e haviam árvores bem verdinhas ao seu redor.

- Esqueci de dar-lhes os parabéns pelos filhos. - Disse Quíron, olhando para papai e mamãe. - Parabéns. Mas onde estão os outros quatro? 

- Ah, não. - Disse mamãe, rindo. - Nós paramos nos dois, mesmo. Era um sonho de criança.

- Gêmeos! Quem diria, não? Hanna e Nico, aqueles semideuses que sempre causavam alarde no acampamento, criando dois filhos! - Disse Quíron, e riu.

- Pois é, nem eu acredito ainda! - Disse papai, fazendo mamãe e Quíron rirem.

- Eu não estou entendendo nada! - Gritei. - Vocês já se conheciam? Que lugar é esse? Quem é você? O que nós somos? O que vocês são?

- Nós... - Começou mamãe. - Eu e seu pai somos semideuses.

- Semideuses. Ok, eu achei que os loucos aqui eram eu e Leo, e não vocês. - Eu disse.

- Vocês não são loucos, e nós também não. Nós somos semideuses de verdade. Todos os mitos que vocês ouviram sobre mitologia grega, não são... bem, mitos. Tudo aquilo existe. Porque vocês acham que nunca conheceram seus avôs? - Disse papai.

- Porque eles morreram em um acidente de carro antes de nós nascermos. Foram vocês mesmos que disseram isso. - Disse Leo.

- Não, querido. Eles estão vivos. São deuses, portanto, imortais. - Disse mamãe, como se tudo aquilo não fosse uma esquisitisse enorme.

- É muita informação. - Eu disse, pondo a mão na testa. - Minha cabeça tá girando.

- Eu sei, querida. - Disse mamãe. - Mas vocês têm que saber disso.

- Quem são nossos avôs, afinal? - Perguntou Leo.

- Poseidon e Hades. O deus dos mares e o deus do mundo inferior. - Disse papai.

Pov. Hanna

- Eu sou filha de Poseidon, e seu pai é filho de Hades. - Eu disse, tentando fazer com que tudo parecesse menos louco para eles.

- Mãe, nós não somos mais crianças! - Gritou Leo. - Acha que nós acreditamos nessas coisas?

- Você deveria acreditar. - Eu disse. - Observe o lago.

Vanessa e Leonardo olharam para o lago. Concentrei minhas forças e aos poucos, a água foi se dividindo em duas partes. Um caminho de areia foi formado entre as paredes de água.

- Ah, meu Deus. - Disse Vanessa.

- MeuS deusES. - Corrigiu Quíron. - Eles existem, e podem te ouvir.

- Podem ir até lá. - Eu disse, ainda segurando a água. O lago estava dividido em dois, com um caminho seco de areia no centro.

Vanessa e Leonardo andaram até lá sem problemas. 

- Estamos no meio de um lago! - Disse Leo, incrédulo. Ele tocou na parede de água a seu lado.

- É tudo real! Os deuses, as histórias... - Disse Ness, maravilhada.

- Solte a água. - Disse Quíron.

- O quê?! - Dissemos eu e Nico em coro. - Ficou maluco? Eles podem morrer! O lago é muito fundo!

- Eles conseguiram passar pelas fronteiras do acampamento sem problemas e foram atacados por um monstro. São especias! Solte a água!

- NÃO! - Gritaram Leo e Ness. 

- SOLTE, HANNA! - Gritou Quíron. Fechei os olhos com força e soltei a água em cima de meus filhos.