Vampire Fox escrita por biazacha


Capítulo 7
Ressaca Positiva.


Notas iniciais do capítulo

Enfim, o último cap. - eu me diverti muito com essa história e apesar de não ter tido retorno, acho que escrevi por mim e isso valeu muito a pena. Coloquei esse nome no capítulo porque querendo ou não a ressaca é o que fica de uma festa, seja física (pela bebida ou pelo cansaço) ou moral 9mil motivos)
O engraçado é que vejo os personagens indo cada um para o seu caminho, sua própria história.



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Apesar da escuridão cravada na decoração sombria, o lugar em si era quente e até confortável; uma mansão ou castelo enorme, cheio de salas e quartos todos com os mesmos tons densos de roxo e azul, com preto e detalhes em dourado. Todos a disposição dela, segundo Primus.

E nem ao menos o país em que se encontrava ela sabia.

Eles andavam subindo e descendo escadas, cada vez mais se afundando naquele labirinto interminável de corredores e cômodos, até o momento em que Fox duvidava que conseguiria achar o portal sozinha, não importando o quão apurados seus sentidos sejam.

Era engraçado ver como o dono não combinava com o lugar; apesar de ser sim um membro do Submundo como ela, o bruxo era como o Sol entre as nuvens, com seus sorrisos calorosos e atitudes mais que dignas. Era como ver o Super Homem na Fortaleza da Solidão, algo claramente não se encaixava.

Lembrando de sua conversa anterior, ele dissera que era filho de escravos em Roma, logo na época auge das perseguições a religiões estrangeiras e chamadas de pagãs – como alguém com aqueles fios laranja-vivo e duas orelhas animalescas e fofas como ele sobreviveu a tudo o que deve ter passado? Quantos já não devem tê-lo chamado de demônio?

Eles pararam num andar que aparentava ser bem menos enfeitado e ao mesmo tempo mais imponente que os outros; nele havia uma porta e uma espécie de hall antes dela, em uma das poltronas estava minha mochila. Peguei e a agarrei.

-Obrigado. – disse para o bruxo, meio sem-jeito.

-Pretende ir embora agora? – ele parecia chocado e chateado com a ideia.

-Não sei, quero dizer, se quiser que eu fique aqui até os outros darem sinal de vida... – na verdade queria ficar ali, queria conversar mais com ele, rir com ele, descobrir o que realmente eu estava sentindo; era tudo tão diferente de meu ninho e a amargura interminável que eu sentia lá que era quase como se eu fosse outra pessoa.

-Sim, isso seria o ideal. – disse ele com um sorriso do tamanho do mundo – Para poder se despedir e modo adequado de todos certo? Vai saber quando e se nos veremos de novo.

Era impossível saber se ele falou aquilo para não se comprometer ou porque era o que realmente pensava. Me segurando pela mão, ele foi em direção a porta dupla de mogno liso e abriu com um leve aceno de mão, que provocou uma pequena luz na fechadura antes do clic indicado que ela estava destrancada. Entramos.

O lugar era gigantesco e uma bagunça, quase como se houvesse outra casa ali dentro: várias estantes com milhares de livros, roupas para todos os cantos, duas mesas em cantos diferentes, um computador, uma televisão, jogos eletrônicos e de tabuleiro por todos os lados e uma cama gigante, coberto por uma sedosa e gigante manta de pelos, aparentemente de animais reais. De raposas reais.

-Este aqui é...? – perguntei, mesmo que já soubesse a resposta.

-O meu quarto – disse ele como eu previa, me guiando entre as coisas – desculpe a bagunça. – acrescentou, o que me fez rir. Ele me olhou com curiosidade.

-Vivo num ninho em um prédio abandonado – murmurei – acha que chamo isto de bagunça? – na verdade era bagunçado, mas não de modo irritante e sim acolhedor, como quando deixamos nossas coisas em cantos diferentes para tudo ficar a vista.

-Se você diz. – murmurou ele dando de ombros, mas podia ver que ele havia ficado contente.

Sentamos na cama dele e me joguei na maciez daqueles pelos.

-Não tem dó de matar esses bixinhos? – perguntei, ele me olhou de canto.

-Como explico isso... me sinto mais seguro assim. É como se dormisse entre os meus entende?

-Isso foi uma piada certo? – perguntei meio desconfiada; ele desfez a expressão séria.

-É, foi, mas sua pergunta pedia isso. – joguei o travesseiro mais próximo nele, que se esquivou com graciosidade e riu. Eu ri com ele.

-Fox. – disse ele mais sério, me olhando sem nem piscar.

-Pode falar. – ele olhou para frente e começou.

-Você já sabe...sobre mim. – ele estava claramente desconfortável.

-Bom, você também sabe muitas coisas sobre mim, coisas que inclusive não tinha contado para mais ninguém...

-Não é disso que estou falando. – cortou ele, com um sorriso torto e desanimado nos lábios – Eu quero dizes que você já sabe como acabou sendo arrastada pras confusões das últimas noites, já sabe sobre mim.

Nenhum de nós falou por algum tempo, quando estava prestes a criar coragem e romper aquele desconforto, ele falou:

-A julgar pelos 18 torturantes minutos de silêncio desconfortável e constrangedor, posso julgar que isso quer dizer “sim”. – olhei para ele, acenei a cabeça de modo afirmativo e a desviei, mas não antes de ele vislumbrar meu rosto corando. Ele suspirou.

-Sei que preciso me explicar, mas não sei como – senti, mas que ouvi, ele se deslocando na cama para ficar exatamente ao meu lado – deve me achar um idiota manipulador.

Era isso que eu pensava dele? Sim, por um bom tempo essa foi a ideia que remoí furiosamente, me sentindo mais uma peça nos joguinhos de diversão do bruxo. Mas não conseguia pensar dessa forma com ele ali, do meu lado; o som de nossas respirações em sintonia tornava tudo mais difícil. Não conseguia dizer que gostava dele, mas não me via saindo dali ou o magoando tampouco.

-Fox... – ele estava perto, perigosamente perto; cai para trás no reflexo de me afastar e ele colocou uma mão em cada lado de minha cabeça, nossos rostos a uns dois palmos de distância no máximo um do outro. Desesperei-me.

-Primus. – coloquei a mão fracamente em seu peito, tentando fazer com que ele entendesse o recado sem precisar feri-lo; ele me segurou pelo pulso delicadamente, seus olhos não saindo dos meus em momento algum.

-Se você não quiser, basta não retribuir. – disse ele num sussurro.

E, antes que eu pudesse processar e me preparar, ele me beijou.

No começo foi um leve roçar de lábios, seu hálito quente e com cheiro de canela fazendo cócegas no meu rosto – mas então ele fez o contorno de meu lábio inferior com a língua, me causando arrepios, e abriu minha boca - não conseguia pensar, meu corpo todo se agitava e esquentava com aquilo, aquele contato. Quando vi, estava com as mãos em seus cabelos, puxando-o para mim, retribuindo o beijo com um fogo que não sabia dizer de onde vinha; nossos corpos se colaram, seu peso me pressionando e ao mesmo tempo me confortando, nossas línguas se enroscando como em uma dança, seu cheiro me inebriando, as respirações descompassadas. Eu não precisava de mais nada.

Mas ele sim, de ar; nos separamos apenas poucos centímetros e tentávamos recuperar o fôlego inutilmente. Não conseguia olhar para outra coisa que não seus olhos, dilatados, brilhantes, ardentes – seu sorriso tinha um quê de feroz e vitorioso que causou contrações involuntárias em meu estômago.

Ele acariciou minha bochecha com a ponta do polegar esquerdo, agora fitando todo o meu rosto com um ar próximo ao da adoração – quando foi a última vez que me senti tão viva, tão feliz? Meu sorriso era refletido em seus olhos, e eu nem me reconhecia ali.

Com uma coragem que não me pertencia, o segurei de leve pela gola e o puxei para baixo, indicando o que queria, ele veio até mim novamente contendo o sorriso feroz e parou, beijando meus lábios quase sem fazer pressão – eu tentei me erguer para alcança-lo, mas ele acompanhou meu movimento. O olhei confusa e irritada.

-Você quer? – era isso, o maldito ego masculino, ele queria me ouvir dizer.

-Me beije. – sussurrei.

Ele se abaixou de novo, e parou me analisando com os olhos mais em chamas que nunca. Então ele sorriu – um sorriso terrível, de caçador que acurrala a presa, de guerreiro prestes a dar o golpe final e eu nunca o achei tão lindo quanto naquele momento.

Não foi um beijo delicado e gostoso como o anterior, foi ávido e enlouquecedor; nossas bocas se devoravam, nossas línguas brigavam por espaço assim como nossos corpos pressionados um contra o outro no limite, as mãos de ambos passeavam pelo corpo do outro, gravando cada detalhe, tocando em cada canto. Eu precisa de mais e ele também.

Assim, quando deixei seu tórax nu, ele não hesitou em tirar meu vestido e foi aí que as coisas se complicaram e muito.

Entendam, não existem mais roupas íntimas como as de minha época e é claro que eu não preservei as minhas ou algo do gênero, mas a visão da meia sete oitavos negra com detalhes na borda, bem como a lingerie vinho inteiramente rendada foi demais para ele. Me segurando pela cintura, ela olhava meu corpo em transe, ao ponto de deixar cada canto dele vermelho em meio a minha vergonha. Como as coisas chegaram a esse ponto? Meia hora atrás não tinha certeza sequer se seria capaz de beijá-lo.

Ele se apoiou pelos joelhos, me prendendo entre eles, e ainda com as mãos em minha cintura traçou uma linha sinuosa de beijos lentos e quentes, do meu ventre em direção ao colo. Não sei o que esperava que fosse acontecer, mas gemi. Da mesma forma que censurei tantas outras garotas nos braços de terceiros, eu gemia praticamente implorando que ele não parasse. Minha respiração estava fora de controle e meu tronco todo subia e descia maliciosamente em busca de ar.

Seus dedos se detiveram um momento em um ponto de minhas costas e logo em seguida ele beijava meus seios nus, me fazendo arfar e conter os gritos que se acumulavam em minha garganta. Sem me dar conta, trazia com as mãos sua cabeça mais para mim e eu mesma beijava de modo carinhoso suas orelhas felpudas.

E assim, a noite correu longa e inesquecível.

...

Abri os olhos e demorei um tempo para me dar conta de onde estava, mas as lembranças logo vieram e eu não pude deixar de corar e sorrir ao mesmo tempo. Aquela havia sido a melhor experiência da minha vida. Eu estava deitada na gigantesca cama de Primus sobre o cobertor de peles e usando apenas minhas meias – ele não estava em lugar nenhum, mas por hora me ocupei com outro fato.

O quarto estava todo cheio de cravos brancos.

Onde quer que eu olhe, mesmo entre as cobertas, a flor surge. Dizem que bruxos são distantes porque suas emoções tiram sua magia do controle e se isso não era um exemplo claro de descontrole, eu não sabia mais o que a palavra significava.

Eu começava a sentir sua falta, onde ele estava e o que estaria fazendo? Minha indignação deu lugar ao horror, pois se ele não estava ao meu lado guando acordei, só podia significar uma coisa: depois de conseguir o que queria, ele perdeu totalmente o interesse.

As lágrimas brotaram e mordi meu lábio, cheia de ódio e mágoa pela humilhação. A porta se abriu e Primus entrou, não vestia nada além de uma calça preta simples e trazia consigo uma bandeja com várias comidas e duas garrafas ricamente decoradas, senti o cheiro fresco do sangue na hora. Ele parou quando me viu acordada e logo seu semblante feliz se tornou nublado e preocupado: meu rosto estava com marcas de choro.

Depositando a bandeja com cuidado ao pé da cama, ele se moveu em silêncio e hesitante até mim e segurou meu rosto com as mãos.

-Me perdoa. – sua voz estava quebrada pela tristeza e o desespero.

-Você não tem pelo que pedir desculpas. – era verdade, eu que havia me precipitado no julgamento da situação.

-Lógico que tenho. – insistiu ele – Na outra noite... não sei o que me deu, não era eu mesmo Fox, te juro , caso contrário jamais seria tão cretino.

-Onde quer chegar? – ele não foi um cretino e sim um príncipe noite passada para comigo.

-Foi... sua primeira vez não foi? – era impossível dizes quem estava mais vermelho – E deveria ter sido especial, com uma pessoa que você realmente desejasse e eu estraguei tudo para você. Sou um babaca egoísta e fiz você chorar. – ele parecia ter envelhecido uns vinte anos, tamanha a dor que seu semblante carregava.

Agora fazia sentido. Eu sabia que ele me observava há alguns anos, todas as vezes que me via – como se apaixonou a primeira vista, deve ter pensado em mim e fantasiado mil vezes em sua mente. Deveria ser perfeito e foi; mas ele achava que tinha arruinado as coisas para mim, justamente por ter passado tanto tempo “ensaiado” nós dois em seus devaneios.

-Acha que é por isso que estou chorando? – devia soar carinhosa ou reconfortante, mas parecia que eu o chamava de idiota nas entrelinhas. Ele ficou confuso.

-Por que mais seria? – eu comecei a rir; foi a vez dele segurar meu rosto em suas mãos, silenciosamente cobrando uma explicação.

-Quando.... eu acordei – seria terrivelmente constrangedor explicar meu acesso de choro para ele – e não vi você ao meu lado, não sei, fui idiota, pensei que...

Não consegui explicar o resto, talvez nem fosse necessário, porque ele me derrubou na cama com uma onda de beijos ardentes que arrancaram meu ar; quando nos separamos ele continuou deitado sobre mim, me envolvendo em seus braços.

-Você é linda. Perfeita. Acima de todas as minhas expectativas e sonhos mais loucos sabia? – acho que ele tinha um prazer em especial em me deixar com vergonha, principalmente levando em conta que ele abraçava uma Fox que usava apenas meias finas.

-Para de falar essas coisas, você me deixa sem graça. – reclamei, mas sem muita convicção em minhas palavras. Ele riu e afagou meu rosto.

-Vamos comer. – disse ele simplesmente.

Depois de insistir por um roupão e virar agradecida o sangue garganta abaixo, me deitei com a cabeça em seu peito, da mesma forma como havíamos adormecido na madrugada. Ele acariciava meu cabelo e eu fazia desenhos em seu abdome distraidamente.

-Você não vai embora hoje vai? – perguntou ele de repente.

-Eu não quero. – admiti – Posso ficar aqui?

-Para sempre, se você quiser. – respondeu ele; me ergui e o beijei delicadamente.

Vou explicar como é se apaixonar: você relaciona tudo em que põe os olhos de modo direto e indireto a pessoa, rir quando pensa nela, tem vontade de sumir quando ela está por perto, mas mesmo assim arranja pretextos para se aproximar dela. Foi assim com Gabriel.

E agora vou explicar como é se unir de fato com alguém que você tenha se apaixonado: você não liga para o mundo, para o tempo passando, é só você e a pessoa; você quer ficar ali grudada nela, respirando o mesmo ar, colar seu corpo ao dela e esquecer-se de viver. Era assim que eu me sentia com Primus neste exato instante.

Passamos alguns dias desta forma na verdade, nossa “Lua de Mel” somente foi interrompida com a chegada de nossos companheiros mais Vanessa. Depois de um massacre por parte deles com a notícia de estávamos juntos, se empenharam em nos colocar a par de todas as idiotices que fizeram em nossa ausência. Acredite, eu peguei a fase mais leve do passeio.

Eles ficaram lá por uma semana, mas cada um seguiu seu rumo, não sem antes arrancar a promessa de que “o casal não se fecharia para o mundo e manteria o contato com todos”. Acho que eu gostava deles, principalmente de Odélia, que partiu já tendo o status de amiga no meu coração, algo que não possuía a mais anos do que gostava de contar.

Para minha completa surpresa, recebemos um tempo depois a visita de Rikishiro e de Kuromori; depois que ele foi buscar o bruxo travestido nocauteado por mim, os dois meio que engataram um caso  e estavam juntos. E eu tinha razão quanto ao meu julgamento: passada a fase “Primus é meu sua vadia”, eu e o loiro (ou será loira?) nos dávamos super bem, para o completo desespero de nossos namorados. Prometemos voltar ao Japão com mais calma, mesmo porque Vovó Haru já cobrava uma visita.

E aos poucos as coisas foram se acertando: eu comuniquei oficialmente meu ninho que estava indo embora para viver em Berlim de vez na casa dele – foi tenso, mas como Primus foi junto tenho certeza de que todos ficaram intimidados – ele me apresentou todo o seu bizarro e longo círculo social e eu firmei minhas próprias amizades e contatos.

Primus voltou a exercer seu trabalho como bruxo e enquanto ele estava ocupado atendendo aos pedidos diversos, eu usava o portal em sua (nossa, como ele sempre diz) mansão e viajava por aí, conhecendo tudo que me dava vontade. Ele morria de ciúmes de mim e era engraçado observá-lo todo irritado porque fui a canto tal e encontrei fulano.

A propósito, nunca mais vi ou tive notícias de Gabriel e seu bando, exceto quando eles foram mortos por Caçadores das Sombras. Não comemorei, mas também não lamentei.

E em todas as oportunidades possíveis lá estávamos nós em Idris, na mesma mureta nos preparando para varar várias noites pelo mundo. Na verdade, acho que nós dois só íamos a festas de fato quando encontrávamos o pessoal. E sempre surgia um ou dois a mais em cada vez, ao ponto de ficarmos conhecidos e requisitados nas baladas pós-Acordos.

A vida é realmente engraçada não é mesmo? Principalmente se você não é humano.

Eu passei do choque para o ódio, do ódio para a indignação, da indignação para a aceitação e desta para a amargura – tudo isso se desenvolvendo em várias décadas – e agora, em poucos anos, eu estava feliz e realizada. E a culpa era dele, que me fez confiar e assim abrir meu coração de novo para o mundo.

Se eu o amo? Não tenha dúvidas de que sim.


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Notas finais do capítulo

And that's it. (*-*)/



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