Vampire Fox escrita por biazacha


Capítulo 5
Sidney: desentendimentos e o primeiro ataque.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, eu sei disso.... não me odeiem! (u.u)



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Agora sim eles tinham de fato extrapolado todas as expectativas. Como se não bastasse irmos de um canto ao outro do globo procurando diversão e só encontrando encrenca e constrangimento – embora esteja meio certa de que não posso falar por eles – dessa vez o portal nos jogou direto em um bar gigantesco.

Já que iria pra lá mesmo queria conhecer Sidney caramba.

Se um dia o Outback ganhasse uns seis andares com uns quinhentos metros quadrados cada um, mais um palco e várias mesas de sinuca e similares talvez vire algo próximo do que estou vendo aqui. Depois de passar por tantos lugares estranhos, não aguento mais a iluminação característica que cada um insiste em colocar nos estabelecimentos – a coloração meio alaranjada daqui contrasta de forma dolorosa na minha retina com o azul intenso da festa anterior – o número de pessoas parece menos que dos outros casos, de modo que é possível caminhar com facilidade para escolher um lugar onde ficar.

Tarefa que Primus desempenhou assim que chegamos aqui.

Sei que deveria tentar esclarecer o que aconteceu, porque numa hora estou colada nele numa pista de dança e na outra estou enroscada com.... uma menina. Por essas e outras desgraças eu definitivamente vou abandonar qualquer pretensão de me esbaldar na noite como todos os meus semelhantes fazem assim que me livrar desse grupinho.

Garçonetes passam ligeiras por nós com bandejas contendo grandes pedaços de carne, principalmente costelas, todos grandes demais para terem saído de qualquer animal que eu conheça o que me fez sentir receio de tocar no cardápio. Não que fizesse muita diferença, uma vez que não poderia comer nada disso de qualquer forma.

Acabamos sentadas no terceiro andar, onde dava para ouvir a barulheira das pessoas jogando e curtindo o som ao vivo no quarto, quinto e sexto andar e ainda espiar sem receios os casais e grupos de amigos que degustavam os pratos, conversavam e faziam demonstrações engraçadas no segundo, primeiro e térreo – como uma dupla de lobos que ficava mirando seus cubos de gelos em umas fadas na mesa ao lado, só não entendi ao certo com qual intenção ou um casal de bruxos que construía de modo obstinado um castelo com as várias sobremesas que tinham na mesa, que aparentavam corresponder a todas as opções do cardápio.

Jack, Odélia, Blair e Henry estavam em um lado da mesa, deixando eu e os dois bruxos nada amistosos entre si do outro. Não podia deixar de suspeitar que era exatamente uma situação dessas que eles queriam causar e me contorci de raiva ao imaginar o quanto eles se divertiam as minhas custas descaradamente.

Pareciam pré-programados para discordarem em qualquer questão existencial: se um achava que seria uma boa pedirem umas entradas para todo mundo o outro fale que porções individuais são a melhor opção; se um fala que está pensando em pedir um vinho lá vem o outro falando em uma jarra de suco para começar.

Odeio birrinhas desse tipo, eles no mínimo não tem idade para agirem como crianças desse jeito. É até compreensível o estilo de vida solitário dos bruxos, pois o ego de cada um é tão grande que não aceita por perto a presença de qualquer outro filho de Lilith.

Fecho os olhos e passo a ignorar as alfinetadas e indiretas que um manda para o outro, que não mostram sinais de que vão cessar, principalmente com Blair tacando lenha na fogueira a todo instante. Com qual desculpa será que posso me afastar?

-Fox, vem no banheiro comigo? – a vozinha de Odélia quebrou minha divagação; abri os olhos só para dar de cara com todos da mesa me encarando meio apreensivos. Sorri.

-Vamos lá. – deixei a mesa sem me dar ao trabalho de olhar para a cara de alguém e sai. A pequena fada se apressou para acompanhar o meu passo em direção ao banheiro.

-Acha que Blair e Vanessa vão tentar ouvir a conversa? – perguntou ela próxima a porta.

-Se eu pudesse comer apostaria uma porção de costelas ao molho de churrasco que elas vão se esgueirar para nos espionar sim. – ela me olhou de uma forma estranha, mas não questionei.

Sem uma única palavra, nos duas nos dirigimos para o andar de cima e nos enfiamos no banheiro masculino de lá, que por sorte estava vazio e limpo. Ela encostou-se à parede ao lado dos.... bem vocês sabem (devo admirar seus total desprendimento, mesmo que não cheirasse urina nem nada) e eu me sentei de frente para ela sob a tampa de um vaso.

-Qual o problema? – perguntei finalmente.

-Você é o problema. – disse ela mais séria do que aparentava.

-Como assim você?! Não fiz nada!

-E é aí que tá Fox, você não está fazendo absolutamente nada. Aqueles dois bruxos cabeça-oca vão se matar ali e isso seria muito bem evitado se você decidisse em quem quer dar um chega pra lá.

-Está dizendo que estou brincando com a situação? – meu tom se tornou sombrio.

-Não, você está claramente odiando a situação, mas não toma uma atitude mesmo sabendo que é o que eles estão aguardando. Fugir não é solução para problema algum Fox, e eu sei que você já sabe muito bem disso.

Não respondi de imediato; na verdade fiquei um bom tempo quieta e sem a menor noção do que acontecia a minha volta, pois era como se Odélia tivesse me nocauteado.

Sei que fujo dos problemas. Quando não gosto de uma coisa, fico quieta e me afasto, quando alguém me irrita profundamente eu fecho os olhos e espero a pessoa se tocar, se tentam me ferir eu paraliso e me protejo, se dizem verdades que me machucam eu perco o controle, se tocam em assuntos que não gosto desconverso. Tudo é sempre culpa dos outros, atualmente do Submundo. Sou incapaz de assumir meus erros, preconceitos, incapacidades – posso dizer que não sei beber, mas nunca falo que tenho medo de voltar a sorrir.

Eu continuo empurrando tudo para longe da minha vista e vivo fugindo, me colocando num pedestal como se estivesse acima de todos, dos que vivem comigo no ninho, dos dois bruxos brigões lá fora ou da fada a minha frente. E eu não sou melhor que eles, sou fraca e covarde, além de orgulhosa demais para admitir tudo isso em voz alta. Para confiar cem por cento em alguém de novo e me aceitar com meus defeitos.

Se eu não fosse tão mimada teria morrido há muitos anos atrás, como humana, com a minha família ao meu lado, da forma como deveria ter sido.

-Fox? – me assustei com a proximidade repentina dela, com seu rosto a poucos centímetros de meu. Ela me olhava cheia de culpa. – Me desculpa.

-Pelo o quê? – só então notei as lágrimas rasas que riscavam minha face e deixavam um gosto salgado na ponta da minha língua. As limpei com as costas da mão constrangida, mas o estrago já havia sido feito.

-Não queria magoar você eu só...

-Você não me magoou – garanti a ela – eu sei que só queria que eu desse voz ao que sinto mas... é complicado, sempre deixei as coisas se aquietarem e sumirem sozinhas, a muito tempo deixei de lutar por qualquer coisa. – minha voz era amarga.

-Há quanto tempo? – estava claro que ela queria perguntar outra coisa e estava sondando o terreno. Resolvi terminar o assunto ali mesmo.

-Desde que fiquei assim. – encostei o indicador no meu canino projetado de modo significativo e pude ver a em seus olhos a facada gelada que ela sentiu com minha resposta.

-Quer ver um pouco do show? – ela estendeu a mão delicada para mim e eu a aceitei.

As mesas próximas ao placo eram mais simples que as dos outros andares, mas igualmente convidativas com a iluminação bem mais amena e o clima mais sossegado. A banda arrasava nas performances e seu som era realmente muito bom – segundo Odélia eles tinham ficado bastante populares entre os mundanos com a vibe de suas músicas – a vocalista ruiva entoava uma canção chamada Dog Days Are Over e não pude deixar de sentir um quê de destino nisso. Eu podia dar uma guinada nova pra minha vida.

Duas cadeiras se moveram silenciosamente ao meu lado e Blair e Vanessa se sentaram na mesma mesa que a gente. Odélia viu quem era e voltou sua atenção para frente, ao contrário de mim, que não consegui frear um olhar frio de desprezo para as duas, que realmente vieram em nosso encalço, antes de voltar minha atenção para o grupo com o ar mais arrogante possível; elas podiam pelo menos ter a decência de perceberem a indireta e irem embora.

-A gente queria se desculpar Fox. – começou Blair. Não respondi.

-Nós fomos idiotas sim, mas não foi por maldade, o problema é o Primus. – disse Vanessa.

-Claro, foi ele sozinho que ficou de birrinha lá embaixo, as senhoritas não contribuíram de forma alguma para o meu mal-estar. – disse seca. Eles se encararam.

-Eu só chamei Vanessa na jogada porque ela sempre deixa Primus estressado, se alguém podia fazer ele se mexer era ela. – explicou Blair.

-Jogada? – perguntei baixinho e bem calma; as duas congelaram e até Odélia me olhou pelo canto do olho com um medo visível.

-Bom – começou Vanessa – querem você e Primus juntos por que ele tem uma quedinha por você desde os Acordos anteriores e só te chamou dessa vez porque eles ficaram atormentando ele para isso. – isso era muito mais do que a fada tinha me revelado; ela estrategicamente encarava o palco fixamente agora.

-Porque você o deixa irritado? – ignorei a parte da quedinha por mim totalmente.

-Uma vez, há muito tempo atrás... – começou Blair; ela parecia escolher as palavras com extremo cuidado.

-Eu e ele tivemos um desentendimento porque gostávamos de uma pessoa, aliás, que filho ou filha de Lilith daquela época não gostava? Mas no nosso caso foi sério e desde então nos sempre disputamos as mesmas pessoas, só por birra. Da última vez que ele roubou alguém de mim, era uma pessoa realmente especial e ele não sentia nada por ela, só queria me machucar. E conseguiu. Vive aguardando a minha retaliação desde então.

-E por algum motivo a parte você acha que “me perder para você” – fiz aspas no ar com dedos e fui a mais irônica possível – seria um golpe tão grande quanto foi ser deixada por quem você realmente amava?

-Hoje em dia não sei de mais nada Fox. – disse ela melancolicamente – Quando digo que eles me machucaram, quero dizer que nunca mais consegui ser eu mesma de novo.

Pela segunda vez em um dia era como se tivessem me surrado. Ela mal me conhecia e admitia de peito aberto que ela sofria por um amor antigo, que ela estava vulnerável e que a traição tinha sido tão pesada ao ponto de tirar sua vontade de continuar nesse ciclo vicioso de punhaladas, uma após a outra.

Essa era uma das coisas que mais me chocavam e atormentavam no Submundo. Como alguém poderia ser tão legal e gentil como ele foi comigo e ser tão cruel arrancando de Vanessa alguém que ela claramente amava por puro capricho? Meu peito queimou de ódio quase que instantaneamente em relação ao bruxo, mas freei meus impulsos. Nada garantia que era verdade, ou que a versão dela estava fiel a realidade ou se ele não tinha sofrido uma separação tão dolorosa quanto de alguém que ele amou muito por culpa dela.

Raiva, angústia, indignação e ciúme se gladiavam em minha mente. Suspirei.

-Eu vou dar uma volta. – disse para elas - Sozinha. – acrescentei para Odélia, que já se levantava; ela me lançou um olhar magoado e foi para a direção contrária.

E quanto a mim? Eu queria conhecer Sidney e é o que faria.

Foi complicado sair dali: além de Henry, Jack e o próprio Primus me procurando, encontrei alguns conhecidos, inclusive membros do meu ninho e gente das festas anteriores. Como havia Caçadores das Sombras ali eu não queria encrencas e principalmente não queria chamar atenção, por isso me esquivei ao máximo para sair dali sem trombar com ninguém – pelo menos as décadas fugindo me ensinaram alguma coisa.

Acabei saindo por uma das portas para funcionários que davam em um beco na parte de trás. Fui caminhando em direção à avenida quando me dei conta de uma coisa. Eu não estava sozinha ali. Com saltos graciosos, um a um os corpos delgados e elegantes foram caindo dos telhados, me deixando encurralada no meio de uma rodinha. Os sorrisos cínicos e o brilho feroz no olhar deixavam claro quem eles eram. Eram monstros, assim como eu.

E com intenções nem um pouco boas.

-Não se lembra de mim Fox? – perguntou o líder da rodinha, dando um passo a frente.

-Gabriel. – murmurei com raiva; era difícil não se lembrar de um sujeito como ele.

-Você se lembra, fico lisonjeado – seu sorriso malicioso só aumentava enquanto ele andava em torno de minha figura indefesa, examinando-me minuciosamente.

-Nem se dê ao trabalho de se sentir. – respondi, uma tremenda idiotice levando em conta a desvantagem numérica, mas eu tinha contas a acertar com ele a um bom tempo.

-Ok, vamos direto ao ponto: parada, isso é um assalto! – ele sorriu e deu uma piscadela para mim, enquanto seus comparsas riam.

Dei um sorrisinho em sua direção, é a primeira vez que realmente agradeço ter deixado todas as minhas coisas sob a guardar de Primus.

-Bom, vai roubar o que para você? Minha meia-calça? – dei uma voltinha para ele ver a total ausência de bolsos na minha roupa. O máximo que poderia acontecer é o retardado resolver me revistar...opa, eles continuavam sorrindo. Não é um bom sinal.

-Não querida, se trata se outra coisa. Depois de sua última brincadeirinha, pode imaginar o que aconteceu comigo não é? Eu não consegui me ajustar em ninho nenhum, virei um marcado. Não me queriam nos bares, é uma burocracia terrível seguir o que determina os Acordos e por isso a Clave está na minha cola. Mas tenho que sobreviver certo?

-Você não faria isso. – agora que sabia o que ele queria, estava aterrorizada.

-Nós fazemos. – disse ele, apontando para os outros.

E então avançaram.

Sem conseguir pelos meios tradicionais e sem acesso algum a qualquer mundano pela marcação dos nephilim, eles estão sugando dos seus para se manterem. Não há nada mais repulsivo que isso, mas eles não hesitam diante da presa. Senti primeiro a queimação em meus braços, depois no tronco e então alguém pressionou meu rosto para que eu abrisse os olhos; era ele, sorrindo confiante e mantendo minha cabeça bem erguida.

-No geral eu digo ‘não é nada pessoal’ mas nesse caso... – ele abaixou a cabeça em direção ao meu pescoço. A pergunta era: ele ia acabar comigo logo ou me fazer sofrer tirando lentamente cada gota do meu sangue? Eu apostava na segunda opção.

Mas ele nunca chegou a encostar uma presa em mim – um clarão surgiu e logo em seguida se foi, todos eles estavam inconscientes aos meus pés; mas isso não era de fato um alívio pois eu estava me encharcando com meu próprio sangue e não conseguiria me manter por muito tempo. Voltei para o bar o mais rápido que pude.

-Fox! Fox! Espera droga, não pode andar nesse estado! – a voz dele se sobressaia a qualquer outro som, mas me recusava a atendê-lo.

E, no momento em que Primus segurou meu braço, me lancei ao portal do lugar levando ele junto para sabe-se lá onde.


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Notas finais do capítulo

Então gente, não quero ser chata nem nada mas... EU NÃO SEI O QUE VOCÊS ESTÃO ACHANDO!
Leitores, sei que vocês existem, deixem um review please, nem que seja pra dizer 'tá uma droga', 'você escreve mal' ou 'tó o review que você queria'....
Mas, de preferência, me deem dicas do que vocês tão curtindo!



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