Vampire Fox escrita por biazacha


Capítulo 3
Miami: risadas e o primeiro trago.


Notas iniciais do capítulo

Demorei séculos para atualizar... desculpa!! A faculdade tomou um tempo maior que eu esperava, com o Carnaval deu para colocar as coisas em dia - prometo que vou voltar com a fic!!



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Os efeitos do álcool ainda eram presentes, por isso estava com os braços totalmente enroscados no de Primus, que por sinal estava dando risinhos sem motivo e mexendo as orelhas freneticamente.

Henry carregava uma garrafa de vodca consigo, dando ocasionais goles; uma façanha e tanto, visto que ele carregava uma Blair alegre que comentava sobre a beleza do luar e das estrelas como uma retardada.

Odélia cantava Kiss e Jack fazia uns sonzinhos com a boca para acompanhar – a imagem de fofa dela e taciturno dele foram ladeira abaixo. Eu realmente estava bem mais sóbria que qualquer um deles, não sei como eles se guiavam nesse estado, mas logo estávamos de volta no portal pelo qual chegamos aqui em Londres. Como no máximo em meia hora a noite acabaria ninguém enrolou muito e fomos direto para a América do Norte fazer sabe-se lá o quê.

Miami pra mim era apenas uma cidade quente, multicolorida e cheia de imigrantes latinos – pelo menos quanto à cor e as pessoas, não estava muito longe - mas eu novamente esqueci o básico sobre os membros do Submundo: em um lugar com tantas pessoas naturalmente “calorosas” com os outros, é claro que seres como eu iriam pipocar aos montes.

Aparentemente Henry era conhecido no lugar, porque andávamos pelas ruas e ele era constantemente parado e cumprimentado por várias pessoas (não necessariamente pertencentes ao Submundo, como não pude deixar de notar).

Os cafés traziam música ao vivo, e as pessoas animadas se mexiam com graça e sensualidade, num movimentar de tecidos, cachos luminosos e peles morenas como o mais belo bronze.

Não era estranho que um grupo como o nosso chamasse a atenção, na verdade, eu e Primus, com nossas roupas escuras e pouco sensuais; depois de virarmos em várias quebradas, chegamos a um beco vazio e nada iluminado, com um cheiro forte de sangue.

Sem a menor cerimônia, Henry abriu o tampo de um bueiro e começou a descer – nós nos encaramos por uns segundos e depois fomos todos atrás dele esgoto adentro.

Ou pelo menos era o que eu imaginava que encontraria, mas o som potente das guitarras velozes e a batida característica já me prepararam para o que encontraria: vários corpos serpenteando por um enorme salão de dança.

Andar no meio de toda essa gente é terrivelmente difícil, principalmente quando você tem de desviar de uma asa ou um tentáculo – não queria nem saber de ir para perto das bebidas, então resolvi me juntar ao casal adorador de ervas. O bruxo, que a essa altura mais parecia minha sombra, foi junto e não pude deixar de me perguntar se ele estava se preocupando por causa de minha gafe em Londres. Que constrangedor.

Jack e Odélia se revelaram uns tremendos viciados. Entre um trago e outro do que chamam Erva de Lilith, uma maconha super potente criada por algum bruxo entediado cujo nome não me recordo, eu descobri que eles já se conheciam, que ela tinha um noivo e que era muito amiga do dono do lugar, pessoa que a apresentou Henry a uns cinco anos atrás.

Nesse tempo todo, fiquei brincando com o meu cigarro artesanal nos dedos.

Não me levem a mal, mas eu não faço essas coisas e o dramático desmaio de algumas horas atrás ainda está bem vívido na minha cabeça. Longe de bebidas, distante da pista de dança e definitivamente, sem me drogar.

E o crucial, que é meu saldo bem baixo de festas, eu sempre esqueço.

A essa altura você deve estar dizendo ‘se não quer ficar chapada, sai de perto dos fumantes que assim você traga por tabela’ – qualquer idiota diria isso, pois todo mundo logo reconhece o óbvio – mas eu, com toda a minha superioridade de longos anos de reclusão e ódio aos festejos nas sombras da noite, simplesmente continuei ali batendo um papo meio sem sentindo. O que se provou rapidamente ser um erro.

-Sabe, eu realmente achei a Blair meio vadia. – disse a uma certa altura.

-E quem não acha? – respondeu Jack; todos nos rimos.

-Tudo bem que ela é bonita e tudo o mais, mas precisa ficar daquele jeito? – reclamou Odélia, imitando o olhar afetado e sedutor de nossa companheira de badalações; ri tanto que meus olhos começaram a lacrimejar.

-E diz aí, você já pegou o dono daqui? – perguntei para a fada, que dei um risinho cúmplice para mim.

-Tirar uma casquinha não mata ninguém meu bem, se você quiser, vai ser fácil de agitar para ele.

-Claro, eu aqui no meio dessas loucas desvairadas – apontei para umas garotas próximas, que se esfregavam em si mesmas e em algum parceiro de dança invisível com uma nítida conotação sexual. Todos ali riram.

-Fox, só você não reparou nas pessoas olhando você enquanto passa não é?

-Quem? - quis saber no auge de minha descrença; dessa vez Primus que riu.

-Jack não está mentindo. – disse ele, com a voz bem rouca da união entre bebedeira londrina e drogas americanas, o que me fez refletir sobre qual seria meu real estado.

-Quer dizer que alguém olhou para mim? – ainda estava fazendo piada com a possibilidade.

-Muita gente olhou pra você. Devorou você com os olhos e dava para ver tudo o que eles pensavam enquanto te secavam. – todos riram e soltavam assobios com a declaração; ele por outro lado parecia mortalmente sério.

Pouco antes de meu desmaio em Londres, nós dois estávamos em uma situação bem... íntima, por assim dizer. Eu posso ter quebrado o clima totalmente, mas a vontade dele não foi só passageira – estava nítido no modo como ele me olhava.

Desviei de seu campo de visão o mais rápido possível, mas ainda sentia a desagradável queimação de quando se é observado, como se seus olhos me perfurassem.

Ele parecia legal, era charmoso e bonito, mas seria confiável?

Antes que minha mente divagasse ainda mais, levei o cigarro à boca e traguei.

É claro que isso é uma fuga, e das mais idiotas – nada pior que perder o controle sobre mim numa situação dessas – eu me lembrava de vários caras no ninho, rindo e compartilhando suas táticas de conquista: o quanto se mostravam apaixonados, as juras que faziam, os momentos belos que tinham, para finalmente arrancarem tudo o que queriam de suas vítimas para larga-las no mais completo desamparo em meio à total humilhação. Eles se gabavam disso, comparavam seus troféus.

O Submundo não era um lugar feliz, onde as pessoas se amavam, era frio e cheio de trevas, onde os mais fortes ou cautelosos sobreviviam à custa dos puros. Eu já jurei para mim mesma que não vou ser feita de besta por ninguém.

Se um bruxo antigo, experiente e poderoso me marcou como seu novo brinquedo, não vou lhe dar a satisfação de ter qualquer coisa minha em minhas completas faculdades mentais. Eu lidaria com o que viesse depois.

Os efeitos não vinham tão rápido quanto gostaria. Eu ri mais, falei bem mal de muita gente, dancei com as meninas que estavam ali perto junto com Odélia, fiz apostas idiotas que, ao me ver sem dinheiro, Primus pagou ou recebeu por mim.

O som latino ditava meus movimentos, fluídos e insinuantes; Jack se mostrou uma pessoa bem mais simpática do que eu achava, se bem que todos eram. Eu ri muito mais do que em todos os meus anos sentadas num canto com um cantil velho de sangue na mão, tão leve que poderia flutuar a qualquer instante e as cores, ah, as cores – elas passavam velozes por mim, ora como cervos, ora como cisnes, sempre delicados e me convidando com seus cintilantes pescoços...

As cores sumiram, os sons cessaram. Não havia frio ou calor. Fechei os olhos.

Resolvi abri-los para ter uma noção do quanto havia extrapolado dessa vez.

Só havia o branco. Até onde minha vista alcançava, uma paisagem branca e tranquila se arrastava por todas as direções, marcada por algumas árvores sem folhas e úmidas aqui e acolá. E o crucial: era um dia cinzento e triste, mas minha pele não queimava.

Apalpei a neve no chão, cutuquei a ponta dos galhos, mas nenhum desconforto me atingia ali. E por fim eu entendi o que estava acontecendo.

Sempre me falaram dos riscos de se usar a Erva de Lilith e de como ela viciava fácil; vi alguns poucos serem expulsos do ninho ao entrarem lá carregados desses cigarrinhos, que mais pareciam uma forma de diversão inofensiva e idiota a princípio.

Mas eles te mostravam o que você queria ver – onde você na verdade queria estar – só havia tanto alarde em volta dela, pois aqueles que no fundo carregavam uma amargura enorme com sua condição mergulhavam em seus sonhos forjados com uma das mais poderosas magias. Era contra as regras.

E era tentador. Eu mesma poderia me deixar ficar por ali.

Mas um breve som chamou a minha atenção; aparentemente, eu não estava sozinha ali. Sei o motivo do visual calmo, e era o fato de eu nunca ter visto neve enquanto era humana – sempre foi um sonho que alimentei e, que quando estava perto de se realizar em uma viagem em família, tudo o que eu conhecia de minha vida foi despedaçado e arrancado de mim.

Não havia nenhum motivo para ter algo ou alguém ali comigo.

No meio das árvores surgiu... uma raposa. Uma divertida metáfora minha, eu supunha. Ela se aproximou devagar e se enroscou ao meu lado, sem nenhum ganido ou som similar; eu me identifiquei com o bicho, pequeno e solitário, e pus-me a acariciar sua cabeça, o que a fez fechar os olhos negros.

O tempo em que estou aqui não pode ser medido; parecem alguns minutos e também uma eternidade – eu e a raposa, que até então não dava sinais de querer ir para outro canto. A ausência de sons começou a me incomodar um pouco, mas não o suficiente para eu desejar sair daqui.

Eu podia ficar ali – sem dor, lembranças do que nunca vou voltar a ter, e sem a convivência forçada com quem não tem nada a ver comigo – depois de um tempo, eu poderia dormir. E quem sabe nunca mais acordar, já que alguém como eu não pode ter um fim pacífico como um vivo, que pode morrer dormindo ou cercado pelo amor familiar.

Uma cutucada. Mais uma. E agora a terceira – olhei para minha perna.

Era o pequeno animal ruivo que se agitava ao meu lado: seu rabo mexia freneticamente, assim como suas orelhas e os olhos me fitavam com o que era de modo inegável... aflição, na sua forma mais pura.

Tardiamente eu percebi. Em momento algum era eu, de alguma forma extraordinária eu, em pleno devaneio causado por intoxicação, estava vendo Primus. As orelhas fofas que mexiam, rápida e ansiosamente, os olhos misteriosos, que me fitavam, cada vez menos escuros e mais próximos dos dele – a mensagem era clara: eu tinha de voltar.

-Quem garante que eu vou ficar bem? Que vou conseguir encontrar uma forma de ver a felicidade de novo? – me assustei com a mágoa carregada em minha voz.

Ele não se deu por vencido, continuava puxando a minha roupa a um passo de rasga-la; ele literalmente lutava. Suspirei e me curvei em sua direção.

Fechei os olhos.

-Fox? – a voz dele era clara, como se eu convivesse com ele há muito tempo.

-Estou bem. – respondi.

-Sério? Eu não – respondeu ele, então notei a voz meio embargada – não sei quem foi o idiota que batizou isso de Erva de Lilith, mas ele definitivamente não viu os efeitos nocivos que ele causa em nós. – não pude deixar de dar uma risada com aquilo, mas ela saiu seca e machucou minha garganta.

Agora eu realmente estava com dor, meu corpo estava mole, meus olhos e o nariz ardiam, sentia um gosto amargo na boca e muita náusea.  O suor empapava cada centímetro meu e a respiração saia com dificuldade. Estava novamente apoiada em Primus, mas ele não parecia nada bem. A palidez, os olhos vermelhos, o sorriso forçado e a respiração irregular – aquilo realmente era bem pior para ele.

-Não nascemos para alucinógenos não é? – comentei, ele riu.

-Acho que nos saímos melhor com a dança. – não pude deixar de notar como ele também deixou o álcool fora da jogada.

Voltamos a nos juntar uns vinte minutos depois, e todos pareciam realmente ter exagerado muito dessa vez – Blair até usava um vestido novo, preto colante e com muito brilho, porém todo picotado numa customização bem ousada.

Nem perguntei como ela acabou assim, a festa tinha finalmente acabado.

-E então queridos, o que acham de mudarmos de paisagem? – disse Jack.

Oh não, pensei, mas na verdade não havia muito que palpitar: se Primus quisesse, eu teria de ir junto.

-O que tem em mente? – perguntou Blair com um tom mais afetado que o normal.

-Eu pensei... no Brasil.

Sabia que ia parar no Hemisfério Sul quando um a um, os rostos se iluminaram com uma animação quase voraz.

-É uma boa chance – disse Primus no meu ouvido, já na frente do portal que nos levaria.

-Chance do que? – perguntei pra ele, recebendo um de seus sorrisos solares de volta.

-De você buscar o que acha que pode te tornar feliz de novo.

Pensei em retrucar mas, oras, o bruxo-raposa podia ter razão!


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Notas finais do capítulo

Próxima parada:... uma cidade do Brasil!(qual será?) Mandem Reviews please! (ç.ç)'



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