A única coisa que eu sabia era que doía.Eu seguia apenas a voz de alguém que berrava “para o lago!” enquanto várias criaturas que faziam zumbidinhos depositavam seus ferrões em minha pele dolorida.

 As coisas estavam começando a ficar estranhas.Galhos de árvores eram mãos e tentavam me pegar, a terra virava água e eu tentava me manter de pé, cambaleando.Flechas voavam em minha direção e pessoas berravam.Eu cheguei a algum lugar estranho, como uma poça de areia movediça e vi todos pulando em cima dela.

  Eu iria ficar ali parada esperando as teleguiadas acabarem de me acabar se uma pessoas desgovernada não houvesse me empurrado para dentro da “lama”.De início eu me debati, pensando que aquela seria a minha morte.Mas a água não estava me puxando para dentro.E...era água! Não era lama!

  Mas os efeitos começavam a se intensificar mais.Eu sentia tordos me bicando e constatei que doía muito.Eu tinha medo de voltar a superfície porque se não as mãos me pegariam e me matariam.Eu olhei para os lados e só havia Cato que vinha em minha direção.

  Ele parecia acenar para que eu fosse em sua direção mas eu me recusei.Agora ele fazia sinais que significavam algo como subir.Ele estava me dizendo em linguagem de sinais que eu deveria subir.Mas a água era boa, era quente, era confortável.E era segura.Nenhuma mão ali iria me levar para dentro do esconderijo que seria a sua parte interna.

 Eu estava bem lá, e Cato já tinha ido embora.Vai ver ele desistiu, eu pensei, feliz..Ouvi duas pessoas discutindo acima da superfície.Eu comecei a nadar na maior felicidade enquanto pensamentos ótimos invadiam a minha mente.O dia do meu aniversário de doze anos, o dia em que aprendi a lançar facas, o dia em que provei que o menor nem sempre é o mais fraco.

 Mas então dois pares de mãos fortes me puxaram para cima e eu me debatia e chutava todas as duas pessoas.Elas estavam me machucando.Meu braço havia sido queimado e os tordos tinham me picado.Então começaram as dúvidas.Tordos?Como poderiam haver tordos na água?Então eu finalmente entendi o motivo de eu inspirar tão avidamente ao chegar na superfície.

  Eu estava ficando sem ar embaixo da água.Eu iria morrer.Lá não era um refúgio seguro como eu pensava, alucinada.Lá eu estaria morta.Aquilo era veneno de teleguiadas que tinham como função mexer o seu psicológico.Vespas superdotadas de veneno que te levariam a morte em excesso.Então era isso.De volta aos Jogos.De volta a superfície.De volta à realidade.

 -Onde está Peeta? –foi o que eu consegui balbuciar.Eu deveria ter agradecido Cato e Marvel por terem me tirado da água, mas em vez disso, eu apenas tento aumentar a raiva que eles estavam de mim, por ter-lhes dado tantos problemas.

  -Eu não sei. –respondeu Cato.

  Marvel estava com um olhar distante e me perguntei se o efeito do  veneno não tinha passado nele ainda.Mas não parecia ser isso.Marvel parecia estar com olhos molhados.É isso.Glimmer se fora.

  A patricinha do ângulo sexy e mente de Carreirista  se fora.Ela, que era capaz de te enganar com sorrisinhos amigáveis e depois cravar um machado nas suas costas.Ela. que me deixou com ciúmes.Ela, que havia virado a minha inimiga imediata, fazia o garoto ao meu lado estar com os olhos marejados por sua falta.

  -Megan? –eu arrisquei.

 Cato apenas balançou a cabeça, negando.Ele não esboçava emoção alguma.Então era assim que terminava as minhas crises de ciúmes.As duas estavam mortas.As duas Carreiristas.Eu não queria nem pensar em como elas haviam terminado.Com suas feições grotescamente  modificadas e loucas certamente.Pelo menos era isso o que meu pai Pacificador dizia ser como as vitimas das teleguiadas terminavam.

 Eu senti vontade de consolar Marvel, mas essa não era uma ação que as pessoas de Panem esperariam de uma Carreirista.Então eu me lembrei que Glimmer havia dormido com o seu arco e Katniss estava na árvore.Mesmo com o veneno em suas veias, ela poderia perfeitamente tirar o arco das mãos de Glimmer e a última coisa que precisávamos era dela com uma outra arma por descuido meu.Já fora assim com a faca.

  -Levantem.O arco estava com Glimmer.A Katniss vai acabar pegando.E o Conquistador...

 Então as coisas fizeram sentido.Peeta não estava pensando na sua vida ao se aliar a nós.Ele nunca esteve do nosso lado.Ele nos traiu.Quando eu formulei esse pensamento, meus músculos pareceram virar vento, porque eu comecei a correr como ele pela floresta afora.Com cada picada de teleguiada me doendo a cada movimento.

 Mas eu queria, eu precisava me vingar do Conquistador.Ele tinha feito isso comigo.Eu estava queimada e machucada por culpa dele.Porque eu fiquei para ajudá-lo.Meu irmão não faria isso comigo.Ele não me trairia assim.Deixei Cato tomar a dianteira na corrida e eu os vi.

  Próximos da árvore que elas tinham morrido.Ele empurrando ela.O veneno talvez não tivesse deixando as minhas veias completamente, porque assim que eles nos vira, me pareceu que Katniss tinha conseguido correr decentemente.E Peeta ficou lá, a nossa mercê.Ele tinha tentado ajuda ela.

 Não me interessava se ele estava louco de amores ou não.Se ele fez isso por bem ou por mau.Eu apenas fui até lá e o empurrei.Ele caiu e bateu a cabeça na árvore que estava mais atrás.Quando ele se ergueu novamente,meio tonto, eu sentia uma vontade enorme de lutar, mas Cato me empurrou para trás dele.

  Ele, eu tinha certeza, ainda estava sobre os efeitos das teleguiadas.Peeta foi com a sua faca e esfaqueou superficialmente o ombro de Cato.Então eles começaram a lutar.Cato com sua espada e Peeta com a faca, a mesma faca que tinha me acuado na Cornucópia.

 Só se ouvia o barulho nauseante de armas batendo contra carne humana e gotas de sangue pingando.Quando Cato enfiou a espada na perna de Peeta, demorou tempo suficiente para chegar, na minha opinião, pelo menos até o osso.Então para mim bastou.Eu saí correndo para o meio da floresta e vomitei quase tudo o que eu tinha no estômago.Algumas partes da minha roupa estavam chamuscadas e sujas de sangue e vômito, por isso resolvi entrar no lago e pelo menos tentar me lavar.

  Tirei tudo e fiquei só com a roupa de baixo.Deixei a água tentar levar tudo e emergi novamente.Vesti a minha roupa rapidamente e percebi o quão perigoso era o que tinha feito.As pessoas restantes na arena, tinham medo de mim porque eu tinha me aliado com um bando de brutamontes.Porque sem dúvida alguma, pelo meu tamanho  não seria.Soltei o meu cabelo do rabo de cavalo que tinha sido feito a vários dias e os deixei que caíssem em ondas pelos meus ombros.

 Com muito cuidado, comecei a analisar todos os meus ferimentos.Haviam algumas picadas nas mãos , no pescoço e na minha perna.Eu tirei os ferrões com uma nova pontada de dor.O remédio para queimaduras estava na mochila de Cato e pouco alívio tinha me proporcionado.

  Olhei para o reflexo do meu rosto na superfície da água.Eu estava mais magra e minha pele mais escura.Meus olhos, que antes tinham o aspecto inocente agora estavam atentos e beiravam o animalesco.  

  Os meninos então apareceram.Eles estavam com machucados horríveis e suas vestes estavam sujas de sangue.Eles vinham com olhares satisfeitos e quase felizes.Até que Cato me viu.

  -Porque você fez aquilo? –ele berrava segurando o meu braço e me erguendo do chão.

  -Aquilo o que?

 -Aquilo tudo!Você tentou lutar com o Distrito 12 e saiu correndo sozinha!Ainda não me deu ouvidos, quando eu disse para você voltar para a superfície!

 -Eu estava com veneno de teleguiada!E você está apertando o meu braço que está queimado!

  Ele me soltou, abriu a sua mochila e me deu o frasco.

 -Toma.Passa isso.

  -E o Peeta?

  -Ele saiu cambaleando   pela floresta.Vai morrer em breve. –disse Marvel –E você fica ótima com o cabelo solto.Devia fazer mais.

 -Para de gracinhas, Marvel! –berrou Cato.

  -Tudo bem... –Marvel disse.Mas eu podia ver o sorrisinho que ele lançava ocasionalmente em nossa    direção enquanto nos arrumávamos para dormir.