Ela estava deitada em sua cama, uma foto amassada nas mãos delicadas. Sabia que era masoquismo, mas não conseguia desfazer-se dela, não conseguia parar de olhar para o jovem casal que sorria radiante, presos nos braços um do outro. Ela realmente tentara não se importar, mas parecia estranhamente certo continuar apegando-se à dor.

Rose secou as lágrimas de seu rosto, irritada consigo mesma. Aqui estava ela, chorando sozinha por um garoto que mal sabia quem ela era. Ela, ao contrário, sabia tudo sobre ele, é claro. Dos livros que gostava à data de seu aniversário. E sobre a garota que o abraçava, como se não precisasse de mais nada no mundo. Talvez este fosse realmente o caso – o que desejar quando se tinha Scorpius Malfoy? Caroline Nott realmente era uma garota de sorte.

Rose olhou-se no espelho defronte a sua cama. Ela e a namorada de Scorpius não poderiam ser mais diferentes. Suspirou pesadamente enquanto avaliava a própria imagem – os cabelos castanho - arruivados escapando do rabo de cavalo mal-feito, as roupas largas e o esmalte escuro descascado. Será que era este o problema? Fôra a aparência delicada, a maquiagem impecável e os cabelos perfeitos que o atraíram?

Ela jogou a foto no chão, subitamente com raiva, e começou a socar seu travesseiro, tentando extravasar sua frustração de alguma forma. Já fazia tanto tempo, ela não podia simplesmente parar de sentir?

Não sabia dizer ao certo quando se apaixonara por Scorpius, nem como. Diziam que uma paixão surgia com convivência, não? Não tinha sido assim em seu caso. Ela apenas se sentira fascinada por aquele garoto louro, com suas roupas escuras e tatuagens. Não era nada demais, ela tentava dizer a si mesma – ela apenas o achava interessante. Ela conseguiu manter esta ilusão por alguns meses, negando qualquer insinuação de seus amigos enquanto a atração pelo garoto não parava de crescer.

Ela descobriu seu nome no dia em que conversou com ele pela primeira vez; ele conversava com Alvo e os dois foram apresentados. Não o tirou da cabeça depois disso. Pouco a pouco, foi admitindo que talvez tivesse uma queda pelo garoto. Mas não importava, não é? Não era nada sério.

E então, ela recebeu a bomba. Ele estava namorando. E tudo desabou, porque ela foi forçada a encarar o que tentava negar para si mesma a meses, aquilo que ela mais queria evitar – ela tinha se apaixonado. Doeu descobrir daquela forma. E doeu não entender como surgira este sentimento.

Ela ainda não entendia, deitada em seu quarto, sete meses depois de sua descoberta. Não entendia se tinham sido os cabelos bagunçados, o sorriso brincalhão ou a voz gentil. Não entendia por que tinha que sentir tudo isso justo por ele, um garoto interessante e inacessível. Não entendia por que ainda alimentava isso.

Se ela vivesse numa história, provavelmente ele iria aproximar-se dela da noite para o dia, e dizer que a amava a séculos. Infelizmente, isso não era ficção, e a realidade não era gentil. A realidade tinha Scorpius e Caroline se divertindo em algum lugar, enquanto Rose estava deitada sozinha em seu quarto, com a camiseta puída de uma banda que ninguém conhecia, lendo mangás e se sentindo um lixo. Cada vez mais consciente da verdade torturante – ela se apaixonara, e isso, que era tudo para ela, não significava nada para ele.

Se ao menos pudesse tê-lo por um momento... No inicio ela ainda acreditava que isso seria possível. Como era confortável, quando ela ainda conseguia se iludir, e se sentir inteira. Às vezes ela quase desejava voltar àquele tempo.

Mas ela sabia que não o faria, mesmo que pudesse, e que continuaria se apegando. Por mais que seus amigos repetissem que era idiotice; por mais que doesse; por mais que às vezes ela sentisse vontade de desistir de tudo. Por que não dava mais para imaginar o que ela seria sem este sentimento; Scorpius já fazia parte dela, mesmo que ele nem imaginasse isso. Não teria um final feliz, ela sabia disso. Mas nada mudaria, até o tempo apagar todos os sentidos.

Ela continuaria sendo a garota invisível que amava desesperadamente um garoto interessante.