Natasha - 1983 escrita por Carol Costa


Capítulo 8
Capítulo 7




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 Em uma segunda-feira, eu estava o observando-o entrar na escola, ele usava camiseta preta, calça jeans e tênis All Star preto.  Suas mãos estavam no bolso e sua mochila em um dos ombros. Mais uma vez ele tinha me prendido em um mundo sem sentido, em um mundo onde eu só conseguia ver ele. Meus olhos ficaram nele, e estava tudo bem até ele olhar pra mim. Eu suava frio, meu coração havia acelerado de uma maneira incrível. Era algo diferente, um sentimento novo e pronto para ser explorado. Um sentimento com uma pontinha de dor e prazer. Dor porque, eu não podia tê-lo. Prazer porque havia uma tentação que parecia ser insaciável, uma vontade louca de conhecê-lo, de ficar próxima.

      Na sala eu estava quase dormindo, então pedi para o professor me deixar ir beber água e ele deixou. Não muito longe da li, ouvi alguns estalos de beijos. O barulho estava vindo da escada. Subi alguns degraus e antes de eu fazer a curva que a escada fazia, os estalos estavam ficando mais intensos. O meu subconsciente deu um alerta para eu não olhar quem era, mas, já era tarde. Bernardo e Beatriz estavam se beijando. Eu não sabia se ia até lá e jogava ela escada abaixo ou se corria gritando. Não fiz nenhum nem outro. Apenas virei e segui o caminho pro pátio. Queria ficar sozinha e sabia exatamente aonde eu iria conseguir isso. Vamos dizer que este lugar era atrás da sala de coordenação – onde nunca havia ninguém – Sem comentário pra isso.

    Ouvi uma música no fundo do pátio – Um lugar que quase não era frequentado por ninguém, apenas pelos funcionários e pelos garotos que matavam aulas. E ele estava lá, com um caderno no muro onde estava sentado. Tocando o seu violão preto, algo que mundo ainda não conhecia. No entanto não falei com ele. Eu andei e fiquei do outro lado do muro sentada, pensando. Suspeitar de algo é uma coisa, você ver e ter certeza é outra.

    O muro não era alto, mas queria fosse, só para imaginar se a distância do chão até a mim, onde estava sentada, fosse confortante o suficiente para ficar longe do Bernardo. Inclinei meu corpo para frente, enquanto as pontas dos meus pés tocavam o chão. Claro que não era confortante. Por mais longe que eu ficasse, a imaginem estaria na minha mente ainda. A sensação de traição ficaria comigo, e isso não dava pra mudar.

     Eu não consegui descobrir o que havia dentro de mim. Eu me sentia estranha, talvez eu estivesse decepcionada com as pessoas que até aquele instante eu acreditava que fossem verdadeiras comigo – Mesmo suspeitando por algumas atitudes – De modo geral, eu amava todos que estavam ao meu redor, mas eu estava presa a uma esfera de ilusões feita por mim e, eu fiquei apenas ali, prestando atenção no que estava acontecendo ao meu redor. Eu estava ficando tonta com tudo aquilo. Como se eu tivesse girando, girando e girando… 

O sinal bateu e todos saíram de suas salas indo para o pátio. Olhei para o menino ao lado, que deixava meu coração parado, e desviei o olhar. Quando seus dois amigos chegaram, eles o cumprimentaram e eu ainda sim senti seu olhar em mim.

– E ai Dinho, ta marcado pra depois da escola né? – Eu olhava o chão sem ligar para os meninos.

- Dinho? Hm saquei… Tá paquerando a patricinha da escola. Ela tem namorado em, cuidado!

– Idiotas! – Disse alto para que eles ouvissem e saí.

– Uuuh! Ta nervosinha! – Gritou um dos meninos.

    Fui embora sem ao menos olhar pra trás e segui o caminho direto para quadra. Sentei na arquibancada e depois de alguns minutos lá, senti algo descendo no meu rosto. Passei a mão e enxuguei as lagrimas que caiam sobre minha face.

   Bernardo havia jogado fora tudo que eu sentia por ele por uma menina que subornava os professores para poder passar de ano. E Beatriz havia feito o mesmo. E agora eu pergunto: Por quê? 

Naquele momento, o tempo pra mim não existia. Mal dei conta de que o sinal já tinha batido pra entrar novamente nas salas. Eu não me movi, na verdade eu nem ao menos me senti ali. Continuei lá, sentada com os joelhos no peito, olhando o nada. Sem berrar, sem fazer barulho algum, sem hesitar. Fiquei lá até a hora da saída.

   Em casa, não disse quase nada. Minha mãe perguntara sobre o Bernardo e mal respondia. Naquela noite eu fui cedo para cama, Bernardo ficou insistindo, ligando de cinco em cinco minutos. Minha mãe batia e eu não respondia, uma vez que ela entrou, eu fechei meus olhos, fingindo estar dormindo. Eu não dormi direito aquela noite. Fiquei pensando no que eu iria fazer em relação a Bernardo, mas nenhuma solução veio, só o sono depois de algumas horas. No dia seguinte ele estava na porta de casa me esperando, e por um instante eu vi aquela cena se repetindo várias vezes. Ele com aquele sorriso de bom moço – que enganava a todos, menos a mim – e eu com aquela indiferença. Durante aquele tempo, minha mãe e alguns parentes ficaram fazendo joguinhos emocionais, não apenas isso, mas aquele negócio de definir o que era e o que não era bom pra mim já estava me deixando nervosa. Pra ser sincera, às vezes, as coisas que eu vivia pareciam ser forçadas… Não era como respirar ou acordar… Era algo como seguir as regras e não sentir a magia.

   Quando comecei a olhar o mundo mais além do que os olhos das pessoas viam, comecei a tirar minhas próprias conclusões. Como: Meninas como Beatriz, faziam de tudo para agradar a todos e fazer parte daquele ciclo. E de certo modo eu fazia o mesmo; pessoas como meus pais, são do tipo manipuladores emocionais, podem até amar, mas quando o assunto é dinheiro fazem o que for preciso para garantir. Resumindo, eu era um fantoche nas mãos deles. E eu percebi que dinheiro demais, estraga a pessoa. Toda vez que eu olhava para janela do meu quarto, via as luzes acesas, ouvia as buzinas dos carros…  Dava uma vontade grande de sair daquele mundo, lá não deveria ser tão mal, como no outro mundo que chamava de meu. Foi neste instante que eu parei de me importar e tentar ser perfeita para todos.


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