Natasha - 1983 escrita por Carol Costa


Capítulo 11
Capítulo 10




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Fomos então a uma lojinha perto dali, vendia de tudo lá. Compramos saias, blusinhas, sapatos, maquiagens e algumas bijuterias. Compramos também tintas para colorir os nossos cabelos. Brisa coloriu o dela de vermelho alaranjado, e eu colori não só o meu cabelo de verde, mas minhas sobrancelhas também. Na primeira noite em que nós íamos sair para conhecer o mundo, eu me olhei no espelho, já arrumada, e percebi que a Ana Paula havia deixado de existir.

– Você ta demais Ana Paula!

– Ana Paula não. Natasha. – Nos sorrimos

   Com as nossas carteiras falsas íamos a qualquer lugar que queríamos, bebíamos e fazíamos tudo acontecer. Não tínhamos amanhã e nem aonde dormir. Sempre arrumávamos um lugar para isso. E na manhã seguinte saímos sem acordar ninguém e pegávamos tudo que eles deixavam no chão. Roubar carros sempre fora nosso passatempo favorito, da ultima vez que roubamos um carro fomos para o Rio. Nossos pais espalharam cartazes por toda Brasília e na parte litorânea do Rio, para poder nos encontrar. Mas nunca demos alguma pista para eles. Numa noite qualquer, eu sentei no banco de frente pro mar. Vi minha foto e do lado tinha uma da Brisa em um panfleto branco no chão e peguei. Logo em baixo havia um número de contato. E por um tempo me fez sentir saudade. Na verdade nem ao menos sei do que eu senti saudades.

– Você acha que iria ser diferente? Essa aliança iria fazer sentido se voltasse? Ela faz sentido? Eu tirei a aliança, e a deixei a vista no alto e fiquei a olhando.

– Não, mas daria um bom dinheiro. – Nós duas rimos e Brisa se sentou ao meu lado.

– Só somos notadas por fazer algo chamativo. Eles usavam a gente pra beneficio próprio. Ou nos abandonávamos. Não vamos parar agora. Vai me dizer que você não se sente livre? Natasha é isso ou é voltar a viver aquela vida.

– Eu queria que as coisas fossem diferentes…

– Nós duas queríamos. Mas pensa comigo, se não fosse acontecer não iria acontecer. Nada acontece por o caso Natasha. Isso é passado, esquece do ontem, pois ele não existe. - Ela pegou o papel da minha mão, amassou e jogou fora.

– Estamos juntas nisso. Combinado?

– Combinado. – Nós nos abraçamos e caímos mais uma vez na noite.

  Estava no bar, pegando uma bebida quando vi um dos rapazes no quais eu fiquei. Virei de costa e escondi meu rosto, Brisa me olhou desconfiada e olhou para os rapazes perto da entrada.

– Você os conhece?

– Só os dois, o loiro e moreno… – Ela me cutucou e fez um olhar para eu contar mais.

– Dou um nome diferente para cada cara que conheço. Pra facilitar minha vida

– Nossa você é esperta em.

– A gente aprende.

- Disfarça Naty, um deles está vindo.  - Arregalei os olhos no mesmo estante. 

Fiquei de frente pra Brisa enquanto ouvia ele fazer um pedido. Não demorou muito e ele me cutucou.

- Licença... Conheço você? - olhei para trás sem nenhuma vontade de encará-lo.

- Ei...

- Jéssica? - dei um sorriso forçado.

- Nossa, eu tentei te ligar, mas caiu em um número de outra pessoa…

- Ow! É? Pois é, eu fui roubada.

- Nossa e você tá legal?

- Ah! Claro que sim, ele só levou o meu celular.  - houve um silêncio desconfortável.

- É pois é, eu to ali do outro lado, se quiser aparecer lá..

-Pode deixar. Eu tenho que ir agora, minha amiga e eu temos uma coisa pra fazer. 

- Tá bem. Tchau. Bom te ver.

- Idem. - Nos despedimos e em seguida puxei Brisa pro meio da multidão. Ficamos rindo por algumas horas pela situação desconfortável que acabara de acontecer. Sem vermos, nós esbarramos no outro. 

- Camila? - senti Brisa me olhar e segurei meu riso.

- Oi… Quanto tempo… 

- Eu te liguei, mas...

- É, eu fui roubada, chato isso, mas eu to bem. É. Eu tenho que fazer uma coisa com minha amiga. Bom te ver cara! - Apertei seu braço e sai puxando Brisa comigo.

Soltamos gargalhadas novamente, Brisa me chamava de louca e logo uma música da Legião começou a tocar. O povo se juntou ali mesmo e começaram a dançar. Fomos para um canto um pouco calmo e ela me cutucou. 

– Só você mesmo… Toma. Ta na hora de esquecer esse mundo cruel e entrar no paraíso. – Peguei o comprimido e o tomei junto com a bebida que estava tomando.

– Obrigada! Agora eu vou com tudo.

– Isso ai garota! - Quando me virei, eu o vi. Meus olhos ficaram paralisados nele. E Brisa seguiu meu olhar.

– Hm… Quem é ele? É um gato!

– Eu não sei, mas tenho a impressão de que o conheço de algum lugar.

– Vai até lá! Chama-o pra dançar!

– Ele não é um cara qualquer… Olha - apontei pro cartaz.

- Capital Inicial… Hum… Ele é gatinho.

- Devo estar confundindo… Vem vamos dançar.

 Com um tempo já dançando com Brisa, um dos caras que vi na entrada, me viu. Foi um tanto complicado. Pois o outro veio até a mim também no outro segundo. Mas logo, consegui despistá-los. Brisa e eu dançamos e nos divertimos mais do que todos ali dentro – tinha certeza disso –, depois de algumas horas dançando. O dono da casa de show anunciou uma banda nova, que estava começando não tinha muito tempo.

– Com vocês, Capital Inicial!

    Eles eram bons, mas depois de um tempo eu não consegui ligar as coisas.  Com as horas passando não tinha mais noção do que estava acontecendo. Eu fazia as coisas, dizia sim para tudo e ria de tudo. Eu via tudo rodando e de repente tudo ficou escuro. No dia seguinte, quando acordei, vi algumas pessoas arrumando o local e não via ninguém conhecido, apenas Renato, o barman.

– Bom dia Natasha. Bela tatuagem.  – Eu o olhei e assenti com a cabeça.

 – Como?

– Ah tatuagem no pescoço. – Olhei-me no espelho e vi a teia de aranha no meu pescoço.

– Nossa… Tenho que ir!

– Espere, tem alguém vindo trazer seu café da manhã!

– Não obrigado! - Sai um pouco apresada e esbarrei em um cara da banda da noite passada, pelo menos eu acho.

– Espera… Onde tá indo? Eu trouxe café, não quer? - Eu o olhei nos olhos e senti a mesma coisa que sentia quando via Dinho na escola.

– Não. Obrigada. – Tirei-o do meu caminho e segui para praia.


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