Filha Do Amor escrita por Noderah


Capítulo 20
Rehab


Notas iniciais do capítulo

Então, eu demorei pra cacete, mas esse é o maior capítulo que eu ja fiz.



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                Os dias passaram lentos. Quase se arrastando.

                Todos se lembravam de Mark e por um momento fiquei feliz dele ser tão querido. Quando eu passava, os semideuses paravam de sorrir, rir e brincar. Eles respeitavam minha dor e lembravam-se do ocorrido, ou apenas eu lembrava a morte de Mark.

                Passei os dias preguiçosos com Derek. Ele fazia teste em mim e era o único momento que eu esquecia, pelo menos minha mente. Eu não sei o que – talvez minha alma? Meu coração? – não me deixava esquecer totalmente, e eu não podia ser como eu era.

                Os testes progrediam e ficavam mais exaustivos e difíceis. Como testes de habilidade, de rapidez não somente de meus pés, mas de minha mente. Joguei xadrez por três horas com um computador e perdi.

                Quando não estava com Derek, estava com Erik. Nós não fazíamos nada, apenas sentávamos em algum lugar e olhávamos para o céu. O que não é muito inteligente, já que nos dois pensávamos em Mark e o lugar para onde ele teria ido seria sem duvida embaixo da terra.

                Quando não estava com Derek, pois ele estava montando mais testes, e não estava com Erik, pois ele estava dormindo para evitar pensar; Eu treinava. Tres, quatro, cinco horas seguidas. Sem parar para descansar.

                Nissa queria que eu ficasse com ela, mas eu não queria que ninguém ficasse mau perto de mim, nem que tivesse que ficar se sinalizando.

                “Nos somos seus irmãos, você deveria ficar conosco”, ela dizia.

                ...

                - Você está protegendo muito a esquerda e deixando um espaço enorme na direita. – Disse meu treinador, filho de Ares, Fred.

                Pulei para a esquerda, quando ele tentou me acertar na direita. Nossas espadas se agitavam no ar, e nos saltávamos. Fred correu e eu fui atrás dele, seus pés tinham uma sincronia avançada e que me fazia prestar atenção, só nisso. Ele virou de volta para mim e eu quase bati de frente com ele, se não fosse a tamanha atenção que prestava em seus pés.

                Fred tentou apunhalar meu braço direito, mas eu repeli a sua espada com a minha e ele se desequilibrou caindo no chão. O filho de Ares riu e eu o ajudei a levantar.

                - Muito bem. É realmente uma deusa.

                - Obrigada. – Agradeci com um meio sorriso.

                - Descansar?

                - Agora?

                - Precisa se hidratar. Mesmo sendo uma deusa, não pode se descuidar. Teremos caça a bandeira amanha. Precisa ganhar pelo seu chalé.

                Me apoiei numa árvore.

                - “Ganhar pelo meu chalé”? O que quer dizer?

                - Ah, desculpe. Não foi o que eu quis dizer, é que você é a líder quando se trata de assuntos militares... Certo? Soube que foi você quem desenvolveu a caça.

                O bom dele, era a sinceridade. Eu poderia perguntar qualquer coisa que ele me diria a verdade. Não tinha medo de mim.

                - Não temos líderes nesse sentido. Só a Nissa, como líder do chalé.

                - Nos, de Ares, temos um líder para cada assunto. São tantos, que todos tem uma obrigação. Sei que quer colocar o chalé 10 no topo, novamente. Mas precisa de organização.

                - “Novamente”?

                - Sim. – Fred foi andando em direção ao chalé 5. – A um longo tempo atrás o chalé 10 era bom em tudo. Os que sempre iam para as missões, os que ganhavam todos os jogos e o chalé mais equilibrado. E sempre os mais bonitos.

                - Mas algo aconteceu. Algo foi perdido. Esse algo que todos tentam resgatar. Mas poucos sabem o porquê é tão importante. E esse é o por que: Vocês foram amaldiçoados.

                - Então o objeto pelo qual Mark se sacrificou, que todos os outros se sacrificaram, seria para nos?

                - De certa foram, sim.

                Fred sentou nos degraus da porta.

                - Obrigada, Fred! Você me ajudou muito!

                Pela primeira vez, eu corria de verdade. Com a verdade da esperança, com esperança de lutar e vencer!

                Cheguei no chalé 10, mas não tinha ninguém lá. Olhei meu reflexo e percebi como eu estava suja. Na minha bochecha direita tinha uma arranhão, na minha perna tinha uma pouco de lama, folhas penduradas no meu cabelo e um corte no meu colo. Fazia tanto tempo que eu não me arrumava... Não estava honrando minha família.

                Peguei uma toalha e entrei debaixo do chuveiro.

                Tomei um banho de meia hora, coloquei uma toalha na cabeça e abri o armário que pertencia a todos nos. Parecia um armário comum. Era de madeira, com duas portas e só. Mas por dentro, parecia o armário da Carrie de Sex And The City. Quatorze estantes lotadas de roupas em ordem de cor, marca, estilo e tecido. Aquilo parecia ser um pedacinho do “Chalé 10 perfeito”.

                Escolhi um vestido azul e sapatilhas da mesma cor. Tudo fazia um contraste bem bonito com o meu cabelo e eu me sentia bonita novamente.

                Coloquei o anel no dedo e sai do chalé. Fui em direção ao pavilhão onde o almoço estaria sendo servido.

                Todos ainda olhavam para mim, mas não era como se lembrassem da morte de Mark, mas como se entendessem que eu estava tentando passar por cima disso.

                Nissa estava conduzindo nossos irmãos a mesa e ao me ver sorriu.

                - Ell.

                Ela me abraçou e me fez sentar ao seu lado.

                - Você parece melhor!

                - Eu estou. Tenho que contar algo.

                Não precisei chamar atenção de todos, eles já prestavam atenção em mim. Contei a eles, tudo o que Fred tinha me contado. Ficaram totalmente chocados e nervosos ao perceberem que tudo o que eles tinham feito para conseguir o objeto perdido, foi nada.

                - Preciso acha-lo.

                - Nos precisamos. – Nissa olhou em meus olhos.

                Eu tinha certeza que ela queria vir comigo. Queria honrar o nome de nosso irmão.

                - Você que precisa lidera-la, Ell. – Disse Narseu.

                - Vou pedir uma missão ao oráculo hoje. Se eu puder escolher quem vai comigo, será Nissa.

                - Todos de acordo. – Disse uma de minhas irmãs.

                Sorri.

...

                Depois que acabei de comer, fui procurar Quíron. Mas um pequeno clique em minha mente me fez parar e ouvir os sons.

                Ouvi as árvores, os pássaros, algum cachorro ao longe, um urso na montanha, pratos sendo lavados, semideuses lutando, uma conversa animada entre duas garotas – ou um garoto de voz muito fina -, um gato miando – Fruitloops – e então uma criança gritando.

                Virei a cabeça para todos os lados. Ela não estava no acampamento. Me esforcei para escutar e pude perceber que tinha um monstro junto com ela.

                Sem tempo para chamar alguém, desci a colina correndo. Perto de chegar a ela, cai e fui escorregando até o chão. Tirei o anel do dedo e preparei uma flecha. Com muita cautela, procurei a criança. Na beira da colina, uma garotinha estava de costas para mim. Ela estava caída no chão e chorava enquanto uma gorgona se aproximava perigosamente. Toda vez que a menina chorava alto, ela hesitava.

                Saltei atrás da menina e atirei a flecha no monstro. Ela girou e minha flecha ficou presa em uma árvore. Puxei a menina, que se assustou comigo, mas cedeu. A coloquei nas minhas costas com uma mão só e puxei outra flecha, as quais ela tinha medo de tocar. Preparei a flecha e o monstro pulou em cima de mim. Atirei antes que ela pudesse me alcançar e ela caiu no chão ferida, mas não morta. Sem entender o que tinha acontecido comigo, corri colina acima com a menina em minhas costas e a gorgona quase me alcançando. Perto da fronteira, puxei uma flecha – ainda de costas para o monstro -  e atirei em um giro perfeito. A Gorgona estava tão surpresa que nem notou quando viro pó.

                A menina nas minhas costas arfava e eu sentei no chão. Ela não soltava meu pescoço de jeito nenhum, parecia um coala nas costas da mãe. Eu a puxei e a deitei eu minhas pernas.

                Alguns filhos de Atena passavam por ali e me viram. Vieram correndo me acudir, mas a menininha olhava para eles com o medo refletidos em seus grandes olhos pretos.

                - Vai ficar tudo bem.

                Ao ouvir minha voz tilintante, ela se encolheu em meus braços. Ela era linda! Pequena, com uns quatro, cinco anos. Cabelos lisos e pretos, com uma franjinha caindo nos olhos. Usava um vestido que um dia eu acho que fora branco. Suas mãozinhas eram pequenas e gordinhas e seus cílios longos.

                Levantei do chão com a ajuda de um dos filhos de Atena e a carreguei até o meu chalé. Metade do chalé estava lá, e Steve e Will estavam lá. Quando eu entrei no chalé, eles me perceberam e foram me ajudar com a menina.

                Will a pegou no colo e Steve me perguntava o que tinha acontecido. Comecei a chorar sem saber como explicar.

                - Ela estava sendo atacada, não sei por quantos dias. Ia ser morta!

                Steve me abraçou e sentamos em uma das camas. Ele me tranquilizava com palavras simples e eu fui me sentindo mais segura.

                Will a tinha colocado na minha cama, e ela já dormia. O chalé se reuniu em sua volta e a olhava dormir e suspirar. Todos estavam ajoelhados em volta da minha cama e pareciam tomados pela tranquilidade que ela passava. Eu também estava mais tranquila.

                Sentei ao lado dela, peguei uma escova e comecei a desembaraçar o cabelo dela.

                Não ouvi a porta abrindo, mas sabia que alguém tinha entrado. Logo, Nissa estava ao meu lado.

                - O que aconteceu? – Ela sussurrou.

                - Eu a achai sendo perseguida por uma Górgona agora. Espero que você não se importe de eu a ter trazido a para cá.

                - Não, nem um pouco. Você fez o certo, mas ela não pode dormir aqui a noite.

                - Você precisa contar a Quíron... – Disse Narseu quase dormindo na borda da minha cama.

                - Já tinha me esquecido dele...

                - Todos para fora. Deixem-na dormindo.

                - Nissa, você pode ficar aqui enquanto eu vou falar com Quíron?

                - Sim, vá.

                Passei a mão no cabelo dela e levantei. Sai do chalé com os outros e fui procurar o Quíron. No caminho, passei a mao sobre o vestido tirando a poeira, mas assim que tentei limpa-lo, ficou perfeito novamente! Parei de andar e passei a mão no cabelo. Parecia perfeito também. “Com certeza, Afrodite”, pensei.

                No caminho para encontrar Quíron, fiquei pensando em que chalé ela ficaria. Com certeza algum deus tranquilo e honesto.

                - Helena! Que bom te ver.

                Levantei a cabeça e Quíron estava em sua cadeira de rodas em frente a uma mesa com Dionísio na sua frente.

                - Bom te ver também, Quíron.

                - Como você está? – Perguntou.

                - Bem melhor.

                Mas eu tinha esquecido o por que.

                - Mas vim para informa-lo que encontrei uma garotinha sendo perseguida por uma górgona, eu a levei para o meu chalé. Ela está mais calma agora e está dormindo.

                - Está machucada?

                - Não muito, mas a levarei para a enfermaria assim que acordar.

                - Helena, sei dos seus dons protetores, mas não deve usa-los de maneira algum, pode ser prejudicial a ela.

                - Sim, não os usarei.

                - Ótimo. Espero que você também saiba que ela precisa ficar no chalé de Hermes.

                - Sim, a levarei para lá.

                - Ei, garota. – Dionísio me chamou.

                - Sim...?

                - Sua mãe te mandou isso. – Sr. D me estendeu uma caixa de tamanho médio, com embrulho todo branco. E um pequeno cartão.

                - Ahn, obrigada.

                - É... – Respondeu.

                - Obrigada, Quíron.

                No caminho de volta para o chalé, hesitei em abrir o presente. Resolvi abrir quando estivesse sozinha. Entrei no chalé e fechei a porta com cuidado. Nissa estava sentada na beira da cama e parecia concentrada no rosto da garotinha.

                - Nissa. Obrigada. – Sussurrei.

                - Ah, de nada. – Ela sussurrou de volta.

                Nissa saiu do chalé, me deixando sozinha com a menina e o presente.

                Tomei muito cuidado ao abrir. Tirei da caixa uma pequena bola de vidro presa a uma base incrustrada de algo muito brilhante. Diamante? Eu não conseguia denominar. A bola tinha neve dentro, mais nada. A balancei e a neve caiu. Parecia um presente sem proposito algum. Coloquei no criado mudo e olhei para a menina. Seus olhos estavam abertos e me encaravam, me assustei.

                Ela também pareceu se assustar comigo.

                - Desculpe. – Sussurrei para ela.

                - Qual o seu nome?

                Durante alguns segundos, pensei que ela não fosse me responder, mas ela disse bem baixinho:

                - Halley. 


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Notas finais do capítulo

Gostou dela???? Gostou do capítulo??? Gostou da história???
Sim? Não?
Não tem problema! Me escreva nessa caixinha lindinha aqui embaaaixo!
Amore



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