A Casa Tensa escrita por Geelous


Capítulo 3
Capítulo 3 - A morte




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A maioria das pessoas, debaixo de cosplays, fantasias e máscaras (que particularmente pareciam reais, deixando as pessoas com outro rosto), ficou irreconhecível. Cada um estava com uma fantasia diferente - nenhuma era chamativa demais, ou antiga, do tempo do nascimento de Matusalém. Com aqueles disfarces, já sentiam Mentos dentro de casa novamente.

– Bom, realmente bom. - Paris elogiou a todos, passando de cara a cara.

– Obrigada, Paris. Mas e você, não vai se vestir? - Fabiane indagou, intrigada. - Todos precisam ir na busca por Mentos.

– Paris não é chamativa - Nezumi respondeu, ao canto. Usava uma máscara que redefinia todo seu rosto. - Não precisa de fantasias.

– Isso mesmo - Paris riu.

O ajuntamento de pessoas o confundiram. O plano que Isa propôs era a família se dividir em grupos de números distintos - de quatro, de dois, enfim, misturar-se ao povoado. O plano foi bem aceito por todos.

– Só não sei como vamos procurar dentro das casas das pessoas. Não podemos simplesmente bater na porta e dizer "Oi, vocês sequestraram uma menina de cabelos marrons e amarelos, e a trouxeram para cá", podemos? - Carol indagou, olhando para Isa.

Isa pareceu que ia terminar um teatro com um desmaio. Percebera uma falha importantíssima no seu plano.

– Bem... é... nós podemos... entrar pela porta dos fundos de cada casa, sem ser visto? - Isa tentou formular uma boa resposta.

– Ah, se fizermos isso, podemos acabar pior ainda, podemos acabar na polícia se formos vistos. - Tatah opinou. Isa não teve resposta.

– Acho que juntar todas essas roupas foi em vão. - Ana disse, e Cecília concordou, juntamente com Nezumi, Carol e Fernanda.

– Calma, podemos procurar dentro do povoado, mas fora das casas. - Gabriel disse. - Não vamos descartar a ideia do disfarce, ela é muito boa.

– Procurar fora das casas, como assim? - Isa olhou para Gabriel.

– Podemos procurar pistas, um fio de cabelo, manchas de sangue, um bilhete, sei lá.

– Você acha que realmente um bilhete...

– Claro, o povoado nem se preocupa muito com papéis no chão, acham que é lixo.

– Vamos ter que fuçar os lixos? - perguntou Cecília.

– Se tivermos que fuçar, eu fuço - Sofia completou, com um gemido de prazer, como se fuçar em lixos para achar algum bilhete qualquer fosse algo que ela fizesse todo dia, e gostasse demais.

– Sofia, não sabia que você era porca assim! - disse Fernanda. O resto da família, principalmente Fabiane, ria às gargalhadas.

– Vocês nunca me conheceram por completo, não é mesmo? - disse Sofia aos pais. - Eu já era zumbi muito antes do orfanato.

– Hum, legal, você foi mordida na barriga da sua mãe biológica? - disse Igor. A pergunta pareceu desestabilizar Sofia.

A pele de Sofia repentinamente ficou verde e muito escura. Seus olhos saltaram da órbita e começaram a ficar vermelhos. Suas mãos, que antes seguravam uma caneca onde tomava um refrigerante, agora estavam em cima da mesa, apertando-a. O cheiro podre imediatamente invadiu o aposento. Os cabelos de Sofia, antes limpos e bem cuidados, começaram a crescer, desgrenhados. Foi visível um ninho inteiro de aranhas sair do meio do emaranhado escuro. Sofia se transformara.

A mesa que Sofia apertada imediatamente se partiu no local das suas mãos. Ela subiu em cima da mesa e pulou em Igor, que se afastou bem a tempo. A zumbi bateu diretamente na pia da cozinha e caiu direto no chão, rasgando as roupas completamente. No lugar onde deveria ter uma pele, agora havia apenas um buraco profundo e largo, deixando à mostra os ossos podres, à beira de virar pó. Sofia se descontrolara demais, estava desmaiada (se é que é possível um zumbi desmaiado). Sua pele voltou ao normal e seu cabelo voltou ao comprimento natural.

Cecília resmungou, se abaixou e começou a vestir o corpo totalmente nu da humana que momentos antes era uma morta-viva. Ela sussurrou:

– Não se preocupem, ela se descontrolou. Vou levá-la até a mansão, onde vou deixá-la no laboratório, ela vai se recuperar. Mateus, você vem também. Gabriel, Fernanda, se quiserem vir...

– Não precisa, filha, sabemos que você é responsável. Acho. – Gabriel falou, virando e olhando para a família. – Bem, vamos ao povoado?

Todos se entreolharam. Era uma tarefa enorme ir até ao povoado, pois geralmente ele era mais longe que o bosque que haviam procurado antes.

– Eu estou pronta, eu posso ir. – Brenda falou. Lucas concordou com ela.

Não houve muitos preparativos para ir ao povoado. Já haviam se alimentado o bastante com frutas.

– Vocês preferem ir de carro ou a pé? – perguntou Paris, quando todos saíram de casa. Eles pensaram. O velho carro deles não suportaria levar todas aquelas pessoas. Decidiram que algumas pessoas iriam a pé, enquanto outras iriam de carro.

– Nezumi, Lucas, Aléxia, Carol, Jéssica, Tatah, Igor, vocês vão comigo no carro. O resto vai a pé, e depois revezamos, caso for necessário. – Paris entrou no carro e abriu a porta para os indicados entrarem.

A descida da montanha foi bastante difícil. Primeiro, a montanha era formada por camadas e camadas de pedrinhas soltas. Segundo, havia dezenas de arbustos no caminho. E terceiro, os insetos que apareciam, sejam eles no chão ou voando, atrapalhavam demais as pessoas à pé.

Era cerca de cinco horas quando revezaram o carro. Agora, no interior dele, estavam Paris (no volante), Isa, Cari, Ana, Gabriel, Fernanda e Brenda. Algumas pontas do povoado já eram visíveis, ao longe, envolto em uma névoa.

Depois, Cecília os chamou. Havia alcançado a família, e corria seguida de Mateus. Cecília pediu uma carona para ela e seu marido no carro, pois haviam corrido muito. Os dois entraram no carro, e saíram Isa e Gabriel, que continuaram a caminhada a pé. A viagem se transcorreria normalmente, não fossem os acontecimentos seguintes.

Alguns minutos depois, o carro começou a descer mais rápido. Todos notaram isso, inclusive os que estavam a pé. Paris deixou passar e falou que era apenas que estavam quase no fim da montanha, por isso ela se inclinava um pouco mais antes de voltar a ser plana.

– E lá vai Paris, e ela deeeeesvia de uma pedra, mas de repente, uma abelha bate diretamente no para-brisa, aumentaaando a dificuldade desta viagem! – brincou Cari, narrando tudo que acontecia lá dentro.

De repente, o carro deu uma alavancada. Paris não estivera olhando, para frente, mas rindo de Cari. O carro começou a desviar para o lado, e os gritos das pessoas mais atrás não eram audíveis... todos pularam do carro na hora, e bem a tempo – ele se chocou direto contra uma árvore no meio do caminho e começou a deslizar capotando em direção ao lago, no pé da montanha.

– Oh, escapamos! – Paris abraçou várias pessoas ao mesmo tempo.

– Mateus, dê-me um abraço, meu querido, eu... – Cecília parou instantaneamente. – Ah, santo Cristo. O cinto de segurança.

– O que aconteceu, Cê? – perguntou Brenda. Mas Cecília estava incapaz de responder. Ela sentou numa pedra próxima, e deitou no chão arenoso, e começou a chorar intensamente. Era óbvio – Mateus havia ficado dentro do carro, prendido pelo cinto de segurança. A medida de proteção havia o feito ficar preso a um carro que capotou diversas vezes.

– Vamos, corram! – ordenou Tatah, apontando para o lago e começando a correr.

Todos começaram a rumar na mesma direção, pois havia a chance de Mateus estar vivo. Passaram pela árvore, que agora obtivera uma grande lesão e entortara ligeiramente, e rumaram ao fim da montanha. Isa e Paris fizeram Cecília se levantar, e começaram a levá-la de volta para casa.

O vento corria pelos rostos dos membros da família Tensa. Ana não ligava para as lágrimas, desabando em enormes quantidades, tampouco para as mechas de cabelo, tudo diretamente no rosto. O que importava agora era Mateus e somente Mateus, dentro daquele carro, talvez vivo...

Brenda, com suas pernas maiores, foi a primeira a chegar, seguida do resto. O carro flutuava sobre a água. A maioria das pessoas pulou na água para buscar Mateus. Gabriel abriu a porta, no momento em que Igor entrava. Retiraram o cinto de segurança.

– Fernanda, ligue para o hospital. Não o do povoado, ligue para o hospital da cidade, e diga para mandarem uma ambulância urgentemente. – pediu Gabriel. Fernanda sacou o telefone do bolso e começou a discar, no momento em que Mateus era retirado do carro. Fora difícil carregar o corpo dele, mas conseguiram, sem tanto esforço. Deitaram sua cabeça no chão. Parecia bastante pálido e sem cor alguma. Verificaram – ele estava respirando.

– Alô? – disse Fernanda. Letícia olhou fixamente para ela. – Oi, eu gostaria que... que mandassem uma ambulância. Meu genro Mateus bateu o carro numa árvore e capotou até o lago próximo, por favor, mandem urgentemente! - Fernanda falou mais um pouco com a atendente, e desligou o telefone logo depois, guardando-o no bolso novamente.

Ana chorou com mais força ainda, se é que era possível – seus cabelos, sempre penteados, agora pareciam mais malcuidados que nunca. Ela pegou um frasquinho que levava no bolso e derramou na boca de Mateus. A cor pareceu voltar ao seu rosto, embora não estivesse respirando com a mesma intensidade que seria o normal.

– Isso não vai deixar ele com... hic... frio. – explicou Ana, aos soluços, guardando o frasco. – É um... hic... remédio que preparei faz alguns... hic... dias.

A ambulância chegou logo depois. Junto, foram Ana, Cecília, Fernanda, Letícia e Gabriel. Entraram na grande van branca e vermelha, e quando a porta se fechou, ela imediatamente começou a andar. Os especialistas colocaram um aparelho em seu nariz, que, segundo ele, iria aproveitar o ar restante no corpo dele, e enviar mais ar para que ele fique respirando até poder ser tratado no hospital.

Pelas janelas da frente, tiveram uma breve visão do povoado. Diversas casas de madeira, algumas construções maiores, erguiam-se por ali. Passavam uma mensagem fria e aterrorizante, mas ninguém soube explicar o porquê disso. Também era visível uma pequena praça, mais para o centro do povoado, onde se localizava uma fonte de águas que saltavam para cima. Tudo isso passou rapidamente, pois Mateus havia de ser levado urgentemente ao hospital, e a estrada era bastante difícil de ser passada, pois era como a montanha – cheia de pedrinhas e arbustos que atrapalhavam demais no caminho, faziam a ambulância meio que saltar para cima todas as vezes que a velocidade era um pouco aumentada.

Cecília e Ana não falavam nada, apenas olhavam fixamente para Mateus. Letícia e Fernanda cochichavam algo. Gabriel olhava para frente, para a estrada. Os médicos estavam sentados examinando o coração de Mateus, e verificavam se o sangue circulava normalmente depois daquela batida. Trinta minutos (particularmente difíceis) depois, a estradinha de terreno e pedras se transformou num asfalto. A cidade começava a se aproximar. Cada vez menos árvores, o ar ficava mais escuro.

Quando a ambulância entrou na cidade, a sirene explodiu em seus ouvidos. Todos visualizaram dois grandes prédios ao longe, e diversas casinhas distribuídas ao longo do asfalto. Havia trânsito, mas não estava muito forte, pois aquela cidade não era grande. Alguns carros davam passagem à ambulância, que agora corria em grande velocidade. Eles olharam e enxergaram um pequeno edifício de três andares, um pouco maior que a casa de onde, algumas horas atrás, haviam saído para procurar uma membra desaparecida.

Mais alguns minutos, e eles chegaram ao centro da cidade. Não era enorme como todos imaginariam, mas concentrava as maiores lojas e as construções principais daquela cidadezinha. A ambulância parou em frente ao hospital. Os médicos retiraram Mateus, na maca, com cuidado e arrastaram até a porta. Os familiares acompanharam. Assim que entraram no hospital, a primeira visão foi que tudo era branco, as únicas cores vinham dos quadros nas paredes. Esses quadros retratavam diversas coisas – flores, um copo d’água, um grupo de pessoas, um cetro de rei.

Mateus foi levado para um dos quartos, após um dos médicos ter conversado com a recepcionista daquele lugar (uma mulher baixinha, de cabelos loiros), que se chamava Anna. O número deste quarto era 19, entalhado em madeira escura no topo da porta. Eles abriram a porta branca e pousaram Mateus na cama limpa. O ambiente tinha uma janela, não muito grande.

– Daremos notícias. – falou um dos médicos. – A esposa pode ficar se quiser.

– Fico, vou ficar – Cecília falou. Não estava mais chorando, mas não olhou para o médico quando o respondeu. Ana, Letícia, Fernanda e Gabriel saíram do hospital sem falar nada, sabendo que nos braços dos médicos, Mateus tinha uma boa chance de ficar bom.











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