Me deitei na cama, desconfortável por estar sozinha. Peeta jurara para mim que se eu voltasse para casa naquele momento ele voltaria logo depois, mas ele demorava de mais, e aquilo era desconfortável e angustiante. Nunca notara que a presença de Peeta era tão importante, nenhum outro que se deitasse comigo ali não substituiria Peeta. Nem mesmo Gale, nem qualquer um que fosse. Eu precisava da esperança, do calor do seu corpo, da segurança e de tudo que ele me trazia. Eu precisava da calma para apartar a minha raiva, minha fúria. Ele era o único que satisfazia a minha sede, seja lá do que ela fosse. O único com quem me sentia segura. O único que me mostrava que por piores que fossem os pesadelos, a realidade era diferente, era melhor e que por mais dolorosa que a vida se tornasse sempre haveria um motivo para viver. Mas ele havia se tornado o meu motivo, isso só podia significar uma coisa. Senti cocegas gostosas em todo o corpo com aquele pensamento absurdo.

O barulho dele abrindo a porta me puxou para fora de meus devaneios, ele tentava ao máximo ser silencioso, mas conseguia tão bem quanto um elefante. Ele se aproximava devagarinho da cama pensando talvez que eu já estivesse dormindo, por uma vez ou duas ele falou “shiu” para o assoalho, obrigando a me segurar para não rir. Ele deitou cuidadosamente na cama e passou o braço por mim, abraçando-me.

-Desculpe-me Katniss, eu tive uns problemas – Sussurrou tristemente, ele não mencionara os problemas, até porque pensava que eu estava dormindo, mas eu sabia do que se tratava, ele tivera um dos malditos flashes que o acompanham desde que fora telesequestrado pelos malditos da capital. A fúria invadiu-me, mas controlei-me para ele continuar acreditando que eu dormia, e eu começava a tentar realmente.

Quando finalmente dormi talvez fosse melhor que tivesse ficado acordada com Peeta. Nos meus sonhos eu era Peeta e sofria chicotadas, de mim. É meio confuso eu sei, eu estava no corpo de Peeta e Katniss – que não era eu – espancava-me. Depois eu fui telesequestrado, puseram-me veneno nas veias e tudo ardia, as imagens começaram a ficar desfocadas e o desespero me consumiu.

-Katniss – Eu gritava contra a minha vontade, mas era Peeta que falava, como se eu estivesse apenas vendo a coisa de seu angulo, não sendo ele de fato – Ah... Katiniss!

A dor me consumia, uma voz dócil repetia “Katiniss” ao meu ouvido. Eu acordei.

Estava  suando frio, e Peeta me olhava verdadeiramente preocupado, minha cabeça doía. Mas o ódio que fervia em mim era o mais forte que eu já sentira. Em desespero completo cai em lágrimas.  Peeta me envolveu com os seus braços fortes e cuidadosos.

-Está tudo bem – Ele dizia calmamente.

-M...me desculpa – Eu soluçava – desculpa?

Ele devia saber do que eu falava, talvez tivesse gritado o seu nome enquanto eu dormia, por que ele assentiu de olhos fechados em evidente dor. Eu subi meus queixo e o beijei, mas calorosamente do que jamais havia feito. E o beijei, e beijei, e beijei.

Quando finalmente nos distanciamos encolhi-me em concha em Peeta que acariciava carinhosamente meus cabelos, e descia até o meu pescoço e parava antes de chegar ao meu seio. Depois ele recomeçava, eu estava calma, mas ainda queria beija-lo mais, e mais.

Ele parou de me acariciar e me puxou para mais perto, o que era quase impossível. Depois pousou sua mão entre meu busto e meu umbigo e disse:

-Você me ama. Verdadeiro ou falso

Seguro seu ombro e me iço até a sua orelha, pela primeira vez em séculos ninguém tem que me sussurrar o que tinha que dizer, eu sabia.

-Verdadeiro.

Ele me beija mais uma vez. Eu não me lembro de quando aquele beijo terminou, na verdade acho que nunca terminou. Ele me dá aquele beijo todas as noites quando eu me desespero, ele me trás de volta a realidade quando os pesadelos me atormentam, e diz que faço o mesmo por ele, o meu sorriso é a única coisa capaz de trazê-lo de volta a realidade de um dos seus flashes, os meus beijos. Nós precisavamos um do outro, não só para sobreviver, mas também para viver.