P.O.V Autora

Suzana caminhava sozinha por entre as calçadas cobertas de neve, tentando, sem muito sucesso, aquecersse com os braços em sua volta.

O café com Call tinha sido muito bom, ela pode conversar, esquecer Pedro, esquecer Nárnia, seus irmãos...

Suzana respirou pesadamente infeliz, apesar de estar feliz por tê-los afastado apenas por poucos minutos ela sabia que era errado, tinha de admitir isso para si mesma.

Enquanto caminhava, tentando ao máximo não escorregar na neve branca e grudenta que cobria a rua, Suzana deixou-se vagar por mais uma lembrança, tal lembrança havia ocorrido talvez meses atrás, mais mesmo assim se fez trasparente em sua mente:

_Rainha Gentil, gostaria de dançar comigo?_disse Pedro, inclinando-se em seguida e beijando a mão da irmã.

Suzana riu, seu irmão era muito cômico.

_Seria uma honra magnífico Rei Pedro._disse ainda rindo e seguindo o rapaz para o meio do jardim da velha casa.

Pedro segurou a mão da irmã e posicionou a outra na cintura da mesma, guiando-a por entre o jardim verdejante.

_Isso não parece com os bailes de Nárnia._disse Suzana tentando reprimir o riso.

Pedro a olhou com interesse, e depois de segundos respondeu com uma simplicidade notável em sua voz.

_Não precisamos estar em Nárnia para traze-la de volta.

Suzana parou de rir encarando os olhos do irmão, adentrando naquele mar profundo e brilhante que eram seus belos olhos...

_Nunca me fará esquecer de Nárnia, não é mesmo?_perguntou com medo, ela não tinha ideia do porquê, mais sentia receio em se perder e acabar por retirar Nárnia de sua memória.

Pedro sorriu com uma ternura linda, ternura a qual Suzana nunca havia visto em nenhum outro homem, exceto Caspian.

_Não deixarei que apague esse lugar de suas recordações, sabe por que?_perguntou com a voz mais doce do mundo, ainda perfurando o olhar de sua irmã.

Suzana pareceu perder a fala, apenas recuperando a mesma após alguns segundos:

_Por quê Pedro?_perguntou praticamente inaudível.

Pedro parou de dançar, porém continuou com os braços firmes na cintura e na mão da irmã.

_Porque isso é a única coisa que nunca ninguém poderá nos tirar, nunca ninguém terá acesso à nossos momentos, às nossas lembranças. Será nosso laço por toda a eternidade.

Suzana sorriu e abraçou o irmão, era tão bom contar com Pedro, ele sempre fazia com que ela se sentisse sob controle, que conseguisse sentir o solo de baixo de seus pés novamente.

_Obrigada Pedro, isso é mais do que qualquer pessoa pode me dar.

Suzana fugiu de seus desvaneios por medo, medo de se aprofundar em memórias e deixar às lágrimas que haviam cessado, graças a Call, voltarem.

Ela nunca podia imaginar que as coisas mudariam tão repentinamente, mais ao mesmo tempo tinha medo de nunca ter sido assim.

Finalmente avistou a casa, com a neve cobrindo-a por completo, o jardim de suas lembranças não estava tão verdejante, nem tão convidativo, mais ainda assim trazia uma paz de espírito incomum.

_Precisamos conversar!_ela virou-se, já sabendo de quem se tratava à suas costas.

Pedro estava parado, a face em uma máscara de agonia e medo, medo por perde-la e agonia por não tê-la em seus braços.

Suzana deixou um sorriso fraco apoderar-se de seu rosto pálido.

_Não quero conversar agora..._Pedro não deixou que ela prosseguisse e já abriu a boca para falar-lhe algo, porém, deixando-o surpreso, a garota colocou a mão na boca do mesmo.

_Apenas não quero conversar hoje, pois quero ser levada para meu tempo feliz, nosso tempo feliz..._disse com os olhos brilhando, lembrando de quando tudo era descomplicado e apenas havia um vínculo de irmãos.

Ela tirou a mão da boca de Pedro e sorriu sincera, queria esquecer e voltar ao passado por meras horas apenas.

_O que quer dizer com isso?_disse Pedro suplicante, ele estava com medo do que a irmã fosse fazer, temia por demasiado que ela jamais o perdoasse.

Suzana riu, e com um simples gesto largou a bolsa de ambas as mãos e segurou as mãos de Pedro, levando-o consigo para o jardim branco e angelical que a neve fizera.

Pedro riu sem entender o humor da irmã.

_O que está fazendo Suzana?_perguntou quando a irmã levou os braços ao pescoço dele e começou a se balançar no ritmo de uma música que não tocava.

Suzana riu de lado, vendo que o irmão estava mais confuso do que nunca, ela disse, tentando mostrar o quanto era simples a resposta:

_Apenas volte para Nárnia comigo por algumas horas, dance comigo até nossos pés congelarem nessa neve e nossos lábios se racharem de frio.

Ela e Pedro riram, então com a cara em súplica e os olhos marejados, Suzana continuou a falar:

_Apenas me torne Rainha Gentil e volte a ser o Rei magnífico, apenas me faça ser sua irmã e esquecer o amor que cresceu dentro de mim e que a sociedade em que vivemos não permite-me deixar mostra-lo e executá-lo à você.

Pedro sentiu seu coração doer ao ver as lágrimas se formarem nos cantos dos olhos de Suzana, ele sabia que ela sentia o mesmo que ele, e sabia também que deveriam agir como adultos e esquecer esse sentimento, mais sabia ainda mais que precisava de uma volta rápida pelo passado, passado esse que tinha recordações boas e alegres para ambos.

_Sim, minha irmã e Rainha Gentil, dance comigo apenas e esqueça do mundo, apenas esteja em meus braços como irmã sem sentimento e sem pecado algum, apenas por está noite.

Suzana sorriu e encostou-se no peito de Pedro fechando os olhos a seguir.

Pedro posicionou a face no topo da cabeça da irmã e fechou os olhos também, desejando que nada daquilo estivesse acontecendo, não porque ele não queria, mais porque sua irmã e amada estava sofrendo e isso era mais do que ele suportava sentir.

E assim, no embalo de uma música imaginária e com apenas sentimentos puros sem malícia e sem pecado, os dois ficaram ali, esperando que nada, jamais, ouvesse ocorrido, porém felizes por acontecer o mesmo...