~ Light's POV ~

Quando eu ainda era criança tive um grande amigo que de mim guardava um segredo. Eu desde pequeno nunca prestei muita atenção nas coisas e quase tudo que fazia era errado: eu e meus pais tínhamos muitas brigas, eu fugia de casa e nunca estava agradecido pelo o que as pessoas faziam para mim. Mas, meu primeiro e único amigo me ensinou a não ser assim com as pessoas, com ele aprendi a me comportar e ganhei novamente o respeito de todos, mas o que acho incrível... É que ele nunca me tratou com desprezo pela pessoa que eu era. Sempre sorrindo para mim, mesmo que nunca fazia isto para outras pessoas.

Inglaterra
5 de novembro de 1992
16h10 da tarde

Um dia, sentei-me com ele para observar o pôr-do-sol em um campo afastado da cidade, ele parecia adorar ir ali. Ficamos sem ter o que conversar por um tempo quando ele finalmente quebrou o silêncio:

– Light-kun, há muito tempo vem uma pergunta martelando na minha cabeça.
– É? E qual seria? – perguntei.

Ele parou de contar as nuvens de cor alaranjada que se formavam no céu e olhou para mim com um semblante triste.

– Light-kun, você.... – parou.
– Eu o quê? – sorri.
– Você me ama?

Amar? Aquela palavra nunca havia passado pela minha cabeça em relação a ele. Éramos amigos e eu gostava dele, mas... Amá-lo?
Decidi, ao menos uma vez, tentar fazer com que o sorriso dele fosse verdadeiro para mim.

– Sim. – respondi.

Ele sorriu, como esperado. Então, voltou sua atenção novamente para o céu com um olhar intenso e ele continuou:

– O sol está tão lindo hoje, não é mesmo?
– Sim, eu adoro o sol. O brilho dele é tão lindo! – respondi.
– Você mencionou isto ontem para mim, mas foi sobre o vento.
– Sim, eu também adoro o vento. Principalmente quando bate no meu rosto.
Ele olhou para mim com um olhar interrogativo e se sentou.

– O que você quer dizer com isso? – perguntou.
– Você sempre fala que ama a natureza, eu só estou dizendo que eu também.
– Você....
– Eu amo o sol, amo o vento e a chuva. É tudo maravilhoso! – interrompi.

Ele pareceu assustado com a minha resposta e quando eu achei que iria deitar-se novamente. Mas ele lentamente me abraçou e fui surpreendido com gotas quentes de água caindo sobre minha costa. Ele estava chorando.

– Lawliet-kun, por que está chorando? – Tentei confortá-lo.
– Light-kun, tenho medo…
– Mas medo de quê?

Ele suspirou e limpou as lágrimas, mas continuou a me abraçar.

– Você diz que ama a chuva, mas abre o guarda-chuva quando chove. Você diz que ama o sol, mas procura um ponto de sombra quando o sol brilha. Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra. É por isso que eu tenho medo... Você também diz que me ama.

Eu havia me assustado, ele nunca disse algo assim repentino.

– Está mentindo. – deduziu.
– Não estou mentindo para você, Lawliet-kun. Eu realmente amo você.

Mesmo que por um instante senti um brilho nos olhos dele, mas foi só por um pequeno momento, quase imperceptível.

– Eu irei acreditar em você. – sentou-se normalmente mas com o rosto vermelho.
– Ouça, aprendi um novo jogo. – disse alegremente.
– Qual?
– É o Jogo da Promessa. – sorri.
– “Jogo da Promessa”? – levantou uma sobrancelha.
– Sim. Você me pede para fazer algo e eu prometo para você que cumprirei a minha palavra.
– Parece... Divertido! – sorriu.

Nós sentamos um de frente para o outro e eu ergui meu dedo mindinho, ele me olhou com uma expressão estranha no começo e eu comecei:

– L. Lawliet, você promete para mim que... – pensei – Não vai mais jogar pote de sorvete de cima da minha varanda toda vez que eu saio de casa? – comecei a rir.

Ele pensou e apertou meu dedo mindinho com o seu.

– Prometo! É a minha vez?
– Sim, pensa em alguma coisa.

Ele levou praticamente cinco minutos para pensar em alguma coisa, me olhou com uma expressão séria e levantou o dedo mindinho.

– Yagami Light-kun, promete que... Nunca irá me magoar ?

Eu o encarei por alguns segundos, parecia que estava realmente falando sério e aquilo já não era mais uma brincadeira.

– Eu... Prometo! – apertei seu dedo mindinho com o meu.
– Não vale quebrar a promessa, Light-kun. – sorriu.
– Você sabe que eu não vou. – rodei os olhos.
– É mesmo? – sussurrou para si mesmo – Quem me garante isso?

Eu queria voltar a observar o pôr-do-sol e ele disse que ficaríamos um pouco mais.
Acima de nós havia uma cerejeira que caía algumas pétalas rosas de suas flores, ele pegou uma e ficou admirando.

– O que há de tão interessante nessa pétala, Lawliet-kun? – fitei-o.
– Ei...
– Sim?
– Isso não lembra alguma forma a neve?
– Ah... Me pergunto. – fiquei confuso.
– Ei... Dizem que são 5 centímetros por segundo.
– Hum? O quê?
– A velocidade com que as pétalas de flor de cerejeira caem, 5 centímetros por segundo.
– Hum... Você parece saber sobre muitas coisas, Lawliet-kun. – sorri.
– Quem sabe...

Depois daquele dia, eu nunca mais vi meu amigo como a mesma pessoa de antes. Ele estava mais... Carinhoso.
Quando criança não sabia o quão longe eu poderia ter ido ao prometer uma coisa tão simples como aquela, mas não importava o quão frio e sóbrio L. Lawliet era, ele ainda era um ser humano. Um ser humano com sentimentos. E eu também nunca pensei que ele pudesse tê-los. Sentimentos. Aqueles que um dia, eu iria ferir e machucar o coração daquele que era mais importante na minha vida.

Fim da primeira parte.