Entramos no hotel ao lado de nossas mães de David, dos garotos - integrantes da banda - e com nossas malas. David ao lado de John foi ao balcão de atendimento pegar nossos quartos. Eu retirei meus óculos e me aproximei dele. A atendente passou seus olhos sobre mim e arregalou os mesmos, sorrindo. Sorri a ela de volta.

-Aqui está. Cinco quartos no último andar senhor. Tenham uma ótima hospedagem - ela disse e entregou as chaves ao John.

-Bom, aqui está. Esse quarto é o seu e o da Vick, já que pediram o quarto juntas - John me entregou a chave e Vick sorriu ao meu lado.

É claro né? Nunca desgrudo da Vick, e ficarmos sozinha uma em cada quarto ENORME de hotel nunca foi opção. Sempre nos divertíamos juntas jogando XBox  ou comendo besteiras. Minha mãe e a mãe da Vick ficaram num quarto juntas, elas também são muito amigas. John ficou num quarto sozinho e David também, mas um ao lado do nosso, caso acontecesse algo. Murilo e Pedro ficaram num quarto só, mesmo reclamando. Esses dois patetas...

Saímos da recepção e subimos pelo elevador ao andar 85 o último. Vick e eu encontramos nosso quarto e abrimos a porta. O quarto era ótimo. Haviam mandado colocar uma cama a mais, mas uma só tinha o tamanho para três pessoas. Tinha uma varanda que dava para a vista da cidade de NY, que era linda.

Vick e eu corremos feito duas crianças e cada uma pulou em sua cama, sempre fazíamos isso. Pulamos e rimos até cansar. Deitei sobre a cama e encarei o teto.

-Sabe, até hoje eu não acredito que isso aconteceu com a gente - sussurrei a Vick.

-Isso o que? - ela murmurou.

-Tudo isso - sentei na cama olhando pra ela.

-Eu também não - ela sorriu - E ainda mais, não acredito até hoje que você abriu mão da Escola Técnica para seguir seu sonho.

Lembrei de meu pai automaticamente, e me entristeci. Fazia exatamente 3 anos que ele não falava comigo. Ou melhor, que ele recusava minhas ligações. Havia tentado de tudo, até ligado em seu trabalho, mas alguém sempre atendia e dizia que ele não estava, mas na maioria das vezes, eu conseguia ouvir sua voz no fundo da ligação e chorava baixinho. Dizia que estava ouvindo ele e pedia para que dissesse o quanto eu o amo. Ele provavelmente já me viu na TV ou ouviu minha voz na radio. E eu não acredito que apesar de tudo, ele não me perdoa. Esse é meu sonho! Não ter uma vidinha qualquer naquela escola Técnica. Eu amo cantar, é tudo. Vick me encarava e eu fiz uma careta e ele riu.

-Nunca gostei daquela escola. Só tinha nerds lá - fiz uma cara de nojo e ela riu.

-Olha quem fala! A rainha dos nerds! - ela disse rindo e eu ataquei meu travesseiro em sua cara.

-Garotas, o almoço vai ser servido no saguão. Desçam! - a voz de John soou atrás da porta.

-Já vamos John, cinco minutos! - gritei de volta e saí da cama. Retirei meu cardigan pelo calor ficando com meus braços a mostra agora. Agarrei o braço de Vick e saímos do quarto, descendo o elevador. Chegamos ao saguão e todos já estavam lá. Murilo e Pedro comiam em uma mesa sozinhos, enquanto John, David e nossas mães estavam em outra, discutindo algo.

Eu e Vick nos servimos e fomos à mesa ao lado dos garotos.

-E aí, o que eles tanto falam? - disse aos garotos que olharam para a outra mesa onde estavam os outros.

-Não sei, algo sobre nossos próximos shows na turnê - Pedro disse.

-E também, sobre o quanto você foi irresponsável pulando a grade no show - Murilo disse e eu fiz uma careta. Ele riu - Não liga. Eu gosto desse seu jeito de doida varrida - ele riu e eu dei um soco em seu braço.

-Certo casal 20 - Vick disse e rolou os olhos. Dei a língua a ela - Quando os pais de vocês vêem para cá? - Vick disse aos meninos.

-Meus pais saem do Brasil semana que vem - Pedro disse dando uma garfada em sua comida.

-Os meus vem daqui a um mês. Estão terminando de acertar as coisas no Brasil - Murilo disse. Comemos nosso almoço enquanto ríamos e ouvíamos as piadas idiotas de Pedro, que quase me fizeram cuspir meu refrigerante.

Senti algo vibrar em minha bolsa e retirei meu celular.

Ok, boa sorte no show. Quer dizer, você vai arrasar como sempre, eu sei disso.

Também terei meu primeiro show hoje. No Quebec, vou pegar um jato até lá. Sabia que eles falam francês lá e não inglês? Tô perdido, fugi de todas as minhas aulas de francês -ao ler essa parte, soltei uma risada.

Bom, vou jantar agora. Erin e Pattie cozinharam juntas hoje.Imagina, vai ter comiga para um batalhão inteiro! HAHA’

Ainda morrendo de saudades de você.

JB.

Sorri e Murilo disse “o namoradinho ligando” eu o olhei e mostrei a língua. Ele rolou os olhos e Vick e Pedro riram.

Terminei meu almoço e saí da mesa, deixando eles ali. Saí do restaurante do saguão e encontrei um jardim recheado de madressilvas. Era lindo. Sentei em um banquinho ali e voltei ao celular.

Não é justo! Você vai comer as maravilhas que a Pattie e a tia Erin preparam e eu aqui, almoçando hambúrguer no hotel.

HAHAHA, quem mandou fugir das aulas? E eu também tentei te ajudar com seu francês, mas você corria pro XBox na hora dos estudos.

Da seu sorrisinho e faz seus “♥” que elas nem percebem, ok? E não esqueça, diga “J’Taime” a todo momento para a platéia, significa eu te amo e pronto, problema resolvido.

Boa sorte no show JB, Manda ver.

Carý’

Enviei a mensagem a ele e em menos de dez minutos fui respondida.

O que seria de mim sem você Cary?

Obrigado por me salvar dessa... Não se preocupe, depois mando por jatinho um pouco da comida aqui de casa, oks? HAHA’

J’ Taime,

Justin.

Dei risada com a mensagem boba e voltei ao saguão, mas fui direto para a sala de estar do hotel. Como previsto, Murilo e Pedro estavam na sala de jogos, ao lado da sala de estar. Disputavam feito loucos no XBox. Nossa, todos os garotos gostam disso? Jus é um deles, morre por esse joguinho. Minha mãe estava sentada no sofá confortável e espaçoso da sala assistindo algum filme e sorriu a mim. Acenei a ela, e logo alguém me puxou.

-Vem, vamos sair! - Vick disse enquanto me puxava pelo braço, em direção ao elevador.

-Sair? - franzi a sobrancelha - Vick, não podemos sair. E outra, não quero mil seguranças ao nosso redor enquanto passeamos por aí.

-Já dei um jeito nisso - ela sorriu, apertando o botão do nosso andar - Prometi a David que não sairíamos de perto e levaríamos nossos celulares. Ele não vai conosco, e prometeu não nos seguir também.

-Certo, mas ainda sim, vamos ser interditadas na rua por nossos fãs, lembra? - cruzei os braços.

-Aí que esta a parte divertida - ela sorriu - Vamos nos disfarçar! - o elevador abriu e ela retirou nossas chaves do bolso de seu vestido.

Entramos no quarto e Vick mandou vestir algo comum, irreconhecível de mim. Algo que eu usava antes da fama. Foi fácil. Estava cheia desse tipo de roupas na minha bolsa, já Vick entrou em desespero.

-Você não tem nada simples aí? - perguntei a ela, separando minha roupa para nosso “disfarce”.

-Não, eu não achei que teríamos que sair disfarçadas, né? - ela tirava todas as roupas de sua mala.

-Certo, vem cá. Eu tenho algo aqui pra você - disse a ela, pegando mais roupas em minha mala.

Certo, nos vestimos e ficamos realmente irreconhecíveis. Nossas roupas eram completamente “geek-girl” algo que não usávamos. Ainda fizemos um coque em nossos cabelos e colocamos umas toucas, deixando somente algumas mechas de fora. Era impossível saber quem éramos.

-Wow, eu estou realmente irreconhecível - Vick disse se olhando no espelho. Ela pegou os óculos e os encarou - Cary do Céu, aonde pegou esses óculos?

-Com o Justin - dei uma risada e ela riu junto a mim concordando - Ele tem milhares desse.

-Pronta? - disse ela a mim.

-Claro, vamos! - peguei minha bolsa e saímos do quarto.

Entramos no elevador e ambas ajeitamos nossos cabelos sobre a toca. Vick ajeitou seu óculos fazendo caretas engraçadas e eu ri. Peguei meu IPhone e troquei a capinha dele, com uma das minhas preferidas. Vick olhou para meu IPhone e seus olhos brilharam.

-Já sei, já sei... Você quer uma - revirei os olhos e ri. Ela concordou com a cabeça - Por isso, me dei ao trabalho de comprar uma pra você - tirei a capinha extra da bolsa e a entreguei. Vick sorriu, gritou, deu pulinhos e me deu milhões de beijinhos na bochecha. Tudo isso ainda dentro do elevador.

Saímos de lá e fomos em direção a recepção.

-Esse é o primeiro teste - Vick sussurrou ao meu lado - Vamos ver se a recepcionista não nos reconhece - assenti com a cabeça e fomos em direção ao balcão.

-Por favor - Vick disse mudando seu tom de voz enquanto eu segurei a risada. Ela apertou minha mão com força e eu suspirei fundo - Pode nos informar onde fica o restaurante do hotel?

-Claro - a recepcionista disse completamente calma, não olhou em nossos rostos uma vez se quer. Vick agradeceu e nós confirmamos que estávamos irreconhecíveis. Saímos do hotel e havia milhões de fã ainda na porta.

Arregalamos os olhos e nos encolhemos descendo os degraus. Eles nos olharam por um segundo e eu prendi minha respiração e fechei os olhos. Eles iam nos descobrir. Mas eles desviaram o olhar e voltaram a olhar a varanda de nosso quarto, esperando por qualquer movimento ali.

Vick suspirou aliviada e olhei-os com dó. Droga, eles vão ficar aí o dia inteiro esperando por qualquer sinal de nós e não iram nos ver. Parei no primeiro degrau e Vick me olhou confusa. Suspirei derrotada. Coloquei minhas mãos sobre a toca e o óculos pronta para tirá-los, mas Vick puxou meu braço me tirando dali.

-Hey, só um autógrafo, eu juro! - fiz biquinho enquanto ela me arrastava pela calçada, nos afastando do hotel.

-Na-na-ni-na-não. Eu sei que você os ama, mais temos que viver um pouquinho Cary! - Vick me olhou - E você não vai estragar nosso disfarce perfeito!

Eu dei risada e assenti com a cabeça. Nós andamos New York inteira! Tiramos fotos em todos os lugares, andamos pelas avenidas e rimos. Tomamos sorvete escondidas - claro, se July soubesse nos mataria - e nos divertimos muito! Chegamos a Time Square e paramos um bom tempo para observar ela. Tantas memórias... Foi ali que Travis nos descobriu.

-In New York... - comecei a cantarolar baixinho relembrando -Concrete jungle, Where dreams are made of, There's nothing you can’t do -cantei e Vick tapou minha boca com sua mão.

-Esta doida Cary? - ela me olhou - As pessoas vão começar a notar. Acha que sua voz não é reconhecível? - ela tirou sua mão e nós rimos juntas.

Resumindo, o dia foi ótimo. Passeamos em diversos lugares e nenhum momento fomos reconhecias. Era bom voltar à normalidade de antigamente. Poder sair na rua sem sermos bombardeadas por milhares de fotos.