Kiba jogou-se no chão, cansado. Akamaru deitou-se fielmente ao seu lado, igualmente cansado da sessão de treino. O sol começava a descer no céu azul, devia ser umas cinco horas. Fechou os olhos, pensando em descansar só uns minutos... Só uns minutos...

Quando abriu novamente os olhos, o sol já estava se pondo, vermelho, no horizonte. O céu manchado de vários tons de laranja e roxo.

— Caramba! – exclamou, levantando-se de súbito. – Akamaru! – chamou, notando que o cão não estava mais ali com ele.

Estranho. Akamaru dificilmente saía por aí sem ele, não sem avisar. Não obstante, talvez ele tivesse tentado avisar, sem sucesso. Kiba tinha a impressão de que dormira como uma pedra.

Saiu andando, farejando o ar em busca do companheiro canino. Estava perto, muito perto. Podia sentir-lhe o cheiro entre dezenas de outros. Árvores, terra, flores, suor... E um que não conseguiu identificar de imediato. Embora tivesse certeza que já o sentira antes.

Então os latidos de Akamaru preencheram-lhe a audição, interrompendo seus pensamentos. E lá estava o cachorro, recebendo afagos de uma garota.

"Muito esperto..."

Certo. Conhecia aquela garota, era do time do Gai-sensei. Ela tinha cabelos castanhos e pele bronzeada. E um nome perfeito para um panda.

— TenTen?

— Hey! – ela exclamou. – Sabia que conhecia esse cachorro... – constatou pensativa, acompanhando com o olhar Akamaru ir alegremente até o dono.

— Ehh. Esse esperto aqui resolveu passear um pouco. – ele passou a mão na cabeça de Akamaru, distraído.

— Hmm. – ela o fitou de forma perscrutadora. – Kiba, huh?

Ele piscou surpreso. Tinham se esbarrado por aí tão poucas vezes que não esperava que ela lembrasse de seu nome.

— Você também lembra o meu... – ela comentou, dando de ombros.

Ora, ela lia pensamentos por acaso?

— Eu não leio pensamentos, se é nisso que está pensando. – TenTen sorriu despreocupada. – Mas você fez uma careta tão surpresa que só podia estar estranhando o fato de eu lembrar do seu nome. E agora está fazendo de novo...

Kiba balançou a cabeça, se recompondo. Ela estava quase o deixando constrangido. Quase. Retrucou:

— Não é todo dia que se encontra alguém com nome de panda. Assim não dá pra esquecer.

Ela estreitou os olhos castanhos.

— Não é todo mundo que fede cachorro também, Kiba. – disse, dando a entender que era por isso que lembrava do nome dele.

Kiba sorriu de lado, os caninos afiados à mostra.

— Cada um com suas características marcantes.

TenTen o analisou de cima a baixo por um instante. Então começou a juntar as armas que estavam espalhadas pelo chão.

— Você já tem muitas características marcantes. Mesmo sem considerar esse cheiro que chega muito antes de você por aí.

Ele franziu o cenho, confuso. O que ela queria dizer? Era algum tipo de elogio e crítica misturados?

Akamaru latiu. A garota estava indo embora antes que formulasse alguma coisa para dizer.

— Boa noite, pra vocês!

*****

Entre missões e treinamentos, levou mais de uma semana para esbarrar com ela de novo. Não que ele estivesse ansiando por isso. Apenas ficara curioso com a história das características marcantes.

— Hey, Menino-Cão! – ela saudou, estava enxaguando o rosto no rio e por isso o aceno que fez com a mão respingou água nele.

— Panda! – devolveu, ignorando os pingos e se aproximando com Akamaru.

TenTen meramente arqueou uma sobrancelha para ele.

— Treinando muito, Akamaru? – ela perguntou, assim que o cão foi até ela agitando o rabo alegremente.

— Sempre. – Kiba respondeu por ele, sorrindo divertido. – O mesmo quanto a você pelo jeito. Sinto o cheiro do seu suor. – Também sentia o outro cheiro característico e indefinível dela, mas essa parte guardou pra si mesmo.

— Muito gentil. – retrucou, irônica, apanhando uma kunai e apontando para ele. – Quer treinar, garotinho?

— "Garotinho"? – Kiba fez uma posição defensiva. – Quantos anos você tem a mais que eu? Uns dez, por acaso?

— É claro que não. Mas isso não importa, mesmo que fosse mais nova você continuaria sendo um garotinho. – ela se moveu agilmente. – Porque, – apareceu atrás de Kiba, encostando a kunai no pescoço dele. – é como dizem, garotos demoram muito mais para amadurecer.

Kiba poderia ter se livrado dela, acertado-a talvez, se ela não tivesse sussurrado as palavras bem em seu ouvido. Aquilo o desconcertou por um segundo.

Aquele segundo de hesitação foi suficiente para que TenTen o empurrasse rio adentro.

— Arr! Caramba! – ele exclamou, emergindo irritado.

A kunoichi dava risada e Akamaru latia – parecendo mais divertido do que preocupado com o dono, para frustração deste.

— Você é doida?

— Hahah. – TenTen notou a expressão mal humorada dele e resumiu o riso para um meio sorriso. – Garotos são mesmo muito imaturos...

— O que isso tem a ver? – ele quis saber, ainda dentro do rio.

— Você ficou bravinho só porque fiz isso!

— Você me jogou no rio!

— Nós estávamos "lutando" perto do rio. Era de se esperar que algo assim poderia acontecer.

— Hmph. Sei. Queria ver você ficar feliz se estivesse no meu lugar!

— Provavelmente não.

— Imatura, então!

— Sou mulher, posso mudar de humor.

— ...

Kiba finalmente saiu da água, sacudindo a cabeça. Isso fez TenTen voltar a rir.

— Ihh... Agora vai ficar fedendo cachorro molhado!

— Por culpa de quem?

— Hahah.

Kiba tirou a blusa e a torceu para tirar o excesso de água.

— Você encarnou mesmo com meu cheiro, né?

— Como eu poderia evitar? Dá pra saber que você está perto rapidinho por causa dele...

— Faz parte. – ele deu de ombros. – Meu clã inteiro lida com cães. O cheiro é uma consequência natural.

— É. Definitivamente uma constante em você...

— Tá incomodada, Panda?

TenTen sorriu.

— Não. Relaxa. É uma característica... Peculiar.

De novo. Ela estava falando de suas características mais uma vez.

— Uma vez você deu a entender que tenho outras. Marcantes.

Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça.

— Quais são, na sua opinião?

— Hmm... – TenTen franziu levemente o cenho, pensativa. – Essas... – disse, aproximando-se até encostar e deslizar um dedo na face úmida dele. – Marcas vermelhas, por exemplo.

Não durou mais do que uns segundos, mas Kiba enrubesceu ligeiramente com o contato inesperado.

— Ehh, imaginei... – resmungou, recompondo-se. – O que mais?

— Tem todo esse ar selvagem e... – interrompeu-se, notando que anoitecia. – Uh, tenho que ir, Menino-Cão!

— Hey! Espera aí!

Mas ela já tinha sumido rapidamente.

*****

— Ahn... Kiba-kun?

Ele ergueu a cabeça para fitá-la, mas continuou sentado sob a árvore, acariciando distraidamente Akamaru ao seu lado.

— Oe, Hinata!

— Tudo bem? – ela indagou, abaixando-se ao lado dele. – V-você estava tão... T-tão distante no treino q-que...

— Não há porque se preocupar! – exclamou, sorrindo amplamente. – Só ando meio pensativo ultimamente... Estranho, não? Hehe.

— Ah. N-não, não! – ela sorriu timidamente, levantando-se. – Então vou te deixar em paz, Kiba-kun.

— Hey, Hinata?

— H-hai?

— Você acha... – ele coçou a cabeça, não muito à vontade. – Acha que tenho um cheiro muito ruim?

— Ahn? – Hinata piscou, confusa. – Você tem o mesmo cheiro do Akamaru... N-não é ruim.

— Certo. – disse, lembrando que ela estava no mesmo que time que ele há tanto tempo que, certamente, já tinha se acostumado. – Valeu, Hinata! – sorriu e levantou rápido, chamando Akamaru.

Fez um aceno para Hinata e saiu caminhando agilmente antes que ela fizesse qualquer pergunta. Embora provavelmente ela não fosse fazer mesmo.

Respirou fundo quando chegou na cidade e imediatamente aquele cheiro o invadiu. Sabia que, se tivesse prestando atenção, teria captado-o muito antes. Afinal, seu olfato funcionava perfeitamente mesmo que muitos quilômetros os separassem.

Ela não estava muito distante. E daí? Ela era só uma garota espertinha, que gostava de zombar dele. Por sua vez, Akamaru devia ter simpatizado bastante com ela, pois estava indo diretamente para a direção de onde sentia aquele cheiro indefinido dela.

— Tsc. Akamaru!

Resolvendo acreditar que não tinha opção, Kiba seguiu atrás dele. Notou como o cheiro dela tinha algo diferente. Geralmente tinha suor e terra misturados, mas dessa vez não. Era um aroma adocicado. Algum tipo de perfume, provavelmente.

— Hey, Menino-Cão! Akamaru!

Lá estava ela, na ponte. Ele piscou várias vezes. Era ela mesma? Tenten usava um vestido leve e seus cabelos caíam pelas costas em ondas castanhas.

— Panda?

— O nome é TenTen, na verdade.

Kiba ignorou a informação.

— Que diferença! Tá bonita assim, hein!

— Ah. Obrigada por insinuar que normalmente estou feia. – ela sorriu falsamente.

— Huh? – Kiba ficou confuso por um instante. – Não! É que estou acostumado com aquele seu penteado de sempre e as roupas de treino, mas quis dizer que ficou bem assim também! – esclareceu, sem graça.

— Hahah. – TenTen deu tapinhas amigáveis no ombro dele. – Eu entendi, só estou te atazanando.

— Hmph. Pra variar.

Ela riu de novo.

Ele a olhou de cima a baixo, novamente, e mordeu o lábio inferior.

— Acho que seu namorado vai gostar.

TenTen arqueou as sobrancelhas.

— Quem?

— Ué, o Neji, não?

— Ele não é meu namorado. De onde tirou isso?

— Sei lá. Só uma hipótese. – Kiba desviou o olhar para Akamaru, que tinha se deitado perto deles. – Vocês parecem tão próximos e...

— Por sermos companheiros de time? – ela sorriu. – Então devo supor que você e a Hinata...?

Kiba voltou a olhar para ela, balançando a cabeça negativamente.

— Não, não! É só que...

— Neji é meu amigo, e só.

— Hmm... – sabia que não era da conta dele, mas mesmo assim não resistiu: - Então, pra quem você se produziu assim? O Lee?

TenTen revirou os olhos cor de chocolate.

— Não! Às vezes nós, garotas, gostamos de nos produzir pra nós mesmas. Pra nos sentirmos mais bonitas. – ela abanou a mão para ele. – Sim, até mesmo eu, que em geral não ligo pra essas coisas de maquiagem e tal, passo por isso uma vez ou outra.

— Hmm.

— Satisfiz sua curiosidade?

— Hmph. Valeu. – disse, emburrado, olhando bem para os cabelos dela. – Meio estranho te ver assim. Aquele seu penteado é uma de suas características marcantes...

— É, imagino. – ela inclinou a cabeça para o lado. – E por que sempre acabamos falando de características?

— Sei lá. Você quem começou.

— Acho que foi você, hein.

Kiba ia retrucar, mas notou que ela estava cheirando a mão que usara para lhe dar aqueles tapinhas.

— Não me diga que está checando se ficou com cheiro de cachorro?

— Só curiosidade...

Ele rosnou.

— Ora! E não é que é mesmo um cachorro?

— O quê? Apesar de tudo eu não sou um cachorro! – exclamou, não exatamente ofendido já que adorava cães. Mas não era literalmente um cão.

TenTen fez um gesto vago com a cabeça, na direção de Akamaru.

— Às vezes tenho minhas dúvidas... Já te vi se sacudir como um, rosnar, e obviamente você cheira como um. – falou, claramente se divertindo. – Se começar a latir nem vou estranhar.

Kiba rosnou de novo, automaticamente.

— Hahah.

— Hmph. – ele sorriu de lado. – Toma cuidado que posso acabar te mordendo então.

— Por que faria isso? Sou tão boazinha com você... – e colocou a mão na cabeça dele, afagando-lhe os cabelos escuros. – Hahah

Ela estava realmente o tratando como a um cão? Certo. Kiba sorriu para si mesmo, sarcástico.

— Não tenho uma cauda para balançar de tanta alegria...

— O que é uma pena... – TenTen constatou, ainda com a mão na cabeça dele.

— Hn. Tudo bem, cães não tem só esse jeito de demonstrar alegria. – Kiba inclinou-se e deu uma lambida no canto dos lábios dela.

— ...

Legal. Agora tinha um par de olhos castanhos meio arregalados fitando-o. Por que tinha feito aquilo mesmo?

— Tsc. – fez a kunoichi, ruborizada, segurando-o pela gola da blusa.

Akamaru latiu.

— OK. Foi mal! – exclamou, já fechando os olhos à espera de uma porrada.

— Tá. – ela disse, soltando-o.

— Tá? – estranhou, abrindo um dos olhos.

— É. Garotos são mesmo muito imaturos... – falou baixinho e olhou para a expressão confusa do outro. – Agora aprenda uns truques, Menino-Cão! – TenTen novamente o puxou, dessa vez até encostar os lábios nos dele.

Aí Kiba ficou realmente confuso. Entretanto, nem tentou entender. Preferiu abraçar o corpo da garota e entreabrir os lábios dela – para mostrar o que podia fazer com a língua, além de lamber. Agora sim bem perto daquele cheiro típico dela.

Akamaru, por sua vez, voltou a deitar, escondendo os olhos com as patas.

TenTen afastou um pouco o rosto do dele, pensativa.

— O que foi? – Kiba perguntou, arqueando a sobrancelha. – Se for o cheiro, pode ir se acostumando. Vai acabar pegando em você mesmo...

— É, eu sei. – TenTen encolheu os ombros, sorrindo. – Isso que é característica marcante. Marca até os outros...

Owari