E mais uma vez, me encontro nessa mesma situação. Estou sozinha, esperando ser submetida a sensações extremas novamente. Aguardando aquilo que me trazia sensações tão horríveis e ao mesmo tempo tão necessárias. Eu não sabia o quanto aquilo era importante para mim, era como uma terapia, e no final de tudo, eu sempre me sentia aliviada.

Era uma sensação única. Aquilo machucava muito, mas eu precisava sentir aquela dor, era um mal necessário, e a abstinência disso era pior do que qualquer outra coisa. Antes de qualquer coisa, não eram pessoas, ou objetos que me causavam esses efeitos, mas sim sentimentos e sensações: o medo, a insegurança, as frustrações, a raiva... Eu me limitava a focar minhas energias apenas nisso. A intensidade e a duração de minhas lágrimas refletiam o tamanho da minha dor. Minha cabeça latejava, meu peito doía, como se uma faca golpeasse o mesmo por diversas vezes seguidas, uma aflição intensa que me tirava o fôlego, e me deixava alerta, esperando pelo que viria a seguir.

Minha voz não era útil, e sequer ousava sair; o silencio acabava com o resto de minha sanidade; meus olhos apenas viam a beleza desconhecida perante a escuridão; meu corpo não respondia a nenhum dos meus comandos, e apenas se limitava a contorções de agonia. Além disso, suava frio e tremia muito. Novamente o meu fôlego fora cortado, e um calor fora do normal atravessou todo o meu corpo, como se uma espada em chamas me dividisse em vários pedaços. Eu olhava para os lados, em busca de alguma resposta, e a aflição se intensificava cada vez mais, isso porque não havia mais nada e nem ninguém além de mim naquele lugar.

Após aquelas sensações loucas, fechei os olhos pela última vez, e tudo aquilo cessou. Os calafrios, a angústia, a dor... Tudo se extinguiu, e depois de abrir os olhos, vi a mesma cena de sempre: a TV acabara de ligar, e os raios de sol iluminavam aquele ambiente, agora tão estranho e desagradável. Sim, eu acabei de acordar, e mesmo depois de tantos anos, ainda não consegui me acostumar com essa tal de “vida”.

Em compensação, aqueles sonhos eram o meu refúgio, a minha fonte de “diversão”. Eu estava submissa àquelas coisas loucas, até porque é na dor que eu encontro o alívio. Enquanto o dia se passava, eu apenas contava as horas, ansiosa para voltar ao meu mundo inconsciente, o meu “lar, doce lar”.