Tem vezes que você se sente a pior pessoa do mundo, e quando você pensa nisso, você vê que realmente é a pior pessoa do mundo.

Quando eu era adolescente, tinha uns 15, 16 anos, e procurei um emprego fácil para juntar dinheiro. Coloquei anúncios para babá e cuidadora de cães em jornais, por um preço barato.

Um dia, estava com uma das crianças que tinha sido contratada para cuidar e estava levando ela para cortar o cabelo, como a mãe havia pedido, por um momento parei em frente a uma vitrine e o garotinho se soltou da minha mão. Eu não percebi, e continuei analisando os produtos. Só então percebi que não sentia mais a mãozinha quente colada na minha e me virei procurando a criança. Quando a achei, estava no colo de uma mulher, chorando desesperadamente e soluçando um "mamãe" repetitivo. Agradeci a mulher, depois de receber um sermão e a mãe da criança não me chamou mais para cuidar do filho.

Acabei ficando sem o dinheiro.

O incrível é que parece que as crianças ainda não conseguem ficar perto de mim, elas simplesmente vão embora, somem, desaparecem. Isso é inaceitável pra uma tutora legal, mas não é como se o destino ligasse para isso.

– Mel... Você está branca, o que foi? - Fred me segurou meu rosto com ambas as mãos me fazendo fitá-lo, isso teria me deixado vermelha se toda a cor do meu rosto não tivesse ido embora.

– Eu sou a pior tutora do mundo! - Me abracei a ele, sem constrangimentos e pude sentir seus musculos se contrairem antes que ele pousasse suas mãos nas minhas costas, me reconfortando.

– Shi... Acalme-se, Alícia vai voltar, nós vamos resgatá-la... - Ele falou num tom de voz calmo e reconfortante. Ainda assim, continuei a soluçar e gaguejei a resposta fracamente.

– Do... Doug. - Só com essa palavra Fred se pôs a rir escandalosamente.

– Só veio perceber isso agora? Eu... A ASIS te destraiu tanto assim? - Pude sentir a malícia na sua voz e isso me deu forças para empurrá-lo do abraço.

– Eu ouvi meu nome? - Doug saiu do canto mais afastado da sala com uma lata de refrigerante em uma das mãos e ar despreocupado, nem parecia que sua única colega de equipe havia sido sequestrada por uma organização que matava sobrenaturais. Detalhe: ela é sobrenatural.

– Doug! - Corri para perto dele e o abracei, para então segurá-lo pelos ombros na minha frente e analisar cada centímetro de seu corpo, como uma mãe preocupada, para tentar achar algum arranhão. Quando não vi nada comecei a beijar sua cabeça e chorar de alívio.

– Mel, Mel! Você está me sufocando! Pare! Eu estou bem! Pare! - Parei de beijá-lo, mas não soltei seu braço, só então me virei para ver Fred sorrindo e o Diretor mexendo a cabeça e o corpo de olhos fechados, como se estivesse cantando uma música. De repente, ele parou o movimento e abriu os olhos nos encarando seriamente, para depois se sentar em sua cadeira, nos chamando.

– Pois bem, vocês três irão atrás da Alícia. Alguma pergunta?

– Ahn... Como? - Fred perguntou e eu olhei pra ele irônica.

– Com um carro, armas e um rastreador. Ela tem um colar com chip, não sabia? Ah, é, não foi você que mandou fazer, fui eu. – Eu disse sem o mínimo de pena e Doug fez um barulho que deveria ser o relincho de um cavalo e começou a rir, junto com o Diretor que agora passava o dedo em um botão grande e vermelho com um grande X preto no seu meio em cima da palavra "Danger". - E o que é isso? - Falei esquecendo por completo Fred e sua cara de envergonhado.

– Ah, esse botão? É meu favorito, mas é claro que é secreto. - Ele sorriu misterioso.

– Bom, vamos buscar Alicia ou ficar falando de botões? - Doug tirou a todos da curiosidade de saber para que serviria o botão e então decidimos ir resgatá-la.

Dois sobrenaturais e eu dentro de um carro para viajar o país rastreando uma garota de 8 anos. Isso não vai prestar.