Eu estava feliz, olhei para o lado e aqueles cartões do meu pai estavam lá, na cabeceira da cama, eu não iria abrir e estragar a minha felicidade, o meu dia amanheceu bom, eu já acordei com um sorriso no rosto. Levantei fiz minhas higienes e desci.

-- quando te conheci, minha vida mudou pra melhor, eu voltei a sorrir, há um tempo atrás eu estava na pior, não sei o que eu fiz para merecer tanto carinho assim, se hoje estou feliz, é porque você está perto de mim – desci para cozinha cantando, minha mãe estava mexendo em algumas coisas lá, parou o que estava fazendo e ficou me encarando – o que foi mãe?

-- esta feliz em Manu. Posso saber o motivo?

-- a vida mãe.

-- a vida e o Bernardo né. – ela falou e virou e continuou a fazer o que estava fazendo – mais essa felicidade tem algum motivo especial? – mãe sempre conhecia os filhos né, não respondi e ele percebeu – vocês tiveram  a primeira vez? – ela falou de uma vez.

-- mãe  - eu a repreendi.

-- sim ou não? – falou virando e me olhando.

--sim.

-- se protegeram?

-- sim. – essa era minha mãe mesmo, ou algum alienígena a abduziu? Ela sempre tem um sermão para dar.

-- eu já tive sua idade filha, mais você tem que fazer as coisas com responsabilidades.

Ela ficou falando coisas sobre esses assuntos que eu fingi escutar, o constrangimento estava estampado em meu rosto, mas ela fingiu que não percebeu e ficou falando na lata, sem ficar enrolando, eu já estava mais vermelha do que tudo, depois que ela acabou de falar, de dar o sermão, falando que tenho que fazer as coisas com cuidado e responsabilidades e mais uma infinidades de coisas que mãe sempre fala, subi para o meu quarto tomar um banho, o Bê ia almoçar em  casa hoje, tomei um banho bem demorado, assim eu me sentia protegida de qualquer coisa que pudesse me fazer mal, depois de muito tempo embaixo do chuveiro minhas mão começaram a enrugar então saí do banheiro e me arrumei com um short jeans claro e uma regata preta com um tênis, passei um gloss e desci para  ajudar minha mãe, lá em baixo estava o Bernardo com um sorriso constrangedor e minha mãe falando sem parar, imagino que ela esteja falando o mesmo discurso que falou para mim, eu fiquei morrendo de vergonha e fui me aproximando deles e quando eles perceberam minha presença minha mãe calou-se e o Bernardo me olhou com um pedido de socorro.

-- chega né mãe de ficar alugando o Bernardo – falei me sentando do lado dele – desculpa por isso – sussurrei em seu ouvido, ele apenas sorriu.

-- estava apenas alertando sobre as coisas da vida – como se ele já não tivesse vivido muito, pensei assim que minha mãe falou isso.

-- mãe onde que esta a Duda? – falei tentando mudar de assunto.

-- ontem seu pai teve aqui e a levou para dormir lá na casa dele.

-- não sei como você deixa ela ir pra lá, é bem capaz daquela fulana a matar enquanto dorme – falei fechando a cara, pois cogitava a ideia de algum dia a Duda possa a ter algum sentimento por aquela pessoa que basicamente destruiu minha vida.

-- não fala isso Manuela, você sabe muito bem que ela trata a Duda como se fosse a filha dela, você tem que parar com essa implicância – minha mãe me advertiu, mais eu não falei mais nada, eu sabia que não adiantaria.

-- vamos ao meu quarto ver algum filme? – falei virando para o Bernardo.

--vamos – falou levantando, enquanto subíamos a escada eu ainda pude ouvir minha mãe falar “ juízo em meninos”, eu ignorei esse comentário dela e continuei subindo.

-- desculpa pela minha mãe – falei sentando na minha cama.

-- tudo bem, mas você que contou? – falou sentando ao meu lado.

-- não exatamente.

-- como?

-- é que eu acordei feliz, e ela ficou perguntando e pelo jeito que eu estava ela acabou deduzindo isso.

-- eu fiquei morrendo de vergonha, mas tudo bem – falou me dando um beijo – ainda mais depois de ontem.

-- para – o cortei antes que ele quisesse conversar sobre o que aconteceu ontem. Ele entendeu e não falou nada.

-- onde tem filmes para vermos?

-- aqui –falei pegando uma caixa de filmes e entregando ele ficou olhando e escolheu um. Coloquei o filme e deitamos na minha cama, mas posso dizer que não prestei atenção em nada do que estava passando, pois as imagens de ontem de nós dois ficava vindo como fleches em minha cabeça.

-- ei, psiu – o Bernardo falou passando a mão por meu olhos.

-- oi!?

--  está distraída em – falou me abraçando – sua mãe nos chamou par descer e almoçar.

-- então vamos lá – falei saindo do abraço dele e sentando na cama.

-- você não vai me dizer porque estava tão distraídas?

-- nada importante – tentei desconversar.

-- Manu, eu te conheço, se não fosse importante você não estaria daquele jeito.

-- équeeueestavalembrandodanoitedeontem – falei de uma vez só, embolando as palavras todas. Ele me olhou com cara de confusão e sorriu.

-- fala devagar, por favor – dei um sorrisinho e suspirei alto.

-- estava pensando em nós ontem. – falei olhando para o chão, ele pegou meu rosto e me fez olhar para ele.

-- isso é bom? – me perguntou com um olhar de duvida.

-- é.

-- quando você vai parar de ter vergonha de mim?

-- acho que nunca – falei e sorri.

-- estou falando serio.

-- tudo bem, eu prometo que não terei mais vergonha de você – falei levantando minhas mãos. Ele riu e me abraçou – vamos descer antes que a senhora Vitoria, vulgo minha mãe, pensa besteiras e começa com aquele discurso todo.

Levantei e ajudei ele a se levantar também, descemos e almoçamos e graças a Deus minha mãe não tocou naquele assunto, o almoço foi agradável até o momento que o meu pai apareceu com a Duda. Estava indo para a cozinha para deixar o prato de sobremesa quando alguém segura em meu braço, me virei e me arrependi.

-- você já abriu os cartões? – meu pai perguntava com os olhos cheios de esperança.

-- não.

-- vai abrir? – ele ainda insistia.

-- não sei, mas isso é uma opção minha, e SE eu abrir você vai saber – falei dando as costas e indo para a cozinha.

Eu não aceitava, eu não queria me permiti a esse sentimento, desde que eu  lembre, eu sempre detestei essa pessoa que se diz ser meu pai, eu sei que isso é horrível de dizer, mas essa era a verdade. Eu não suportava olhar para a pessoa que destruí o meu castelo, que eu vi que era feita de areia, que destruiu todo aquele sonho de pai herói que eu nutria por ele, mas eu queria poder aceitar que eu havia mudado, queria entender que a pessoa que mais saiu ferida nessa historia toda, já o perdoou, que foi a minha mãe, eu não queria abrir meu coração sabendo que poderia sofrer novamente, por isso eu precisava sustentar essa mascara de que não me importava se estava ou não o magoando, era confusão que cobria todo o meu pensamento, uma guerra interna em perdoar ou não, que meu coração gritava para perdoar, mas minha razão gritava para não perdoar, minha razão tinha medo de sofrer e se iludir novamente por uma coisa que não era real, que só existia em minha cabeça,  e esse sentimento também se estendia ao Bernardo, mas eu tentava tampar o sol com a peneira e acreditar nessa nossa historia de hoje, não pensar no futuro e muito menos no passado, viver somente o presente. Senti alguém me abraçando por traz enquanto eu bebia um pouco de agua, e senti um beijo em minha nuca.

-- hoje você esta tão distraída – o Bernardo falou me virando, fazendo eu ficar de frente para ele.

-- não vou estar mais – falei sorrindo.

-- o que tanto esta de incomodando? – ele insistindo.

-- não quero lembrar.

-- você sabe o tanto que eu sou curioso né? – eu assenti com a cabeça, fazendo sinal de positivo – então uma hora você terá que me contar certo?

-- pode ser outro dia?

-- você que sabe minha pequena – falou selando nossos lábios. Voltamos para sala e ficamos namorando o resto da tarde, ficamos rindo, brincando, e isso só fazia com que eu me apaixonasse mais por ele, e no fundo eu tinha medo. Sim, medo! Por tudo o que eu passei desde a traição do meu pai, eu me fechei para qualquer tipo de relacionamento, e aqui estou eu, amando uma pessoa que eu nem imaginava em conhecer, amando de uma forma que eu achava impossível e irreal, eu achava que eu era incapaz de alguém dessa forma como eu o amo, mas a vida sempre dá um jeito de nos mostrar o quanto estamos errados e como tudo pode mudar de um dia pra o outro.

Nunca fui adepta a mudanças, mas sempre que acontece eu tento encarar de uma maneira positiva, posso afirmar, que nem sempre dá certo, mas pelo menos eu tento!

Perdão!

Uma palavra que e sei o significado, mas não sei realmente o que é. Ainda não consegui perdoar a pessoa que já foi muito importante para mim, e nem sei se sou capaz. Essa guerra interna travada dentro de mim, a cada dia que passa, fica mais difícil saber quem será o vencedor.

Eu quero perdoar!

Mas não sou capaz de esquecer, e sempre que estiver alguma oportunidade eu sei que esse acontecimento em minha vida, vai vir com tudo em minhas lembranças me deixando amarga mais uma vez. Eu quero perdoar por inteiro, para quando alguém tocar nesse assunto e não sentir nada. Mas não sou nenhuma ingênua, eu sei que mesmo eu perdoando de todo o meu ser, sempre haverá algum rastro de magoa dentro de mim.

Forcei meus pensamentos para pensar somente no momento com o Bernardo.

-- acho que já vou indo – falou me dando um beijo, olhei no relógio e já eram 22:00 – amanha é segunda e nos vemos na escola, tudo bem?

-- claro  - falei abraçando sua cintura e dando um beijo em sua boca – eu te amo.

-- também te amo.

Levei –o  até  a porta e nos despedimos.

-- até amanha, te amo minha pequena – falou me beijando e entrando no carro.

Subi para o meu quarto e deitei em minha cama, obriguei meus pensamentos a ficarem em seus devidos lugares, e não a pensar em nada. E logo dormi.