Por volta das 7 horas meu telefone tocou.

– Castigo? – Alice perguntou mal me deixando respirar.

– Castigo. – respondi sem humor na voz.

– Relaxa, você não vai ficar de fora da diversão, eu tenho um plano.

– AI MEU DEUS! Você e seus planos. Manda, eu nem discuto mais.

– AI MEU DEUS! Você e seu pessimismo. O herói do dia, vencendo todo seu orgulho, concordou em salvar a bela princesa de seu castelo dourado, onde a bruxa má está lhe aprisionando.

– Castelo dourado? Ah Alice, fala nossa língua, antes que eu desligue!

– Tá, sem estresse. O Jacob e eu vamos até aí te salvar. Ah, e a propósito, desculpa pela parte da bruxa má, é sem ofensas tá?

– E como vocês vão me salvar?

– Deixa comigo, basta esperar meu sinal e fazer de tudo pra que sua mãe acredite que você está dormindo como um anjinho em seu quarto!

– Sinal? Alice!
Mas ela já havia desligado e eu estava sozinha na linha, apenas com a missão de fazer minha mãe achar que eu estava dormindo.

– O que está fazendo aqui em baixo? Pensei que tinha dito para ficar no seu quarto. – Bella meio que rosnou, me vendo na cozinha.

– Relaxa, só vim fazer um lanche antes de dormir.

– Acho bom que seja assim mesmo, vá dormir. E só para mantê-la informada, eu e seu pai iremos sair.

– Tá, divirtam-se por mim, já que não posso e boa noite. – falei secamente e subi para o meu quarto.

Era fácil mentir pra minha mãe, já que eu quase nunca fazia isso. Ela sempre acreditava em mim, com relação a certas coisas é claro. Mas acho que ela só surtou dessa maneira por ver Jacob aqui, porque estava bem claro que ele é pobre. O uniforme da madeireira jamais deixaria isso ser negado, aos olhos de dona Bella, é claro.

Deixei meus pensamentos de lado e fui me arrumar, e mais ou menos meia hora depois, ouvi algo sendo lançado repetitivamente na minha janela, como pedrinhas. Era o sinal de Alice.

– Ai! Cuidado aí! – falei quando abri a janela e uma última pedrinha acertou em cheio minha testa.

– Desculpe. Jake, a princesa acordou! – ela gritou o chamando.

– O que você estava fazendo ali? – perguntei sentindo borboletas revirarem meu estômago ao olhar pra ele. De repente lembrei-me da nossa discussão mais cedo e meu coração estranhamente apertou.

– Nada – ele disse – Só procurando um jeito de subir aí e te roubar do castelo.

– Eu não disse que ele é que era o herói da história que no final ia salvar a princesa das garras da bruxa má e lhe dar um beijo apaixonado? – Ali se intrometeu.

– Bom, você falou da história quase toda, – falei sem poder deixar de rir – menos da parte do beijo.
Nessa hora, Jake me olhou de um jeito encantador e eu podia jurar que pelo brilho em seus olhos ele falaria alguma coisa sobre o beijo, se Alice não tivesse quebrado o encanto dizendo:

– Tá, mas esquece do casinho de vocês pelo menos por enquanto e nos ajude a pensar como vamos te resgatar.

– Não vai ser necessário, meus pais saíram! – falei estranhando meu próprio entusiasmo.

– Jura? Então está esperando o quê? Vamos nessa! – Jacob disse também entusiasmado.

Ele nem precisou chamar de novo e eu já estava lá embaixo, caminhando totalmente feliz sem nem saber pra onde. Acho que era o efeito de uma droga extremamente viciante chamada liberdade.

Eu não me lembrava qual tinha sido a última vez que eu havia me divertido tanto. Depois de pegar o Jasper na casa dele, demos umas voltas pelo parque, saímos sem rumo pela cidade e até bebemos uns drinques de vodka, mas eu tinha certeza que minha felicidade não era efeito da bebida. Jasper e Jake eram muito divertidos, rimos horrores o tempo todo.

– Bom, vamos deixar os pombinhos sozinhos – Jass falou puxando Ali para um canto mais escuro da praia deserta, porque há essa hora numa cidade do interior ninguém mais estava acordado. Ninguém além de nós é claro, mas provavelmente esta seria a última parada da noite.

– Não tem desculpa mais esfarrapada, não? Os únicos pombinhos aqui são vocês. – eu disse.

– Únicos pelo menos por enquanto – Jake completou me olhando daquela maneira que só ele tinha, com aquele olhar que parecia ler minha mente.

– Tá, estamos indo então – Alice falou e eles seguiram.

– Enfim sós, madame – ele disse beijando minha mão.

– Pois é. Posso ser sincera? Acho que eu nunca me diverti tanto.

– Ah, eu já sabia que sua vida é um poço de diversão mesmo – pra variar, ele me zombou.

– Retiro o que eu disse, você é um chato sabia? – falei e nós dois rimos – Não, mas é sério. Eu adorei nossa noite, não queria que ela acabasse.

– E não precisa acabar – ele murmurou, colocando as mãos em minha cintura e me puxando pra mais perto, sem desviar nem por um segundo o olhar do meu – Basta você querer – ele prosseguiu, mas agora sussurrando em meu ouvido e depois distribuindo beijos por meu pescoço que me fizeram arrepiar em lugares tanto normais quanto nos indevidos.
Eu não ofereci nenhuma resistência, afinal era o que meu coração estava pedindo. Quando nossos lábios finalmente se encontraram, houve uma explosão de sensações em mim, ao mesmo tempo em que meu coração batia frenético, eu me sentia calma como um anjo. E que beijo era aquele? Senhor! Os movimentos da língua dele contra a minha eram perfeitos.

– Crianças! – a voz estridente de Ali, sempre interrompendo os melhores momentos. – Nem tentem disfarçar pombinhos, porque eu vi. E até parece que ninguém sabia do amor de vocês né, tava mais que evidente. Mas alguém por aqui tem que ter algum juízo, e como infelizmente sou eu, tenho que avisar a vocês que tá na hora de ir.

– Pára de discurso dramático né, mamãe. Até porque a fugitiva sou eu – falei tentando disfarçar que estava com vergonha.

– E quem se candidata a deixar a fugitiva em casa? – ela perguntou.

– Eu me candidataria com todo o prazer, mas há o risco dos pais dela já terem voltado. E se estiverem só vocês duas, dá pra disfarçar melhor. – Jake falou.

– Concordo amiga, eu sei que você queria ficar um tempinho a mais a sós com seu Jasper, mas faça esse esforcinho pela sua boa e velha amiga aqui.

– Tudo bem. Tchau amor – ela foi até Jass lhe dar um último beijo, enquanto Jake vinha até mim.

– Então, que princesa você quer ser? – ele perguntou ao se aproximar, entrelaçando nossos dedos.

– Como assim? – perguntei realmente confusa.

– Ué, eu não sou o príncipe que sempre te salva da bruxa má? Sem ofensas, tá amor? – eu ia protestar, mas amei a forma como ele disse amor.

– Então, vamos? – pelo menos dessa vez não era Alice, e sim Jasper interrompendo.

– Boa noite então, princesa. Sonhe comigo! – ele falou e me deu um beijo apressado no canto da boca, pra deixar um gostinho de quero mais.

– Boa noite! Tchau Jass! – gritei já a distancia e seguimos por lados opostos da praia, vendo apenas um breve aceno dos dois como resposta.

Entrar em casa foi mais fácil do que eu imaginava, apesar de já passar das 3 da manhã. Não fiz barulho algum e como não tinha ninguém acordado deduzi que minha mãe não havia notado minha ausência.