O Patético escrita por FelWatch


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.
Essa história foi escrita há tempos, portanto peço que ignorem os erros ortográficos que cometi na época.



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~ O PATÉTICO ~

Chamam-me de “O Patético”, sabes por que? Pois convém aos desprovidos de qualquer virtude me designar assim. Pensam que o patético, é aquele que é chato, sem graça e sem nenhum dom que interesse aos outros.
Bem, eles acertaram, mas apenas em parte. Conheces o verdadeiro sentido de Patético? Pois bem, contarei minha história, depois você que tire suas conclusões. Afinal, quem sou eu, um presidiário, para lhe dizer o que pensar?

Minha história não começou na periferia, nem em um lugar marginalizado. Pelo contrário! Eu descendia de uma família de reis, respeitada e a quem todos bajulavam, a quem todos deviam toda a sorte de coisas.

Eu tinha inúmeros irmãos. Todos belos, os cabelos louros, olhos azuis, altos, esbeltos, encorpados e invejáveis. Meu pai era um senhor majestoso, que faria qualquer sujeito se encolher a sua própria insignificância com um olhar. Minha mãe fazia inveja entre as mulheres da Corte, ditava a moda e as maneiras. 
Até minha criada era digna de um belo anel em seu anelar da mão esquerda de tão bela e respeitável.

Todos eram belos no castelo, que reluzia e transbordava beleza, exceto por mim. 

Se houver um Deus, ele não é piedoso. Quando moldou minha família, separou o belo do feio, o transparente do opaco, o diamante da areia de playground.
Eu sou o mais velho dos filhos, ou pelo menos era, como dizem alguns. O segundo mais velho era Charles. Todos meus irmãos possuem toda a sorte de talentos incomuns e admiráveis.

Mas ora, desviei-me do objetivo central da história, que cá entre nós, é nenhum. Vou poupar-lhe de meus lamentos e lhe contar o que aconteceu para eu me encontrar nesta situação deplorável.

Meu pai adoeceu, estava claro que o velho iria morrer, já estava com oitenta anos. Idade considerável para alguém que vivia naquela época.

Enfim, a fortuna, empresas, negócios, castelos, móveis, terrenos, servos e outros do submundo iriam todos para ele, meu irmão.
Fui tomado pela fúria imediatamente, no momento em que essas palavras apunhalaram-me.
Claro, eu era o último a saber de tudo que acontecia. Quando fui arrastado por policiais, o aviso havia chegado um mês antes. Infelizmente esqueceram de me avisar.

Houve um baile, toda pompa, vestidos, mulheres, música, salões, dança, valsa, quadros, lustres, comidas, vinho, hóspedes e etc...
Tomei uma decisão crucial, eu mataria Charles, e qualquer um que se apossar da fortuna que é minha por direito.
Eu posso ser feio, desajeitado, desprovido de qualquer luz e sorriso natural. Mas sou esperto, você não duvide disto.

No dia do baile desci das escadas, depois que todos já estavam quase totalmente bêbados, dançavam e conversavam freneticamente. Mas com toda a sorte do mundo que tenho fizeram o favor de apontarem para mim. 

Observaram cada passo meu, cada degrau que eu descia e apenas quando cheguei ao chão voltaram aos seus afazeres tão indispensáveis e importantes.

Eu já havia planejado tudo, faltava só...Charles. Era o mais bêbado da festa. Do meu ponto de vista era um irresponsável, não tinha a mente aberta, muito menos inteligência.
Mas do ponto de vista da sociedade? Ora! Um homem respeitável, carismático, bom com mulheres e divertido, poderia haver magnata melhor?

“Oh, Algie, poderia ser melhor? Seu irmão vai herdar a fortuna! Deves estar muito feliz por ele”, disse uma mulher aproximando-se de mim, desgostosa.

“Incrível não? Imagino por que ele seria digno de tanto dinheiro”, respondi sem olhá-la nos olhos.

“Ele é lindo, carismático. Ele será um líder melhor que o pai! Aposto”, ela disse, olhando em direção ao meu irmão. Estava rodeado de pessoas que riam e bebiam.

Falei a mulher algo a mais e a deixei. Contemplei o salão iluminado de dourado, quadros gigantes nas paredes, vestidos esvoaçantes e lindas mulheres.

Tirá-lo do meio das pessoas foi mais fácil do que imaginei. Esbarrei acidentalmente numa grande tigela de comida e tudo veio ao chão. É claro, todos começaram a deduzir quem teria cometido tal crime. Aquilo viraria o assunto por alguns meses...

Peguei meu irmão, bêbado e atônito, pelo braço. Arrastei-o para uma sala não muito longe dali. Claro alguém deve ter visto, mas nem deve ter prestado lá muita atenção. Oras, eu tinha que congratular meu irmão!

Matei-o.

Fim? Oh não, eu não darei a honra de acabar esta história com meu irmão sendo morto. Mais precisamente, deixei-o ali até que ficasse sóbrio. Ele teria de ver e sentir tudo o que eu estava fazendo.

Quando deu-se por si, começou a indagar perguntas. Ele me causaria problemas. Amarrei-o numa cadeira e tampei sua boca com um grosso pano. E comecei a falar, despejei toda minha ira sobre ele. 

Ao final de meu trágico e longo discurso ele já estava chorando, oh, mas não por piedade, para que eu o soltasse! 
Fui tomado pela raiva e fúria. O bastardo nem sequer havia repensado suas ações para comigo, nem um pensamento de razão e sensibilidade cortou sua mente. Nem pude usar meu arsenal de tortura, agarrei uma pesada massa e desfigurei seu rosto com uma pancada certeira.

Mas como sou desafortunado, poderiam imaginar algum final feliz? Espero que não, ou seriam muito tolos.

Deixei meu irmão num armário na mesma sala e fiquei ponderando o que fazer depois, porém meus pensamentos foram interrompidos pela coisa que eu menos esperava que fosse acontecer naquela noite.

“Algie! Oh, onde está seu irmão? Estamos preocupados! Ele está aqui, com você?”, uma mulher de vestido verde e amarelo entrou indagando pela sala.

“Não, eu o perdi. Ele...ele disse que ia trocar de roupa”, expliquei.

“Oh sim! Então, falemos de você. Onde esteve por todo este tempo?”

“Aqui mesmo...”, murmurei. Neste instante uma leva de pessoas adentraram a sala e formaram uma roda em torno de mim, conversando tanto que eu mal acompanhava.

“Algie, acho que você deveria ser o herdeiro”, disse alguém.

“Sim, és muito mais preparado que teu irmão”.

“Ademais, és o mais velho e herdeiro por direito!”

“O que deu em seu pai?”

“O lombo está especialmente bom”.

“Criada!”

“O vinho sujou minhas vestes”.

“Seu irmão está demorando não?”

“Quem se importa!? Deve ter morrido, mesmo”.

Por que eles falavam comigo? Por que riam comigo? Estavam rindo de mim? Sim! Estavam fazendo troça! Rindo as minhas custas! Eu, herdeiro da fortuna que tanto almejo.
Senti uma incrível falta de ar, arquejei e todos olharam para mim. Não aguentei mais

“Já chega!!!”, gritei para todos. “Vocês o querem tanto?! Vejam!!! Ele está aqui!!!”, fui até aonde estava o defunto e o tirei do armário com força.

Os convidados me encararam todos estupefatos. Alguns militares que estavam presentes na festa me algemaram prendendo-me dentro de meu próprio quarto, tolos.
Talvez você deve estar se perguntando por que não fugi? Sim, eu poderia ter sido alguém feliz, um homem rico e tudo mais.

Se eu sentia culpa? Não seja tão ingênuo. Eu sentia ondas de prazer só de lembrar no rosto de meu irmão, eu mal podia reconhecê-lo! Rio até hoje de sua expressão final, de surpresa.

Fiquei trancafiado até que, utilizando sua incrível mente, o juiz determinou que eu era culpado pela morte de meu irmão. Aquele foi o dia mais feliz da minha vida. Apesar de me terem me dado uma chance para me defender, eu não fui capaz de chegar a tempo, não me avisaram...

Mas fiquei feliz só de ver que todos estavam lá fora, me esperando! Eles gritavam o meu nome com fervor, nas ruas, até os que eu não conheciam estavam lá! 

Os policiais me trouxeram até aqui, nesta cela imunda. E aqui estou a alguns anos...e aqui está você, sinto sua presença e contar minha história me refresca a mente.

Eu soube que meu pai se recuperou de seu estado precário...soube também, que esta prisão será reformada, eu soube que no presídio, para qual serei transferido, os criminosos não são amigáveis. Disseram-me que é verão, mas lá fora neva.

Mas fico grato que tenha escutado a esta história tão atenciosamente, suas expressões me trouxeram uma alegria que a tempos não tenho o privilégio de sentir. Pois a ira em mim habita, toda vez que aqueles risos entrecortados, aquele odor de álcool e carne e as perguntas tão inutilmente formuladas por aqueles ridículos.

A falta de ar que isto me traz, o sufoco e o desespero. Nem meu odiado irmão deveria ter sentido isto...

Patético, não?


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Notas finais do capítulo

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