A 73 Edição Dos Jogos Vorazes escrita por Sofi


Capítulo 2
Capítulo 2 - A Capital




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 Resolver na Capitol. Não quero resolver minha estratégia, quero ir para casa. Distrito 7. Eu estava dormindo, quando ouvi alguém bater à porta. Olhei o relógio – que marcava 3 e 48 A.M - em meu criado-mudo, ao lado da cama no meu vagão dormitório.

-Hãan… Quem é? - esfreguei os olhos e me sentei na cama.

-Ery, amiguinha de Distrito. - disse ele com uma voz brincalhona e acordada – Posso entrar?

 -Ah, claro. - Eu ajeitei o cabelo. Agora minha voz estava mais acordada

Ele entrou, com um jeito simpático. Não estava parecendo o garoto duro e frio da Colheita.

-E então, quem é seu mentor? - eu perguntei, sinalizando com a mão para que ele sente-se na cama.

-Pamy Collak. - ele disse – Vencedora da 68° Edição dos Jogos Vorazes! - agora ele imitava a voz de Claudius Templesmith, o narrador dos Jogos.

Eu dei uma risadinha abafada e sonolenta.

- Sua risada é tão… gostosa de se ouvir. Eu gostei, pelo menos. - seu brilhante sorriso branco agora resplandecia na sua face – E o seu mentor? Quem é?

-Hm… Mekenzie Tarton… - eu disse, um pouco hipnotizada com seu sorriso.

-Ele parece ser um cara legal.

-É… - Eu não sei se ele é um cara legal. Nós só conversamos um pouco, quando precisei chorar – Parece ser.

-Olha, e se nós treinássemos juntos? Eu já te vi com o machado e… bom, você é muito habilidosa mesmo. Quem sabe…

-Eu adoraria. Você também é bom. Acho que faz parte do nosso sangue, certo? - Todos no Distrito 7 precisam trabalhar com as árvores. Nós produzimos madeira e papel, e somos obrigados à começarmos a trabalhar aos 10 anos de idade. Como uma experiência para os Jogos. Não um treinamento, como os Carreiristas. Uma experiência somente. - Vai ser ótimo.

-Obrigado. Até amanhã - Ery se levantou e deu um beijo em minha testa – E desculpa por te acordar.

  Ele sorriu, e eu percebi que em pouco tempo, ele me dominaria. Aquele sorriso era lindo. Era delirante, apaixonante. Hipnotizante. Será que ele estaria só brincando comigo? Caso seja isso, não é nada simpático. Nunca sofri por amor e não quero sofrer agora.

Peguei no sono, e Mekenzie bateu à minha porta, dizendo que eu precisava ir tomar café da manhã e que logo chegaríamos à Capitol. O trem era muito agradável. À menos pelo fato de que ele me levaria à um lugar que resultaria na minha morte. Fui ao banheiro, penteei meu cabelo, escovei os dentes e vesti uma blusa simples verde e uma calça estilo bailarina – pelo jeito assim que chamam essa calça na Capitol, já que é isso que vem escrito na etiqueta – e fui ao vagão-restaurante, onde Mekenzie, Pamy, Tuksen e Ery me esperavam.

-Hãn… Oi… - eu disse, dando um pequeno aceno com a mão e um sorriso amarelo – me desculpem pelo atraso.

-Ah, imagine minha queridinha. - Disse Tuksen, levando uma xícara de chá até a boca – Sente-se. Logo chegaremos à Capitol.

Nós tomamos café da manhã, conversamos, até que após 3 horas, nós chegamos na tal Capitol. Eu e Ery corremos até a janela para olhar os prédios e as cores do centro da nossa nação.

-Uau. - foi a única coisa que Ery conseguiu exclamar

-Uau. - eu repeti, concordando com a cabeça

Eu queria sair de lá, por que sabia que logo, aquela beleza se transformaria numa arena projetada para me matar. Mas era difícil se afastar da janela. Era tudo tão bonito…

-Sorriam! Sorriam! - dizia Tuksen animada demais para meu gosto. - Os cidadãos da Capitol querem ver vocês! Sorrisos!

Aquelas criaturas verdes, laranjas, cabelos cor de rosa, estilos do gênero, gritavam como idiotas para nós. Como se fossem nossos fãs número um. Eu dava meus sorrisos amarelos, que se fechavam e se abriam, fechavam e abriam. Eu olhava para baixo, olhava para os cidadãos, olhava para Ery, que estava com seu lindo sorriso bem sólido e dava pequenos acenos de vez em quando. Cada aceno resultava em mais gritos agudos.

Nós descemos do trem e Ery e eu fomos levados para um elevador, onde um pacificador apertou o botão de número 7. Quando chegamos ao nosso andar, dois Pacificadores me levaram ao meu quarto e mais dois levaram Ery ao dele. Era bem grande. Grande e branco, com detalhes vermelhos, pretos e verdes.

Tomei um banho quente e vesti uma blusa azul de manga comprida com outra calça bailarina, branca.

Fui ao vagão-restaurante, apesar de nenhuma refeição estar sendo servida. Fiquei lá por mais ou menos 45 minutos, até quer Ery chegou lá. Meu rosto já estava todo vermelho e amassado – e eu à ponto de começar a chorar novamente - quando ele sorriu.

-Vai chorar mais? - ele se sentou ao meu lado

-Eu não quero ir para a arena, Ery. - eu disse, com a voz chorona – Eu quero ir para o Distrito 7!

-Você vai. Eu prometo que você vai vencer. - ele disse, me abraçando. - Relaxa, tá?

Quanto mais ele falava, mais eu chorava. Mais eu lembrava do dia da colheita. De como eu estavaquase bem antes de ser chamada. De Nadik, Bea, Porty e meu pai, chorando no Edifício da Justiça. De tudo que Nadik me disse. De Any suplicando para que eu voltasse. Comecei a passar a mão no pingente de machado quando Ery perguntou :

-Então você vai usar isso na arena? Representando sua casa?

-Hm… sim… - eu disse, afastando as lágrimas que surgiam, usando o antebraço – e você? Vai usar o que?

Ele me estendeu o pulso, no qual havia uma pulseira trançada, de couro. Uma tira marrom, uma vermelha, uma com um tom mais claro de marrom. Na ponta, tinha pendurado o símbolo do nosso distrito. Uma árvore ao centro, com dois machados, um de cada lado, tudo junto num círculo.

-Minha mãe que fez para mim. - ele diz com uma pontinha de dor na voz – E o símbolo era do meu pai. Ele me deu, para eu colocar na pulseira. E eu coloquei.

-Eles parecem ser legais. - eu disse, concordando com a cabeça

-Eles são. Seus pais… Também devem ser legais. Criaram uma garota tão legal quanto você… Então, eles devem ser bem legais.

-Eles eram. - eu disse – até que minha mãe morreu e meu pai perdeu a perna num acidente com um machado muito pesado, sabe?

-Sua mãe morreu? - ele disse, com mais uma pontada de dor na voz. - Desculpa tocar no assunto.

-Tudo bem. Eu tenho que encarar a realidade. - Mas eu não quero encarar a realidade. A realidade é que meu pai não tem muito como cuidar de mim e meus irmãos, nunca mais vou ver minha mãe, somos todos dominados por um governo cruel e eu vou ter que ir para uma arena, para morrer. Ou para matar. O que acontecer primeiro. Mas então eu reflito. Eu teria que matar Ery. Eu não posso matar Ery. Também não posso deixar que matem ele. Mas também não posso deixar que me matem. Eu… eu não tenho ideia do que fazer.

-Meriva? Tudo bem? - Então percebi que eu estava chorando de novo – Não chora. Vai ficar tudo bem. - “vai ficar tudo bem” isso ecoa na minha cabeça. Primeiro com a voz de Ery, depois com a voz de Porty e enfim, a voz de Bea, o que me faz chorar mais ainda.

-Tudo. Tudo bem. - eu disse, com o rosto todo vermelho e amassado de lágrimas. - Menos o fato de que um de nós vai ter que morrer. Não concorda?

-Concordo. - disse ele, acariciando meu cabelo – E nós sabemos, que esse “um de nós” serei eu. Concorda?

-Sem chance. - eu disse, secando um pouco das lágrimas.     


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