The Three Times Nico Di Angelo Cried escrita por Juhhjulevisck


Capítulo 1
Capítulo único




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Nico Di Angelo não era exatamente o tipo de garoto emocional. Pelo contrário, ele era extremamente frio e calculista. Sempre pensara que jamais sentiria o gosto das lágrimas, ou da tristeza profunda, ou qualquer coisa desse tipo.

Mas ele sentiu. Três vezes.

~*~

A primeira foi quando Bianca foi embora.

Nico se recusava a ter que ouvir mais uma palavra sequer que Bianca dizia. Não era nada mais do que um bando de palavras sem sentido que ele jamais conseguiria acreditar, nem mesmo se tentasse. Ela estava mesmo falando toda aquela estupidez? Aquilo era egoísta e imaturo. Sua irmã jamais deveria fazer o que estava cogitando fazer, aquela nem era uma guerra sua!

— Nico! — A voz já atingindo um tom irritado de Bianca lhe enchera os ouvidos e ele se viu obrigado a virar-se para encarar a irmã. Ele a encarava furtivamente, enquanto tudo o que ela fazia era olhá-lo pedindo-lhe silenciosamente que tivesse calma. — Eu só quero que você entenda...

— Entender o quê? — Nico disse com o tom de voz alterado, quase gritando. — Que você é uma egoísta idiota que acha que vai salvar o mundo entrando numa guerra que não é nem sua?

— “Não é nem minha”? Nico, seu imbecil, isso é uma guerra! — Os olhos da garota já se enchiam de lágrimas; ela estava prestes a dar as costas àquele que sempre fora o único com o qual sempre se importou e aparentemente a última coisa que ouviria dele era que ela era uma egoísta idiota e que o que estava tentando fazer era inútil. — É uma guerra de todo mundo! Eu estou tentando te salvar aqui também! — Nico riu ao ouvir aquilo. Não era a risada de alguém que estava se divertindo, era a risada de alguém que tentava não acreditar em algo em nenhuma circunstância. Não, aquilo não podia ser verdade. Bianca não queria deixá-lo.

— Me salvar? Ora, Bianca, eu sei tomar conta de mim mesmo. Se alguém aqui tinha que salvar alguém, seria eu. Pare com essa besteira, você...

— Cale a boca, Nico! — Bianca gritou, interrompendo o irmão. Seus olhos lacrimejavam, não só de tristeza, mas também de raiva, Nico percebeu. Ela se aproximou o suficiente para olhar no fundo dos olhos negros dele. — Você nunca vai entender, vai? Você nunca entende nada. As coisas não giram ao redor de você, Nico. Não importa o quanto você olhe para mim com essa cara de desprezo, eu não vou mudar de opinião. Eu já tomei a minha decisão. Eu vou me juntar às Caçadoras, e pronto. Ao contrário do que você pensa, não está sendo exatamente fácil te deixar e... Esquece. Você não vai entender.

Nico não disse uma única palavra. Não conseguiu. Apenas encarava a irmã com uma expressão indecifrável.

— Bianca, está na hora. — Ouviram Percy falar, e logo após se distanciar. Nenhum dos dois disse nada. Apenas se encararam por um minuto que pareceu durar uma eternidade, e então Bianca deu as costas, sem olhar para trás.

Nico estava sozinho. Ela não voltaria dali cinco minutos com uma lata de refrigerante e um pacote de salgadinho e diria que aquela era a única refeição que teriam naquela noite. Não, ela se fora.

— Bianca se foi — Nico disse em voz alta, não conseguindo acreditar naquilo. Bianca era a sua vida. Ele vivia para manter a irmãzinha – não importava se ele era o mais novo, sempre achara que ela era a garotinha que ele tinha que proteger, custe o que custasse – em segurança. A cada dia que ele acordava, estava disposto a morrer por ela, se fosse necessário. E agora ela tinha simplesmente ido. Dera-lhe as costas e tinha saído para o mundo.

E ele não negaria. Sabia que havia uma guerra lá fora, é claro que sabia. E sabia que aquela guerra abrangia a todos. Mas ele tinha que lutar aquela guerra ao lado dela. Porque era o dever dele mantê-la ao seu lado vinte e quatro horas por dia para protegê-la. E agora ela estava longe dele, inalcançável.

Sentiu uma dor crescente no peito e um nó na garganta. Era a primeira vez que sentia aquilo na vida. Lágrimas se acumulando nos olhos. Desorientação total. Não sabia o que fazer. Não queria saber nada. Sentiu-se quebrando. Sentiu as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Odiou-se no momento que o fez. Recomponha-se, pelo amor dos deuses. Ele não era fraco daquele jeito.

Enxugou as lágrimas do rosto e respirou fundo. Aceitou o mais friamente possível que Bianca se fora e que teria que aprender a viver sem ela.

Mas como eu devo aprender a viver sem ela, pensou ele com pesar, se eu vivo por ela?

~*~

A segunda foi quando Bianca morreu.

Nico podia ver a dor no rosto de Percy enquanto ele dizia.

— Bianca... sinto muito, Nico. Ela morreu.

Ele falou alguma coisa depois disso, algo envolvendo o fato de que o corpo dela havia sumido, mas Nico não ouviu. Bianca não podia ter morrido. Não, ele jurara que jamais a deixaria morrer. Sua irmãzinha... Não, aquilo não podia estar acontecendo. Pela segunda vez na vida, sentiu seu coração se apertar e um nó se formar na garganta, acompanhado de lágrimas se acumulando nos olhos.

— Nico? — Percy chamou, percebendo que ele estava completamente alheio ao que acontecia. O filho de Hades olhou para o outro, sentindo uma onda incontrolável de raiva o atingir. Pegou a sua espada e apontou na direção do peito de Percy.

— Você prometeu! Você prometeu que cuidaria dela! — Gritou para um Percy agora assustado. É claro que ele imaginou uma reação daquela, mas não com aquela intensidade. Nico o mataria sem dó e muito menos piedade, disso ele tinha certeza. — Eu deixei a vida da minha irmã em suas mãos, e você a deixou morrer!

— Não foi minha culpa! — Percy gritou na defensiva. Levou a mão ao bolso e pegou a única lembrança de Bianca que ela deixara para trás. Estendeu-o na direção de Nico, que observou confuso. — Pegue. Ela certamente queria que você tivesse isso.

Quando percebeu o que Percy tinha nas mãos, Nico baixou a espada. O único boneco de Mitomagia que faltava para que completasse sua coleção. O bonequinho de Hades. Arrancou-o da mão do outro e o segurou nas mãos com tanta força que chegava a machucar. Esqueceu-se de Percy e olhou para a miniatura em suas mãos. Não conseguia acreditar naquilo.

Bianca havia morrido e uma das últimas coisas que havia feito – senão a última – foi pegar um boneco estúpido para que ele pudesse completar uma estúpida coleção. Ela não merecia aquilo. Ela não merecia nada daquilo. Apertou o boneco na mão e deu as costas para Percy, seguindo a esmo para a Colina Meio-Sangue.

Mal conseguia andar. Suas pernas pareciam ser feitas de gelatina, e chegar ao topo da Colina foi o máximo de esforço que ele conseguiu realizar. Caiu de joelhos na grama fofa e se sentiu mais desorientado do que já se sentira algum dia na vida. Não se importava mais se estava demonstrando fraqueza, apenas deixou que as lágrimas caíssem sem cessar, fazendo-o soluçar descontroladamente.

Estava desesperado. Absolutamente desesperado. Desde quando Bianca o deixara, sempre pensava que as coisas melhorariam quando aquela guerra terminasse. Ele poderia vê-la com alguma frequência, e por mais que ele não pudesse mantê-la ao seu lado a cada minuto de cada dia, era melhor do que nada. Isso, na verdade, foi o seu impulso para seguir em frente depois que ela se juntara às Caçadoras.

Mas agora ela havia sido tirada dele brutalmente. Para sempre.

~*~

A terceira foi quando ele se despediu dela.

Fazia três anos desde a morte dela. Cronos havia sido derrotado, Luke havia sido o verdadeiro herói da história, Nico agora tinha um chalé só para ele e todo mundo seguiu suas vidas. Inclusive Nico. Era difícil, porém. Seguir em frente sem tê-la ao seu lado. Naquele momento, ele seguia para um cemitério em Manhattan, estava indo visitar o túmulo de Bianca. Não havia nenhum corpo enterrado lá, mas foi algo que Percy insistiu que fosse feito.

Sua viagem para Manhattan não demorou mais de quatro horas, e ao chegar ao cemitério sentiu o coração se apertar um pouco. Caminhou entre os túmulos, sem se sentir exatamente desconfortável. Após uns cinco minutos, chegou a um que trazia o nome da sua irmã.

Já havia feito aquilo outra vez. A única vez que vira aquele túmulo fora quando foi construído, um ano antes, e desde então não criara coragem suficiente para ir até aquele lugar. Mas ele precisava. Tinha um negócio pendente a resolver com Bianca, a única coisa pela qual ele se arrependera, e se arrependeria para o resto de sua vida.

— Hey — ele começou, sentindo o coração se apertar mais ainda. — Não sei o que estou fazendo aqui. É só que... Eu preciso fazer isso. — Sentia-se estúpido e infantil falando com um pedaço de pedra, mas já que estava ali, faria o que tinha que fazer.

— Eu sinto muito, Bianca. Sinto muito que isso aconteceu com você. Pelo amor dos deuses, você era uma criança. Era minha única e total obrigação protegê-la de qualquer mal, e eu deixei que você saísse de perto de mim. Mas eu sei que eu não poderia mudar a sua cabeça. Eu entendo. Eu sempre entendi. Bianca... você é a garota mais corajosa que eu já conheci. Tenho certeza que eu jamais vou conhecer uma garota como você. Você era durona, faria tudo o que precisasse fazer para conseguir o que queria, mas era também incrivelmente gentil, você sabe, para uma filha de Hades.

“Sempre achei que nós éramos a perfeita dupla inseparável. Eu era a mente, você era o coração. Idiota, né? Mas era a verdade. Eu sempre fui o cérebro da coisa, eu sempre era o racional que tomava todas as decisões o mais friamente possível, e você adorava criar uma bela discussão comigo por causa disso. Você sempre foi incrível, Bianca. Eu sei, tenho plena consciência, de que várias vezes eu disse coisas que fizeram com que você pensasse o contrário. Coisas que eu jamais deveria ter dito. Você não era egoísta, ou idiota, ou qualquer coisa do tipo. Você nunca foi. Eu talvez tenha sido, mas não você.”

“Eu sinto muito se a última coisa que eu te disse foi que você estava fazendo uma besteira. Você não estava. Você só estava tentando fazer o que sempre fez. Manter-me a salvo. Eu sei que você sempre quis me manter em segurança tanto quanto eu.”

“Eu sinto muito, Bianca. Eu sinto tanto, tanto mesmo. Não tem nada que eu deseje mais nesse mundo do que voltar naquele dia, te abraçar e fazer seja lá quais coisas que as pessoas normais fazem quando dizem adeus umas para as outras.”

Nico não conseguia continuar. O nó na garganta e as lágrimas que já escorriam há um bom tempo não deixavam. Apalpou o bolso da jaqueta que usava e tirou de lá o boneco de Hades, a última memória que tinha de Bianca.

— Eu guardei. Eu... Bianca, eu sinto tanto a sua falta. Eu nunca pensei que eu pudesse sentir dor nessa vida, mas eu sinto. É uma dor que nunca vai embora, que nunca irá embora. Algumas vezes, eu achei que era autossuficiente o bastante para viver por conta própria, mas eu não sou. Eu preciso de você. Como qualquer ser humano, eu preciso do meu cérebro, mas eu preciso do coração também, e por isso eu preciso de você. Mas é impossível. Eu deveria saber melhor do que ninguém que uma vez que as pessoas morrem, elas não podem voltar mais. Então, eu sei que é tarde, tarde demais, mas... adeus, irmã. Eu deveria ter dito isso há eras, mas de alguma forma eu nunca consegui. Eu mal estou conseguindo agora. — ele fechou os olhos lentamente. Não conseguia continuar aquilo.

Apertou o boneco de Hades na mão com uma força tão grande que seus dedos ficaram brancos. Sentiu uma ventania o atingir e então ouviu uma voz suave na sua cabeça.

Nico, não se sinta culpado por isso. As pessoas morrem, e você sabe disso melhor do que ninguém. E eu não quero que você se sinta sozinho, nunca. Eu estou com você, sempre. Nós vamos nos encontrar ainda, meu irmão. Não diga adeus. Que isso seja um até logo.”

Nico enxugou as lágrimas dos olhos e olhou uma última vez para o túmulo da irmã.

— Até logo, irmã.

Deu as costas e andou sem olhar para trás, assim como Bianca fizera quando se juntara às Caçadoras.

~*~

Depois daquele dia, Nico nunca mais chorou durante sua vida. Às vezes, quando sentia tanto a falta de Bianca que chegava a doer, ele pegava o boneco de Hades e lembrava-se das palavras da irmã lhe dizendo que ela estava com ele, sempre.

E ele acreditava nisso. Porque todo cérebro precisa de um coração para viver.





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Notas finais do capítulo

Espero que gostem hm/