O Azul dos Olhos Dela escrita por Irgendwas


Capítulo 3
Apenas uma tarde de chuva




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Capítulo 3 - Apenas uma tarde de chuva -

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Estava tudo indo perfeitamente bem. Mas é claro que, quando algo vai bem, tem que vir um idiota e estragar tudo. Nesse caso, havia dois: o Bill e aquela revista inútil:

‘Enquete: Para você, qual integrante do Tokio Hotel é o mais bonito?
Resultado: Bill Kaulitz: 37% Tom Kaulitz: 33% Georg Listing: 26% Gustav Schäfer: 4%’

Eu nunca liguei para essas enquetes. Porque no fundo, eu sei que o principal da banda é o mais reconhecido. E o principal é sempre o vocalista. Pelo menos, na maioria das vezes.

Se o Georg ou o Gustav ganhassem de mim, acho que eu não me importaria. Mas com o Bill é diferente, porque ele é meu irmão, e por mais que a gente se ame, sempre há uma certa rivalidade entre nós. Não tem como evitar entende?

Digo, nós somos irmãos gêmeos. E essa coisa de ficar comparando a nossa beleza por causa do estilo, bom, isso é chato e dá nos nervos. Tudo bem que fisicamente somos praticamente idênticos, mas somos duas pessoas completamente distintas.

Eu sou o Tom e ele é o Bill, independente de sermos irmãos ou não.

Somos diferentes e pronto.


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A revista que Bill mostrou-lhe depois do almoço, estava encima da cômoda e impelido por uma súbita raiva, Tom pegou-a e jogou-a pela janela aberta.

- Saco… - resmungou.

E aquela insatisfação de dias atrás, voltou a atormentar-lhe os sentidos.

- QUE MERDA! - gritou cerrando os punhos.

Sair. Precisava sair e fugir daqueles sentimentos detestáveis.

Colocou um dos seus milhares de chapéus, calçou seu tênis e desceu as escadas.

- Tom, aonde você vai? - quis saber o seu irmão ao ver Tom prestes a sair de casa.

- Bill, esquece que eu existo. - respondeu azedo. - E não venha atrás de mim. - acrescentou ele antes de sair de casa batendo a porta com força.

- Eu falei. - disse Georg apoiando o braço no ombro de Bill. - Esse estresszinho do Tom é falta de sexo.

- Georg! - exclamou Bill, empurrando o braço dele e afastando-se. - Avisa aí o Gustav que amanhã vamos pra cidade grande.

- Fazer o que lá? - quis saber Georg desconfiado.

- Ora, o quê? Vamos fazer o Tom ficar com umas meninas e ver se ele melhora esse humor do cão.

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- Nina. - Tom chamou-a ao entrar na chocolataria.

- Boa tarde. - respondeu a Mãe de Nina, trazendo chocolates encima de uma assadeira, começando a colocá-los nos seus devidos lugares.

- Olá senhora Graber, a Nina está?

- Tá sim querido, ela já vem. - disse e sorriu.

Tom notou que Nina tinha o mesmo sorriso da mãe.

- Porque você não senta um pouco? Quer um chocolate quente?

- Quero sim, por favor. - aceitou ao sentar-se em uma das cadeiras brancas.

A mulher foi para os fundos da loja e voltou minutos depois segurando uma taça e ajudando Nina a caminhar até a mesa e sentar-se em frente ao Kaulitz.

O rapaz notou que ela estava mancando.

- Aqui o seu chocolate quente, querido. - disse ela simpática ao entregar-lhe a xícara.

- Obrigado. - agradeceu ele.

- Nina, vou fazer as compras, qualquer coisa ligue, ok?

- Okay mãe. Pode ir, eu estou bem.

- Tem certeza?

- Já disse que sim. - disse ela calma. - Pode ir sossegada.

- Ta bom então. - disse e beijou-lhe a fronte. - Juízo vocês dois. - pediu por último antes de abrir a porta da loja e sair.

- O que houve com a sua perna? - perguntou Tom.

- Ah, nada de mais, eu me distraí e caí. - respondeu ela abanando a mão.

- Pelo jeito que você tá mancando não parecer ser 'nada de mais' - retrucou ele.

- Na verdade, só doeu na hora. Mas a minha mãe fez todo um caso e enfaixou a minha perna. - explicou Nina com um leve tom de irritação na voz.

- Toda mãe é assim. - disse Tom. - A minha, uma vez, quase enfartou porque eu caí de bicicleta e esfolei as mãos.

Nina sorriu.

- É, acho que você tem razão. - suspirou.

- E aí qual o chocolate do dia? - quis saber ele forçando um sorriso, apenas por costume de fingir, pois sabia que ela não podia vê-lo sorrindo ou não.

- Tom. - disse ela séria.

- O que foi?

- O que você tem?

- Eu? Nada.

- É você mesmo. Lonely Boy, sua voz não me engana.

- Minha voz sempre é assim.

- Não é. Ontem, pela sua voz eu sei que você tava com tédio e hoje você está com raiva ou triste… ou os dois. Então, Lonely boy, vai ficar me enrolando ou vai contar logo o que está acontecendo?

- Eu… é complicado. - disse ainda tentando desviar do assunto.

- E daí nós temos tempo.

Tom ia perguntar por que, mas ela respondeu antes que ele pudesse abrir a boca.

- Lá fora tá chovendo muito, e eu acho meio difícil você ir pra casa agora. A menos que você queira ficar todo molhado e pegar um resfriado…

Tom virou-se para olhar pela janela e percebeu que estava mesmo chovendo horrores. Ele estava tão distraído enquanto esperava por ela, que nem percebera o som dos pingos de água batendo contra os vidros.

- Aposto que isso foi macumba sua. - resmungou ele fazendo um bico que nem criança mimada.

Ela riu divertida.

- Claro que foi macumba minha. Então, vai desembuchar logo ou vou ter que fazer outra macumba aqui.

- Medo eterno de você, okay?

- Vai contar?

- Você é chata, sabia?

- Eu sei, obrigada. - disse e sorriu marota. - Vai contar ou não?

- Eu vou contar. - suspirou ele vencido.

Ela acomodou-se confortavelmente na cadeira, e sorriu esperando que o garoto solitário começasse a falar.

- É o meu irmão. Ele é meu irmão gêmeo na verdade. A gente é igual fisicamente, mas completamente diferente nos outros sentidos.

- Vocês brigaram?

- Tecnicamente não. Mas é que comparam a gente o tempo todo por causa da… - começou e ao perceber a mancada que ia dar tentou disfarçar. – Por causa do fato de sermos irmãos.

- Tom.

- Que foi?

- Eu não sei, mas tem escrito ‘tapada’ na minha testa? - perguntou ela sarcástica.

- Tem. - disse e riu.

- Tom! - exclamou ela. - Se você mentir não posso te ajudar.

- Tá, tá. - resmungou. - É que nós temos uma banda. Eu, ele e mais dois amigos.

- Hum, continua.

- Pois é… ai ele é o vocalista e eu o guitarrista. E vamos dizer assim: as meninas me adoram.

- E isso é ruim? - perguntou ela confusa.

- Não, de jeito nenhum. É muito bom. - disse e sorriu convencido. - Mas isso, sei lá, acho que incomoda o Bill. Sendo que ele não percebe que apesar de as meninas me adorarem e tudo mais, ele continua sendo o queridinho do público. Ele sempre ganha nas enquetes, e ele também não cansa de jogar na minha cara que ele é o vocalista, que eu não sei cantar e blá blá blá. - explicou ele irritado.

- E daí que você não sabe cantar? Você toca guitarra isso não conta? - disse ela, tentando animá-lo.

- Ah, qualquer pessoa pode tocar, se quiser. - disse ele.

- Bem, eu não posso. E, na minha opinião, se você quisesse, poderia muito bem cantar, sua voz é bonita.

- Você acha? - Tom fitou seus olhos azuis surpreendido com a sinceridade dela.

- Claro. - ela sorriu. - Seu irmão deve cantar melhor só porque tem mais prática.

- É… acho que pensando bem, você tem razão.

- Viu?

- O Bill é um idiota! Se eu quiser cantar, eu canto! A minha voz é melhor que a dele! Eu sou melhor do que ele! - exclamou ele empolgado.

- Tom. - ela chamou-o com a voz suave.

- Oi?

- Já que sua voz é tão linda, você poderia ler um pouco pra mim. Que tal? - sugeriu ela com um sorrisinho torto nos lábios rosados.

Tom estreitou os olhos.

- Ah sua… sua… foi tudo planejado não é?! - disse ele fingindo indignação. - Todo esse papo da minha voz ser linda, tudo foi premeditado para que eu lesse! - disse ele fazendo-a soltar uma gargalhada divertida.

- Foi um crime premeditado sim, mas você tem mesmo uma voz linda. - confessou ela. - E então vai ler ou não?

- Eu me enganei. Você não é chata, você é muito chata. - brincou ele. - Onde está o livro que eu devo ler para vossa senhoria?

Ela sorriu.

- Do lado dos saquinhos encima do balcão. - respondeu ela e Tom foi buscar o livro, voltando a sentar-se em frente a ela logo em seguida.

- Orgulho e Preconceito? Que merda de título é esse? - questionou o Kaulitz.

- Lonely boy, não julgue um livro pela capa ou pelo título. - repreendeu Nina.

- Okay, okay. - suspirou ele. - Lá vamos nós. - e abriu o livro.

Pigarreou e então começou sua leitura.

- É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa. Por muito pouco que se conheçam os sentimentos ou modo de pensar de tal homem ao entrar pela primeira vez numa vizinhança, esta verdade encontra-se de tal modo enraizada nos espíritos das famílias circundantes, que ele é considerado como propriedade legítima desta ou daquela de suas filhas.

Os grossos pingos de chuva, batiam nas janelas e o vento soprava com força, agitando as folhas das árvores e também as plantações de trigo, em uma dança solitária.

Dentro da loja o cheiro e o calor proporcionados pelos chocolates deixavam Tom com a agradável sensação de estar em casa, como se o frio do outro lado da porta não existisse, como se o mundo lá fora não fosse real, fosse apenas um sonho ruim.

Tom foi lendo sem perceber que os ponteiros do relógio estavam se movendo, mesmo que tivesse a impressão contrária.

E aquela simples tarde chuvosa passou rápida, entre as conversas, as brincadeiras, os risos, e tal do ‘Senhor Darcy’ de Orgulho e preconceito.

- Voltei, crianças. - disse a mãe de Nina ao entrar na loja, o casaco e o cabelo levemente molhados e sacos de compras nas mãos. - O transito tava um horror por causa dessa maldita chuva. Vou guardar as compras. - avisou indo para os fundos da loja.

- Nossa, já são cinco horas! - exclamou Tom vendo as horas no celular. - Eu preciso voltar para casa antes que o Bill mande os bombeiros, o exercito e a polícia atrás de mim. - disse ele sarcástico.

Nina riu do comentário do Kaulitz.

- Eu deixei a página marcada, não desmarque, viu?

- Ta bom. - concordou ela sorrindo.

Tom levantou-se e espreguiçou o corpo, dengoso, enquanto se encaminhava até a porta, mas então virou-se de volta para a garota.

- Nina, tá a fim de sair amanhã?

- Eu? - disse e pareceu meio surpreendida.

- É. - ele sorriu. - Amanhã é sexta, você aceita sair comigo?

- Ehr… sim. - aceitou depois de gaguejar meio sem graça.

- Então amanhã eu te ligo. Qual seu número?

- Só olhar no saquinho da loja.

- Como assim? - perguntou ele franzindo o cenho.

- O numero que tá no saquinho, pode ligar que eu atendo. - explicou.

- Ah, ta. - ele assentiu. - Até amanhã.

- Até amanhã, Lonely boy.

E assim Tom foi embora.

Nina realmente era uma menina especial, pensou ele, ela era a primeira e única garota com quem ele conversava sem ter segundas intenções.

Aliás, ele nunca conversava desse jeito com ninguém do sexo aposto, nem mesmo com as mulheres que ele queria conquistar.









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Notas finais do capítulo

Ohhhhhh *desmaia* Obrigada pelos coments >.
Quem tiver lendo e gostando, comenta, plix *-*
Custa nada e motiva muito :3