Sexy Biology escrita por Stefanie Silva


Capítulo 1
Capítulo 1




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Era mais um dia como todos os outros. As mesmas pessoas medíocres, os mesmos ambientes entediantes, a mesma rotina de sempre. Como de costume, o professor mal comido de geografia passava cinco páginas de lição de casa, e ai de quem não trouxesse o dever feito no dia seguinte. Materiazinha detestável essa geografia. E quando eu pensava que nada poderia torná-la mais detestável ainda, eis que surge na minha escola aquele ser repugnante com sua careca lustrada e suas calças no umbigo. Resumindo, eu realmente odiava o Sr. Hammings.
O sinal irritante tocava, anunciando o início de mais uma aula de biologia, e a penúltima aula do dia. Pelo menos o sr. Munhoz não sofria de falta de sexo como o Sr. Hammings. Não parecia nem devia sofrer, com aqueles ombros largos, aquele sorriso experiente e sempre relaxado, como se nada pudesse tirar aquela tranqüilidade dele. Fora aquele corte de cabelo que lhe dava um ar de 20 quando na verdade ele era dez anos mais velho. Um belo rosto que arrancava suspiros por onde passava, e uma voz confiante que prendia a atenção de todos os alunos e os fazia entender a matéria mais complexa do mundo em um segundo eram os últimos detalhes que faltavam para torná-lo o professor perfeito.
Pra mim, ele era um ótimo educador. Desenvolto ao falar, paciente e muito bem informado sobre tudo, sabia como eliminar todas as possíveis dúvidas de seus alunos com um sorriso no rosto e palavras simples. Minha facilidade em biologia me dava tempo de sobra para analisar seu jeito de falar, de andar, de gesticular e de agir, ao invés de prestar atenção na matéria. O que eu adorava fazer, até mesmo sem querer. Tipo agora.
– Bom dia, professor – ouvi a voz da retardada da Kelly Smithers gemer assim que pude ver a cabeleira do sr. Munhoz entrar na classe. Bem daquele jeitinho ‘oi sou puta quero dar pra você na sala dos professores’, enquanto mascava seu chiclete daquele jeito vulgar que a maioria das pessoas daquele colégio estúpido costumava fazer.
– Você sabia Srta. Smithers, que uma pessoa que masca chiclete de boca aberta engole muito mais bactérias do que uma pessoa que masca chiclete de boca fechada? – Pedro Lucas Munhoz, meu professor de biologia falou, enquanto colocava seu material sobre sua grande mesa – Além de ser algo extremamente desagradável de se ver.
Contive minha gargalhada num sorriso de canto de boca, praticamente comendo aquele homem com os olhos. Adorava o jeito com o qual ele simplesmente deixava aquela piranha da Smithers no chão sem se rebaixar ao seu nível. E por incrível que pareça, ela continuava com seu mesmo jeito fútil, mascando furiosamente seu chiclete de morango, enquanto sua amiga fazia cara de (puta) chocada. Só não continuei me divertindo com a cara de azulejo dela ao ser consolada por sua amiga porque havia algo muito melhor pra ser observado naquela sala. Algo que tinha nome, sobrenome, e um sorriso estonteante.
Você deve estar pensando que eu sou a maior pervertida da face da Terra. Mas você só diz isso porque seu professor de biologia não é o cara mais lindo que você já viu pessoalmente. Ter que agüentar 50 minutos semanais com um homem desses sem ter pensamentos como os meus era impossível, vai por mim. Eu sabia que era errado, que eu jamais poderia chamar a atenção de um homem como o professor Munhoz, mas eu me esforçava pra ser sua melhor aluna. E é claro que eu conseguia.
– Onde foi que eu parei, Trevisan? – ouvi sua voz firme perguntar se aproximando da minha carteira com um sorriso animado, enquanto apoiava uma das mãos no encosto da carteira à minha frente e se curvava pra ler minhas anotações.
– Na última aula o senhor começou a explicação sobre genética – respondi, inalando aquele perfume de homem cheiroso que eu amava sentir toda vez que ele estava por perto. Sempre me disseram que esses caras ligadões na natureza têm tendências meio hippies, ou seja, não tomam banho e conseqüentemente fedem. O Sr.Munhoz era a prova viva de que aquilo era puro mito. Ou então, era uma linda exceção.
– Alguma dúvida sobre o que eu já expliquei? – ele murmurou, com sua habitual simpatia com relação a mim. Ele sempre fazia aquela mesma pergunta quando começava um novo conteúdo, como se precisasse da minha opinião sobre a qualidade de sua aula. E eu sempre respondia a mesma coisa, com um sorriso meigo no rosto:
– Nenhuma, professor.
Aliás, eu tenho uma: quando o senhor pretende virar pedófilo?
A aula de biologia se passou sem maiores novidades. O professor perfeito explicando a matéria que eu já sabia de cor enquanto a Smithers ficava com cara de tacho, ainda engolindo zilhões de bactérias. As coisas fluem tão bem durante a aula do sr. Munhoz que ele sempre faz tudo que precisa fazer e ainda sobram uns 10 minutos pro pessoal conversar ou tirar alguma dúvida mais complicada. Se eu te dissesse que nunca tinha nenhuma dúvida e detestava praticamente todas as pessoas da minha classe, você provavelmente pensaria que eu não me encaixo em nenhuma das duas opções. Mas se eu te dissesse que parte do corpo docente da escola simpatiza comigo, você talvez entendesse como são os finais das minhas aulas de biologia.
– Outra vez geografia? – ouvi aquela voz de homem mais velho perguntar atrás de mim, num tom simpático, e tirei meus olhos do caderno onde eu terminava de copiar a matéria do Hammings. Me deparei com aqueles dois olhos castanhos brilhantes me encarando, acompanhados daquele sorriso de quem ainda não se tocou de que é lindo de qualquer jeito, e precisei de muito autocontrole pra apenas sorrir normalmente.
– Pois é, tá virando rotina – respondi, voltando a escrever pra evitar que minha baba escorresse – Por mais que eu tente, não consigo ler esse garrancho.
– Não posso falar muito, minha letra também não é das mais legíveis – ele riu, sentando-se na carteira agora desocupada à minha frente e ficando de lado pra conversar comigo – Mas eu pelo menos tento poupar vocês de entender o que eu escrevo.
– O senhor nunca escreve nada na lousa – falei, rindo um pouco e olhando pra ele. Sério, me diz como você consegue ficar rosadinho desse jeito 24h por dia?

– Por isso mesmo – o sr. Munhoz sorriu, me dando uma piscadinha que fez meu coração ter um ataque epilético – E eu sei que mesmo que eu escrevesse alguma coisa, você seria a última pessoa a copiar.
– Por que o senhor acha isso? – perguntei quase ofendida, e ele apenas respondeu calmamente:
– Porque você praticamente sabe tanto sobre biologia quanto eu, e copiar o que eu escrevo seria desperdício de papel, de tinta e do seu tempo.
Fiquei com aquele sorrisinho de picolé de chuchu, super sem graça, e tudo que consegui dizer algum tempo depois foi:
– Vamos pensar positivo... Pelo menos eu estaria evitando o desmatamento de algumas árvores ao economizar papel.
O sr. Munhoz, que antes estava com o olhar perdido na dorminhoca da Amy Houston, fechou os olhos e deu risada da minha péssima frase. Como se ele já não tivesse besteiras piores pra agüentar, eu ainda falava uma merda daquelas.
– Se eu não soubesse que você consegue formular frases melhores, ia te dar um ponto de participação pela sua brilhante conclusão – ele ironizou, sorrindo de um jeito divertido antes de se levantar e ir acordar a Houston pra que ela não começasse a roncar mais alto. Preciso descrever o estado de profunda melancolia no qual eu me encontrava depois daquele momento? É, eu sabia que não precisaria.
Ainda frustrada comigo mesma, arrumei meu material rapidamente pra ir pra última aula, que era no laboratório. Na minha escola, tínhamos duas frentes pra física, química e biologia: as aulas teóricas, na classe, e as aulas práticas, nos laboratórios. Como nas aulas práticas os alunos aplicam seu conhecimento teórico em experimentos, você provavelmente deve ter deduzido que eu sou igualmente inteligente em biologia laboratório. E eu sou mesmo. Mas eu gostaria muito que um dia alguém me explicasse por que eu sempre, sempre ficava de recuperação nessa matéria.
A explicação que eu via como a única possível era a de que o professor de laboratório não ia com a minha cara. Infelizmente, o sr. Munhoz não dava aulas práticas pra minha turma, só as teóricas. Nosso professor de laboratório era o ser mais detestável, ignorante, repugnante, metido e tudo de patético que um homem pode ser. Mantinha sempre aquele ar superior em relação aos alunos, a não ser pra piranha da Smithers, porque ele provavelmente já tinha comido ela. E três quartos das garotas da escola. Dormir com professores era quase uma rotina na minha escola.
Juro que não sei como essas meninas conseguem ver alguma qualidade naquele cara. Sua risadinha de desprezo me irritava, aquela voz de quem está sempre zoando da sua cara me deixava fula da vida, e eu realmente abominava suas piadinhas sem graça com o povo idiota da minha classe. Resumindo, meu professor de biologia laboratório era provavelmente o professor mais ridículo que você poderia encontrar naquela escola.
– Bom dia, professor – ouvi Kelly repetir, do mesmo jeitinho de 50 minutos atrás, quando se sentou de frente pra bancada. A única diferença era que agora ela estava mascando um chiclete de uva. Como uma pessoa consegue ser um déja-vu vivo sem querer explodir os próprios miolos?
– Bom dia, Smithers – aquela voz arrastada de homem tarado respondeu, se aproximando meio indecentemente da garota com uma expressão no mínimo enojante – Eu ia perguntar como você vai, mas a sua saia já me deixou ver que você continua muito bem como sempre.
Francamente, se fosse comigo eu já metia a mão na fuça daquele merda. Mas graças a Deus, não era, então eu apenas ignorei as preliminares dos dois seres acéfalos presentes no laboratório e comecei a copiar o relatório que já estava escrito na lousa. Pelo menos esse professor tinha uma letra um pouco mais compreensível. Provavelmente a única qualidade que ele tinha.
– Professor, hoje o senhor vai entregar os relatórios das aulas passadas pra gente poder estudar pra prova? – Amy Houston perguntou, parecendo sonolenta. Acho que ela só não dormia nas aulas práticas porque as bancadas costumavam ter uma limpeza reforçada com alguns produtos aos quais Amy era alérgica. Eu sei disso porque um dia ela cochilou no meio da explicação e seu rosto ficou todo inchado e empipocado só do lado que esteve em contato com a bancada. Esse dia foi bem nojento, mas pelo menos agora a Amy descobriu que tem colegas de classe e que pode se socializar com eles quando não estiver com tanto sono.
– Tá com pressa, Houston? – Pedro Lanza, meu professor de biologia laboratório, zombou, com aquela rotineira voz de tédio – Se quiser, pode ir embora... E aproveita pra levar a Trevisan com você.
Ergui meu olhar do caderno pra ele, sentindo nojo só de olhá-lo sorrindo zombeteiramente pra mim. Sem me mexer, apenas respirei fundo e perguntei, juntando toda a educação que meus pais havia me dado:
– O que foi que eu fiz dessa vez?
O professor Lanza, parado do lado da puta-mor, apenas continuou me olhando, como se me comesse com os olhos. Que porra, por que ele tem que ficar me olhando assim toda santa aula? Acho que ele devia ter algum tipo de fetiche por pessoas que o odeiam.
– Eu não mandei ninguém copiar o relatório da lousa – ele respondeu, calmamente, caminhando devagar até mim com um sorriso maligno no rosto, e antes que eu pudesse ver o que tinha acontecido, a folha onde eu já tinha copiado metade da lousa cheia estava amassada em suas mãos – Ainda.
Ele abaixou o rosto pra ficar na mesma altura do meu, e eu imediatamente me afastei, concentrando toda a minha repulsa por ele somente no olhar. Meu Deus, como aquele cara era insuportável! No meu último dia de aula naquela escola, jurei pra mim mesma que meteria um tiro de bazuca na cabeça dele. E esse pensamento estava ficando cada dia mais forte. Se bem que seria uma pena estragar aqueles olhos tão intensamente mel esverdeados que sabiam exatamente como chamar a atenção naquele rosto. Mas quem liga pra isso mesmo? Ah, é, eu que não.
A classe toda observava o momento tenso em silêncio, e eu pude ver de rabo de olho que a Smithers estava se divertindo com

a minha tortura. O sr. Lanza jogou a bolinha de papel que antes era meu relatório por cima de seu ombro, fazendo-a voar longe sem precisar se esforçar muito, e murmurou debochadamente a frase que ele sempre usava comigo antes de me deixar em paz enquanto não houvesse motivo pra me ridicularizar:
– Tudo de novo, Trevisan.
Toda semana era o mesmo sofrimento. Ainda bem que só tínhamos uma aula de biologia laboratório por semana, o que já era muito pra mim. Aturar o desprezível do Lanza tirando sarro da minha cara pelos motivos mais idiotas e o pior, fazer todos rirem disso, era extremamente irritante. Só sendo quase santa pra ignorar aquele retardado e conseguir terminar meus relatórios.
Na verdade, eu nem sei por que insistia tanto em fazer alguma coisa naquela aula idiota. A dura realidade era: por mais que eu me concentrasse ao máximo e fizesse o relatório perfeito, ele sempre me dava, no máximo, um terço da nota. Um terço da nota, você sabe o quanto isso representa? Quase nada! E aquele puto nunca me dava mais que C nos relatórios! Dá pra acreditar que uma pessoa que tira A+ em biologia teoria tira C em biologia laboratório? Meio esquisito, não concorda? Pois é, a diretora não. Aliás, discordava tanto que vivia chamando minha mãe na escola porque eu não conseguia tirar uma nota igualmente boa em laboratório durante o ano todo e sugeria que minha mãe me ajudasse e me encorajasse a estudar mais. Eu vou encorajar essa diretora a tomar no cú, isso sim.
Enfim, logo a aula acabou, a tortura semanal tinha chegado ao fim, e eu alegremente (por dentro, porque externamente eu continuava com minha cara de repugnância) entreguei mais um dos meus relatórios perfeitos. Enquanto guardava minhas canetas no estojo, percebi uma movimentação estranha atrás de mim e pulei de susto quando ouvi alguém falar comigo de tão perto.
– Vê se aprende a só fazer as coisas quando te mandam fazer, Carolina – o sr. Lanza sussurrou, por trás de mim, com sua habitual voz de maníaco. Recuperada do susto, olhei pra ele com cara de nojo e respondi, com a voz mal educada:
– Primeiro, nem o senhor nem ninguém me diz o que fazer. E segundo, eu não te dei a liberdade de me chamar pelo nome, e nem pretendo dá-la ao senhor algum dia. Voltei minha atenção pro zíper do meu estojo que tinha emperrado bem naquele momento agradável, e só então percebi que o laboratório estava vazio a não ser por nós dois. Fiquei mais alerta do que já estava, preparada pra enfiar o compasso no olho dele caso me sentisse ameaçada ou coisa do tipo, mas tudo que ele disse, com um risinho pervertido enquanto me olhava de cima a baixo, foi:
– Um dia você ainda vai me dar muito mais que a liberdade de te chamar pelo nome... Carol.
Paralisei quando o ouvi dizer aquela frase, ainda mais pronunciando meu apelido daquele jeito sujo. Sem conseguir conter meu impulso, dei um tapa forte na cara dele. Pego nem tão de surpresa assim, já que ele devia estar acostumado a apanhar de algumas alunas mais resistentes, ele colocou uma das mãos sobre o lado atingido do rosto e voltou a me olhar, com um risinho de deboche no rosto.
– Não sabia que você era do tipo agressiva, Sherllock – ele sorriu, me deixando com mais raiva ainda – Vai ser mais gostoso ainda quando você vier fazer a recuperação depois do almoço. Sozinha, como sempre, já que só você consegue a façanha de ficar de recuperação em laboratório.
Quase voei no pescoço daquele pedófilo safado nojento idiota. Recuperação de novo? Pelo amor de Deus, por que ele simplesmente não conseguia me dar uma nota justa? Só porque eu não queria dar pra ele? Que droga, é tão difícil entender que ele consegue me deixar cada dia mais furiosa pelo simples fato de existir?
– Por que o senhor não procura uma namorada, hein? – perguntei, no tom mais educadamente irritado que consegui – Sei lá, quem sabe essa sua obsessão por aluninhas não seja falta de mulheres da sua idade que te suportem sem receber uma recompensa por isso.
Dei uma boa olhada na cara de bosta que ele fez e saí do laboratório, com um sorrisinho triunfante no rosto. Ele pode até ser cheiroso e ter olhos bonitos, mas não é nem nunca será nem metade do homem perfeito que o professor Munhoz é.
Falando nele, olha só que bonitinho ele saindo da sala do primeiro ano, todo rodeado de alunas com shorts mínimos e maquiagem pesada. Aspirantes a Kelly Smithers? Isso mesmo.
Passei por ele, virando logo em seguida pra descer as escadas, e assim que me viu, abriu um sorriso de orelha a orelha. Foi só impressão minha ou esquentou de repente depois daquela demonstração linda de alegria?
– Já ia passar sem me cumprimentar, é, Trevisan? – o sr. Munhoz brincou, descendo rapidamente as escadas e se livrando das pirralhas com seus passos largos. Soltei um risinho envergonhado, tentando não ferrar com tudo de novo.
– Imagina, professor – respondi, na dúvida entre olhar pros degraus e não cair ou olhar pra ele e ter uma arritmia – Tava distraída pensando em outras coisas, nem tinha visto o senhor ali.
– Acho que já sei qual é o seu defeito – ele disse, entortando a boca e cerrando os olhos – Você vive pensando demais.
– Como assim, professor? – perguntei, com o coração quicando dentro do peito, só Deus sabe por quê. Tá, eu sei por que.
– Talvez você devesse pensar menos e se arriscar mais – o sr. Munhoz disse, com um sorriso esperto, quando saímos do prédio – Quem sabe você não acaba se dando bem?
Oi, foi só impressão minha ou ele tinha acabado de me cantar? Meu Deus do céu, aquilo sim era homem! Sorri pra ele, envergonhada, e sem dizer mais nada, ele apenas continuou andando em direção à saída já lotada da escola. Observei sua cabecinha sumir em meio à multidão de alunos, com o coração disparado, até ouvir uma voz falando comigo.
– Caraca, Carol, você realmente consegue me irritar quando resolve não ver nem ouvir nada ao seu redor – Dafne Trentin, minha melhor amiga e única aluna decente naquela escola, reclamou, parando bem à minha frente e me impedindo de ver o sr. Munhoz entrando em seu carro.
– Foi mal, Dah – balbuciei, me esticando pra tentar vê-lo, mas seu carro logo acelerou e sumiu pela rua cheia de veículos de pais de alunos.
– O que foi, tá olhando o quê? – ela perguntou, olhando por cima de seu ombro, e eu apenas balancei a cabeça negativamente.
– Tava procurando minha mãe – menti, o que agora não seria tão mentira já que eu realmente comecei a procurá-la – Preciso ir embora logo hoje, senão vou ter que fazer a prova de recuperação sem almoçar.
– O Lanza te deixou de recuperação outra vez? – ela adivinhou, revirando os olhos, e eu assenti, com a maior cara de paisagem – Carol, você já pensou em reclamar com a diretora?
– E você acha que eu nunca fiz isso? – bufei, irritada – Todo santo bimestre minha mãe é obrigada a vir aqui graças àquele merda pra ver o que tem de errado comigo, mas tudo que a diretora faz é me mandar estudar mais!
Dafne ficou sem saber o que dizer. Eu já tinha tentado de tudo, até mostrar meus relatórios pro sr. Munhoz, mas tudo que ele dizia era que os professores não podiam influenciar nas notas das outras matérias, por mais absurdo que aquilo fosse. Vamos combinar, biologia, seja teoria ou laboratório, era a mesma droga de matéria! Resumindo, o sr. Lanza podia deitar, rolar e foder com a minha nota que ninguém podia fazer nada contra ele. Por que eu ainda estudo nessa escola mesmo?
– Se ainda tivesse um jeito de fazer essa cisma que ele tem contigo sumir... – ouvi Dah murmurar, me olhando vagamente como se estivesse pensando alto.
– Até tem um jeito – falei, incomodada por ter que admitir aquilo – Você sabe que o Lanza vive dando em cima de mim.
– Mas você não considera isso uma opção... Considera? – ela cochichou assustada, como se ninguém naquela escola tivesse pegado um professor pelo menos uma vez na vida – Quer dizer, você o odeia.
– Eu jamais conseguiria me imaginar sequer num diálogo amigável com aquele idiota – respondi, sendo muito sincera – Mas não custa nada considerar essa hipótese como uma opção de emergência.
Vi o carro de minha mãe chegando e logo me despedi de Dafne com um beijinho no rosto. Enquanto caminhava até o carro, pude ouvir a voz dela falar, num tom preocupado:
– Olha lá o que você vai fazer, hein!
Revirei os olhos e entrei no carro, ignorando o que ela tinha dito. O que ela tava pensando? Que eu realmente ia me sujeitar a qualquer tipo de relação com o Lanza por causa de nota? Eu jamais faria uma coisa dessas, nem que fosse pra tirar A+ em todas as matérias sem nem ter que pisar naquela escola. Um idiota embrulhado num corpinho bem definido e perfumado não vale o sacrifício, pode apostar.

Parei em frente à porta do laboratório de biologia, recuperando o fôlego perdido ao subir seis lances de escada em trinta segundos. E também respirando fundo pra agüentar alguns minutos com aquele ignorante do Lanza.
– Tá enrolando aí por que, Trevisan? – ouvi aquela voz irritantemente metida perguntar, logo que soltei meu último suspiro derrotado – Não sei você, mas eu não tenho o dia todo.
Não vou nem comentar de quantas maneiras e com quantas palavras diferentes eu o xinguei mentalmente antes de girar a maçaneta de um jeito grosseiro e entrar na sala. Sentei no banco mais afastado possível dele e coloquei meu estojo sobre a bancada, sem nem olhar pro verme todo esparramado em sua cadeira. Enrolando pra pegar minha caneta dentro do estojo, tudo pra não ter que encará-lo, não pude deixar de notar um sorrisinho ridículo em seu rosto.
– Estudou? – aquela voz repugnante perguntou se achando o maioral como sempre. Como se eu precisasse, e como se eu tivesse tido tempo de estudar em quarenta minutos.
– Eu não sei o senhor, mas eu não tenho o dia todo – respondi mal educada, ainda sem encará-lo – Então seria ótimo se o senhor me entregasse à prova de uma vez.
Sem nada pra responder, óbvio, e com a maior cara de macarrão sem molho, ele se levantou e veio na minha direção com a prova nas mãos. Parou bem atrás de mim, e apoiou seus braços no balcão, um de cada lado do meu corpo.
– Você deve achar mesmo que eu não vou com a sua cara.
Ignorei aquela frase desnecessária, me encolhendo pra diminuir a proximidade entre nós, e arranquei a prova que estava debaixo de sua mão. Comecei a preencher o cabeçalho, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, senti seu hálito quente bem próximo ao meu ouvido.
– E isso me deixa cada vez mais fissurado em você.
Parei de escrever, e uma onda de medo tomou conta de mim. Abri a boca pra falar umas poucas e boas pra ele, mas fui impedida por seu braço, que logo me abraçou pela cintura com firmeza e fez meu pânico aumentar.
– Me solta! – exclamei, e sem pensar, enfiei minha caneta de ponta fina em seu braço. Na mesma hora, ele soltou o ar pesadamente, tentando não gritar de dor, e se afastou. Peguei meu estojo, desesperada, e a última coisa que vi antes de sair do laboratório, com as pernas bambas de pavor, foi ele arrancando a caneta que estava fincada em seu braço.

– Bom dia, classe – a professora Keaton disse, ao chegar na sala, e assim que passou pela porta, deu uma boa olhada pro grupo de atletas da classe, que retribuíram seu olhar da mesma forma. A srta. Keaton era nossa professora de inglês, consagrada na escola por seu ótimo método de ensino e elaboração de atividades extracurriculares bem sucedidas. Atividades essas que incluíam claro, pegações com alunos. Não devia ser fácil agüentar aquele monte de testosterona fresquinha provocando-a no auge de seus 25 anos. Loira, alta e invejada da cabeça aos pés, ela parecia uma modelo, e segundo as más línguas, certo professor morria de amores por ela.
Ele mesmo. Pedro Munhoz. Eu nem tenho vontade de dar uma voadora nela quando vejo os dois conversando pelos corredores, sabe.
Voltando aos fatos, a srta. Keaton logo começou a passar matéria, e como eu era meio lerda pra copiar, já comecei a escrever. Após quinze minutos e uma lousa cheia de matéria, a professora se sentou em sua cadeira e de lá ficou observando os idiotas musculosos que sentavam no fundão e riam de alguma besteira que algum deles tinha falado. Sobre futebol, claro, porque era o único assunto do qual eles entendiam alguma coisa a ponto de rirem de alguma piada a respeito.
Eu particularmente não via nada de mais nessa srta. Keaton. Por mais que ela fosse linda e aparentemente simpática, alguma coisa nela me incomodava. Fora o fato de que ela podia ter o sr. Munhoz ajoelhado aos seus pés quando quisesse. Não sei meu santo não batia muito com o dela, acho que era isso.
– Com licença, Keaton – ouvi uma voz conhecida falar da porta, e quando ergui meu olhar da folha, dei de cara com o último professor que queria ver.
– Entra Lanza – ela sorriu, toda gentil, e ele logo caminhou até ela, ficando de frente pra classe.
– Eu tenho um recado pra dar – ele disse, e todos pararam de copiar pra ouvi-lo (menos eu) – Os alunos que estão de recuperação em biologia laboratório farão a prova na última aula de hoje. Procurem o professor Turner e façam a prova na classe onde ele estiver.
Quando ergui meu olhar pra lousa, tentando continuar copiando sem ligar pra ninguém ao meu redor, notei que todos me olhavam. Lancei olhares incomodados pro lado, e encarei o professor Lanza, que devolvia meu olhar de um jeito furioso. Sua camiseta branca meio colada ao corpo me distraiu por alguns milésimos de segundo, até que eu bati os olhos em seu antebraço. Havia um curativo nele, bem onde eu o tinha machucado com a caneta ontem. Fiz aquela legítima cara disfarçada de ‘se fodeu’, e comecei a balançar uma caneta entre meus dedos, num sinal claro de que se ele resolvesse aprontar alguma, eu ainda tinha várias canetas de ponta fina pra enfiar onde eu bem entendesse nele.
Captando a mensagem, ele logo tratou de sair da classe, agradecendo a professora Keaton. Segurei muito uma gargalhada e continuei copiando, com um sorriso maligno no rosto. Canetas de ponta fina eram ótimas aliadas na luta contra professores desagradáveis, dica.
Naquele dia, fiz a prova de recuperação na aula do Turner, nosso professor de história, sem problemas. Como a sala em que ele estava ficava no quinto andar, resolvi chamar o elevador pra descer e ir embora. Pode me chamar de sedentária, eu deixo. Assim que o elevador chegou e a porta se abriu, dei de cara com a cena mais confusa do meu dia. O sr. Munhoz conversava e ria animadamente com o professor Lanza dentro do elevador, e assim que me viram, pararam de falar. Cada um teve uma reação diferente: o sr. Munhoz sorriu, parecendo feliz em me ver; já o Lanza abaixou seu olhar de um jeito irritado pro chão e logo depois passou a fitar seu relógio, fingindo interesse nele.
– Bom dia, Trevisan – o professor Munhoz cumprimentou, e se não fosse por aquele sorriso dele, eu não teria entrado naquele elevador. É meio perigoso entrar num cubículo com um professor que te adora e outro que te odeia, ainda mais quando não se tem uma câmera filmando tudo.
– Bom dia, professor – sorri, meio nervosa, parando entre os dois e notando que havia dois botões iluminados no painel, um indicando o sétimo andar e o outro indicando o térreo. Acho que nunca torci tanto pra ficar sozinha com o sr. Munhoz, e olha que superar todas as vezes em que desejei isso era muito. Agora que já estava lá dentro, era esperar pra ver quem me acompanharia até o térreo. E talvez agüentar alguns segundos a menos de um metro de distância de um certo professor idiota durante o trajeto.
O elevador subiu, e quando as portas se abriram no sétimo andar, quase me agarrei no braço dele quando o sr. Munhoz deu um passo em direção à porta. E só pra melhorar, não havia ninguém esperando pra entrar e me salvar daquele martírio.
– O que o senhor vai fazer aqui, professor? – perguntei, tentando disfarçar meu nervosismo.
– Eu marquei uma reunião com a professora Keaton sobre um projeto interdisciplinar pro segundo ano – ele sorriu, parecendo bastante empolgado e me deixando mais brava ainda – Até mais, Trevisan. E não se esquece de me trazer aquele documentário amanhã, Lanza.
– Pode deixar Munhoz – ouvi o professor Lanza dizer, sem emoção na voz, e logo depois a porta se fechou, me deixando sozinha com ele. Pensei em apertar um botão qualquer e parar em algum andar pra fugir daquele ambiente perigoso, mas assim que minha mão avançou na direção do painel, ele segurou meu braço com força e me puxou num movimento brusco.
– O que é isso? – quase gritei, quando ele segurou meu outro pulso e me prensou na parede – Me larga!
– Cala a boca – ele murmurou, e sem aviso, me beijou. Tentei me desvencilhar dele e não o deixar aprofundar o beijo, mas a pressão que ele fazia contra meus lábios era tão forte a ponto de fazer minha boca latejar. Mesmo me esforçando ao máximo pra não deixar que aquilo passasse de um selinho indesejado, senti meus músculos cederem à pressão que ele exercia e abrirem passagem pra sua língua.
Eu me debatia desesperadamente, tentando dar uma joelhada em suas partes ou então mordendo seu lábio, mas ele estava tão colado em mim que eu mal conseguia mexer qualquer músculo. Tentei gritar, mas abrir a boca pra emitir algum som só piorou minha situação. Olhei pro painel do elevador e vi que ainda estávamos no quarto andar. Sem nenhuma chance de defesa, o único jeito seria continuar me debatendo até machucá-lo de alguma forma ou fazê-lo desistir.
Lentamente, ele foi escorregando suas mãos, trazendo meus pulsos junto, até colar meus braços ao lado do meu corpo. Continuou me segurando firme, e me beijando intensamente. Seus músculos evidenciados pela blusa justa que ele usava se contraíam, muito próximos do meu tronco, e por pior que a situação fosse, era inegável concluir que ele estava em excelente forma física. Quando olhei para o painel e vi que estávamos no segundo andar, ele abriu os olhos e encarou os meus, ainda me beijando. Uma sensação esquisita percorreu meu corpo quando nossos olhares tão próximos se encontraram, o que só me deixou mais trêmula.
Ele partiu o beijo, puxando meu lábio inferior devagar, e se afastou, ainda com aquele olhar intenso fixo no meu. A porta do elevador se abriu, chegando ao térreo lotado de gente, e sem dizer uma palavra, ele enxugou a boca com as costas de uma mão e saiu andando, como se nada tivesse acontecido. Incapaz de me mexer por algum motivo desconhecido, fiquei encostada na parede do elevador, tremendo da cabeça aos pés e com o coração acelerado. De susto e indignação, é claro, afinal não é todo dia que o professor que você mais odeia te beija no elevador.
– Cah? – ouvi a voz de Dafne me chamar, não sei quanto tempo depois, e quando olhei na direção da porta, a vi parada com um olhar preocupado – Você tá pálida, o que houve?
– N-nada, s-só uma tontura – gaguejei, com a voz falha, e torcendo pra que minhas pernas bambas me agüentassem, saí do elevador – Vamos, minha mãe já deve estar me esperando.
Dafne não fez mais perguntas, apesar de não ter acreditado totalmente na minha resposta, e me acompanhou até a saída. Durante o dia inteiro, a lembrança daquele beijo e daquela sensação esquisita me assombrou, e à noite, o sono demorou a chegar. Eu me revirava na cama, tentando afastar os olhos do professor Lanza dos meus pensamentos, até acabar pegando no sono.


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Notas finais do capítulo

Como disse, a história não é minha mas ela é fantástica! Esse é só o primeiro capitulo, mas vem muito mais emoção por ai!! Sempre postem "recadinhos" pra mim, eu gosto ok? Sempre que der eu to postando. Obrigada e espero que gostem. Beijão e me sigam no twitter: @arrobastefanie (L)



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