Vaidade escrita por m_stephane
Em Amsterdã as pessoas eram vendidas como gado em uma feira, você via, apalpava e se quisesse poderia experimentar por um preço que variava de duzentos a vinte euros.
Nívea por muito tempo fora produto de exportação e já havia perdido a conta de quantas vezes havia ido para cama com aquele que pagava mais, agora era sua vez de pagar.
Deu dez dólares para um segurança e entrou em uma casa totalmente escura a não ser por uma luz vermelha que iluminava as poucas pessoas que lá se expunham.
- Madame Temple, fazia tempo que eu não a via. – disse uma velha senhora em um sotaque francês muito carregado.
- Olá Lucrecia.
- Vai dizer que quer voltar a ser uma de minhas meninas? Londres não é o que você imaginava?
- Adelaide ainda trabalha aqui? – disse Nívea não querendo esticar a conversa com aquela cafetina mal vestida que lhe enchera de sonhos e promessas de vida fácil, sem lhe dizer por um segundo que essa tal de vida fácil não existia.
- Sim, ela está no quarto. Quer que eu a chame?
- Não precisa fazer isso Lucrecia, eu vou até lá. Qual o número?
- Dois, meia, três.
- Muito obrigado.
Nívea dirigiu-se para um corredor muito conhecido enquanto passava os olhos pelos pequenos números pregados nas portas e se lembrava de quantas vezes já passara por lá e quantas vezes já fora humilhada dentro desses quartos. De repente as lembranças se desapareceram e ela se viu em frente a uma porta aberta que era justamente a do quarto 263, seu coração parou.
Adelaide estava sentada na beirada da cama enquanto escrevia alguma coisa em um papel rosado. Ela parecia à mesma de um ano atrás a não ser pelos cabelos que não eram mais cumpridos agora mal passavam de seus ombros. Seu rosto continuava o mesmo, feminino, delicado e seus olhos verdes ainda irradiavam aquela força quase dolorosa que fazia com que fosse impossível não reparar neles.
Nívea estava sem palavras, mas o que é que poderia falar ou fazer? Demorara tanto tempo para ter coragem de se esgueirar de Londres e ir até Amsterdã apenas para reencontrar aquela que fora sua perdição por quase dez anos.
Adelaide parou de escrever, dobrou o papel e enfiou-o em uma caixa junto a outros de várias cores diferentes. Secou as lágrimas com a ponta dos dedos e olhou para a porta e não acreditou no que viu.
- Nívea? – perguntou, sentindo as lágrimas se multiplicarem em seus olhos.
- Mudei tanto assim para você não me reconhecer? Venha cá Adelaide me dê um abraço de boas-vindas!
Adelaide correu ao encontro dela e se abraçaram como se nunca tivessem se separado.
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