Fomos até o quarto em meio a beijos e pusemos o atraso em dia. Sem esquecer da camisinha dessa vez, é claro.

Acordei no dia seguinte com um cheiro de comida muito bom vindo da cozinha. Dei um grito:

- JAAAAAAKE.

Ele apareceu correndo.

- Diga, madame.

- É meu escravo agora?

- Sempre.

- Seu bobo.

Ele veio até mim sorrindo e me deu um selinho.

- Manu.

- Diga.

- Quero te mostrar uma coisa.

Ele pegou a guitarra que estava na sala, e uma folha completamente rabiscada. Só consegui ler e entender uma palavra que parecia ser o título: Carolyn.

- Eu comecei essa musica depois que a minha mãe tentou se suicidar, mas nunca cheguei a concluir e montar os riffs direitinho, mas ontem a tarde eu consegui terminar, e, modestamente falando, ficou foda. – Sorri fraco, a menção daquele nome me dava vontade de chorar. Mas eu não derrubaria nem uma lágrima, eu fiz o que pude, tentei salvar Carolyn, mas não cabia a mim decidir se ela ia ou não, e sim ao destino.

Ele me olhou com olhos curiosos, mas ao mesmo tempo temerosos, como se não soubesse qual seria minha reação. Mas assim que meu sorriso fraco se abriu em um outro extremamente verdadeiro, ele pareceu aliviado e começou a tocar.

(Play na música)

No começo meu coração simplesmente acelerou com a guitarra calma sem o CC pra metralhar a bateria. Eu parecia estar sendo invadida por uma paz que não conhecia nos últimos dias, e talvez até meses, desde quando fui praticamente obrigada a fugir de casa no Brasil.

Me lembrei da minha mãe, que por mais que não pusesse em prática pensava em como me proteger das manias idiotas do meu pai. Do Murilo, meu irmão parceiro que sempre se importou comigo, até demais. Lembrei do Marcelo, que sempre me levava para as festas e me trazia de volta.

Meu pensamento foi então para minha avó, que ficaria mais feliz do que nunca se soubesse que eu teria um filho. Era ela que me apoiava sempre, e agora nem ligar para ela e contar tudo o que aconteceu me afogando em lágrimas eu podia. Meu pai faria sabe-se lá o que pra saber onde eu estava.

Tudo isso me fez lembrar da minha nova família, ou seja, a família do Jake e o quanto eles sofreram com problemas familiares, e eu reclamando só porque meu pai era chato e rabugento.

A guitarra começou a acelerar e meus pensamentos voltaram para a realidade. Só pra perceber que o sorriso no meu rosto ia quase de uma orelha até a outra, e que o Jake estava ainda mais feliz que eu, sentado na minha frente, me olhando enquanto tentava se concentrar na guitarra.

Como não viciar naqueles olhos castanhos? E pensar que até há poucas horas eu pensava em abandonar tudo aquilo, desistir. Como pude pensar em algo assim? Largar o Jake? Fora de cogitação. Amo ele. Deixei minha família por ele.

Quando começou a cantar e eu comecei a entender a música como parte de nós, meu olhos se encheram de lágrimas, e pela primeira vez em uma semana, meu choro era de felicidade. A letra realmente expressava o que nós sentíamos. Juntos, para enfrentar aquilo, sem dar ao mundo a chance de nos vencer. Estávamos juntos nessa, meus olhos encontraram os dele, que continuou tocando e cantando como se o mundo fosse acabar a qualquer momento.

I wish to god I'd known that I didn't stand a chance
Of looking back and knowing why
Our pain of circumstance

You're not alone
We'll brave this storm

A música continuou assim, fazendo com que eu mal respirasse de tanta felicidade que me invadia de uma vez depois de tanto tempo de sentimentos negativos.

So here's my song I wrote in time, when it was needed
Through pain of heart or loss of mind, your burdens lifted
You aren't alone just know that I can't save our hearts tonight

You're not alone.
We'll brave this storm
And face today
You're not alone

You're not alone.
We'll brave this storm
And face today
You're not alone

Assim que a música terminou, Jake suspirou pesado e veio até mim, como se precisasse me acalmar. Meu olhos deviam estar mais inchado do que nunca, já que eu não conseguia nem mais segurar as lágrimas.

Ao mesmo tempo, sentia uma sensação boa, uma felicidade inexplicável. Saber que tinha alguém ali, alguém do meu lado, me deixava muito segura. Saber que Jake estava ali por mim, fazia com que eu sentisse paz.

- Eu te amo. – Disse.

- Eu também, Jake, também te amo. – Respondi sorrindo.

Ali éramos só nós dois desfrutando da companhia um do outro, sem medos nem segundas inteções. Éramos eu e Jake, só. E o resto... Bom, o resto que se dane.

Fim