Almoçamos como antigamente, como se fôssemos a família feliz da musiquinha do Barney.

Assim que terminamos fui com meus pais até o escritório.

- Pai, mãe, eu tive alguns problemas com a faculdade e acabei saindo. Eu estou em uma banda e os ensaios exigiam demais de mim, por isso tive que faltar por um tempo e acabei saindo da faculdade.

- Saindo ou sendo expulsa? – Perguntou minha mãe com uma expressão super brava.

- Sendo exp...

- ISSO É INFLUÊNCIA DESSAS PESSOAS COM QUEM VOCÊ ESTÁ CONVIVENDO. – Gritou meu pai exaltado.

- NÃO, PAI. EU SÓ ESTOU FAZENDO O QUE EU GOSTO, VOCÊS NUNCA NEM QUISERAM SABER SE EU GOSTAVA DE MATEMÁTICA PRA ENTRAR EM UMA FACULDADE DE ECONOMIA.

- E O QUE VOCÊ GOSTA ENTÃO? DE FRACASSAR? VOCÊ QUER SER O QUE? UMA CANTORA FAMOSA? FALA SÉRIO.

- SIM, PAI. EU QUERO, E VOU CONSEGUIR.

- NÃO, NÃO VAI. ISSO NÃO É PRA VOCÊ.

Minha mãe permanecia calada.

- CLARO QUE É, VOCÊ NEM ME CONHECE, VOCÊ NÃO SABE. E SE EU QUISER, EU CONSIGO MUITO BEM A FAMA QUE QUISER.

- NÃO, NÃO CONSEGUE.

- E POR QUE NÃO?

- PORQUE NINGUÉM DESSA CIDADE FICA FAMOSO.

- MAS EU TENHO LOS ANGELES. – Comecei a abaixar o tom de voz vendo onde terminaria a conversa.

- NÃO, NÃO TEM. A PARTIR DE HOJE, ESQUECE AQUELA CIDADE. VOCÊ VAI FICAR AQUI.

- Mas, pai... – Já estava sem forças para gritar. – Pai não me prende aqui. Eu tenho uma vida lá, tenho minha banda, meus amigos, meu namorado.

- Então é tudo por um namorado não é?

- Não, pai, não é só por ele.

- Quer saber, melhor ainda. Acabo com dois problemas de uma vez: essa má influencia dos seus amigos e esse namoro que não vai dar em nada.

- Pai, por favor...

- Você tem até sábado para se despedir dos seus amigos. – Finalizou saindo do escritório e batendo a porta com força.

Minha mãe veio até mim para me abraçar. Ela sabia o quanto aquilo tudo era importante pra mim, e não fez nada. Não fez questão nenhuma de me ajudar. Eu me esquivei de seus braços e saí de casa. Liguei para o Murilo chorando como um bebê.

Ele foi até onde eu estava e ficou me consolando até que meu pai ligou pra ele perguntando onde ele estava. Ele mentiu que tinha ido para casa por causa de uma dor de barriga, mas que já estava voltando para o trabalho.

Fui a pé para o sítio. Andei quilômetros e quilômentros. Chorava e sofria tanto por dentro que nem ligava para todos os cortes que se formavam no meu pé graças à sandália de couro.

Chegando lá, ninguém estava em casa. Ótimo.

Tomei um banho, pus meu pijama preto de corações brancos e dentei na cama para passar remédio nos meus pés que estavam inteiros machucados. Resolvi que fingiria que esta tudo bem, e que só daria a notícia de que eu não iria quando todos estivessem entrando na sala de embarque. Não era justo estragar a viagem de todos com um problema que era meu.

Quando todos chegaram da cachoeira já estava escuro e eu tinha chorado tanto durante o dia que acabei dormindo com uma dor de cabeça infernal.

Pov Jake

Estranho. Quando chegamos a Manu já estava dormindo. Ela nunca fazia isso, sempre nos esperava, alguma coisa aí está errada. E aquele monte de curatico nos pés dela? O que aconteceu?

Pov Manu

Na mesa do café da manhã na quarta feira, todos queriam saber como foi a conversa com meus pais. Me resumi a responder: tudo bem.

- Como foi a conversa?

- Tudo bem.

- O que eles falaram?

- Nada demais.

Respondia somente isso e logo já desconversava.

Passamos o dia todo vendo filmes e comendo pipoca. Quando fiquei sozinha com Jake já era de noite. Ele começou a querer perguntar da conversa mas eu logo lhe dei um beijo.

E de um beijo a outro, acabamos indo para a cama e depois dormindo.

Antes de adormecer, quando Jake já estava roncando, resolvi que aproveitaria ao máximo os últimos dias que tinha com meus amigos e com meu namorado. Quer dizer, não ia ficar trancada no quarto me deprimindo durante o que poderiam ser meus últimos dias com todos.